UM DOS MOMENTOS mais movimentados políticamente em Limoeiro do Norte, foi o período que antecedeu as eleições de 1982.
Os fatos corriqueiros em se tratando de política, aconteciam sempre em torno de todo o grupo de Manoel de Castro, já que os grupos de Dr. Simões e Franklin Chaves estavam praticamente enterrados, afora dona Judite que inutilmente teimava em manter a sua liderança.
Sendo Manoel de Castro o governador do Estado, pretendeu naquele ano, fazer uma campanha nos municípios nos quais ele tinha respaldo eleitoral de modo que viesse fortificar o esquema montado por ele e VT, na retomada das prefeituras. Nomeou para as Secretarias de Administração e Casa Civil, o Dr. José Maria de Oliveira Lucena, rapidamente denominado pela imprensa de supersecretário, quando até então ocupava o cargo de Procurador Jurídico da prefeitura.
Como era de praxe, sempre que se aproximavam as eleições se iniciavam as conversas em torno de quem seria o candidato, razão pela qual surgiam os interesses daqueles que detinham poder de barganhar alguma coisa. Muitos políticos encostaram-se ao chefe cada vez mais servis e com a aproximação das eleições se acentuou essa subserviência, por conseguinte, foi sendo criada também uma área de atrito numa disputa de quem tinha ou de quem não tinha mais cartaz, mais privilégio, junto ao chefe.
Tinha o governador o objetivo de ganhar as eleições não somente em Limoeiro do Norte, mas também em Morada Nova e outros municípios da região. Orientou o Dr. José Maria Lucena para trabalhar nesse sentido, transformando-se a partir daquele momento em um astuto e versátil negociador dos malabarismos políticos. Transformou-se ainda no principal articulador para a sucessão de Evaldo Holanda obedecendo e seguindo a doutrina e princípio do chefe que costumava a dizer: “a única coisa vergonhosa em uma campanha política é perder a eleição e nada mais”.
Por outro lado, Antônio Holanda de Oliveira, “o velho da serra” que há algum tempo já vinha arrepiado com Manoel de Castro, decidiu candidatar-se para concorrer naquela eleição. Para desagrado do governador e levando a sério seu intento, começou a visitar alguns correligionários externando sua intenção de novamente dirigir o executivo municipal. Devido essa atitude, foi aconselhado por Dr. José Nilson Osterne com a seguinte frase: “cuidado Antônio, pois começando cedo assim, no final você terá vendido o último forno de cal”.
Mas o destino foi cruel com o Velho da Serra. Sua intenção foi barrada por uma enfermidade que o impediu de prosseguir na campanha, obrigando-se a colocar seu filho Wilson Craveiro Holanda no seu lugar. Com Wilson candidato, a oposição de Manoel de Castro tornou-se mais acirrada, pois teria dito em conversas informais “que Wilson jamais seria prefeito se dependesse dele”.
Na época se ouviu um boato de que uma das razões pela qual Manoel de Castro se impôs contra os nomes de Antônio Holanda e Wilson se qualquer um dos dois fosse candidato, foi por sugestão e até imposição do seu supersecretário Dr. José Maria Lucena, o qual conservava alguns arranhões e atritos pessoais com Wilson Holanda.
Mesmo doente, e ainda resistindo com a fibra que sempre fez parte do seu caráter, Antônio Holanda decidiu partir para a briga, para o confronto, embora consciente de que a sua avançada idade e a enfermidade não lhe permitiriam envolver-se em mais uma campanha política.
Gladstone por sua vez, interessava encostar-se ao governador mostrando que mesmo tendo sido derrotado por ele nas eleições passadas, tinha atrás de si uma legião de eleitores que seguia à risca as suas orientações políticas. Numa verdadeira demonstração de falta de respeito ao povo e de que pouco lhe importava o senso de moral nas habilidades para conseguir o poder, voltou ao seio de Manoel de Castro, prometendo esquecer totalmente tudo o que dissera e fizera quando com ele rompeu em 1976. Aliás, essa passaria a ser a característica mais peculiar do Careca: nunca se abster em participar de conchavos e acordos a fim conseguir seus objetivos políticos.
Com a ideia implantada na cabeça de que sem a máquina administrativa ninguém consegue chegar à prefeitura, Gladstone conseguiu o apoio tanto do governo do Estado na pessoa do governador Manoel de Castro quanto do governo do município na pessoa de Evaldo Holanda Maia. O nome do candidato a vice-prefeito de Gladstone por sugestão de Raimundo de Castro e Silva e com o respaldo de dona Osmira e facilmente aceito por Manoel de Castro recaiu sobre o jovem odontólogo João Dilmar da Silva, uma figura inteiramente desconhecida dos limoeirenses, sem nenhuma experiência, totalmente avesso e alheio à política além de um fraquíssimo orador de palanque. Sua indicação era somente mais uma demonstração de que colocavam nomes como candidatos conforme suas vontades, pouco importando se representavam os anseios do povo.
Com o lançamento do nome do Careca, Antônio Holanda não se intimidou e lançou a candidatura do seu filho Wilson Craveiro Holanda. Há de se convir, que o rompimento de Antônio Holanda com Manoel de Castro, muito embora tenha sido encarado como um ato de heroísmo e coragem foi muito mais uma demonstração de desgosto e de insatisfação por ter recusado em apoiar a candidatura do seu filho para prefeito depois de ter-lhe servido fielmente durante tantos anos.
A candidatura de Wilson Holanda tão logo foi levada ao conhecimento público, caiu nas graças do povo. Méritos para isso não lhe faltavam, visto que era jovem, simpático e dinâmico em tudo que fazia. Para reforçar, convidou para vice-prefeito o benquisto industrial de filtros José Mendes.
