domingo, 15 de março de 2009

Capítulo XI - PRIMEIRA ELEIÇÃO PÓS 1964 E A DANÇA DOS POLÍTICOS

EM 1966, COM A REALIZAÇÃO da primeira eleição depois da revolução de 1964, surge o primeiro grande acordo político dentre os muitos que iriam acontecer a partir de então e que passariam a fazer parte de quase todas eleições em Limoeiro do Norte.
Numa tentativa evidente de se preservarem na política, dois deles, Franklin Chaves e Dr. Simões, sentindo-se frágeis e com menor peso de barganha, uniram-se imediatamente formando uma coligação contra Manoel de Castro.
Quem diria! Franklin e Simões unidos!
Essa união era de arrepiar, visto que eram desafetos até pouco tempo atrás. Mas tudo valia a pena, pois se juntavam e se abraçavam em favor de uma causa muito nobre: tirar da jogada um forte e “perigoso” adversário.
Já Manoel de Castro sabendo da sua vantagem política em relação aos dois e usando da sua peculiar matreirice, manteve-se discreto, certamente esperando deles uma decisão, para depois tomar uma atitude com relação ao pleito que se aproximava.
Pensassem o que quisessem de Manoel Castro, o chamassem de qualquer coisa que pudesse existir na política, mas uma das coisas que jamais se poderia atribuir-lhe era a falta de inteligência a qual usava exatamente na hora precisa. Sabia perfeitamente utilizar sua capacidade de percepção para captar o que estava acontecendo em sua volta e com isso findar tirando proveitos. Sabia perfeitamente que todos os que seguiam seus dois opositores naquele momento, viriam mais cedo ou mais tarde procurar abrigo debaixo de suas asas, razão pela qual, não se manifestou e ficou aguardando o resultado da convenção da sub-legenda de onde sairia o candidato apoiado por Franklin e Simões.
Passada a convenção da “coligação”, foram escolhidos candidatos Raimundo de Castro e Silva para prefeito e João Gomes de Moura para vice. Estava então pronta a chapa da ARENA I em Limoeiro.
Vale dizer que naquela eleição Raimundo de Castro só não concorreu como candidato único, porque surgiu Antônio Holanda de Oliveira que impôs a Manoel de Castro a sua candidatura. Entretanto mesmo se mostrando desinteressado no processo, Castro aceitou – com uma certa má vontade – a candidatura de Antônio Holanda, evidenciada pelo seu estado de apatia e o não engajamento durante o decorrer de toda a campanha, deixando transparecer que o nome de sua preferência era o de Raimundo de Castro, muito embora tenha sido indicado e apoiado por seus adversários. Essa estranha atitude somente se tornou compreendida depois da eleição, quando Raimundo de Castro correu para os seus braços esquecendo aqueles que o elegeram prefeito do município.
Paira até hoje uma dúvida com relação àquele pleito e bastante verossímil, de que já existia um acordo para se unirem, suspeita levantada em razão da indiferença de Manoel de Castro para com a candidatura de Antonio Holanda e a quase imediata adesão de Raimundo de Castro após a eleição.
A vitória de Raimundo de Castro teria sido o retorno das antigas lideranças do PSD ao comando político, visto que foi eleito justamente com apoio total de dona Judite e Franklin Chaves. Mas, tão logo assumiu a prefeitura procurou abrigo na sombra de Manoel de Castro, talvez porque soubesse que o ninho manoelista era perfeitamente confortável e muito mais promissor.
Convém presumirmos ainda a razão pela qual Antonio Holanda não tenha rompido com Manoel de Castro logo naquele momento, por conta de dois “justificáveis” motivos que achamos ponderáveis: primeiro porque faltou realmente coragem para que tal atitude fosse tomada, visto que correria o risco de perder todas as chances de um dia conseguir eleger-se prefeito. Segundo, porque o próprio Manoel de Castro talvez tenha explicado o motivo de sua apatia, com a intenção de condicionar a adesão de Raimundo de Castro tão logo terminasse a eleição como de fato aconteceu.
Sem dúvidas, tudo não passou de uma solerte e inteligente estratégia política de Castro e com isso recompensaria os Holanda mais adiante.
Vale dizer que o caminho que levava ao Deputado era na maioria das vezes irreversível, visto que, quem para o seu lado passasse seria mais dia menos dia recompensado com um cargo público do Estado.
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Mesmo estando o país no auge da Revolução onde a imensa maioria dos políticos optou por defender o governo dos militares, esse fato não impediu que um pequeno grupo de pessoas do município, decidisse por manter uma certa resistência fazendo uma acanhada oposição.
Fundou-se o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) tendo à frente: José Erbas Rodrigues Pinheiro - presidente, Maria de Lourdes Pinheiro - vice-presidente, Lírio Remígio de Freitas - Secretário. (Fonte: Ata da constituição da Comissão Interventora Municipal do MDB no Município de Limoeiro do Norte, em 06 de Agosto de 1966)
A fundação do partido de oposição, naquele momento, significava que algumas pessoas influentes na sociedade procuravam seguir um caminho diferente daquele que a força da revolução direcionava.
Para não ficar de fora do processo eleitoral, apresentou para a eleição de 1966, os nomes de: Francisco da Chagas Nunes, Francisco da Costa Luz, Joaquim Castro Maia de Freitas, José Alves de Moura, José Maria de Oliveira Lucena, Lírio Remígio de Freitas e Maria de Lourdes Pinheiro para concorrerem na eleição ao cargo de vereador.
No final foi eleito o jovem acadêmico de Direito José Maria de Oliveira Lucena, com 249 votos, conseguindo assim, assento na câmara municipal.
Depois de algum tempo, José Maria também caiu nos lençóis macios e generosos de Manoel de Castro.
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Raimundo de Castro administrou dando uma nova roupagem na parte urbana da cidade, calçando e asfaltando as principais ruas.
Ousou em cortar o patamar da Igreja Matriz, inclusive retirando do cenário histórico, o velho Cruzeiro, bem como modificando a Praça José Osterne, cortando-a ao meio, mudando sua estrutura de oval para quadrada.
A obra, abriu a rua Cel. Antônio Joaquim, o que veio melhorar sensivelmente o trânsito no centro da cidade.
A atitude de reduzir para dois metros o  secular patamar da Catedral, aguçou a verve poética dos sapesistas, que usando a criatividade crítica e zombeteira, características que lhes são peculiares, deram a denominação de “igreja de mini-saia”, visto que naquela época, estava na moda essa peça do vestuário feminino.

