domingo, 15 de março de 2009

Capítulo IX - DR. SIMÕES E PEDRO ALVES – JUNTOS UDN E PTB – A ELEIÇÃO DE 1962

ELEIÇÃO DE 1962 TROUXE algumas novidades além das outras que passaram e vamos observar que houve uma forte junção entre os partidos, numa demonstração de fraqueza de todas facções, cônscias de que sem coligações as chances seriam diminuídas e, por conseguinte dificultando a eleição de seus candidatos.
Para a eleição de governador as forças políticas planejaram uma coligação partidária, o que fez surgir a famosa União pelo Ceará colocando no mesmo saco UDN, PSD e PTN, numa espécie de pacto que elegeu Virgílio Távora-(UDN) a governador e Joaquim de Figueiredo Correia-(PSD) vice-governador.
O então Chefe do Executivo Estadual Dr. Parsifal Barroso naquele momento filiado ao PTN apoiou o pacto, estando rompido com Carlos Jereissati-(PTB), que o ajudara na sua eleição para o governo do Estado em 1958. Vale ressaltar que Parsifal Barroso passou para a história do Ceará como um governante sem a ousadia e a astúcia muito peculiar nos políticos e pagou caro por isso.
Enquanto no Ceará a junção UDN/PSD/PTN tinha o dedo do astuto e famigerado Doutor Armando Falcão, aqui em Limoeiro do Norte, o processo político passava pelas ideias sagazes do virgilista deputado Manoel de Castro Filho, naquele período, já reconhecidamente o político de maior influência na região jaguaribana, especialmente em Limoeiro do Norte, seguindo à risca as orientações de Virgilio Távora. Só que em Limoeiro, não havia a menor possibilidade de unir PSD e UDN, todavia, Castro com sua esperteza conseguiu juntar UDN e PTB, aceitando a única imposição petebista de trabalhar em favor da candidatura de Dr. Simões a deputado estadual que em troca, hipotecaria todo seu esforço em favor da candidatura de Pedro Alves Filho para prefeito. Estranhamente e com propósitos desconhecidos, Manoel de Castro aceitou essa imposição, mesmo sabendo que iria disputar juntamente com Simões no mesmo palanque os votos para a Assembleia Legislativa.
Já o PSD, juntaria seus farrapos com o PTN (Partido Trabalhista Nacional), do qual também fazia parte o grupo do ex-prefeito Sabino Roberto(*), mesmo sem mais contar com a sua participação, pois havia falecido em Abril de 1962.
Era por assim dizer, uma dissidência da UDN, que agora se juntava ao antigo rival PSD em busca de espaço no processo eleitoral.
(*) Sabino Roberto de Freitas: Nasceu em 11 de julho de 1894 e faleceu em 26 de abril de 1962, uma tarde de uma quarta feira de infarto fulminante quando dirigia-se à cidade de bicicleta, na rua que hoje leva o seu nome.
Eis como se consolidou a campanha política limoeirense de 1962: a coligação UDN/PTB – denominada de dobradinha, parte na frente com o lançamento das candidaturas de José Simões dos Santos e Manoel de Castro para a Assembleia Legislativa do Estado e, Pedro Alves Filho e Evaldo Holanda Maia para prefeito e vice-prefeito respectivamente.
Versos populares foram espalhados como propaganda política:
O candidato a prefeito
É um moço generoso
É muito estudioso
E conhece bem o direito.
Pedro Alves leva jeito
Para o que se avizinha.
Se ama a essa terrinha
O povo a bota na mão
Fazendo a coligação
Elegendo a dobradinha.
Pra vice o povo escolheu
Aquela capacidade
Que do mato à cidade
Há muito que se ergueu.
Evaldo só atendeu
Pra mostrar que é de linha
E não tendo a sorte mesquinha
Com seu grande coração
Com ele a coligação
Formou essa dobradinha.
Autor: Joaquim Castro Maia de Freitas
Já o PSD em coligação com o PTN, lança a candidatura de Franklin Chaves para mais um mandato a deputado estadual e os nomes de Luiz Gonzaga Pitombeira para prefeito e Jared Santiago para vice. Eis a Paródia cantada durante a campanha:
Luiz Gonzaga Pitombeira.
É o candidato da nossa coligação
O PTN junto com o PSD
Trabalham para eleger
o Luiz nessa eleição
Terminada a eleição, elegeu-se facilmente Pedro Alves Filho e o seu vice Evaldo Holanda Maia.
Enquanto que para a Assembleia Legislativa elegeram-se os três postulantes, ou seja, Manoel de Castro, Dr. José Simões e Franklin Chaves. Assim, Limoeiro do Norte privilegiava-se com três deputados estaduais, fato que podemos dizer inédito nos municípios cearenses, principalmente levando-se em conta ser um município de pequeno porte.
PEDRO ALVES FILHO - UMA NOVA VISÃO ADMINISTRATIVA
Pedro Alves Filho fez um governo moderno para a época, proporcionando um visível dinamismo, marcando sua administração por algumas obras necessárias e importantes, dentre elas, merecendo destaque, a construção de um moderno Centro de Abastecimento, para a venda de carnes, peixes e verduras, o que veio melhorar sensivelmente o sistema daquele comércio, até então primitivista e feito em latadas de madeira sem nenhuma higiene.
Solucionou um problema antigo com a essencial canalização de água potável para o abastecimento da cidade com a criação do SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Lei 053 de 14/05/1965), que até aquele momento a sede do município adquiria o precioso líquido através das cacimbas nos quintais das casas, muitas delas utilizando cata-ventos e tambem com a instalação de bombas, com a sorte de que o lençol freático é muito raso ou ainda através de alguns chafarizes públicos, todavia a água oferecida não tinha nenhum tratamento ao ser consumida pela população.

