LIMOEIRO DO NORTE FOI uma das poucas prefeituras que em 1976 elegeu o prefeito contrário ao governador Adauto Bezerra, isso porque aqui contava com o controle do ferrenho virgilista Manoel de Castro que naquele momento pensava que tudo acontecesse conforme suas vontades seguro de que ninguém teria a coragem de romper com ele no município. Mas eis que um de seus mais abnegados seguidores decidiu deixar o grupo e lançar por conta própria a sua candidatura. Tratava-se de Gladstone Bandeira. Ressentido por não ter o seu nome indicado como candidato, resolveu juntar-se a dona Judite e mais alguns amigos e partir para a briga. Essa atitude inicialmente assimilada como um ato de heroísmo fez com que o povo interpretasse que romper com Manoel de Castro era uma ação de muita coragem.
O fato de Gladstone ambicionar a prefeitura, mesmo sendo analfabeto, é devido, ele exercer forte influência sobre um grande número de eleitores que lhe eram obedientes e até então só trouxera benefícios para o chefe. Foi achando que merecia ser recompensado pelos tantos anos de fidelidade, que tentou com esse argumento receber apoio para lançar-se candidato a prefeito. Como não contou com o respaldo do “velho cacique”, resolveu romper, pulando para o já quase sorumbático grupo de dona Judite, que mesmo sem muito prestígio, continuava à frente na luta pelo poder em Limoeiro do Norte.
Vale ressaltar que a insistência de dona Judite em permanecer do lado oposto a Manoel de Castro reacendia a cada eleição uma disputa alimentada ainda pelos resquícios dos falecidos PSD e UDN, amparada pelos conservadores de ambos os lados.
Ao lançar-se candidato Gladstone - José de Oliveira Bandeira - estava pondo em risco a sua trajetória política, até então nos bastidores e de total subserviência a Manoel de Castro. Ele sabia que teria que enfrentá-lo e que não seria tão fácil, certo de que o deputado não era de deixar por menos qualquer atitude que ele considerasse como uma traição. Entretanto, quando o seu nome chegou às ruas, foi imediatamente simpatizado pelo povo ganhando inclusive o apelido de “Careca”, com o qual passou a ser conhecido popularmente.
Sentindo a imensa popularidade, Gladstone dispersou facilmente o receio de enfrentar Manoel de Castro e já considerando a sua eleição como favas contadas, embriagado pela grande multidão que se aglutinava nas praças públicas por ocasião dos comícios, fortalecendo a sua candidatura e multiplicando o poder de fogo.
O candidato a vice-prefeito do Careca, era justamente Antonio Glauber Eduardo Bezerra, filho de Genésio Bezerra, concunhado de Manoel de Castro. As razões que levaram Antonio Glauber a juntar-se ao Careca são desconhecidas, porém, leva-nos a crer que existia também insatisfações dentro da própria família, principalmente, porque até onde se sabe, Genésio Bezerra e seus filhos sempre foram partidários de Castro.
Do lado manoelista, sempre nessas horas cruciais, entrava em campo José Hamilton de Oliveira, seguidor e conselheiro político de Castro. Zé Hamilton revelou-se um dos maiores estrategistas em campanhas políticas limoeirenses daquela época. Matreiro e sagaz, sabia como ninguém o segredo para se ganhar eleições e incontestavelmente foi responsável por toda a estratégia política daquela campanha.
Há quem afirme que um dos motivos pelo qual Manoel de Castro não aceitou a candidatura do Careca, foi a discordância incondicional de Zé Hamilton que afirmava publicamente ser contra e seria sempre fazê-lo prefeito de Limoeiro do Norte.
O nome para disputar teria que ser aquele cuja rejeição fosse praticamente zero, pois somente assim, haveria condições de crescer durante a campanha e reverter o quadro bastante favorável para Gladstone Bandeira.
O nome para disputar teria que ser aquele cuja rejeição fosse praticamente zero, pois somente assim, haveria condições de crescer durante a campanha e reverter o quadro bastante favorável para Gladstone Bandeira.
Quem estava nas conversas como um possível candidato para concorrer naquela eleição era Raimundo de Castro, que buscava apoio para novamente lançar seu nome, apoiado na sua administração (1966/1970), considerada como uma das melhores, senão a melhor administração que tivera o municipio até então. O próprio Raimundo de Castro se autoproclamava ter sido o melhor prefeito de todos os tempos, enquanto por outro lado, criticava a administração de Antonio Holanda, além das críticas de cunho pessoal, o chamando de “sujo e mal asseado”. Essas atitudes levaram ao próprio Antonio Holanda a não aceitar que Raimundo de Castro fosse colocado como candidato, insatisfeito com as críticas desagradáveis que eram feitas a ele e ao seu governo.
