COMO SE SABE, a partir de março de 1964, o país passou por uma mudança radical, em decorrência da Revolução de 31 de Março. Esse acontecimento veio mudar totalmente a vida política brasileira, com uma reformulação em todo o sistema.
Desde os grandes centros até os mais recônditos lugares do país, o povo se engajou numa campanha difamatória dos militares contra o comunismo, colocado para a população como uma proibição à liberdade. O ponto alto desta campanha, inclusive com o expressivo e importante apoio da Igreja Católica, aconteceu exatamente no dia 19 de março, consagrado a São José, padroeiro da família. O povo brasileiro decidiu sair às ruas portando cartazes e gritando palavras de ordem, alertando sobre o perigo do comunismo bem como a sua ameaça ao mundo livre. Era a Marcha da Família com Deus pela Liberdade que se transformou numa manifestação popular das mais reacionárias da história do país.
Em Limoeiro do Norte, a população dos mais diversos recantos do município veio participar do movimento, todos em passeata até o centro da cidade, cada um conduzindo uma palha verde da carnaubeira como símbolo de liberdade. O Hino composto exatamente para o momento, era cantado como uma palavra de ordem e cujo refrão destacava exatamente o perigo do comunismo:
A “revolução” estabeleceu como meta, tornar o Brasil em uma potência mundial de médio porte, contudo, ocorreu uma estranha contradição: com a intenção de tornar neutra as forças das massas, principalmente nos grandes centros onde havia uma oposição muito forte ao novo regime, os militares decidiram por aliar-se ao que restava do coronelismo e com isso, principalmente nos estados nordestinos, voltaram bastante fortalecidas as velhas oligarquias, atualizando o poder dos coronéis. Essa prática estabelecia um paradoxo com relação às propostas de uma economia moderna com as manobras politiqueiras do passado, misturando o moderno com o arcaico. Com esse pensamento antiquado, incentivaram alianças e conchavos para que os ditos “ideais revolucionários” fossem preservados. Enquanto nesse período, principalmente de 1969 a 1979 o país passou a conhecer um desenvolvimento econômico jamais visto, dava-se também a maior perseguição política também nunca acontecida. Escapavam da fúria impiedosa dos militares, aqueles que por esperteza passavam para o lado deles apoiando integralmente suas idéias.
No Ceará, o governador Virgílio Távora, depois de haver apoiado o governo de João Goulart e ter dado cobertura à campanha do plebiscito optando pelo retorno do presidencialismo além de tornar-se um simpatizante de quase todas as medidas do governo Jango e ainda de ter sido seu Ministro de Viação e Obras Públicas, deu uma guinada inteligente e muito esperta quando hipotecou todo seu apoio à revolução transformando-se em um defensor incondicional dos ideais da revolução. Essa atitude de Távora veio confirmar a sua forma de fazer política, sendo uma das suas muitas facetas, ignorar acordos políticos bastando tão somente que o momento lhe trouxesse vantagens. Com essa estratégia recebeu de presente dos militares o reconhecimento por sua posição o que lhe rendeu mais tarde (1978) a nomeação para Governador do Ceará.
Depois desse salto, Távora que já vinha exercendo grande influência na política cearense, procurou apoio dos chefes políticos interioranos. Na região jaguaribana, mais precisamente em Limoeiro do Norte, teve como fiel discípulo o deputado Manoel de Castro Filho. Aliás, desde que ingressou na política, Castro esteve sempre na sombra de Virgílio, posicionando-se com extrema fidelidade a todas as suas orientações.
Mas Manoel de Castro não era único em Limoeiro do Norte, posto que, havia outras lideranças tais como os deputados Franklin Chaves e Dr. José Simões. Para não perderem suas posições na política limoeirense os três iniciaram uma dança engenhosa, a fim de assegurarem os seus espaços. Nenhum desses fortes “defensores” do povo teve a coragem de ingressar no partido de oposição (MDB) e optaram todos pela ARENA entrando todos no mesmo saco para dessa forma, se identificarem como farinha de uma mesma qualidade.
