domingo, 15 de março de 2009

Capítulo V - A ELEIÇÃO DE 1954 – A QUEDA DO PSD E DOS CHAVES

AO APROXIMAR-SE AS eleições de 1954 a UDN preparava-se para lançar um candidato que fosse suficientemente forte para enfrentar o PSD. Reuniões e mais reuniões realizavam-se onde buscavam um nome que pudesse ganhar finalmente a eleição. Os fatos acontecidos durante as gestões dos prefeitos chavistas, sobretudo na de Mixico Nonato eram as armas mais eficientes que poderiam ser usadas, aproveitando nesse contexto a insatisfação popular.
Dentre os que participavam dessas reuniões, além de Manfredo de Oliveira, Júlio Eduardo, Sabino Roberto, Deputado Manoel de Castro, Pedro Celestino, João Eduardo, entre outros, encontrava-se também o médico Dr. José Simões dos Santos que, aliás, foi quem primeiro sugeriu ao grupo, que o nome certo para concorrer nas eleições seria o de Sabino Roberto. Inicialmente, houve certa apreensão considerando que não era um homem de cultura, todavia, levaram em conta a sua grande popularidade e finalmente chegaram ao consenso de lançar mesmo o seu nome para candidato udenista.
O certo é que Sabino se não era mesmo um homem letrado, em contrapartida era um tipo agradável, simpático, de pouco falar e muito ouvir além de mais alguns pontos bastante favoráveis: era uma pessoa simples, dono de uma reputação ilibada e muito dado com a “matutada”, tanto que, normalmente, nos dias de feira, fazia questão de juntar-se aos “matutos” para deles ouvir histórias engraçadas, enquanto levava o tempo a rir e a pagar doses de conhaque.
O PSD também se mobilizando para lançar um candidato chegou à conclusão de que seria Jaime Leonel Chaves, filho de Leonel Chaves, portanto, primo legítimo de Judite que ao contrário de Sabino Roberto era um homem culto, dono de cartório e pessoa benquista perante a sociedade.
Mas o povo de imediato agradou-se foi do nome de Sabino Roberto e essa mesma sorte não tiveram os pessedistas com Jaime Leonel, muito embora sendo um homem culto e de bons preceitos, passava longe, muito longe da popularidade de Sabino.
A escolha de Jaime Leonel, reforçava a ideia de que os Chaves pensavam sempre em continuarem no poder através da família. Bem que poderiam ter colocado um político de maior peso eleitoral para concorrer naquela eleição e um nome que ventilou fortemente entre os pessedistas, foi o de Sizenando Jacó de Freitas, levando em conta o seu carisma junto aos eleitores, sobretudo da zona rural, o que daria ao PSD melhores condições na disputa.
Vale ressaltar ainda que além da identificação do seu candidato com o “povão” uma força muito forte impulsionava a campanha para uma vitória esmagadora da UDN, força essa vinda dos grandes proprietários rurais, os quais aproveitando um período de forte mobilização de algumas instituições, dentre elas a Igreja Católica, a fim de organizar o homem do campo através de sindicatos e outras entidades, que surgiam naquele momento, passaram a exercer sobre os camponeses uma espécie de (falsa) representatividade e nesse sentido, Sabino Roberto encarnava a imagem do sertanejo, sobretudo os mais humildes, posto que seu relacionamento com os pequenos proprietários rurais e os pobres de uma forma geral – como já foi dito – era muito bom, portanto altamente vantajoso e propiciador naquele momento de eleição.
Outra grande vantagem para os udenistas além de todos os deslizes e escorregões praticados pelos partidários do PSD é que financeiramente estavam em melhores condições sob o comando de Manfredo de Oliveira e de mais alguns ricos, sendo a maioria os proprietários de terras de carnaubal – os Coronéis da Carnaúba – o que viria caracterizar-se como uma disputa entre os poderes, econômico (dos Oliveira) e burocrático (dos Chaves).
O governo de Mixico Nonato estava altamente desgastado pelos fatos ocorridos durante a sua gestão, com especialidade para o uso indevido e impensado da malfadada CAN e o rompimento com a família Remígio de Freitas, detentora de poder e voto.
Diante do rompimento, o ex-prefeito Estevão Remígio, até então forte aliado dos Chaves, decidiu fundar um novo partido em Limoeiro, o PSP (Partido Social Progressista) cujo presidente no Estado do Ceará era o Senador Olavo Oliveira,(*) recém-casado com uma das filhas de Raimundo Remígio. Assim, toda a família Remígio decidiu unir-se à UDN ajudando a levar o PSD e os Chaves definitivamente para a guilhotina política.