Pelo numero razoável dos cata-ventos existentes, muitos deles de fabricação americana e impulsionados pelos ventos gerais do Aracati, se olhados de um ponto mais alto, tinha-se uma beleza à parte na vista da cidade.

Ressentido pelo pouco reconhecimento por esse importante empreendimento, quando se referia ao SAAE costumava dizer: "o que está enterrado, ninguém vê, logo, não se sabe quem fez..”. Construiu ainda escolas e pavimentou várias ruas.
Foi também na sua gestão que se deu a construção da ponte sobre o rio Jaguaribe, (Ponte Juarez Távora) resolvendo um dos mais graves problemas de acesso à sede do município em épocas invernosas.
Fato digno de registro, é que na inauguração daquela obra Pedro Alves foi muito elogiado pelo então presidente da República, presente ao evento, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, que ficou maravilhado com o seu discurso, dizendo para alguns: “Como uma cidade do interior do Ceará, tinha um prefeito com tanta capacidade e inteligência!”
Graças à cultura e ponderação, aliadas à sua reconhecida honestidade no trato do dinheiro publico, Pedro Alves mostrou ser possível fazer um governo sério e compromissado com a modernidade administrativa.
A surpresa para os limoeirenses foi quando anunciou a sua renúncia, como um fato extremamente desagradável para os eleitores que lhe confiaram o voto. A explicação para deixar o mandato, foi de que havia sido aprovado em um concurso para o Banco do Nordeste do Brasil como realmente foi e as vantagens oferecidas por aquela instituição lhe renderia muito mais financeiramente do que as vantagens do cargo de prefeito.
Porém, existe uma versão não devassada, de que a opção em assumir o cargo no BNB para o qual fora aprovado em concurso público, serviu também como uma forma de ocultar algo de grave que estava acontecendo na prefeitura, ou seja, uma suspeita de corrupção e desvio do dinheiro público por pessoas de sua própria família ligadas a administração. Estando, portanto ante ao dilema de ter que escolher e numa situação “entre a cruz e a espada” optou por renunciar e não o fazendo, tornava pública a desonestidade de familiares seus. Se essa versão tiver algum fundamento, evidentemente que o concurso foi pra ele uma dádiva dos deuses e chegando em boa hora, o que permitiu uma renúncia com uma justificativa plausível e convincente.
Pedro Alves despediu-se do mandato levando consigo o respeito e o reconhecimento dos limoeirenses como um homem digno e que teve a sorte de passar a administração para o seu vice Evaldo Holanda Maia, outra figura respeitada e querida.
Evaldo, como era de se esperar, deu continuidade ao mandato de Pedro Alves, com uma conduta não menos merecedora de reconhecimento.
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Curiosamente podemos analisar a semelhança do que ocorreu em decorrência dos acordos políticos de 1962 tanto em Limoeiro do Norte como no Estado do Ceará; em ambos os casos viabilizaram-se as aspirações da UDN de voltar ao poder; Virgílio Távora foi eleito governador e Pedro Alves elegeu-se prefeito.
Já a eleição dos três postulantes para Assembleia Legislativa demonstrou a hegemonia do povo de Limoeiro do Norte naquela época. Sabiamente colocou no legislativo estadual três representantes, acontecimento único na história dos municípios cearenses.
Interessante é que os três deputados eleitos em 1962, não souberam e nem quiseram aproveitar aquele momento para contribuir com o desenvolvimento do município, pelo contrário, cada um deles só trabalhou em favor de si mesmo e do seu próprio grupo.
Enveredaram-se pelo caminho das futricas e fofocas pessoais, para preservarem tão somente seus próprios espaços políticos além da constante luta infernal para destruir o adversário, sem se absterem de incluir em alguns momentos conchavos nas caladas da noite, momento em que estabeleciam acordos espúrios em detrimento do povo.
Prevaleceu entre eles os instintos eleitoreiros, caso contrário o município teria ganhado enormemente mais uma vez com a representação de tres nomes na Assembléia Legislativa do Estado. Alias, Limoeiro do Norte sempre teve representação no legislativo cearense, - desde o século XIX com Serafim Chaves até os dias atuais:

  •       Serafim Chaves – 1886/1887
  •       Dr. Leonel Serafim Freire Chaves – 1915/1916
  •       Manoel de Castro – 1951, 1955, 1959, 1963, 1967, 1971 e 1975
  •       Franklin Chaves – 1947, 1951, 1955, 1959, 1963, 1967 e 1971
  •       Expedito Maia da Costa – 1959/1962 
  •       Dr. José Simões – 1963/1966
  •       Douvina Castro – 1978 e 1982
  •       Paulo Duarte – 1990, 1994 e 1998

Tristemente vamos observar que a preocupação maior dessas representações foi a manutenção unicamente do poder e, de forma bem evidente, o que existiu entre eles foi uma espécie de ciúme e as brigas pelo poder e pelo espaço político foi uma constante no decorrer de seus mandatos.

O que podemos enumerar como ponto negativo com a eleição de Pedro Alves, foi a volta da UDN ao poder depois de derrotada em 1958. Dentro desse contexto voltamos a afirmar que os políticos esquecem rapidamente o compromisso com o povo. Se a volta da UDN viabilizou-se, foi ajudada e mancomunada com José Simões dos Santos, justamente com quem teve um embate na eleição passada. Simões traiu o povo, quando se uniu aos adversários. Esqueceu completamente que havia prometido acabar com as viciadas manobras eleitoreiras tanto do PSD quanto da UDN.
Em 1958, na qualidade de candidato a prefeito, se apresentou à população como um vestal capaz de dar um novo destino ao município e foi colocado na prefeitura com a incumbência de mudar a maneira de se fazer política, ao expor uma conduta acima de qualquer suspeição. Mas tão logo tomou assento no poder, revelou-se igual a todos e impulsionado tão somente pela ambição de um mandato para deputado estadual passou a trilhar a mesma estrada, unindo-se com aqueles a quem combateu contundentemente, criticando as ideias arcaicas e manipuladoras. Diante disso, custa-nos entender e confiar em homens que no passado combatiam com críticas os então ocupantes do trono, para depois, como a pedirem ao povo que esquecesse tudo o que foi dito, não se envergonharam de estabelecer acordos em favor de si mesmos.
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A PRIMEIRA VEREADORA DE LIMOEIRO DO NORTE (PTN/MDB - 1963-1967)