Difícil não era a articulação dessas lideranças, pois todas elas sempre olharam primeiramente seus interesses individuais, razão pela qual, dificultaria a divisão do bolo em que satisfizesse a cada um na hora de abocanhar a fatia que lhe coubesse. Agora, já não era mais uma briga de partidos, mas sim uma luta infernal na manutenção das benesses advindas dos chefes maiores. Nesse palco, estava em melhor e mais confortável posição Manoel de Castro, pois o seu comandante Virgílio Távora estava bem acomodado, enquanto os outros ainda teriam que buscar um apoio maior.
Após a revolução e determinados em assegurar cada um a sua parte, os três deputados se reuniram e indicaram pessoas totalmente fieis aos seus comandos para, sobretudo, ficarem de guarda com relação aos passos de cada um deles. Manoel de Castro se fez representar por seu escudeiro José Hamilton de Oliveira, Franklin Chaves por seu infalível defensor Professor Antônio Pergentino Nunes e Dr. Simões pelo seu sequaz Alcides Chaves, cada um imbuído na tarefa de defender o espaço político do seu chefe bem como preservar seus respectivos redutos eleitorais. Eram enormes as divergências do trio (Franklin, Manoel e Simões) mas como todos estavam no mesmo "picadeiro", optaram por formar sublegendas, tripartindo a ARENA em facções como se fossem independentes entre si.
Ao aproximar-se a campanha política de 1966, com a primeira eleição para prefeito depois da revolução, começou de verdade a briga de bastidores, briga essa, muito pior e mais cruel do ponto de vista dos interesses pessoais, do que todas outras que já haviam acontecido, pois era praticada friamente, longe do conhecimento da população e em meio aos mais obscuros bastidores da política local.
Desde os grandes centros até os mais recônditos lugares do país, o povo se engajou numa campanha difamatória dos militares contra o comunismo, colocado para a população como uma proibição à liberdade. O ponto alto desta campanha, inclusive com o expressivo e importante apoio da Igreja Católica, aconteceu exatamente no dia 19 de março, consagrado a São José, padroeiro da família. O povo brasileiro decidiu sair às ruas portando cartazes e gritando palavras de ordem, alertando sobre o perigo do comunismo bem como a sua ameaça ao mundo livre. Era a Marcha da Família com Deus pela Liberdade que se transformou numa manifestação popular das mais reacionárias da história do país.
Em Limoeiro do Norte, a população dos mais diversos recantos do município veio participar do movimento, todos em passeata até o centro da cidade, cada um conduzindo uma palha verde da carnaubeira como símbolo de liberdade. O Hino composto exatamente para o momento, era cantado como uma palavra de ordem e cujo refrão destacava exatamente o perigo do comunismo:
(...)E no dia 31 de março de 1964, os militares finalmente tomaram o poder e fizeram com que a sociedade brasileira passasse por grandes mudanças políticas e sociais. Seu primeiro presidente, o cearense marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, alterou profundamente a legislação trabalhista e a economia, cassou mandatos, suspendeu direitos políticos e extinguiu todos os partidos existentes, passando a vigorar apenas dois: ARENA e MDB.
Liberdade com Deus, Liberdade,
Sem a foice que ceifa inclemente,
Liberdade com Deus, Liberdade,
Sem o martelo que esmaga o inocente.
(...)
Com a Revolução de 1964 foram extintos todos
os partidos políticos do Brasil e em 1966, estrearam os novos partidos, criados
à sombra do arbítrio; eram a Aliança Renovadora Nacional/ARENA, que abrigava os
ditos revolucionários e simpatizantes e o Movimento Democrático Brasileiro/MDB,
que abrigava os ditos oposicionistas.
A “revolução” estabeleceu como meta, tornar o Brasil em uma potência mundial de médio porte, contudo, ocorreu uma estranha contradição: com a intenção de tornar neutra as forças das massas, principalmente nos grandes centros onde havia uma oposição muito forte ao novo regime, os militares decidiram por aliar-se ao que restava do coronelismo e com isso, principalmente nos estados nordestinos, voltaram bastante fortalecidas as velhas oligarquias, atualizando o poder dos coronéis. Essa prática estabelecia um paradoxo com relação às propostas de uma economia moderna com as manobras politiqueiras do passado, misturando o moderno com o arcaico. Com esse pensamento antiquado, incentivaram alianças e conchavos para que os ditos “ideais revolucionários” fossem preservados. Enquanto nesse período, principalmente de 1969 a 1979 o país passou a conhecer um desenvolvimento econômico jamais visto, dava-se também a maior perseguição política também nunca acontecida. Escapavam da fúria impiedosa dos militares, aqueles que por esperteza passavam para o lado deles apoiando integralmente suas idéias.