Na esfera estadual, foi buscar o apoio do Coronel Adauto Bezerra, passando a ser um dos que tomava cafezinho em seu gabinete. Através de dona Judite recebeu também o suporte do Coronel César Cals e do seu filho César Neto, então Deputado Federal.
O nome de Wilson Holanda foi de tal forma aceito pelos limoeirenses que sua ascensão preocupou por demais os partidários do governador que passaram a não acreditar mais em uma vitória fácil.
É bom que se diga, que ambos os candidatos integravam o PDS (Partido Democrático Social) bem como apoiavam Gonzaga Mota ao governo do Estado candidato de Virgílio Távora, Adauto Bezerra e César Cals. A configuração de intriga e desavença que as lideranças estabeleciam no município em estarem sendo apoiado por um ou outro, era apenas um reflexo do que acontecia também no Estado onde os coronéis, mesmo se dizendo “unidos”, brigavam desesperadamente.
Durante a campanha, o crescimento da candidatura de Wilson Holanda tornou-se tão evidente que o governador e seus asseclas, inevitavelmente, tiveram que partir para o uso de várias estratégias caso contrário perderia a eleição, o que não era nada agradável, tendo em vista que essa seria a vitória mais importante na vida de Manoel de Castro, pois na qualidade de governador tinha como ponto de honra ganhar mesmo que tivesse que usar de todo tipo de esquema.
À revelia da própria Lei, começou por efetuar várias contratações em todo o Estado do Ceará.
“No Arquivo Estadual existe uma edição do Diário Oficial, assinado por Castro, em 1982, nomeando mais de 15 mil servidores, sem concurso público, num único dia - antes das eleições. [...] O Estado do Ceará ainda hoje paga o preço de seu governo - que inchou a máquina pública (principalmente de aliados) sem se preocupar como a conta seria paga”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Castro_Filho - Em 31.11.2009)A respeito de tais nomeações, o jornalista J. Ciro Saraiva (Quixeramobim), dá seu testemunho de que realmente elas foram uma exigência de VT, dizendo o seguinte:
Coube ao Governador Manoel de
Castro honrar os compromissos que Virgílio assumira, para que cessassem as
resistências à candidatura de Gonzaga Mota, em 1982. Acompanhei-o à casa de VT,
onde fomos recebidos reservadamente.
- Virgílio, as nomeações foram
feitas. São 16 mil.
Resposta lacônica:
- Muito bem.
O Governador, que não tinha
meias palavras, destacou:
- Fiz isso, por causa de você.
Outra resposta lacônica:
- Muito bem.
***********************************************
Vinte ou trinta dias depois, Virgílio
me chama à sua casa:
- Quero dizer ao senhor que
jamais concordei com essas nomeações que os jornais estão publicando.
Não pude ficar calado:
- Mas, Coronel, o Governador
Manoel de Castro veio aqui lhe dizer que fez as nomeações por causa do senhor!
Cortou-me a palavra:
- Muito pelo contrário, só
fizeram me atrapalhar.
Contei ao Dr. Manoel de Castro.
Riu gostosamente e depois, comentou:
-
O Virgílio é assim mesmo!
Aqui em Limoeiro do Norte, por exemplo, foram efetuadas em torno de duas mil dessas contratações na esperança de que se revertesse em votos favoráveis aos seus candidatos. Os responsáveis pelas indicações das pessoas a serem contratadas, eram os chefes políticos seguidores da doutrina manoelista. O único critério a ser cobrado no ato da contratação, era sobre o voto, que deveria ser dado aos candidatos indicados pelo Governador. Só para ilustrar o episódio das contratações, alguns dos contratados ao ter que apresentar os documentos exigidos e não os tendo o faziam com documentos falsificados, com mais frequência para os certificados de escolaridades. Já o Raio “X” de pulmão, um dos itens exigidos, muitos foram emprestados de um vizinho ou de outra pessoa conhecida.
Ainda sobre as
contratações o repórter da TV Verdes Mares Nelson Faheina, por ocasião de uma
entrevista com o governador fez a seguinte pergunta:
– É verdade,
governador, que o senhor nomeou 15 mil pessoas?
Ele respondeu:
– É mentira.
Nomeei trinta mil. São pessoas humildes, e, como elas, vou ainda nomear muito
mais. E não me pergunte mais nada. Não admito ninguém me cutucar com vara curta. (FAHEINA 2011, pág. 154)
Foi naquele ano em que se construiu o Terminal Rodoviário, por sinal, um dos mais modernos do interior do Estado. Aproveitando a onda das obras, mandou demolir um prédio que tivera sua construção iniciada na gestão de Custódio Saraiva – Hospital/Maternidade – e edificou o Centro Social Urbano. A demolição foi um presente do governador à família Chaves, visto que o prédio inconcluso era um monumento à corrupção das administrações limoeirenses. Instalou a Sede do DETRAN e por último implantou o PROMOVALE(*) indicando uma considerável melhoria para o trabalhador rural da Região Jaguaribana e, sobretudo de Limoeiro do Norte. Não passou de uma manobra política, pois na realidade nunca esteve a serviço dos objetivos para os quais fora criado.
(*)O Promovale abrangia os municípios de Alto Santo, Aracati, Iracema, Itaiçaba, Jaguaruana, Jaguaribara, Jaguaretama, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Morada Nova, Palhano, Pereiro, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte.
Nem mesmo com isso se fez sentir uma queda na popularidade de Wilson e para Manoel de Castro ser derrotado justamente naquele momento seria uma vergonha por dois motivos: primeiro, porque imbuído do cargo de governador tinha o dever de ganhar para comprovar sua força política e segundo, porque o adversário, no caso Wilson Holanda, foi fruto de um rompimento com seu grupo o que lhe provocou um sentimento de vingança e derrotá-lo seria uma questão moral.
