domingo, 15 de março de 2009

Capítulo XIII - ELEIÇÃO DE 1972 – A VEZ DE ANTONIO HOLANDA

COM A CHEGADA DA eleição para prefeito, começou mais uma onda de reuniões para a escolha de candidatos.
Não obstante ao raquitismo político do grupo, Franklin e Judite Chaves tentavam encontrar uma sombra forte para continuar com condições de participar das disputas políticas e numa tentativa de sobrevivência, foram buscar apoio no então Governador do Estado César Cals sabendo que este tinha pretensão de adquirir forças junto aos municípios na formação de suas bases eleitorais inclusive Limoeiro do Norte.
Na escolha dos candidatos para prefeito e vice para a eleição de 1972, Judite e Franklin saem na frente com os nomes de José Honorato e Gentil Saraiva, candidatos a prefeito e vice-prefeito respectivamente. Zé Honorato era uma figura não muito conhecida dos limoeirenses, mas fiel às determinações do antigo PSD e Gentil Saraiva, com alguns mandatos de vereador e sendo inclusive afilhado de Judite, seguia à risca às orientações políticas desta e do seu irmão Franklin Chaves. Há quem diga que se tivesse sido o seu nome escolhido para prefeito e não para vice, a disputa teria sido facilitada pelo fato de seu nome ser mais popularmente conhecido ao contrario do candidato a prefeito.
Se alguém estava tão apressado em escolher seus candidatos, este não era Manoel de Castro, que mais do que nunca sobrepunha suas vontades políticas a todos os seus comandados. Como era seu do seu feitio, ficou aguardando o resultado dos adversários para depois se manifestar. A sua escolha recaiu exatamente sobre Antônio Holanda de Oliveira e Eurico Vieira de Melo, para prefeito e vice-prefeito respectivamente, os mesmos que foram praticamente rejeitados por ele na eleição passada, acreditando-se não terem saído eleitos logo naquela eleição, justamente pelo seu desinteresse mostrando-se muito mais simpático ao nome de Raimundo de Castro.
Se em 1966, Manoel de Castro mostrou-se apático e desinteressado na campanha de Antônio Holanda para prefeito não atrapalhando para que Raimundo Castro fosse eleito, era porque sabia que agindo dessa forma, teria a oportunidade de “matar dois coelhos com uma só cajadada” quando tinha a certeza – como realmente aconteceu – que Raimundo de Castro viria para seu lado tão logo fosse eleito. Neste caso, não perdeu Antônio Holanda e ganhou Raimundo de Castro, aumentando o número de seguidores.
Agora sim, era chegado o momento certo para Antônio Holanda. Com seu jeitão grosseiro de matuto e características de trabalhador rural, sempre com seu inseparável “cigarro-pé-duro”, Antônio Holanda ganhou o apelido de “Velho da Serra”, o que se encaixou como um marketing na campanha e soava como um tratamento carinhoso por parte dos eleitores. Nem mesmo depois de os adversários tentarem debochar acrescentando ao epíteto, “unhas sujas e mal asseado”, não conseguiram tirar de Antônio Holanda a sua identificação e característica de homem do povo.
Para melhor identificar o Velho da Serra com o homem do campo, aconteceu naquela campanha um fato inédito: idealizaram um comício no centro da cidade, mas que em lugar de caminhões para conduzir os eleitores, foram colocadas carroças. Logo nas primeiras horas da noite, começaram a chegar de todos os recantos do município em grande numero, os rústicos veículos completamente lotados, criando um cenário pitoresco e dando um tom diferente à tradicional carreata, sendo substituída pelo que podemos chamar de carroceata.
Naquela eleição (1972), Manoel de Castro entrou na disputa com vontade, motivado pelo desejo de continuar com o controle político do município bem como mostrar ao seu chefe Virgilio Távora a sua força política e ainda vencer seus antigos adversários. Essa estratégia foi comprovada com a vitória do Velho da Serra.
A força da ARENA era tão evidente naquele pleito e tão grande era o prestígio eleitoral de Manoel de Castro, que o pequerrucho e insignificante MDB, não conseguiu eleger nenhum vereador para se fazer representar na câmara municipal, sendo esmagado pelas forças arenistas e manoelistas.
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A administração de Antonio Holanda não teve nenhuma novidade em termos de modernidade administrativa, porém, convém destacar o surgimento do bairro Limoeiro Alto, por ele idealizado, depois que enfrentou com dificuldades a enchente de 1974, ocorrida durante seu governo. É que foi naquele local onde se aglomeraram os desabrigados em barracas de lonas cedidas pelo exército. Diante daquela situação, Antonio Holanda imaginou que ali poderiam ser construídas casas populares. Dessa idéia e do seu esforço, nasceu o bairro mais populoso de Limoeiro do Norte, o popularmente conhecido Limoeiro Alto – oficialmente Bairro Antonio Holanda de Oliveira.
Outro fato que deve ser registrado como um dado de honestidade do Velho da Serra, foi o que aconteceu quando da compra de um veículo para a prefeitura. É que ao efetuar a aquisição do veículo, Antonio Holanda foi avisado pelo vendedor que tinha um “desconto” de 15% na compra. Ao saber disso, ficou satisfeito e mandou imediatamente depositá-lo na conta corrente da prefeitura. A sua surpresa foi quando o TCM o chamou para explicar a razão daquele dinheiro que estava constando como receita sem nenhuma origem, portanto, sobrando na contabilidade. Ao explicar o que aconteceu, ou seja, que aquele dinheiro era resultado de um desconto de 15% concedidos por uma empresa vendedora, é que soube que não passava de uma negociata entre comprador e vendedor, e representava um superfaturamento, já que acrescia no valor da compra, mas que era destinado ao bolso do prefeito e não aos cofres da prefeitura.
CORONEL CÉSAR CALS - O GOVERNADOR SEM VOTO
É oportuno que se faça um relato de como César Cals de Oliveira Filho transformou-se em um dos mais influentes coronéis da política cearense com ingerência fortíssima inclusive em Limoeiro do Norte.
Mesmo sendo um nome totalmente desconhecido nos meios políticos, surpreendentemente em 1970, o presidente Emílio Garrastazu Médice, através de uma indicação de Virgílio Távora e com respaldo do IV Exército sediado em Recife, convidou-o para substituir o governador Plácido Castelo, menos como político e muito mais pelas suas qualidades na área de Engenharia Elétrica e Civil e ainda mais depois de ter construído a Barragem de Boa Esperança
[1] o que lhe tornou conhecido no Nordeste inteiro. Cals foi eleito governador no pleito indireto de 3 de outubro de 1970 pela Assembléia Legislativa Cearense.
Começou governando como um técnico e somente no final do segundo ano do seu governo é que descobriu que tinha nas mãos uma eficiente máquina política, momento em que rompeu com Virgilio Távora que o indicou ao presidente da República para governo do Estado. A gota d’água para o rompimento foi o ousado gesto de demitir o seu secretário Dr. Lúcio Alcântara, um fiel virgilista, filho do guru da política cearense Waldemar Alcântara.
A partir de então começou a direcionar seu governo no sentido de controlar boa parte das prefeituras do Estado e, por conseguinte, formar o seu próprio grupo político.
Ao sentir a eficiência da poderosíssima máquina e usando-a com o respaldo federal, criou o slogan O Governo da Confiança alardeado numa cadeia de rádio e televisão conseguindo montar o maior esquema promocional acontecido em torno de um governo de Estado, tanto que lhe rendeu o título de Governador do Ano pela imprensa paulista.
Tratou de comandar politicamente o Estado, para melhor se armar na luta contra seus adversários. Com Virgilio Távora criou um clima de hostilidade que resultou numa divisão da ARENA cearense, gerando duas alas distintas: uma comandada por ele e a outra por VT.
A divisão do partido tornou-se mais evidente na eleição indireta para governador em 1974 quando a ARENA cearense através de Cals, indicava dois nomes para sua sucessão apontando o Coronel Luciano Salgado ou o superintendente da SUDENE na época, João Gonçalves de Sousa. Por outro lado, Virgílio lançava o nome do então deputado estadual Coronel Adauto Bezerra. Para o desprazer de Cals, Adauto foi o escolhido e o preferido do Palácio do Planalto no que acabou sendo eleito indiretamente pela Assembléia Legislativa do Estado para sucedê-lo.
Sua inimizade com Virgílio atingiu limites exagerados chegando ao cunho pessoal, quando numa tentativa de denegrir a imagem do Senador, enviou um bilhete a D. Luiza Távora, insinuando de que seu esposo tinha uma amante, como bem cita, Adriana Negreiros em reportagem da Revista Veja “Intimidades do Coronel”:

"mandou colada numa folha de papel uma foto de revista com uma moça de biquíni e um automóvel Passat do ano, o carrão da época. A carta é endereçada a Luíza Távora, mulher de Virgílio, e dedura alguém. “O carro que ele deu para ela é igual a este”, escreve Cals. Ao lado da moça de biquíni, outra anotação. “Essa aí é a empregada. Imagine a patroa”” (NEGREIROS, Adriana. Revista Veja, São Paulo, 19 de dezembro, 2001, pgs. 121-122.)
César Cals foi um político eminentemente de cúpula e talvez o coronel de maior prestígio na esfera federal, dada a sua grande amizade com o presidente Figueiredo que o nomeou para seu Ministro das Minas e Energia, quando já era Senador Biônico.[2] Sem nunca sentir o gosto do voto soube conquistar a confiança do Planalto e se não fosse o seu enorme prestigio no governo central, com certeza teria sido pisoteado facilmente pelos outros coronéis Virgílio e Adauto.

[1] Instalada no rio Parnaíba, que separa o Maranhão do Piauí, a aproximadamente 80 quilômetros da cidade piauiense de Floriano, a usina hidrelétrica de Boa Esperança começou a ser construída em agosto de 1964, e concluída em abril de 1970.
[2] Instituído em 1977 pela Emenda Constitucional nº 8, o senador biônico era um cargo ocupado por serviçais do Regime Militar.

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