(*)Um dos acontecimentos sociais mais marcantes para o município de Limoeiro do Norte, foi o casamento do Senador Olavo Olveira com Eunice Mendes de Freitas, em 14 de maio de 1953. O fato foi notícia em revistas e jornais do País. O Jornal carioca A NOITE, na sua Edição de 18.05.1953, nº 14403, pág.14 escreveu:

“Como noticiamos constituiu verdadeiro acontecimento social o casamento do Senador Olavo Oliveira com a Srta. Eunice Mendes de Freitas, realizado a catorze do corrente, na cidade de Limoeiro do Norte, Estado do Ceará. O Sr. Olavo Oliveira é figura de projeção nos círculos políticos nacionais, senador da república. A Srta. Eunice Mendes de Freitas pertence a uma das mais tradicionais e prestigiosas famílias cearenses radicadas em Limoeiro do Norte, onde seus progenitores desfrutam de gerais simpatias e elevado apreço. (...) consórcio que levou àquela pequena cidade do interior todo “grand mond” fortalezense, além das mais altas personalidades oficiais do Estado...

http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=348970_05&pagfis=18593&url=http://memoria.bn.br/docreader# (28.06.2021)

Outro fato que deixou os Chaves de mãos atadas foi a nomeação para juiz eleitoral de Agenor Monte Studart, que montou ambiente de trabalho justamente no Cartório do candidato chavista Jaime Leonel, sem contar na rigorosa fiscalização que procedeu em ambos os cartórios, tirando das mãos do PSD o principal instrumento com o qual se favoreciam a cada eleição.

Com um nome praticamente sem nenhuma rejeição, restou à UDN lançar mão de uma propaganda política que também fosse massificada. E tudo estava dando certo de tal forma que até mesmo o slogan criado pelos próprios eleitores com relação à CAN, soava nos comícios como um verdadeiro grito de guerra e até as crianças saiam aos brados dizendo “A CAN ACABOU O PSD”.
O nome de Sabino Roberto ganhou tanta popularidade e tamanha aceitação junto aos eleitores, que logo no início já dava mostras da vitória. Os comícios transformaram-se em verdadeiras festas populares. Enquanto o outro lado tinha um candidato culto, bons oradores que passavam suas mensagens ao povo através de eloquentes discursos numa tentativa de reverter o quadro e convencer os eleitores, Sabino se resumia ao simples e acanhado gesto de apenas acenar com um lenço para a multidão.
O povo se manifestava ainda através de modinhas inventadas (paródias) para satirizar o candidato adversário, que eram cantadas em todos os quadrantes do município, como esta, feita em alusão ao tipo baixo, feioso e cabeçudo de Jaime Leonel.

Parece a bola sete, sete da sinuca, 
Quando ele tira o chapéu,
Parece a bola sete, sete da sinuca,
É a cabeça do Jaime Leonel.

Nem mesmo a fortíssima liderança de dona Judite, considerada como “A Dama de Ferro”, conseguiu aplacar a tendência do eleitorado para votar em Sabino, ainda que tentando inutilmente usar todo o poder cartorial como forma de intimidar aos adversários.
Inutilmente e diante do quadro que já se apresentava favorável ao candidato da UDN, o PSD também tentava ridicularizar Sabino Roberto, através da paródia:

Seu Sabino, Seu Sabino,
Me responda por favor, 
Por que é que as moças velhas 
Votam tanto do senhor, 
Será por que 
O senhor já prometeu, 
De casar elas com algum parente seu.