Em meio à campanha, o candidato a vice-governador Coronel Adauto Bezerra compareceu a um comício na Praça da Catedral em apoio a Wilson Holanda, ocasião em que pronunciou um discurso falando sobre o “Careca” fazendo zombaria sobre a forma como o candidato era conhecido. Seu pronunciamento foi ouvido por Manoel de Castro do 1º andar da casa do seu concunhado Genésio Bezerra.
A vinda do Coronel Adauto Bezerra a Limoeiro causou pânico no grupo do governador crescendo o temor de perder aquela eleição. Sem ver alternativa, Castro partiu para o aliciamento direto aos eleitores e, de maneira acintosa e prepotente bem como numa verdadeira demonstração de descompromisso com a Lei usou o dinheiro do contribuinte para derrotar o seu adversário.
Era tão clarividente e aberrante a compra de votos e sem o menor respeito às Leis eleitorais, que em um determinado dia, próximo ao dia da eleição formou-se uma enorme fila, partindo da casa do próprio governador na Rua Padre Joaquim de Menezes, onde foi distribuído dinheiro vivo para o povo na quantia de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) para cada pessoa. Sabe-se ainda da distribuição de televisores, máquinas de costura, pneus de bicicletas e outros objetos em troca de votos.
Como última cartada o governador conseguiu trocar o juiz eleitoral quando faltavam apenas três dias para a eleição, voltando a Limoeiro o conhecido Dr. Miguel Aragão, apenas para aquele período.
No dia da eleição mandou para as ruas um enorme contingente policial fortemente armado, para intimidar os eleitores, fazendo reviver o tempo em que os adversários não podiam se manifestar. Os policiais, o juiz e os fiscais da justiça, permitiram que fosse feita propaganda do candidato do governador da seguinte forma: como o número de Gladstone era o 15, todos, até mesmo os que estavam trabalhando nas seções eleitorais, traziam um adesivo de um “jacaré”, relacionando o número 15 do jogo do bicho com o número do candidato.
Naquele fogo cruzado onde se debatiam duas grandes forças políticas, o PMDB para representar resistência e oposição àquelas candidaturas que não passavam de um resultado pelo racha no PDS, resolveu lançar uma chapa em que figuraram os nomes do Dr. Moacir e Cristóvão Pitombeira para prefeito e vice-prefeito respectivamente. Ao realizarem o último comício, os peemedebistas foram ingênuos quando partiram para a mesma data dos seus dois concorrentes e montaram palanque na Praça da Catedral. Além da inferioridade diante do poderio dos outros candidatos, foram ainda massacrados no momento em que realizavam a concentração, quando, tanto a caravana de Wilson Holanda quanto a do Careca, ao fazerem as passeatas, passaram justamente no meio da pequena multidão presente ao evento abafando de vez o coro já quase inaudível dos oposicionistas.
Já os comícios de encerramento dos dois grandes concorrentes foram realizados simultaneamente na Praça da Rodoviária (Careca) e na Rua Cel. Francisco Remígio (Wilson), ambos com a participação de uma grande multidão.
Para finalizar e antevendo ainda a imensa dificuldade em derrotar o adversário, os responsáveis pela campanha montaram um esquema, em que se não pudesse reverter os votos de Wilson em favor de Gladstone, pelo menos fosse conseguido com que o eleitor se abstivesse de votar. Os encarregados desse serviço eram os motoristas, que por ocasião do transporte de eleitores, indagava com quem iam votar, se caso fossem com Wilson, lhe ofereciam dinheiro e o induziam ainda a não votar em nenhum dos dois. Esse último passo foi decisivo para o resultado em favor do Careca, visto que, naquela eleição houve mais de mil e quinhentas abstenções enquanto que a maioria de Gladstone sobre Wilson foi pouco mais de mil e trezentos votos, portanto, menor que o número de abstenções, o que leva a analisar de que sem elas, Wilson teria saído com a vitória.
Sabe-se de uma retirada vultosa em dinheiro do BRADESCO, altas horas da noite em que antecedeu o dia da eleição, para assegurar a compra de votos.
Há quem afirme categoricamente que todo o processo político que levou Wilson Holanda à derrota, teve como mentor o supersecretário de governo o Dr. José Maria Lucena visto como coordenador e conselheiro do governador Manoel de Castro, que por sua vez assinou embaixo todos os atos do seu secretário objetivando resultados positivos naquela eleição. Todavia, a preocupação de Manoel de Castro com Limoeiro do Norte não funcionou em Morada Nova, sua terra natal, onde alguns de seus irmãos e outros membros da própria família eram seus principais adversários.
“O esquema falhou na própria cidade do governador Manoel Castro, Morada Nova, apesar de toda a assistência dada àquele município chegando até a transferir o Banco do Estado do Ceará para lá. Mas o fato é que a família Castro estava dividida. O irmão do governador subia, por exemplo, aos palanques, para pregar a desonestidade e falsidade do mano”. (JUNIOR, 1984, p. 58)
Se ganhou em Limoeiro, em Morada Nova Manoel de Castro perdeu, sendo essa a primeira derrota de um governador em sua terra natal na história do Ceará.
“Ele usou e abusou da máquina estadual para eleger candidatos de sua preferência, mas chegou a perder a eleição em sua cidade natal (Morada Nova), em 1982, tendo a filha como deputada estadual (Douvina Aleuda Eduardo de Castro) e o irmão, Isaias Castro, então prefeito da cidade”.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Castro_Filho - Em 31.11.2009)
Foi a partir daquele ano que Manoel Castro praticamente encerrou sua vida pública e com isso, fazendo despontar outras lideranças se iniciando um novo ciclo na política limoeirense.