A PRAÇA (JOSÉ OSTERNE)

A primeira praça pública de Limoeiro, denominada 7 de 
setembro (hoje Praça José Osterne Fereira Maia) foi construída pelo então prefeito Felipe de Santiago Lima no período de sua administração (1919/1927). Um quiosque (foto ao lado) e coreto para as retretas faziam parte de sua estrutura, mas foram demolidos impiedosamente por outras administrações. Assim, ao longo do tempo, ela veio sofrendo modificações, todavia a “avenida” – como passou a ser popularmente conhecida – até alí, perdeu a sua principal característica e tampouco deixou de dar continuidade à sua importante função, ou seja: servir de palco para acontecimentos históricos, desde as grandes festas cívicas e religiosas até ao local de encontros de jovens enamorados que não poucas vezes ocupavam seus bancos nas noites prazerosas. Foi ali, na “avenida”, que fizeram por muitas vezes, propagandas políticas, apresentações de bandas de músicas e culturais, missas campais etc. Já nos anos finais da década de sessenta, o prefeito Raimundo de Castro e Silva, com sua gana voraz de modernizador, cortou seu piso ao meio. Nessa época já haviam desaparecidos do cenário o quiosque e o coreto, entretanto, recebeu uma fonte luminosa, tornando-se uma atração interessante para seus frequentadores. A iniciativa de cortá-la ao meio, tinha como justificativa principal atender as necessidades do trânsito e para isso, conseguiu também junto à Diocese a façanha de reduzir o secular patamar da Igreja Matriz para dar continuidade à rua Cel. Antônio Joaquim, que foi alargada da Igreja de Santo Antônio até a Catedral. Apesar de mutilada por suas modificações, a Avenida não se sentiu ultrajada e continuou sendo a principal praça da cidade. Mesmo com a estrutura cortada ao meio, ela sobreviveu imponente e garbosa e muito menos perdeu a majestade e a elegância.
Mas foi na administração de Arivan Lucena, que foi dolorosamente decretada a sua morte. O golpe fatal de misericórdia foi dado quando a transformou em um largo (calçadão), que se estendeu pela Travessa Lucas Carneiro, Praça da Coluna até atingir em cheio o Mercado público, destruindo, definitivamente, a última característica originalmente histórica do primeiro prédio 
público de Limoeiro (datado de 1987/88) quando retirou, desnecessariamente, a calçada, cujas pedras faziam parte da memória dos limoeirenses, por terem sido carregadas em carrocinhas puxadas por carneiros. Antes, porém, logo na administração de Gladstone Bandeira (1982/88), o Mercado Público foi impiedosamente agredido quando pôs abaixo o telhado, composto de telhas portuguesas e em lugar deste simplesmente um galpão ridículo e mal acabado.  
Não satisfeita com a destruição da praça, Arivan ainda ordenou que  toda sua arborização fosse derrubada e retirando também a fonte luminosa e há quem diga que até proferiu: podem retirar essa coisa feia daí". Escapou da fúria destruidora da senhora Arivan, o velho oitizeiro, salvo pelo povo que promoveu uma espécie de campanha através da Radio Vale do Jaguaribe antes de ser derrubado pelos machados da prefeita. Mesmo com a reforma, teria sido indispensável deixar a Avenida intacta nas suas características originais, como se fosse um atestado histórico. Mas, esses gestos insanos de destruição, são típicos em alguns administradores insensíveis à necessidade de que o povo precisa e é fundamental guardar na memória a sua própria história. Para amenizar a insanidade, recuperou o patamar da catedral e mandou que se construísse uma réplica do velho cruzeiro.
Afora as mutilações que já sofreu aquela praça até desaparecer por total da memória dos limoeirenses, resultou em uma envergonha e cada vez mais agredida: a invasão do seu espaço com pizzarias, lanchonetes, bares, espetinhos etc.

