domingo, 15 de março de 2009

Capítulo VI - A ADMINISTRAÇÃO DE SABINO ROBERTO

O QUE CONTAVA DE positivo no momento, era o grande otimismo e a confiança nos eleitos e de que novos tempos estavam surgindo. A eleição de Sabino Roberto foi um ato de soberania popular como elemento indispensável para mudar as lideranças, ademais, fazia crer que um novo sol passasse a brilhar e que a administração, agora entregue nas mãos de um homem considerado honesto e identificado com o povo, tivesse rumos que fossem justos para todos.
A administração começou numa onda de euforia e se esperava realmente mudanças radicais, sobretudo porque se acabara de sair de uma administração perseguidora e insensível aos anseios populares.
Para não ser injusto, é preciso que se diga, que Sabino Roberto era um homem de caráter inquestionável, sendo uma das figuras mais queridas e populares de Limoeiro. Por outro lado, não foi um bom administrador para o município, talvez pela grandeza do seu coração e pela honestidade. Sabe-se, entretanto, que tinha a pretensão de fazer uma administração séria, diferente, para dá uma resposta positiva ao povo que o elegera. Mas tão logo assumiu a prefeitura, começou a dá mostras de fraqueza quando se iniciaram os boatos de que quem estava administrando de fato, era sua filha Maria de Lourdes, nomeada tesoureira da prefeitura e seu genro – casado com outra filha – Jared Santiago, eleito vereador.
Naquela época as receitas dos municípios provinham quase na totalidade da carga tributária municipal, sendo que o FPM, não passava de um repasse irrisório ou praticamente simbólico. Destarte as ajudas federais, somente vinham através de verbas para algumas obras e para que isso acontecesse, necessitava de um fato que comprovasse uma calamidade pública (secas ou enchentes). Assim sendo, qualquer administração que pretendesse se voltar para o povo teria imensas dificuldades financeiras e este certamente, foi o caso de Sabino Roberto não ter se revelado um grande administrador, aliado evidentemente à sua pouca firmeza.
Vale ressaltar, que durante toda sua gestão, não existiu sequer um boato de corrupção e malversação do dinheiro público ou ainda de falta de respeito para com aqueles que o elegeram. Todavia, no que diz respeito às tomadas de decisões, foi extremamente fraco e comentam inclusive que no final de seu mandato já não conseguia sequer assinar o nome, acometido de um nervosismo exagerado.
Teve um pouco de sorte em seu período na administração, apesar de tudo. Nos três primeiros anos de sua gestão a natureza deu uma trégua mais uma seca veio acontecer somente em 1958, já no final do mandato.
Os quatro anos de sua gestão ocorreram sem que nenhum fato excepcional coubesse lugar em seus registros e foram marcados apenas com a realização de alguns pequenos serviços de urbanização na sede do município, afora a marca que deixou por uma única obra. Já no apagar das luzes, nos meses finais de 1958, o seu genro e vereador Jared Santiago, certamente preocupado com os boatos de que ele era praticamente o prefeito da cidade e vendo que seu sogro poderia terminar o mandato sem nenhum marco na sua administração, decidiu por reformar a Praça do Obelisco, construída na gestão de Custódio Saraiva de Menezes, com projeto de José Osterne Junior, onda havia no centro um obelisco, que motivou aos sapesistas a apelidarem de “Praça da Pomba em Pé”, numa forma de ridicularizar aquele monumento que tinha uma certa aparência do órgão genital masculino (pênis). O fato inspirou o poeta sapesista Luis Mano a escrever algumas estrofes, para satirizar ainda mais uma das principais praças da cidade:
Era dia de natal
E véspera do nascimento
Percorreu o movimento
Na classe comercial
Broche, pressão e dedal
Bomba, traque e buscapé
Bola, castanha, café
Bombom em forma de apito
Rato, pato e periquito.
Na praça da Pomba em Pé.

Em frente dos Oliveiras
E da Farmácia São João
Deu-se uma reunião
Em forma de brincadeira
Corria o povo na feira
Tinha bomba, buscapé
Tinha gente do Sapé
Corria gato e gata,
E negra levou chibata,
Na praça da pomba em pé.