Durante a campanha um trágico acontecimento abalou toda a classe política bem como toda a população do município. Faltando apenas duas semanas para a eleição, foi brutalmente assassinado com um tiro no peito o candidato a vereador Jurahy Santiago, vitima de um crime passional, ao envolver-se com uma mulher. O companheiro desta, enciumado cometeu o fatídico homicídio.
Logo ficou provado que o crime não teve nenhuma relação com a campanha política que estava acontecendo naquele momento, todavia, em acontecimentos desta natureza sempre existem os mal-intencionados que planejam tirar proveito da situação. No caso do assassinato de Jurahy, um desses maldosos políticos, do tipo que não lhe importa o motivo nem o caminho para chegar a um resultado positivo, por mais sórdido que seja esse caminho, chegou a sugerir ao candidato Wilson Holanda a contratação de pistoleiros para assassinar um dos adversários, insinuando ele que a morte de Jurahy teria sido por motivos políticos. Como era de se esperar, Wilson não deu nenhum crédito nem ouvidos ao que sugerira o pernóstico candidato a vereador.
Se na Política “ninguém é santo” há aqueles que vão além da coerência e da ética para se elegerem, pouco lhes importando o conceito de homens públicos. Os fatos interessantes também existem nas campanhas dos candidatos a vereador e que muitas vezes se revestem de fantásticos acontecimentos, frutos de montagens cerebrinas e brilhantemente postos em prática de maneira altamente eficiente. Para comprovar, vamos relembrar o fato que levou o candidato a vereador Gentil Saraiva à derrota na sua campanha para a Câmara Municipal em 1982. Como era afilhado de dona Judite, tinha desta uma especial simpatia, muito embora ela nunca demonstrasse qual era o seu candidato preferido, porem dedicava ao afilhado uma deferente atenção. Essa estreita amizade gerou um ciúme doentio no também candidato Professor Antônio Pergentino Nunes, que tratou de montar uma solerte e sórdida estratégia, a fim de abater a concorrência de Gentil Saraiva, a quem considerava um empecilho na sua intenção de eleger-se vereador. Ora, sabendo ele que existia entre Judite Chaves e Raimundo de Castro algumas mágoas, consequência ainda do rápido pouso deste no ninho de Manoel Castro tão logo terminou a eleição de 1966 – como já vimos – e também sabendo que Raimundo de Castro estava apoiando Zé Holanda Baixim para vereador, resolveu criar uma história, digna de um cérebro astuto e ardiloso. Chamou dona Judite em confidências, dizendo-lhe que Raimundo de Castro andava comentando que ele, Pergentino, não seria eleito, pois dona Judite não tinha mais prestígio como líder política nem votos suficientes para eleger sequer um vereador no município e ia mais além, dizendo que o seu candidato, Zé Holanda seria um dos mais votados o que viria comprovar justamente que ele era quem tinha condições para eleger quem quer que fosse e por isso tinha escolhido para apoiar um nome sem nenhuma expressão política. O poder de persuasão de Pergentino mais uma vez não falhou e, dona Judite, com receio de que se confirmassem os supostos comentários de Raimundo de Castro, desprezou totalmente o nome de Gentil Saraiva e passou a trabalhar com afinco o nome do Professor, resultando em sua espetacular eleição e, por conseguinte, na derrota de Gentil Saraiva, que por muito tempo, guardou a marca da traição do seu correligionário.
Tão grande era a obsessão de Pergentino por uma vaga na Câmara Municipal, que chegou a ameaçar pessoas da própria família, ao tomar conhecimento que parentes muito próximos estavam também se candidatando a uma vaga no legislativo, achando que somente ele tinha o direito de disputar o cargo e a divisão dos votos na família poderia prejudicar a sua candidatura.
Um fato também digno de registro diz respeito à campanha de três candidatos a vereador: José Maria de Andrade, José Holanda (Baixinho) e Rita Peixoto.
Os patrocinadores dos três respectivos candidatos travaram uma disputa dentro do próprio grupo para saber quem elegia o seu vereador com maior quantidade de votos. José Maria de Andrade estava sendo apoiado por José Maria Lucena, José Holanda por Raimundo de Castro e Rita Peixoto por Douvina Castro.
Raimundo de Castro dizia em conversas informais que mostraria àqueles que diziam que ele não tinha mais prestígio para eleger sequer um vereador, e elegeria um nome sem nenhuma expressão política, e por isso escolhera Zé Holanda para dar seu aval político, a quem por deboche o tratava como “Zé Priquitim”.
O fato que os três foram folgadamente eleitos. Quem conseguiu um maior numero de votos, foi Rita Peixoto, tendo sido a campeã atingindo a extraordinária cifra de mais de 1300 sufrágios, numa campanha que se igualou à do prefeito, com direito a trio elétrico exclusivo e sem dúvidas uma significativa soma na eleição do Careca levando-se em conta o grande número de votos obtidos. José Holanda, também saiu bem votado e por fim, Zé Maria de Andrade cuja eleição, segundo ele próprio, lhe deu um mandato ilegítimo.
Para melhor ilustrar a eleição de Zé Maria, é bom que contemos a história verdadeira de como ele chegou ao parlamento municipal. Tudo começou quando o seu sogro Antônio Vicente Maia, achou por bem não concorrer naquele pleito, tendo em vista a sua avançada idade e saúde debilitada. Convidou então Zé Maria para em lugar dele, candidatar-se a vereador que a princípio rejeitou a ideia do seu sogro, porém cedeu depois, indo até Fortaleza para receber o apoio do Dr. José Maria Lucena. Tanta certeza tinha da seriedade que deve ter um homem público, que Antônio Vicente, ao convencer o genro a ingressar no mundo da política, disse que “a política é para os homens de bem”. – pelo menos deveria ser.