A prisão de Chico Mãozinha (Chico Vicente), foi outro fator muito explorado pelos udenistas, fazendo o povo acreditar que não passou de uma armação do PSD o que levou ao poeta glosador Luiz Mano a criar umas estrofes que também se transformaram em um fortíssimo material de campanha.

1) A fileira Pessedista                                      
Vai fracassar desta vez, 
Ouço dizer que o Cortez 
É muito propagandista.
Cá no meu ponto de vista,
Ele fica em desatino,
Não é poder pequenino
O golpe de uma eleição
O Jaime fica na mão 
E quem vai eleito é Sabino.

2) O Velho Chico Vicente
Este foi caluniado,
Saiu daqui escoltado
Ia morrer inocente.
Ha quem diga abertamente
Que o autor foi Pergentino.
Jesus com o braço divino
Dele teve compaixão
O Jaime fica na mão
E quem vai eleito é Sabino. 

3) Depois da cruel prisão
Fizeram viagem após,
Levado por três algoz(es)
Na bulé de um caminhão
Como se fosse um ladrão,
Criminoso ou assassino
Sem proteção, sem destino,
Esta é a justa razão
O Jaime fica na mão
E quem vai eleito é Sabino.

4) Doutor Castro andava fora,
Chegou depois da empresa,
Falou para Fortaleza
A bem de sua melhora.
Acabou-se o caipora
Do sofrer do peregrino,
A classe do doutor fino
Resolveu essa questão,
O Jaime fica na mão
E quem vai eleito é Sabino

.Com a campanha cada vez mais animada, notava-se com evidência a superioridade de Sabino Roberto em relação a Jaime Leonel. A massa popular, como uma forma de vingança contra os desmandos administrativos e também contra a arrogância e prepotência dos detentores do poder até então, sentia-se livre para manifestar-se.
Poetas populares também usavam de suas inspirações e demonstravam a revolta com os pessedistas, como veremos nas estrofes abaixo, (autor anônimo) revelando nomes que compunham a tropa de choque de oposição aos CHAVES.

O CANDIDATO É SABINO

1) Aviso aos Pessedistas
De Limoeiro do Norte
Que nesta campanha forte
Com ideias otimistas
Trabalhando com conquistas
Procurando seu destino
Neste papel eu assino
Com esta honra me cubro
Para o dia 3 de Outubro
O candidato é SABINO.

2) Dr. Manuel de Castro
Capacidade impoluta,
Trabalha, peleja e luta
Com seu espírito de fé
Que a família Sapé
Não dá papel assassino
Limoeiro de destino
Terra de prosperidade,
Aviso a toda a cidade
O candidato é SABINO.

3) Senhor Sabino Roberto
Cidadão honesto e sério
Não usa de vitupério
Não é índio no deserto
Chama o matuto pra perto
Homem, mulher e menino
Devemos cantar um hino
A bem da sua vitória
Guardar na boa memória
O candidato é SABINO.

4) O Sr. Júlio Eduardo
Distinta capacidade
Cidadão de honestidade
P’ra publicar não me aguardo
Quem não puder com o fardo
Dará papel de mofino
Sr. Pedro Celestino
Também tá na comitiva
Ergue-se em brado: “viva”,
O candidato é SABINO.

5) Alto Santo e São João
Apoiam a candidatura
Com uma crença segura,
De votador do sertão,
Tabuleiro com razão
Olho d’Água e Jatobá
E ninguém vai se afobar,
Com a sorte do seu destino,
A UDN vencerá,
O candidato é SABINO.

6) O Sr. Napoleão
Na campanha da política
Trabalha sem fazer crítica
Com boa publicação
Que o pleito da UNIÃO
Com o seu poder tão fino,
No torrão alencarino
De Limoeiro do Norte.
Ecoando um brado forte
O candidato é SABINO.