A soma era em demasia
No quarto de Zé Peixoto
Bebi pra cair no “goto”
Refresco de abacaxi
Bola, bebê e presilha
Pão bolacha e catolé
Vi cabra rodar no pé
Porque estava embriagado
Mandei bortar um quinado
Na praça da Pomba em Pé(SOMBRA, Waldy. Os Poetas Lá de Nós - Viva o Sapé Nº 2. 1997, p. 27 e 28)
Em lugar do obelisco, foi construida a Coluna da Hora, e seu nome mudado para Praça Capitão João Ennes ou a popular Praça da Coluna.
O ROMPIMENTO COM A UDN
Durante sua gestão, como já vimos, Sabino Roberto, teve que enfrentar dificuldades, para as quais não era um homem preparado. Podemos afirmar seguramente, que um de seus maiores obstáculos, foi enfrentar a sua própria indecisão e sua falta de firmeza frente ao executivo. Certamente, mal sabia ele, que fosse tão difícil conciliar sua vida pessoal com os afazeres de um prefeito, acostumado que estava a lidar apenas com pessoas simples com as quais se identificava.
Com sua eleição para prefeito, cargo que galgou com a ajuda e o trabalho dos correligionários, sendo os de maior expressão, Manfredo de Oliveira, João Eduardo, Pedro de Freitas, entre outros e sobretudo com a força e a sagacidade do Deputado Manoel de Castro, que nesta época já despontava como eficiente estrategista político. E foi exatamente com este último, que Sabino rompeu primeiramente, para depois romper com os outros, inclusive o amigo de longas datas, Manfredo de Oliveira.
Manoel de Castro, já despontando sua forte característica dominante e o fisiologismo que lhe foi peculiar por toda sua vida pública, colocou em ponto estratégico da administração municipal o seu concunhado Genésio Bezerra, como responsável pela gestão das verbas rodoviárias destinadas ao município. Para melhor explicação, naquele tempo as cotas advindas da União, eram distribuídas em duas partes, sendo uma delas para a administração em geral e a outra, exclusivamente para gastos com as estradas municipais. Essa última, não passava sequer pelas contas da prefeitura, sendo o numerário repassado diretamente para o responsável, no caso o senhor Genésio Bezerra, sendo assim, era ele quem determinava os gastos e o prefeito, gestor maior do município, sequer tinha o direito de requisitar algum serviço, a não ser, que o responsável assim concordasse.
Sabe-se, entretanto, que se fosse pelo próprio Sabino Roberto, jamais teria se criado um impasse, em virtude desse problema, porém – confirmando os boatos sobre quem decidia na administração municipal – Lourdes e Jared, fizeram de tudo e conseguiram tirar de Genésio essa atribuição, alegando de que o recurso era do município, portanto, deveria ser gerido pela administração pública municipal. Diante dessa atitude da filha e do genro de Sabino, podemos dizer que a reivindicação foi por demais justa, pois não tinha cabimento que um elemento fora da administração, tivesse poderes sobre gastos com dinheiro público, quando somente ao prefeito é dado esse direito através do voto popular. A verdade, é que essa atribuição de Genésio, não passava de uma estratégia do próprio Manoel de Castro, visando obter o controle sobre aquela parte das verbas municipais para usá-la da forma que lhe fosse mais conveniente. Foi essa a gota d’água para que Manoel de Castro entrasse em conflito com a administração, desencadeando no rompimento de Sabino, que por sua vez também rompeu com todas as pessoas do seu grupo – salvo algumas exceções – muito embora tenha continuado ainda por algum tempo filiado à UDN, vindo optar por outra filiação partidária somente depois que deixou a prefeitura. Ainda como consequência deste episódio, demitiu-se do cargo de Secretário Municipal, Júlio Eduardo, sogro de Genésio e de Manoel de Castro. Foi convidado para substituí-lo o Senhor Eurico Vieira de Melo.
DESMEMBRAMENTO DO MUNICIPIO
Apesar da calma e da tranquilidade reinante no período da gestão de Sabino Roberto, aconteceu um fato que mobilizou toda a classe política dividindo as opiniões. É que os distritos – Alto Santo, Tabuleiro do Norte e São João do Jaguaribe – através de suas lideranças, iniciaram um forte movimento para que eles ganhassem a emancipação política.