A eleição de Zé Maria custou a distribuição aos eleitores de filtros para água, de mais alguns televisores e máquinas de costura. Segundo o próprio Zé Maria, somente os filtros foi do seu conhecimento, e fez a distribuição da forma mais justa possível, sem olhar e nem questionar o voto de qualquer eleitor.
Diante desse pequeno histórico sobre o vereador Zé Maria, nos convém fazer uma ressalva interessante com relação à sua atuação como parlamentar. Era de se esperar que da forma como foi eleito, fosse mais um para não honrar o mandato recebido do povo, todavia ao chegar ao parlamento, Zé Maria transformou-se num ferrenho defensor das causas sociais, marcando presença em todos os movimentos populares, empenhando a sua voz e o seu esforço em prol de causas socialmente justas. Como prova de uma ideologia política realmente identificada com as causas sociais, se filiou tempos depois ao PT (Partido dos Trabalhadores) e é justo dizer, que sua atuação na Câmara sempre foi de respeito aos votos recebidos. Neste caso e para entender melhor a atitude e a conduta política de Zé Maria no seu contexto real, é necessário conhecer o momento histórico e político em que ele teve que se sujeitar à uma maneira imprópria para conseguir o seu primeiro mandato. Achamos conveniente, portanto, atribuímos à esse fato, uma das frases mais famosas de Maquiavel: "Os fins justificam os meios”. Se nesta comparação houve intenção ou não para que tão logo fosse eleito demonstrasse seu caráter de homem verdadeiramente público, a verdade é que Zé Maria deu um exemplo de que a máxima de Maquiavel pode ser colocada perfeitamente em prática, embora saibamos que muitas vezes ela é usada pelos políticos para sugerir que um fim considerado muito importante torne moralmente justificável o uso de um recurso a qualquer meio.
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Sobre a eleição de 1982 não podemos deixar de registrar um fato lamentável com relação ao então prefeito Evaldo Holanda Maia quando se destinou a apoiar o candidato que fora derrotado na eleição passada pelos mesmos que naquele momento de tudo faziam para elegê-lo. Depois de exaltarmos as qualidades de Evaldo e o seu caráter de homem público, somos obrigados a lamentar a sua tomada de posição no que diz respeito àquele pleito eleitoral de 1982 e, nos comprime muito mais em dizer que, apesar do seu caráter inquestionável, se mostrou naquele momento como um homem fraco, quando ajudou a engendrar as manobras para eleger o Careca. É bastante compreensível que ele se sentisse na “obrigação” de proceder dessa forma pelo muito que devia a Manoel de Castro principalmente por torná-lo prefeito em 1976, entretanto, muito mais gratidão devia a Antônio Holanda, que foi quem o indicou de forma incondicional como candidato em 1976. Aqui se encaixam muito bem as palavras do próprio Wilson Holanda quando certa vez se referindo ao fato disse: "Evaldo nos traiu miseravelmente". Portanto, seria mais digno e até para combinar com tudo que dele já dissemos, se não tivesse se mancomunado com aqueles que queriam eleger o Careca a qualquer custo, mas ao que pareceu Evaldo o fez “ex toto corde”.
Sobre o retorno do Careca ao ninho manoelista podemos dizer que foi uma atitude de esperteza, já que pretendia ser prefeito de Limoeiro a qualquer custo e por outro lado, Manoel de Castro ganhou de volta um dos seus mais abnegados serviçais. Com aquela atitude, o Careca, mostrou que o grito de liberdade dado em 1976 não passou de uma farsa e que seu lugar era mesmo o ombro de Manoel de Castro, aliás, de onde nunca deveria ter saído. Sua identidade política teria sido mostrada de forma confiável se tivesse sustentado a sua decisão de chegar ao poder executivo através da força popular e não pela manipulação no aliciamento dos eleitores. Aproveitou-se ainda da morte de Zé Hamilton, visto que se fosse vivo, jamais teria aceitado naqueles termos a sua candidatura.
Já Wilson Holanda, ao ser derrotado da forma como foi por Manoel de Castro, sentiu na pele aquilo que ajudara a fazer com o próprio Gladstone Bandeira em 1976, quando este foi derrotado por Evaldo Holanda Maia. Ao ser massacrado políticamente por aquele a quem rendeu subserviência, Wilson Holanda veio comprovar de que disputar contra Manoel de Castro era o mesmo que remar contra a maré, ou seja, arcar com a amargura de ser pisoteado e humilhado perante todos. Mesmo tendo sido derrotado de uma forma humilhante, Wilson bem que mereceu ser vítima de Castro e de seus comparsas, visto que até então, lambia e limpava os pés do “Velho Guerreiro” devotando-lhe igualmente a todos, uma subserviência total. E também se sabe que em circunstâncias que lhe fossem favoráveis, com certeza não teria o menor escrúpulo em participar de uma armação nos mesmos moldes daquela que lhe derrotou, para tirar do páreo um adversário.
Manoel de Castro tinha uma característica interessante na sua forma de fazer política. Como já dissemos, não se acanhava em juntar-se com os que em outras ocasiões lhe dirigiram insultos através de palanques adversários. Entretanto, essa estratégia se transformava numa forma de tornar cada vez mais subserviente aquele que regressava para o seu lado, o que importava na realidade, eram os rendimentos políticos e a concretização de seus pretextos eleitorais. Estabelecia entre os seus asseclas um jogo de favoritismo, em que usando de seu prestígio com o governo do Estado presenteava-os com empregos para a família, como forma de convertê-los cada vez mais em seguidores de sua doutrina política. Conseguiu com essa hábil maneira de agir a adesão da maioria das lideranças limoeirenses em troca de empregos e cargos públicos do Estado. Para comprovar, podemos afirmar seguramente que durante o período de sua atuação política em Limoeiro, não vamos encontrar facilmente um servidor público estadual que não tenha sido “empregado” por seu intermédio. Grande parte das famílias limoeirenses, dentre elas, os Holanda, os Castro, os Costa, os Da Silva, os Osterne, etc., tem empregos cedidos por Manoel de Castro e algumas dessas famílias têm, até hoje, empregados praticamente todos os seus membros.