Diante desse impasse, é que aconteceu uma reunião na casa do Velho da Serra para se definir qual seria o candidato, estando presente inclusive o Deputado Manoel de Castro.
Em meio àquela reunião, Antônio Holanda foi categoricamente contra ao nome de Raimundo de Castro, indo mais além, quando disse de forma irredutível, que a partir daquele momento, estaria lançando nome de Evaldo Holanda Maia para candidato a prefeito.
A atitude de Antônio Holanda surpreendeu a todos os presentes. Foi diante da sua inarredável posição em trabalhar para a eleição de Evaldo, contasse ou não com apoio do grupo, é que resolveram acata-la, mesmo contragosto de alguns, inclusive o próprio Raimundo de Castro, que teve que se conformar com a indicação do vice, cujo nome apontado por ele foi Jaime Oliveira Lima.
Apenas um dado poderia ser encarado como um obstáculo, mas logo discutido pelo grupo naquele momento: é que Evaldo nos anos finais da década de 60 faliu no comércio de compra de cera de carnaúba, algodão e de outros produtos e por causa da falência contraiu muitas dívidas para com os produtores rurais e outras pessoas as quais nunca pôde liquidá-las. Mesmo com esse ponto a considerar, lançaram seu nome para candidato juntamente com Jaime Oliveira Lima para vice-prefeito por indicação de Raimundo de Castro.
A primeira iniciativa tomada pelo grupo de apoio foi visitar os seus credores e para alguns deles, propuseram inclusive a liquidação da dívida, porém com os valores da época, o que representava apenas uma quitação simbólica.
Sendo Evaldo Holanda um homem reconhecidamente de caráter que dispensava qualquer comentário e tendo sido ainda um administrador honesto e competente no período em que terminou o mandato de Pedro Alves Filho (1965/1966) do qual era vice-prefeito, ao ter seu nome lançado como candidato não houve rejeição por parte dos eleitores, nem mesmo sequer uma contestação ou comentário insinuante e suspeito no que dizia respeito à condição de homem honesto no episódio que o levou à falência como comerciante local, o que nos leva a crer que ao falir, não o fez por desonestidade, mas sim por outras circunstâncias.
Os primeiros comícios da campanha de Evaldo não passavam de reuniões nas comunidades, enquanto o Careca continuava reunindo multidões nas praças públicas. Aos poucos, o número de seguidores de Evaldo foi aumentando, notando-se um considerável crescimento do seu nome, por conseguinte, criando um clima de otimismo nos correligionários.
Comparando os dois palanques em qualidade de oradores, o do Careca ficava muito aquém do de Evaldo que contava com aqueles tidos como grandes oradores entre outros o Dr. José Nilson Osterne e o Dr. José Maria Lucena. O próprio Evaldo Holanda, pronunciava-se com perfeição e facilidade o suficiente para ser considerado um dos melhores oradores limoeirenses. Além disso, contavam com a figura de Manoel de Castro, que vez por outra comparecia aos comícios. Já o Palanque do Careca, exibia como forte orador apenas o Doutor Expedito Maia da Costa, mesmo assim já muito cansado pela velhice pouco rendia nos seus discursos. Enquanto isso, a multidão tinha que ouvir, entre outros não menos piores, Benedito Rufino, Zé Regis e inclusive o Careca, cujos escalafobéticos pronunciamentos serviam de
piadas e chacotas até mesmo por parte dos seus próprios eleitores.
Por outro lado, o Careca mesmo diante do crescimento do adversário, acreditava que o povo iria entender a sua posição política e o recompensasse pela coragem de ter rompido com Manoel de Castro.
As candidaturas na reta final se polarizaram de tal forma, que os eleitores mais fanáticos destinavam a fazer apostas, algumas delas de valores elevados, incluindo como objetos a serem apostados, casas, gado, terras e dinheiro.
No capitulo cômico da campanha tinha de um lado, o próprio Careca deslizando frases desconexas e sempre iniciando o seu desengonçado discurso por um “quero dizer a vocês limoeirensus”, enquanto do outro, o Senhor Joaquim de Elias, diariamente repetia um mesmo discurso dizendo entre outras coisas:
“Como disse o grande Paulo Sarasate no seu discurso da Coluna da Hora: queiram ou não queiram os adversários políticos, Faustino de Albuquerque subirá o Palácio da Luz, e eu digo: queiram ou não queiram os adversários políticos, Evaldo Holanda Maia subirá os degraus da Prefeitura de Limoeiro do Norte. Tenho dito”.