No Ceará, o governador Virgílio Távora, depois de haver apoiado o governo de João Goulart e ter dado cobertura à campanha do plebiscito optando pelo retorno do presidencialismo além de tornar-se um simpatizante de quase todas as medidas do governo Jango e ainda de ter sido seu Ministro de Viação e Obras Públicas, deu uma guinada inteligente e muito esperta quando hipotecou todo seu apoio à revolução transformando-se em um defensor incondicional dos ideais da revolução. Essa atitude de Távora veio confirmar a sua forma de fazer política, sendo uma das suas muitas facetas, ignorar acordos políticos bastando tão somente que o momento lhe trouxesse vantagens. Com essa estratégia recebeu de presente dos militares o reconhecimento por sua posição o que lhe rendeu mais tarde (1978) a nomeação para Governador do Ceará.
Depois desse salto, Távora que já vinha exercendo grande influência na política cearense, procurou apoio dos chefes políticos interioranos. Na região jaguaribana, mais precisamente em Limoeiro do Norte, teve como fiel discípulo o deputado Manoel de Castro Filho. Aliás, desde que ingressou na política, Castro esteve sempre na sombra de Virgílio, posicionando-se com extrema fidelidade a todas as suas orientações.
Mas Manoel de Castro não era único em Limoeiro do Norte, posto que, havia outras lideranças tais como os deputados Franklin Chaves e Dr. José Simões. Para não perderem suas posições na política limoeirense os três iniciaram uma dança engenhosa, a fim de assegurarem os seus espaços. Nenhum desses fortes “defensores” do povo teve a coragem de ingressar no partido de oposição (MDB) e optaram todos pela ARENA entrando todos no mesmo saco para dessa forma, se identificarem como farinha de uma mesma qualidade.
Difícil não era a articulação dessas lideranças, pois todas elas sempre olharam primeiramente seus interesses individuais, razão pela qual, dificultaria a divisão do bolo em que satisfizesse a cada um na hora de abocanhar a fatia que lhe coubesse. Agora, já não era mais uma briga de partidos, mas sim uma luta infernal na manutenção das benesses advindas dos chefes maiores. Nesse palco, estava em melhor e mais confortável posição Manoel de Castro, pois o seu comandante Virgílio Távora estava bem acomodado, enquanto os outros ainda teriam que buscar um apoio maior.
Após a revolução e determinados em assegurar cada um a sua parte, os três deputados se reuniram e indicaram pessoas totalmente fieis aos seus comandos para, sobretudo, ficarem de guarda com relação aos passos de cada um deles. Manoel de Castro se fez representar por seu escudeiro José Hamilton de Oliveira, Franklin Chaves por seu infalível defensor Professor Antônio Pergentino Nunes e Dr. Simões pelo seu sequaz Alcides Chaves, cada um imbuído na tarefa de defender o espaço político do seu chefe bem como preservar seus respectivos redutos eleitorais. Eram enormes as divergências do trio (Franklin, Manoel e Simões) mas como todos estavam no mesmo "picadeiro", optaram por formar sublegendas, tripartindo a ARENA em facções como se fossem independentes entre si.
Ao aproximar-se a campanha política de 1966, com a primeira eleição para prefeito depois da revolução, começou de verdade a briga de bastidores, briga essa, muito pior e mais cruel do ponto de vista dos interesses pessoais, do que todas outras que já haviam acontecido, pois era praticada friamente, longe do conhecimento da população e em meio aos mais obscuros bastidores da política local.
2 comentários:
Discordo em chamar o movimento de 1964 de revolução, foi um golpe mesmo. Revolução é quando há uma completa e profunda transformação da sociedade, e o que realmente aconteceu foi uma tomada de poder mudando apenas, de maneira truculenta, os rumos da nação.
Discordo em chamar o movimento de 1964 de revolução, foi um golpe mesmo. Revolução é quando há uma completa e profunda transformação da sociedade, e o que realmente aconteceu foi uma tomada de poder mudando apenas, de maneira truculenta, os rumos da nação.
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