Convém lembrar que não somente a principal praça da cidade sofre essa agressão, mas grande parte dos logradouros públicos de Limoeiro do Norte, alguns ocupados com lojas de calçados, roupas, eletroeletrônicos, como é o caso das praças Capitão João Ennes, do Patronato, do BNB, da Câmara Municipal. Nem mesmo as calçadas escapam dessa invasão descabida e vergonhosa, e as administrações públicas, vão deixando que isso aconteça sem que nenhuma providência seja tomada. Assim, os logradouros, reconhecidos pelo poder público como espaços destinados exclusivamente a veículos e pedestres, são invadidos de uma hora para outra por particulares que instalam seus comércios e se apossam definitivamente sem dar satisfações a ninguém. 

Os limoeirenses têm uma espécie de “doença” para destruir a sua própria história. Poucos são os casarões antigos preservados. A maioria deles, sobretudo os do centro da cidade, foi transformada
 em construções de estilos modernos, e quando não, suas fachadas são cobertas por toldos ou placas de propagandas, como é o caso do prédio dos Oliveira, que vai desde a Praça Capitão João Ennes à praça da Catedral, mas que toda sua platibanda, artisticamente esculpida pelo Mestre Sombra, ficou totalmente escondida por trás das placas e toldos. O piso de mosaico colorido da Catedral é outro exemplo. Foi coberto por lajotões modernos. A calçada do mercado público, feita de pedras carregadas em carrocinhas puxadas por carneiros, deu lugar ao novo piso na reforma da Praça José Osterne, feita na gestão de Arivan Lucena. 
A DEUSA OLÍMPICA, uma escultura de Márcio Mendonça, ao ceder lugar para a Estátua de Dom Aureliano Matos, foi praticamente jogada ao lixo e dela não se tem notícia. Uma vergonha!
Pelo menos estão preservadas as antigas residências: do Coronel Raimundo Estácio de Sousa (Biblioteca Pública Municipal; Casarão de José Jerônimo (Academia Limoeirense de Letras); do Coronel Serafim Chaves e de José Osterne.

4 comentários:

IVONE CHAVES disse...

Parabéns a você Maurilio freitas por tão grande iniciativa em relatar as coisas lindas da nossa Limoeiro.Fiquei emocionada pelo seu relato e saudosa pois fiz parte dessa epoca.Atualmente moro em fortaleza e quando venho aqui e sento naquela praça, me pego viajando no tempo da minha mocidade.Sou Ivone Chaves.

Jesus Moreira de Andrade disse...

Prezado Maurílio Freitas, o resgate histórico dos fatos que envolvem Limoeiro do Norte, feitos em seu livro são de grande importância, meus votos de pleno êxito em seus trabalhos. Obrigado pela citação de nosso livro "Moreira e o Tabuleiro de Todos Nós - Um Esboço Histórico de Tabuleiro e Parte da Região Jaguaribana" edição de 1980.(Jesus Moreira de Andrade - Contatos: Email - jesusecologia @ gmail.com)

José Arimatéa Ferreira Maia disse...

Quem gosta de saber da história antiga do Limoeiro do Norte, neste blog (https://efemeridesdolimoeiro.blogspot.com/) tem muitas notícias de jornais do passado desde (1840 a 1957) são quase 500 postagens. Tem notícias assassinatos; politica com os seus acordos e desentendimentos; morte naturais de algumas personalidades da vila do Limoeiro; casamentos; edificação de alguns prédios, como da Matriz, escola, mercado público e o prédio da câmara/presídio ; desentendimentos sociais. leiam e comentem.

Anônimo disse...

OLÁ EU SOU FCO DIOGO A MINHA MÃE E EU SOMOS PRIMOS DE LUCIMAR SUA EX-ESPOSA MÃE SOBRINHA DE TIA ANTÔNIA MÃE DELA E O PAÍ TIO ZÉ FELIP SOBRINHO PRIMO DO MEU AVÔ E CUNHADO OBRIGADO E ATÉ MAÍS.