No decorrer da campanha aconteceu um fato que veio trazer uma enorme preocupação naqueles que trabalhavam em prol da candidatura de Evaldo Holanda. É que Manoel de Castro teve que se afastar às pressas, justamente naquele momento para submeter-se a uma urgente cirurgia de ponte de safena. Porém o estado de saúde do “velho guerreiro” foi aproveitado na campanha como um instrumento favorável, para sensibilizar os eleitores. Quando já na reta final e faltando poucos dias para a eleição, Manoel de Castro ainda em recuperação da cirurgia veio participar do comício de encerramento, realizado na residência de Cosme de Zé Vicente. Numa demonstração de que sabia inteligentemente usar os fatos para transformá-los em puro populismo, naquela concentração política valeu-se da sua própria condição de debilitado e reforçou a idéia junto aos eleitores de que mesmo fraco e se convalescendo de um grave problema cardíaco, estava ali, participando daquela festa tão somente pelo “bem de Limoeiro”.
Muito aclamado pelo povo, no final do comício e como último orador, Manoel de Castro se pronunciou em um emocionante discurso, levando alguns dos mais apaixonados às lágrimas. Depois, dirigiu-se à sua residência, na Rua Padre Joaquim de Menezes acompanhado pelo povo, numa impressionante passeata e em lá chegando, se fez colocar em cima do capô de um corcel e proferiu outro discurso tão emocionante quanto o primeiro debaixo de uma esfuziante ovação da platéia. Numa prova de que sabia muito bem como atingir a sensibilidade do povo iniciou seu pronunciamento com as seguintes palavras:
“Amanhã, vai está espalhada a notícia de que o fantasma de Manoel de Castro foi visto perambulando as ruas da cidade! Mas deixem que falem, pois quem está aqui não é o fantasma mas este “velho guerreiro” de carne e osso para mostrar que gosta de Limoeiro...”
Na apuração dos votos, fantasticamente Evaldo Holanda Maia venceu a eleição por uma contagem de 346 votos contra seu adversário. Tamanha era a certeza da vitória que Careca ficou extremamente abalado, caindo em depressão, indo refugiar-se na residência do seu pai em Tabuleiro Alto.Vale registrar que também concorreu naquela eleição Dr. José Simões dos Santos como candidato a prefeito fazendo chapa com Chiquinho Gadelha para vice. Sem mais nenhuma expressividade, com o nome totalmente apagado da memória dos limoeirenses, conseguiu pouco mais de 200 sufrágios. Até hoje, não se entende o porque resolveu ser candidato depois de alguns anos de ostracismo.
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O resultado final daquela campanha de 1976 veio demonstrar mais uma vez a força de Manoel de Castro, sobretudo naquele momento e, todo aquele que pretendesse enfrentá-lo, teria que arcar com as conseqüências de um custo caríssimo pagando um preço muito alto que ia além da derrota nas urnas.
Um passo em falso no enfrentamento contra o “velho guerreiro” – assim era denominado pelos partidários – significava contar de certo com uma derrota que terminaria sendo humilhante, posto que, Manoel de Castro, usava de todos os meios, passando por cima de conceitos éticos e morais para não somente derrotar, mas também humilhar e pisotear aquele que no seu entender havia lhe traído. Entretanto, não se abstinha nem um pouco de estrategicamente, logo mais adiante, chamar novamente o derrotado para o seu o lado, e desta vez, lhe oferecendo regalias e vantagens. Essa atitude inteligente de Manoel de Castro se dava pelo fato de conhecer concretamente o peso político-eleitoral daquele a quem ele próprio derrotara e assim sendo, o retorno garantia uma considerável parcela de acréscimo no seu eleitorado.
Um passo em falso no enfrentamento contra o “velho guerreiro” – assim era denominado pelos partidários – significava contar de certo com uma derrota que terminaria sendo humilhante, posto que, Manoel de Castro, usava de todos os meios, passando por cima de conceitos éticos e morais para não somente derrotar, mas também humilhar e pisotear aquele que no seu entender havia lhe traído. Entretanto, não se abstinha nem um pouco de estrategicamente, logo mais adiante, chamar novamente o derrotado para o seu o lado, e desta vez, lhe oferecendo regalias e vantagens. Essa atitude inteligente de Manoel de Castro se dava pelo fato de conhecer concretamente o peso político-eleitoral daquele a quem ele próprio derrotara e assim sendo, o retorno garantia uma considerável parcela de acréscimo no seu eleitorado.