Alguns comentários sobre os dois candidatos eram de que “um é rico e amigo dos pobres (Sabino Roberto) e o outro é pobre e amigo dos ricos”. (LIMA J. S., 2008, p. 43)
Muitas foram as adesões vindas em favor do candidato udenista e uma das mais importantes, como já foi dito, veio da família Remígio, através de Raimundo Remígio de Freitas. Essas adesões partiam de todas as camadas da sociedade e de todos os distritos que na época integravam o município (Tabuleiro do Norte, São João do Jaguaribe e Alto Santo).
É bom que se diga que naquele tempo se fazia política por convicção e os candidatos eram as atrações para o público, razão pela qual os comícios eram tão animados. Sempre aparecia um ou outro orador que se transformava – afora os candidatos principais – o alvo número um dos eleitores, pois deles se ouvia discursos engraçados acompanhados de gestos também cômicos.
Naquela época, o Senhor Vicente Hermógenes – Vicente Paula de Freitas – era conhecido pelas suas comparações absurdas e pelo linguajar próprio de um matuto. Na qualidade de candidato a vereador, contam que em certo comício dirigiu-se ao povo mostrando a sua condição de trabalhador do campo espalmando a mão em direção a plateia para mostrar os calos resultados do cabo da enxada e fazendo uma comparação cômica entre o rico e o pobre, dizendo: “o rico quando chega em casa do trabalho, descansa o corpo numa bela cama de colchão sudã(*) enquanto o pobre, quando chega do trabalho cansado, se deita numa cama de pau duro”. (*) Marca de um antigo colchão de molas
De outra feita, em um comício no distrito de Patos em Tabuleiro do Norte, ao saudar os presentes no início do discurso, saiu-se com essa: “povo de Tabuleiro cu de Patos”. (Quis dizer: Povo de Tabuleiro com o de Patos) - Noutra ocasião, enquanto falava, esqueceu o microfone e o baixou vagarosamente até o confronto da braguilha causando um riso geral na plateia que aos gritos dizia: “não é ai não!!!”.
Durante o decorrer da campanha e por ocasião de um comício na residência do Coronel Antônio Lopes em Danças, aconteceu um fato de certa forma engraçado, porém vergonhoso. Um pavão, visto como uma ave agourenta saiu de uma árvore próxima e sobrevoou o palanque despejando suas fezes exatamente na cabeça do Deputado Franklin Chaves. Para os pessedistas, o inesperado acontecido era prenúncio de azar, tanto que depois foi considerado um dos motivos pelo qual o partido foi fragorosamente derrotado. Depois do fatídico e supersticioso acontecimento do pavão, os udenistas usando da criatividade, compuseram mais uma modinha, reforçando a sátira aos adversários pessedistas:

Franklin Chaves vai perder a eleição
Porque foi cagado por um pavão.
(...)