Um fato inédito acontecido na eleição de 1962. É que foi eleita pela primeira vez para um cargo público na história de Limoeiro do Norte, mais precisamente para a Câmara de Vereadores uma mulher, até então um espaço apenas dos homens. Tratava-se de Maria de Lourdes Pinheiro, filha de Sabino Roberto, que mesmo seu pai já sendo falecido, conseguiu reverter votos em favor do seu nome, tornando-se a primeira vereadora da historia do município.
Como já vimos, Lourdes foi – a partir da eleição de Sabino a prefeito em 1954, – uma militante política com uma atuação bastante ativa tanto que durante a administração do seu pai, foi considerada juntamente com seu cunhado Jared Santiago, os verdadeiros administradores.
Também, as reviravoltas políticas do próprio Sabino Roberto, desde o seu rompimento com a UDN até sua filiação ao PTN, sem dúvidas, tiveram a influência fortíssima de Lourdes, convencendo-o a seguir outro caminho político-partidário.
Apesar de tudo, ela não foi tão esperta a ponto de assimilar a liderança política de seu genitor, pois era reconhecidamente uma mulher distante do povo, sem o carisma necessário aos que pretendem galgar posições políticas de liderança. Caso contrário, teria sem dúvidas, açambarcado para si todo o carisma do pai, dando continuidade a atuação política de quem foi, praticamente, um dos homens públicos mais populares de Limoeiro do Norte.
Foi por falta do dom natural de liderança que Lourdes deixou que seu genitor levasse para o túmulo todo o carinho e respeito dos limoeirenses para com ele.

4 comentários:

Fá Alves disse...

Pelo meu ver acho que você não conhece mesmo a historia, para fala sobre o Prefeito Pedro Alves,deveria medir palavras quando fala de alguém.



Ass: Fabricio Alves Viana Correia Neto de Pedro Alves Filho.

Unknown disse...

Realmente,essa desconfiança acerca da honestidade de Pedro Alves é absurda!O concurso do BNB existiu de fato,há inúmeras provas materiais de que ele foi aprovado e de que ele assumiu o cargo.Além disso,se ele estivesse sendo desonesto na prefeitura,estaria lucrando lá bem mais do que ganharia no cargo do banco,não trocando um pelo outro.É só raciocinar...

O autor se contradisse,e foi infeliz ao levantar suspeitas acerca da honestidade política de Pedro Alves,tendo iniciado o texto afirmando que o mesmo foi conhecido pela honestidade em seu mandato.

Além disso,quem conheceu Pedro Alves sabe de sua incapacidade de lesar quem quer que seja,nem mesmo aqueles que o fizeram algum mal ou o caluniaram.Quem o conheceu sabe que ele foi dos poucos prefeitos honestos que a cidade teve,por isso não fez fortuna na política,e teve de seguir outra carreira para melhorar o padrão financeiro de sua família.

maurilofreitas disse...

Com relação aos comentários feitos acima, acho que os leitores do blog não atinaram bem para o que está escrito.Em nenhum momento eu deixo de reconhecer a HONESTIDADE do então prefeito PEDRO ALVES FILHO, e é certo de que foi um dos administradores do nosso municipio que soube muito bem cuidar do dinheiro público. Reconheço inclusive que foram feitas
em sua gestão importantes obras como o Centro de Abstecimento, SAAE, Ponte Juarez Távora, pavimentação nas principais ruas do centro da cidade etc. Nao levanto suspeitas - como bem vêem no texto - sobre a sua HONESTIDADE, muito menos dúvidas sobre o concurso do BNB, no qual ele foi aprovado. Pedro Alves foi mais honesto ainda, quando renunciou, para não ter que declarar desonestos familiares seus, atitude inclusive louvável e ao meu ver, presente somente nas pessoas com grandeza de caráter.

(Pedro Alves despediu-se do mandato levando consigo o respeito e o reconhecimento dos limoeirenses como um homem digno e que teve a sorte de passar a administração para o seu vice Evaldo Holanda Maia, outra figura respeitada e querida).

Mas fatos acontecem e se tornam história, e não tento escreve-la para agradar ninguem e muito menos para denegrir a imagem de quem quer seja.

Maurilo Freitas

Unknown disse...

Pedro Alves era de familia pobre ,honesta ,conheci seu pai ,seus primos ,estudei com Zé Maria ,todos andavam a pé, moravam na ilha e continuaram pobre s é impossível ter havido roubo por parte de seus familiares.e seu Evaldo Holanda super honesto jamais permite ria