Aceitar está do lado de Manoel de Castro, era o mesmo que assinar um termo de que teria que seguir uma doutrina, onde o comandante dificilmente aceitava aposições de suas ideias ou das posições tomadas, criando um fanático proselitismo político onde os seus seguidores passavam a exercer um devotado capachismo, sobretudo em agradecimento aos empregos públicos recebidos. Agindo assim, Manoel de Castro colocou sob o seu jugo praticamente todos aqueles que se destinaram a ser partidários seus, incluindo gente de todas as camadas sociais que ia desde à classe de médicos, dentistas, advogados e agropecuaristas, até aos mais simples e humildes homens do campo. Por outro lado e na hora certa o “velho guerreiro” usava de outra faceta sutilmente habilidosa: era tratar a pão e água alguns dos seus prosélitos, sabendo que eles jamais teriam a coragem e a petulância de deixar de segui-lo. Com relação a essa dúbia e estranha atitude, dizia às vezes, que “não teria nenhuma vantagem em investir naquilo que já era seu”.
Manoel de Castro usava os
palanques políticos com uma perspicácia extraordinariamente peculiar, e seus
improvisos no meio dos discursos era o que mais impressionava. Como exemplo, vejamos
o que diz o jornalista Ciro Saraiva:
O
improviso do dr. Manoel
Em 1982, o
Governador Manoel de Castro deu-me uma incumbência:
– Quando eu
estiver falando e fizer alguma referência ao Adauto (Bezerra), puxe no meu
palitó.
À noite,
estávamos em Senador Pompeu, pregando a candidatura de Aécio de Borba. Comício
grande, o governador abriu o sarrafo contra Adauto. Fiz o que ele mandara. Ato
contínuo emendou no seu discurso:
– E não
adianta Ciro Saraiva, puxar meu palitó, não, que ninguém vai me impedir de
dizer a verdade!
http://www.casadoceara.org.br/arquivos/Jornal/JornalMaio09/jornal.pdf -
em 06.02.2010
Aceitar está do lado de Manoel de Castro, era o mesmo que assinar um termo de que teria que seguir uma doutrina, onde o comandante dificilmente aceitava aposições de suas ideias ou das posições tomadas, criando um fanático proselitismo político onde os seus seguidores passavam a exercer um devotado capachismo, sobretudo em agradecimento aos empregos públicos recebidos. Agindo assim, Manoel de Castro colocou sob o seu jugo praticamente todos aqueles que se destinaram a ser partidários seus, incluindo gente de todas as camadas sociais que ia desde à classe de médicos, dentistas, advogados e agropecuaristas, até aos mais simples e humildes homens do campo. Por outro lado e na hora certa o “velho guerreiro” usava de outra faceta sutilmente habilidosa: era tratar a pão e água alguns dos seus prosélitos, sabendo que eles jamais teriam a coragem e a petulância de deixar de segui-lo. Com relação a essa dúbia e estranha atitude, dizia às vezes, que “não teria nenhuma vantagem em investir naquilo que já era seu”.
O exemplo que podemos citar para confirmar esse gesto é o de Francisco Moreira Filho de Tabuleiro do Norte, que segundo o seu filho Jesus Moreira de Andrade, Chico Moreira era seguidor extremamente fiel à doutrina política de Manoel de Castro, mas que sofreu durante toda a sua vida o desprezo e a indiferença por parte do chefe, principalmente com relação aos empregos, com os quais costumava presentear os seus seguidores. Ainda segundo Jesus Moreira de Andrade, mesmo depois da morte do pai, Manoel de Castro não se sensibilizou:
”...ficamos em quase completo abandono por parte do Deputado Manoel de Castro Filho, a quem meu pai foi “fiel até a morte””. (ANDRADE J. M., 1980, p. 82)
Jesus diz ainda que sua mãe viúva tentou por várias vezes uma ajuda para a família, que passava por imensas dificuldades financeiras. Mesmo dizendo-se abandonado, Jesus Moreira lembra que tiveram os empregos sim, porém à custa de muito esforço de sua mãe que passou a implorar humildemente de Castro:
“Lembramos que naquela época quase todos os dias a nossa mãe se deslocava do bairro Otávio Bonfim, onde morávamos numa casa alugada, até o bairro de Fátima, a pé, onde morava o deputado Manoel de Castro. Apesar de todo esse sacrifício e humildade da nossa mãe viúva, nada foi conseguido, a não ser o emprego de contínuo nas repartições do governo, cargo este que assumimos com a maior naturalidade, forçados pelas dificuldades que estávamos passando.” (ANDRADE J. M., 1980, p. 82)
A CANDIDATURA DE GONZAGA MOTA – O ACORDO DOS CORONEIS
Também acontecia naquela época a primeira eleição direta para governador após a Revolução de Março de 1964. A novidade era que para participar das eleições, os partidos eram obrigados a apresentar candidatos a todos os cargos em disputa e o eleitor não podia votar em candidatos de partidos diferentes, ou seja, era obrigado a votar no mesmo partido para todos os cargos, caso contrário o voto seria anulado. Foi o que ficou conhecido como "voto vinculado” cujo objetivo era de que ao se juntar as eleições para todos os cargos em um único pleito, o PDS saísse favorecido e fortalecido, já que se encontrava visivelmente desgastado pelas práticas politiqueiras estabelecidas desde a antiga ARENA. Esse foi o único motivo pelo qual o “voto vinculado” foi legalmente adotado em 1982, muito embora, a alegação fosse de que os partidos sairiam fortalecidos e teria assegurada a fidelidade partidária. Mas na prática mesmo, o que se julgava era que a vinculação do voto beneficiasse o PDS, partido do Governo Federal, dominante na maioria dos estados e dos municípios no país. O certo é que a estratégia não funcionou como o desejado e incrivelmente, o PMDB teve suas bancadas aumentadas de forma considerável em praticamente todos os Estados da federação e ainda mais com a surpresa causada pela grande quantidade de votos brancos e nulos, numa clara demonstração de insatisfação do eleitor brasileiro.
