segunda-feira, 16 de março de 2009

Capítulo XV - MANOEL DE CASTRO – GOVERNADOR DO ESTADO

O PERIODO DA ADMINISTRAÇÃO de Evaldo Holanda foi marcado principalmente pelos acontecimentos políticos em torno do nome de Manoel de Castro que naquela época, mais do que nunca, ditava as regras do jogo e a maioria das personalidades limoeirenses seguia as diretrizes por ele norteadas.
Para exemplificar de que as condições de Manoel de Castro impostas aos limoeirenses eram obedecidas, por três eleições consecutivas (1970, 1974 e 1978) trouxe o fortalezense e desconhecido dos jaguaribanos o Dr. Marcelo Caracas Linhares, para ser votado Deputado Federal numa verdadeira demonstração de que suas vontades eram sempre aceitas. Como não podia ser diferente, Marcelo Linhares não deixou uma única marca de sua passagem por Limoeiro do Norte, vinha somente em época de eleições, recolhia os votos e distanciava-se por quatro anos, sem ter sequer a hombridade de, pelos menos, agradecer os sufrágios recebidos dos limoeirenses.
Em 1978 aconteceu um fato na vida pública de Manoel de Castro que lhe serviu como uma “coroa de louros” ofertada por seu chefe político Virgílio Távora como reconhecimento pela sua exagerada fidelidade. É que ao ser indicado pelo então Presidente da República General Ernesto Geisel como o nome de sua preferência para concorrer no pleito indireto para Governador do Estado, Virgílio não titubeou em convidar o seu discípulo mais fiel para Vice-Governador, ou seja, Manoel de Castro ignorando inclusive alguns acordos políticos.

O deputado Manoel de Castro, mediante a um convite daquela natureza, não hesitou em aceitá-lo, e somente assim, deixaria a Assembléia Legislativa depois de ter sido eleito por sete vezes consecutivas: 1951, 1955, 1959, 1963, 1967, 1971 e 1975. Nesse caso, tinha que indicar um nome que pudesse dar continuidade ao seu trabalho político na Assembléia, não somente em Limoeiro do Norte, mas em Morada Nova e o restante da Região Jaguaribana. É possível que alguns dos seus asseclas, tenha sonhado com uma indicação para sair candidato a deputado estadual, mas o que aconteceu, foi mais uma vez uma imposição de Manoel quando apresentou sua filha Douvina Castro na qualidade de herdeira política. O único mérito de Douvina era o de ser sua filha, porém totalmente desconhecida dos limoeirenses e até então sem nenhuma experiência na política. Mas o “velho guerreiro” tinha cacife de sobra para eleger quem quer que fosse.
Douvina foi eleita com facilidade, numa prova de que Manoel de Castro detinha ainda uma força enorme junto ao eleitorado jaguaribano. 

Douvina foi eleita em 1978 com a expressiva votação de 30.836 sufrágios. Para a legislatura de 1983/86, foi reeleita, conquistando um número ainda maior de votos: 36.299.

Em julho de 1980, um trágico acontecimento abalou enormemente o desempenho político de Manoel de Castro na região jaguaribana. Foi o falecimento do seu mais confiável estrategista político José Hamilton de Oliveira (08.07.1980), em decorrência de um acidente de trânsito na BR-116 próximo a Russas, quando viajava para Limoeiro do Norte, juntamente com a deputada Douvina Castro, sendo que esta escapou por um milagre, para que a tragédia não fosse maior. Esse fato desagradável estremeceu as bases políticas do “velho guerreiro”, encontrando mais tarde imensas dificuldades de substituir aquele que se caracterizou como o mais esperto de todos os que faziam política de bastidores.

Foi a partir da morte de José Hamilton que se afinou a amizade entre Manoel de Castro e Dr. José Maria Lucena, naquela época visto como uma das inteligências exponenciais de Limoeiro e mesmo tendo começado sua participação na política pelo MDB em 1966, brevemente engajou-se na ARENA pousando confortavelmente no ninho manoelista.