Oficialmente, a história do desmembramento dos distritos teve início na sessão da Câmara Municipal de Limoeiro do Norte de 1º de dezembro de 1956, quando o oficio oriundo de lideranças de Tabuleiro do Norte, acompanhado de aditivo dos líderes de São João do Jaguaribe e Alto Santo, foi aprovado pelos vereadores e encaminhado a Assembleia Legislativa do Estado, solicitando a emancipação política dos três supracitados distritos. A partir de então, começou uma batalha dos prós e dos contras e as lideranças distritais não perderam tempo em sensibilizar as populações de seus respectivos distritos, promovendo mobilizações populares com vistas a pressionar as autoridades.
A sede, prevendo um prejuízo enorme para o município, entrou em defesa do seu território, se opondo tenazmente à emancipação dos distritos, uma vez que a redução territorial deixava o município com apenas 10% de sua área, o que, por hipótese, prejudicaria a eleição de seus representantes. Esse era o motivo mais alegado pelos que se diziam contrários, principalmente os dois deputados, Franklin Chaves e Manoel de Castro, que viam nessa divisão uma redução drástica em seus redutos eleitorais.
A situação tornou-se delicada principalmente para Manoel de Castro e Franklin Chaves que eram pressionados por ambos os lados e viam suas perdas e ganhos, visto que as lideranças distritais tinham forças suficientes para se posicionarem diante da situação.
Como exemplo, podemos citar o caso de Francisco Moreira Filho, vereador pelo distrito de Tabuleiro do Norte forte liderança naquela terra e fiel seguidor de Manoel de Castro, quando disse:
“Compadre Manoel, se Tabuleiro não passar a cidade, políticamente você não conta mais comigo para nada!” (ANDRADE Jesus Moreira de. Moreira e o Tabuleiro de Todos Nós, 1980, p. 61)
Foi criado um comitê denominado Pró Defesa de Limoeiro do Norte, o qual responsabilizava diretamente os deputados Manoel de Castro e Franklin Chaves pela divisão, considerada injusta, uma vez que “Deram em pagamento ao Alto Santo, 40 por cento, incluindo Castanhão, contra a vontade de seus habitantes. Deram para pagamento, ao São João, 20 por cento, incluindo Barra do Figueiredo. Deram a Tabuleiro do Norte, para seu pagamento, 30 por cento, incluindo Bica. Deixaram para a Sede 10 por cento de todo o seu território...”. (apud MALVEIRA, Antonio Nunes. Coronéis, Ascensão e Queda,1998, p. 148)
O dilema maior era do Prefeito Sabino Roberto pela sua indecisão e até hoje não se soube exatamente qual foi o seu pensamento pessoal sobre o assunto. Acredita-se – por mera suposição – que dentro de sua cabeça, ele fosse a favor, levando em conta que era um homem sensato nas suas atitudes, mas, em contrapartida, sofria pressão de todos os lados, tanto para ser a favor quanto para ser contra.
Quando as Leis que criaram os municípios foram sancionadas pelo então governador Paulo Sarasate, imediatamente, o prefeito Sabino Roberto entrou com um Mandado de Segurança, numa tentativa de impedir a instalação dos municípios e essa atitude foi surpreendente, principalmente porque ele próprio já havia se declarado em conversas informais com o vereador de São João do Jaguaribe Simonides Guerreiro Chaves, de que era favorável e instalaria os municípios tão logo a Lei fosse sancionada.
O Mandado de Segurança impetrado pelo prefeito, não resta dúvidas, de que foi uma ação por demais infantil, pois aquele recurso jurídico usado foi considerado improcedente, e sem qualquer respaldo legal. Tal procedimento leva-nos a crer, que a assessoria jurídica do Prefeito ou era incompetente ou fez mesmo de propósito essa tramoia jurídica, para exatamente não surtir o efeito desejado. Se isso realmente tiver acontecido, o prefeito foi simplesmente enganado por seus assessores e nada impediu que os municípios fossem instalados.
Ficou a revolta nos limoeirenses que foram contra a divisão e que por muito tempo guardaram a mágoa de haverem perdido 90% do seu território, responsabilizando diretamente os dois representantes limoeirenses na Assembleia Legislativa do Estado, pelo acontecido.