No Ceará, para que se definisse quem seria o candidato de consenso dos coronéis necessitou de um acordo na presença do então Presidente da República General João Figueiredo, consolidando o famoso Acordo de Brasília ou mais vergonhosamente o Acordo dos Coronéis.
Tudo começou quando Adauto Bezerra dizia em entrevistas que seria candidato e Virgílio Távora também divulgava pela imprensa através do Governador Manoel de Castro que Aécio de Borba sairia candidato com o seu apoio. Naquele momento o racha no PDS cearense era evidente. Sentindo que estava perdendo espaço para os dois desafetos, César Cals usou do seu prestígio junto ao Presidente Figueiredo para que os três fossem convocados a uma reunião no Planalto e mediante a um acordo estabelecessem as regras para as eleições daquele ano no Ceará.
Em meio à reunião Virgílio Távora surpreendeu a todos quando arrancou do bolso do paletó um nome do seu antigo secretariado para candidato. Tratava-se de Luiz Gonzaga da Fonseca Mota, um jovem economista, Professor da UFC, Técnico do BNB e até pouco tempo Secretário de Planejamento do governo, o qual VT considerava altamente competente e além do mais alegava ser um nome neutro e longe dos interesses grupistas. Aquela atitude de Virgílio resultou numa frase amplamente divulgada de que fora “tirado um totó de um saco de gatos”, numa alusão de que em meio a todo aquele emaranhado de interesses pessoais VT, conseguiu sobrepor a sua vontade indicando um nome aparentemente manobrável e mais uma vez levou vantagens graças às suas inteligentes manobras. Se a expressão totó – na frase – fazia referência a um cão pequeno, a palavra também significa Chute Fraco o que ironicamente se enquadrou tempos depois na situação dos coronéis, já que Gonzaga Mota rompeu com todos eles durante o seu governo.
Ainda fazendo parte do “acordo” Virgílio partiria para o Senado, Adauto entraria na chapa como vice-governador e Cals indicaria o prefeito de Fortaleza - indicou o seu Filho César Cals Neto (1983/1985) - enquanto o Estado seria dividido em três fatias de 33% dos seus cargos para cada um deles, sobrando – matematicamente – 1% para o novo governador.
Se não tivesse havido o acordo e as intenções dos coronéis em disputar o poder “cada um por si” tivesse se concretizado o Ceará teria tido uma campanha de um só partido, porém com dois fortíssimos blocos: um apoiado pelo poder da máquina administrativa do Estado, portanto, patrocinado pelo dinheiro do povo através do Governador Manoel de Castro e o outro apoiado pelo poder econômico/empresarial dos Bezerras do Cariri. Mas falou mais alto o interesse pessoal de cada um, razão pela qual acharam melhor lotear o Estado entre eles e seus apaniguados.
Contudo, ao se iniciar a campanha eram claras as divergências entre os coronéis. Adauto Bezerra, mesmo sendo candidato a vice-governador, demonstrava não ter o menor interesse em que Gonzaga Mota se elegesse, justamente por ter sido indicado por Virgílio Távora, antevendo que Mota seria uma peça de fácil manobra política nas mãos de VT. Diante disso, orientou aos seus partidários a encabeçar uma campanha em favor do “Voto Camarão”, sugerindo que em virtude da vinculação do voto, onde o eleitor tinha que votar em candidatos de um mesmo partido, não teria o voto anulado se deixasse de votar em algum nome da chapa, portanto, não haveria problema em desprezar o voto de governador que encabeçava a lista e marcar os outros postulantes, ou seja, de senador a vereador.
Esse procedimento poderia desencadear numa enormidade de votos brancos para governador e reverter o resultado em favor de Mauro Benevides, candidato do PMDB.
Era com essa briga interna que Mauro Benevides esperava ser beneficiado, repetindo a dose da eleição de 1974, quando foi eleito senador ainda no MDB. É que naquela eleição o candidato a senador arenista Edílson Távora – indicado por César Cals – mantinha uma área de fortes atritos na política cearense, além de ser inimigo pessoal de Virgílio, que evidentemente não o apoiou, resultando numa vitória espetacular de Benevides para o Senado Federal.
Só que em 1982 mesmo sugerindo o “voto camarão”, no final prevaleceu em Adauto Bezerra o instinto econômico/empresarial, temendo uma perseguição do planalto sobre suas empresas e resolveu colaborar para que Gonzaga Mota fosse eleito.
Aquela seria a última eleição sob o comando do Coronéis, e como se fosse uma premonição de Virgilio Távora, podemos destacar o seguinte:
A profecia de
vt
15
dias antes das eleições de 1982, Virgílio Távora reuniu a Assembléia de
Comunicação e o Coordenador de Campanha, Aldenor Nunes Freire. Mostrou números
que lhe eram trazidos pelo SEI (Serviço Estadual de Informações) que asseguravam
a vitória de Gonzaga Mota (PDS) sobre Mauro Benevides (PMDB). Depois,
perguntou:
-
Qual vai ser a maioria do Totó (Gonzaga)?