Em 15 de março de 1982, Manoel de Castro assumiu o governo do Estado fechando com chave de ouro a sua vida pública, quando Virgílio teve que se afastar para concorrer a uma vaga no senado. Nomeou para a Chefia da Casa Civil e Secretaria de Administração exatamente o Dr. José Maria Lucena recompensando-o pela sua fidelidade.
Mesmo tendo ficado cerca de 9 meses no cargo, deixou a casa própria que tinha e mudou-se com a família para a Residência Oficial do Governo do Ceará (próxima ao Palácio da Abolição, na época sede do governo). Também usou o Ford Landau preto 1982, com placa de bronze "G1", com ajudante-de-ordem fardado sentado no banco dianteiro e grande escolta, em todas as suas movimentações por Fortaleza e Interior. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Castro_Filho- Em 31.11.2009)
Mesmo sendo governador, Castro não deixou de seguir as orientações do seu chefe Virgílio Távora, que o instruiu na confecção de um esquema visando a retomada das prefeituras cearenses que naquele momento a grande maioria delas se encontrava nas mãos de César Cals e de Adauto Bezerra.
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Quando por ocasião da mudança na Lei extinguindo o bipartidarismo em 1980 e permitindo a criação de novos partidos, os três coronéis cearenses embarcaram na mesma sigla PDS (Partido Democrático Social) sucedâneo da ARENA. O objetivo desse comportamento era ficarem se revezando como bem afirma com perfeição o cientista político Josênio Parente: "Nessa época, eles pertenciam ao mesmo partido, mas viviam uma disputa de poder”. Todavia, dependendo da necessidade e das circunstâncias do momento, brigavam e se uniam convenientemente.
Mesmo com as divergências existentes entre eles, a ida de todos para um mesmo partido dava uma demonstração clara de que as brigas pelos interesses pessoais continuavam, mas nenhum deles se arriscava fazer oposição ao governo federal. O sistema político por eles criado passou cada vez mais a ser alimentado pela intriga, pela desconfiança e pela fofoca, configurando um verdadeiro serviço de puxa-saquismo entre os seus respectivos sectários e apaniguados que faziam o mesmo jogo no interior do Estado em que os chefetes políticos interioranos pouco se importavam de estarem hoje com um e amanhã com outro.
Enquanto isso, o povo continuava pagando caríssimo por um tenebroso festival de interesses pessoais e a cada dia, a cada eleição, a cada troca de coronel no poder, o estado de pobreza e de subserviência se agravava continuadamente, fazendo do cearense um mendigo, cuja miséria abastecia cada vez mais a sanha dos poderosos.
Mas, era preferível para cada um deles, que o povo continuasse miserável, por que sabiam que o homem de estômago vazio não resiste ao aliciamento, tornando-se uma presa de fácil manobra política e devido ao estado de miséria troca o seu voto por qualquer esmola, basta que pelo menos por um dia, torne farta a barriga dos filhos.
Por mais que se encontre alguma obra proveniente dos três coronéis cearenses na época em que estiveram no poder, nada superará ao efeito de miséria que provocou no povo cearense, sobretudo no interior do Estado. Na verdade, a grande obra foi a implantação da indigência, da corrupção eleitoral, do aliciamento na hora voto, da conquista do poder a qualquer custo e, tudo isso é incomparavelmente cruel, a ponto de encobrir qualquer outra atitude que possa ser descrita como razão de desenvolvimento.