Na apuração do resultado eleitoral, Sabino Roberto ganhou com uma incrível vantagem de 1.118 votos, proporcionalmente a maior votação obtida até hoje por um candidato a prefeito de Limoeiro do Norte.
A vitória de Sabino foi tão esmagadora que o próprio Custódio Saraiva, teria dito em tom de desabafo e conformação à sua mulher Judite: “acho que até eu votei em Sabino nessa eleição!”
Concretizada a derrota, com pavão ou sem pavão, nada impediu a derrocada dos Chaves, caindo por terra um poder que comandou Limoeiro do Norte por mais de oitenta anos. Os deuses do PSD ruíram, foram à bancarrota! Os Chaves saíram do poder tristes, cabisbaixos, para dá lugar a outras lideranças e com a certeza de que o poder é efêmero e que a arrogância também tem seu fim.
Também foram eleitos os seguintes vereadores:
  1. Ambrosino de Oliveira Cunha
  2. Antônio Alves Maia
  3. Francisco Moreira Filho
  4. Francisco Pergentino Mendes Guerreiro
  5. Francisco Rogério de Oliveira
  6. Jared Santiago
  7. Onésimo Remígio de Freitas
  8. Simonides Guerreiro Chaves
  9. Vicente de Paula Nogueira
Terminada a eleição e consumado o resultado em favor de Sabino Roberto, os Chaves numa tentativa de justificar a fragorosa derrota que serviu como resposta à forma como eles agiam politicamente, passaram a responsabilizar pessoas do próprio PSD, criando uma lista de traidores.
O PSD em Limoeiro do Norte, no frigir dos ovos, não passava de uma sigla que tão somente servia para abrigar os Chaves. Praticamente dentro do PSD, não existiam os correligionários políticos exatamente, pois todas as diretrizes, todas as orientações e determinações do partido, se resumiam apenas na vontade de dona Judite e Franklin Chaves que se apresentavam como os seus donos. Então, o PSD tendo saído derrotado naquela eleição, significou que os Chaves foram destronados e isso causou um inconformismo tão grande, que por não aceitarem a derrota, encontraram como alternativa responsabilizar seus próprios aliados.
Para servir de exemplo, podemos citar o caso de Sizenando Jacó de Freitas, um fiel pessedista, que tão logo terminou a eleição, foi tachado por Judite e Franklin de traidor. É que acharam eles, que Sizenando reunia todas as características para ter se aliado a Sabino Roberto, pelo fato de serem compadres, parentes, amigos e vizinhos. Para quem possa querer duvidar dessa afirmação, vamos ilustrar ainda mais, contando um fato que foi testemunhado por muitas pessoas. Naquela época, em dia de eleições, era oferecida alimentação aos eleitores, geralmente nas casas dos chefes políticos (coisa ainda do coronelismo). No local onde o PSD estava oferecendo comida para os eleitores, Sizenando ao levar algumas pessoas, certamente eleitores do PSD, foi impedido de entrar pelo Deputado Franklin Chaves que o segurou pelo braço e praticamente o expulsou do recinto.
Feito isso na presença de muitas pessoas, Franklin demonstrou, além da falta de respeito para com um dos seus mais fieis aliados, a prova da insinuação de que estava sendo por ele traído. Mas, para quem conheceu o caráter de Sizenando, tem a certeza de que ele jamais cometeria um ato de traição, muito embora sendo admissível, que tenha até se retraído um pouco durante a campanha, em função de não querer também ser um ferrenho adversário de um dos seus maiores amigos, no caso Sabino Roberto, mas trair, jamais. Dizem que ressentido com essa humilhação sofrida perante muitas pessoas e depois por ter sido repreendido duramente e visto como um traidor, Sizenando não suportou essa ingratidão e veio a falecer vítima de enfarte fulminante um mês após a eleição.
Era comum os Chaves maltratarem seus aliados, considerados por eles como meros subordinados, sujeitos às suas ordens. Certamente esse foi um dos vários fatores que concorreram para que saíssem derrotados. Muitos deixaram o PSD justamente por terem sido tratados de uma forma ou de outra sem o devido respeito, como exemplo, podemos tomar aquela atitude de Franklin para com Sizenando.
Embora tendo saído derrotados de forma espetacular os Chaves não estavam de todo perdidos, restava-lhe ainda muito combustível para seguir caminho em busca da retomada do poder. Se não conseguiram eleger o prefeito, conseguiram reeleger com certa facilidade Franklin Chaves para mais um mandato na Assembleia Legislativa do Estado e mais quatro vereadores de sua ala para a Câmara Municipal, revelando dessa forma ainda muito vigor para continuar na luta. Ressalte-se que dona Judite continuava ainda no auge no comando do grupo e usando com vantagens o cartório, que não deixara de ser ainda um forte instrumento eleitoral.