NEM PARENTES, NEM AMIGOS!
O escandaloso inventário de Limoeiro do Norte, levado a efeito pelos dois deputados Manoel de Castro e Franklin Chaves veio provar que eles não têm aqui, nem parentes nem amigos!
Fizeram tudo a revelia, sem ouvirem ninguém, sem consultarem a quem quer que fosse! Destruíram o Município que os elegeu, transformando a sua Sede num trapo de terra, que vai do Córrego de Areia ao Córrego do Arraial. Não houve apelo dos nossos homens mais respeitáveis que merecesse a mínima consideração! Fizeram ditarialmente o escandaloso inventário! Pensará alguém que eles tinham aqui, parentes e amigos? Se os tivessem não os teria tratado com tanto desprezo e humilhação!...
LIMOEIRENSES:
“Foi para acabar como o nosso Município que elegemos dois deputados?”
Haverá alguém que se conforme com essa traição?
Do Comitê Pro Defesa de Limoeiro do Norte
(MALVEIRA, 1998, p. 150)

Vê-se hoje, que a divisão, muito embora tenha sido considerada injusta, só benefícios trouxe tanto aos récem-criados municípios quanto a Limoeiro do Norte.
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Para aqueles que esperavam que Sabino Roberto fosse um homem de pulso firme, ficaram decepcionados, pois o tempo todo, mostrou-se inseguro e indeciso, errando muito por querer sempre agradar a gregos e troianos. Algumas atitudes políticas que teve que adotar foi para ele um impiedoso golpe em seus princípios morais e éticos.
Ao dedicar-se à política, o fazia de maneira séria, razão pela qual adquiriu um carisma que naturalmente fazia parte do seu caráter e por causa dele, chegou ao cargo maior da administração, o que lhe custou o preço de conduzir uma pesada cruz sobre seus ombros. Com certeza a política não foi generosa com ele – como não é com os homens honestos – quando se viu usado pelos amigos que o ajudaram a lhe eleger prefeito. O cargo não lhe incutiu a arrogância, tampouco o orgulho, mas sim, as experiências das maiores e piores decepções de sua vida e com elas, a oportunidade de conhecer os seus verdadeiros amigos. Embora sua conduta política tenha sido de oposição aos Chaves, gozava do respeito e da amizade de todos, o que nos leva a crer que os méritos a ele atribuídos sobre seu caráter são verdadeiros.
Mesmo sem ter feito uma administração que pudesse merecer elogios, Sabino Roberto manteve a sua popularidade em alta pela sua afinidade com as massas, afinidade essa, que ele despretensiosamente cultivava como uma de suas mais fortes características, razão pela qual, mesmo sendo o prefeito da cidade, continuou sendo um homem simples e merecedor do respeito de todos os limoeirenses.
Não teve como deixar herdeiros políticos, pois, quem poderia o seguir era a filha Lourdes, entretanto, não era uma pessoa querida do povo, isto é, faltava-lhe a simplicidade e a popularidade do pai, caso contrário teria, sem dúvida, herdado o seu cabedal político. Lourdes não fez jus ao pensamento da própria Judite Chaves, que ao tomar conhecimento de seu trabalho durante a campanha, dando mostras de esperteza para fazer política, em conversas informais fez-lhe referência com a seguinte afirmação:
“Eu pensava que somente eu, de mulher, soubesse trabalhar em política, mas vejo agora que surgiu uma outra e muito esperta, portanto não estou sozinha...”
Outro que poderia ter também chamado para si a grande liderança de Sabino seria o seu genro e vereador Jared Santiago, todavia, não contava com a aceitação do povo, que não ia muito com a sua cara, portanto, era meio antipatizado e sem as características necessárias para que se tornasse um político das massas.

10 comentários:

Socorro Pinheiro disse...

Mesmo sendo uma admiradora da História, ainda não tinha tido oportunidade de assessorar esse Blog. Gostei demais! Já li quase todas as postagens e parabenizo o editor do mesmo pelo feito.Não sei se já foi transformado em Livro. Se foi quero adquirir.

Socorro Pinheiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Socorro Pinheiro disse...

Assessar. Foi um erro de digitação.

CLUBE DA BENGALA disse...

Muito interessante o texto ! Não conhecia a história política de SABINO ROBERTO! Seria muito bom se outros limoeirenses que conhecem alguns fatos políticos de outros prefeitos, também escrevessem, para que pudéssemos conhecer melhor a história do nosso município.

Iolanda Freitas de Castro

Unknown disse...

Queria saber como faço para adquirir esse livro?

Sou do Olho D´água da Bica e depois que li o livro "O velho sertão da Bica" de Antonio Nunes Malveira, tive a curiosidade de saber mais sobre a história do município de Limoeiro do Norte, no qual a Bica fez parte até 1958. Me deparei com esse material que achei excelente. Contato: (ancelmoneto2013@gmail.com).

Wellington disse...

O senhor saberia dizer o ano de morte de Sabino Roberto. Já fiz algumas pesquisas e não encontrei. Desde já agradeço.

maurilofreitas disse...

Respondendo a Wellington: Sabino Roberto de Freitas: Nasceu em 11 de julho de 1894 Faleceu em 26 de abril de 1962, em uma tarde de uma quarta feira, de infarto fulminante, quando dirigia-se à cidade de bicicleta, na rua que hoje leva o seu nome.

Wellington disse...

Boa tarde, senhor Murilo de Freitas, agradeço muito sua informação, é muito útil para o texto que estou escrevendo para minha pesquisa. O senhor poderia dizer o livro, a referência da informação para poder incluir nas minhas referências bibliográficas?

maurilofreitas disse...

Respondendo a Wellington: Não tenho referência. Quanto à sua morte por infarto e o local, eu tenho conhecimento desde criança, pois nasci vizinho à sua residência, em São Raimundo e até tenho lembranças dele. Lembro muito bem do velório, por ser um fato marcante, quando eu tinha menos de 5 anos de idade.
Já as datas de nascimento e morte, para ter a certeza, visitei o túmulo onde foi sepultado e colhia-as.

Wellington disse...

Entendido, agradeço demais a sua ajuda. Muito obrigado!