CORONEL ADAUTO BEZERRA - A FORÇA NO INTERIOR DO ESTADO
Em 1976 era governador do Estado o Coronel Adauto Bezerra que se revelou em toda sua vida pública, como um político de muitas habilidades e facilmente transformado em um dos três Coronéis da política cearense.
Durante o seu mandato, sabendo que a capital era um reduto oposicionista e até porque os prefeitos das capitais eram eleitos indiretamente e, sobretudo porque a população metropolitana era fortemente contrária às políticas dos últimos governos cearenses, principalmente dos “coronéis”, voltou-se inteiramente para o interior do Estado, dando total assistência aos correligionários bem como servindo aos partidários dos seus adversários, caracterizando o seu governo como eminentemente político, razão pela qual o Ceará passou por grande agitação política, quando o governador acobertava todas as ações certas ou erradas daqueles que seguiam a sua orientação.
Durante o seu mandato, sabendo que a capital era um reduto oposicionista e até porque os prefeitos das capitais eram eleitos indiretamente e, sobretudo porque a população metropolitana era fortemente contrária às políticas dos últimos governos cearenses, principalmente dos “coronéis”, voltou-se inteiramente para o interior do Estado, dando total assistência aos correligionários bem como servindo aos partidários dos seus adversários, caracterizando o seu governo como eminentemente político, razão pela qual o Ceará passou por grande agitação política, quando o governador acobertava todas as ações certas ou erradas daqueles que seguiam a sua orientação.
Dominou praticamente todo o interior Estado ao eleger 95% dos prefeitos, conseguindo solidificar fortemente a estrutura de suas bases eleitorais, através não apenas da máquina administrava do Estado, mas também com a força de seu império econômico, por intermédio do banco (Banco Industrial do Ceará-BIC) de sua propriedade, facilitando enormemente empréstimos aos agricultores que ao retirarem dinheiro eram dispensados dos entraves burocráticos, sem a necessidade inclusive do avalista o que lhe acrescentou na vitalidade política e no embate com os outros coronéis.
Mas em meio ao seu crescente e consistente poder, sofreu por parte da imprensa nacional uma verdadeira campanha negativa que por pouco não o tirou definitivamente da vida pública. Foi o que se cognominou “O Caso do Vigia” ou “O Escândalo de Juazeiro” quando foi assassinado por policiais o vigia José Teófilo da Silva funcionário de uma das empresas dos Bezerra em Juazeiro do Norte, acontecimento que alcançou repercussão nacional e amplamente enfatizado pela Revista Veja. Na reportagem a revista supunha que o vigia teria sido assassinado a mando da família e responsabilizava diretamente o governador, noticiando a tentativa de suborno aos familiares do morto para que o caso fosse abafado:
“...decidiram presentear Iríades e seus filhos com uma casa no valor de 40.000 cruzeiros..." (Ricardo Noblat, Revista VEJA, 7 de dezembro de 1977, págs. 32 a 34.)
Diante do efeito negativo que causou ao seu governo e a ele mesmo pessoalmente, foi aconselhado pelo Palácio do Planalto a renunciar ao cargo quatro meses antes do previsto pela Lei eleitoral, já que pretendia sair candidato a Senador, entregando o comando do Estado ao vice-governador Valdemar Alcântara. Em virtude do seu afastamento Adauto teria desabafado com seu irmão Ivan:
“Este crime estúpido pode abalar todo meu futuro político”.(NOBLAT, Ricardo. Revista VEJA, 7 de dezembro de 1977, pgs. 32 a 34.)
A renúncia antecipada deixou por demais alegres os seus adversários, pensando eles o terem degolado politicamente, no que estavam redondamente enganados. Como prova disso, espertamente percebeu que se aceitasse a oferta da ARENA cearense para disputar a senatória, estaria caindo em uma esparrela preparada principalmente pelos virgilistas e que lhe serviria como um golpe de misericórdia. Foi ai que decidiu se candidatar apenas para deputado federal optando por garantir o mandato público e para a surpresa dos seus adversários elegeu-se com a maior votação no nordeste, (120.000 votos), demonstrando a sua força no interior do Estado.
Um comentário:
Muito bem citada em sua cronologia a história ja que o povo nao preserva o passado se podesse ser mais enriquecido com mais imagens eu gostaria de ver para relembrar meu tempo pois a imagem fala por si só parabens pelo feito que é de muito boa qualidade
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