Mas a UDN, com a demonstração de força que deu ao eleger Sabino Roberto, também reelegeu Manoel de Castro para a Assembleia Legislativa, ficando Limoeiro do Norte, novamente com duas representatividades no Estado.
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O povo e somente o povo teve força suficiente para mudar o quadro de inércia de alguns homens até então donos das rédeas na política limoeirense.
A vitória de Sabino Roberto recebida com alegria e entusiasmo foi uma forma também do povo dizer que estava cansado, que não aguentava mais a mesmice de um único grupo viciado em costumes políticos alheios aos anseios populares.
Foi pela força do voto popular que os Chaves sentiram o sabor da derrota até então nunca acontecida. Sempre contando vitória nas disputas políticas até então, pela primeira vez e definitivamente, viram o quanto o povo é capaz de usar o poder do voto.
Em 1954 quebrou-se o elo que sustentou por quase um século o poder de uma única família, de um único grupo político. O fato de ter demorado tanto para que isso acontecesse, era que o regime reinante até 1945, alheava o povo do processo político. Bastou que houvesse uma reforma permitindo que a população tivesse o poder de escolha e os Chaves foram purgados de um poder oligárquico de várias décadas. Mesmo assim, ainda foram dadas a eles duas chances de continuarem no poder por ocasião das eleições de 1947 e 1950, todavia, não acreditaram em outra coisa senão na sua própria força política.
A reviravolta acontecida em 1954 é um fato normal em todo e qualquer processo político e ocorre justamente quando o povo cansado de promessas e desesperançado, naturalmente parte para uma mudança radical na troca de seus representantes.
Com a retirada dos Chaves do poder, poderia se render graças aos deuses por ter sido afastado do comando político limoeirense uma oligarquia que praticamente em nada trouxe de vantagem para a população.
Mas infelizmente, não podemos afirmar que a derrota dos velhos donos do poder tenha proporcionado novos tempos e melhores dias. Os que ascenderam ao comando político através da vontade popular esqueceram rapidamente o compromisso de legitimidade para com o povo e também passaram a promover um domínio político tão demagógico quanto o que acabara de sair.
A partir daquele momento a estrela de Manoel de Castro começou a brilhar, transformando-se em pouco tempo no político mais carismático da época, principalmente junto aos mais humildes, tanto que se criou uma frase interessante de que: “uma vez eleitor de Manoel, para sempre eleitor de Manoel”. Sua influência cresceu tanto dentro do partido que a partir dali e usando de esperteza, fazia com que suas determinações fossem praticamente todas aceitas e indiscutíveis. Recorde-se que desde 1945, ele aceitou ser “testa de ferro” contra os Chaves e o fez com muita propriedade. Foi um dos políticos mais atuantes – senão o principal – da história limoeirense. Mais adiante vamos ver que todas as decisões políticas de Limoeiro tiveram sempre que passar por sua anuência.
A tropa de choque que esteve ao lado de Sabino Roberto naquela estrondosa campanha se tinha em mente derrubar o poder dos Chaves, tristemente não se preocuparam em criar novas lideranças que pudessem tomar medidas capazes de resolver situações crônicas do povo, solúveis tão somente através de políticas sérias e honestas. Infelizmente, vamos ver que mesmo quebrando-se o ciclo vicioso dos Chaves, o povo continuou sendo espoliado e os seus direitos castrados, numa prova de que a ânsia pelo poder estava muito aquém das intenções de mudar as regras do jogo político para que o povo saísse ganhando.
Infelizmente vamos perceber que a cada eleição, a cada campanha política, as práticas politiqueiras, as promessas demagógicas continuaram as mesmas. Vamos ver ainda que os conchavos e as negociatas não desapareceram das intenções dos que se comprometeram em mudar o sistema, bem como a manipulação do poder político e dos mecanismos eleitorais, justamente para garantir interesses de grupos ou até mesmo individuais. O eleitor continuou sendo pouco esclarecido, mal-informado e facilmente manipulado, para votar naqueles aprovados em acordos espurios, os quais, uma vez eleitos – com raríssimas exceções – defenderam prioritariamente os interesses que permitiram suas eleições e no que fora estabelecido entre eles. Se isso foi evidente até aquele momento, vamos ver que em quase nada se modificou.

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