A VOLTA DE VIRGILIO AO GOVERNO DO ESTADO EM 1978

A indicação de VT para o governo estadual pegou de surpresa a maioria da classe política cearense que considerava praticamente impossível a possibilidade de Távora receber indicação de um dos governos militares, sobretudo porque havia a versão de um famoso telegrama, solidário às medidas de João Goulart às portas da revolução, além de ter sido ministro da Viação e Obras Públicas do seu governo. Apesar do ”bendito” telegrama ter sido muito propalado e comentado nos meios políticos e até na imprensa, Geisel o ignorou totalmente e indicou VT para governador. O que parecia impossível foi relativamente fácil e somente um homem muito esperto como Virgílio, é que poderia conseguir a façanha de haver apoiado João Goulart e depois ser indicado por um militar para governo do Estado.
Quem não gostou da indicação de VT, foi o ex-governador César Cals, que se julgava merecedor de ser novamente indicado, uma vez que gozava de farto prestígio no governo central. Em não sendo o escolhido por Geisel e como fazia oposição cerrada a Virgilio, resolveu candidatar-se e com ele concorrer naquele pleito indireto no que foi fragorosamente derrotado, numa prova de que uma indicação do Planalto significava vitória certa, contando ainda com a ação de uma classe política de maioria fisiológica onde os deputados – com as exceções de praxe – não se atreviam votar em um nome que fosse contrário àquele indicado pelo Presidente da República.
A volta de Virgilio ao governo do Estado revelou mais uma vez sua esperteza em levar vantagem na política. Ao se tornar chefe do executivo estadual, não hesitou em mais uma vez impor o seu poder de fogo, estabelecendo todas as estratégias possíveis para inviabilizar politicamente os seus dois desafetos: César Cals e Adauto Bezerra. O enfrentamento com os dois outros coronéis da política cearense seria o seu maior obstáculo, porém, imaginou inteligentemente uma forma de neutralizar essas duas forças, lançando um plano de governo que se tornasse um marco forte na administração. Daí ressurgiu o famoso e propalado PLAMEG,[1] ou seja, Planos e Metas Governamentais nº 2.
As ações de Virgilio Távora para inviabilizar os dois grandes adversários César e Adauto, denotavam a grande preocupação com a aceitação que os dois gozavam no interior do Estado. O Primeiro, César Cals, tornou-se um dos fortes coronéis da política cearense e detinha uma boa parte dos prefeitos interioranos sob o seu comando e o segundo, Adauto Bezerra, era o motivo da maior preocupação de VT, pois quando foi governador, conseguiu eleger 95% dos prefeitos, numa verdadeira demonstração de força política.
Pretendendo eliminá-los em curto prazo, Virgílio montou um esquema político-administrativo jamais visto na história cearense ao dar bastante ênfase para a indústria através do PLAMEG II, conseguindo instalar o II Pólo Industrial do Nordeste no Ceará, sendo essa uma eficiente maneira de atrair apoio político de empresários cearenses com a certeza de que lhe agradeceriam imensamente, uma vez que colocaria o dinheiro do Estado à disposição deles.
Através da esposa D. Luiz Távora, implementou a criação de vários projetos sociais principalmente em Fortaleza e devido a sua forte atuação, recebeu inclusive o apelido de "Deusa da Pobreza":
Figura inteligente e com uma capacidade de trabalho contagiante, desenvolveu na periferia de Fortaleza, junto às favelas principalmente, trabalho de assistência social, que terminou transformando-se numa verdadeira fábrica de votos”. (JUNIOR, Wilson Roriz. Sim Senhor Coronel. 1984. P. 57)

Voltou-se com esperteza e sagacidade para o atendimento aos correligionários e ainda premiando políticos interioranos adeptos dos seus opositores para aumentar sua força política.
Não se preocupou em endividar o Estado até o limite com a folha de pagamento gerando um descontrole financeiro que resultou numa frase célebre e dita por ele de forma bastante irônica, transcrita para os anais da história do Ceará: “Dívida de Estado não se paga, se rola”. 
Na batalha em que tentava derrubar os seus maiores adversários, contou com inconteste dedicação do seu mais abnegado discípulo Manoel de Castro que na qualidade de vice-governador, ajudava-o na montagem da estratégia dando-lhe a necessária tranqüilidade para imaginar que a região jaguaribana estava salva da sanha eleitoreira de César Cals e Adauto Bezerra.
E foi a Manoel de Castro que VT entregou o governo do Estado, quando teve que afastar-se para concorrer a uma vaga no senado o instruindo nas estratégias para a campanha para governador e senador. 
Assim, através do Governador Castro, criou o PROMOVALE anunciando a implantação de um ambicioso e audacioso projeto de irrigação para o Vale do Jaguaribe, que nunca funcionou.
Também orientou e endossou as aproximadamente dezesseis mil nomeações sem concurso público para diversos cargos do Estado, nomeações essas feitas à revelia da Lei pelo seu sucessor.

[1] Plano de Metas do Governo (Plameg), lançado por Virgílio no início de seu primeiro governo (1963-1966). O Plameg continha metas de ações para o Estado durante os quatro anos de sua administração

Um comentário:

Unknown disse...

Grande Manuel de Castro
Grande político e pai da pobreza do Ceará e interior