-
200 mil votos, chutei.
-
300 mil votos, sugeriu Aldenor.
Virgílio
emitiu sua opinião:
-
Ganharemos por mais de 600 mil votos.
Votação
apurada para Governador: Gonzaga Mota: 1.140.259
(58,7%
do eleitorado); Mauro Benevides, 478.755 (24.5) maioria:
661.794
votos. Ao encerrar a reunião, depois de recolher os calhamaços de informações, Virgilio fez uma frase profética:
- Esta é a
última vitória dos coronéis.
Em
1986, deu Tasso Jereissati pelas mãos de Gonzaga.
J.
Ciro Saraiva (Quixeramobim), jornalista
http://www.casadoceara.org.br/arquivos/Jornal/JornalAbril09/jornal.pdf em 18/11/2011
GONZAGA MOTA - GOVERNADOR
Ao chegar ao cargo maior do executivo estadual em 1983, Gonzaga Mota, o Totó, teve que assumir obedecendo aos critérios políticos, estabelecidos por força do Acordo de Brasília, que o obrigou a dividir os cargos do Governo em partes iguais e da seguinte forma: Virgílio Távora ficou com a Secretaria de Educação, de Administração e Interior; Adauto Bezerra, com a secretaria de Saúde, a de Agricultura e a dos Assuntos Municipais; César Cals ficou com a Casa Civil e a Procuradoria Geral do Estado.
Evidentemente que isso dificilmente poderia dar certo, até porque Mota também não era tão tolo de aceitar cargo de governador tão somente para assinar papéis. De início, ao nomear os secretários e assessores, colocou em posições estratégicas pessoas confiáveis, muitos deles disfarçados de coronelistas.
Depois de várias demissões, o que intensificou a crise dentro do PDS que já vinha sensivelmente abalado e motivado pela própria política que vinha se desdobrando no país, Gonzaga Mota rompeu de vez com os coronéis e partiu com a intenção de fazer com que sua estrela brilhasse nacionalmente quando aderiu ao movimento que tratava das eleições presidenciais, unindo-se ao vice-presidente da república Aureliano Chaves e aos senadores Marco Maciel e José Sarney, com os quais fundou a Frente Liberal. Com essa atitude, demonstrava a sua independência política, sendo ele o primeiro governador do país a se definir contra o governo central. Isso fez com que o presidente Figueiredo lhe escrevesse um bilhete do próprio punho o chamando de pseudoamigo, em virtude de antes, Mota ter se manifestado a favor de Mário Andreaza, candidato do PDS à presidência da república.
Começou dessa forma o surgimento de uma nova facção política comandada pelo governador do Estado e, afora os que foram convidados também passaram a fazer parte do novo seguimento engrossando a fileira gonzaguista, aqueles que sempre estão dentro de todos os governos, não importa quem seja o chefe.
Com a liberdade anunciada e a declaração pública do governador dando conta do rompimento político com os que o apadrinharam, teve início a queda do poder político dos coronéis chegando ao fim o ciclo mais tirânico da história política cearense e Gonzaga Mota foi o último governante a transferir para o governo todos os compromissos impostos por patrocinadores de campanhas eleitorais.
Evidentemente que isso dificilmente poderia dar certo, até porque Mota também não era tão tolo de aceitar cargo de governador tão somente para assinar papéis. De início, ao nomear os secretários e assessores, colocou em posições estratégicas pessoas confiáveis, muitos deles disfarçados de coronelistas.
”...o Governador coloca vários “olheiros” de sua inteira confiança em posições chaves da administração. (JUNIOR, 1984, p. 71)Não demorou muito para começar a rolar cabeças importantes dentro do governo, irritando principalmente partidários virgilistas queixando-se de que o governador havia traído o chefe.
Depois de várias demissões, o que intensificou a crise dentro do PDS que já vinha sensivelmente abalado e motivado pela própria política que vinha se desdobrando no país, Gonzaga Mota rompeu de vez com os coronéis e partiu com a intenção de fazer com que sua estrela brilhasse nacionalmente quando aderiu ao movimento que tratava das eleições presidenciais, unindo-se ao vice-presidente da república Aureliano Chaves e aos senadores Marco Maciel e José Sarney, com os quais fundou a Frente Liberal. Com essa atitude, demonstrava a sua independência política, sendo ele o primeiro governador do país a se definir contra o governo central. Isso fez com que o presidente Figueiredo lhe escrevesse um bilhete do próprio punho o chamando de pseudoamigo, em virtude de antes, Mota ter se manifestado a favor de Mário Andreaza, candidato do PDS à presidência da república.
Começou dessa forma o surgimento de uma nova facção política comandada pelo governador do Estado e, afora os que foram convidados também passaram a fazer parte do novo seguimento engrossando a fileira gonzaguista, aqueles que sempre estão dentro de todos os governos, não importa quem seja o chefe.
Com a liberdade anunciada e a declaração pública do governador dando conta do rompimento político com os que o apadrinharam, teve início a queda do poder político dos coronéis chegando ao fim o ciclo mais tirânico da história política cearense e Gonzaga Mota foi o último governante a transferir para o governo todos os compromissos impostos por patrocinadores de campanhas eleitorais.
2 comentários:
Bom artigo,sobre a histórica política limoeirense e cearense em 1982. No entanto nas entre linhas observa-se uma tendencia revanchista e esquerdista nas análises dos fatos.
Nem uma coisa nem outra... apenas escrevo, porém não posso afirmar que com total imparcialidade, por ninguém é imparcial, sobretudo quem escreve.
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