sábado, 14 de março de 2009

Capítulo II - A OLIGARQUIA CHAVES E A POLITICA ATÉ 1945.

NAS PRIMEIRAS DÉCADAS do século XIX o sitio Limoeiro tinha apenas algumas casas além da grande fazenda dos Rodrigues que aqui chegaram por volta da segunda metade do século XVIII. Não se tem conhecimento nenhum de como as terras que a eles pertenciam foram adquiridas:
“Como e de quem os Rodrigues adquiriram terras nas áreas de Limoeiro, propriedades que iam da Chapada do Apodi (São Gonçalo) até o Congo e Jatobá, nada se sabe...” (LIMA, Lauro de Oliveira. Na Ribeira do Rio das Onças, 1997. Op. cit. p. 174)
O Padre Vicente Rodrigues da Silva, o primeiro sacerdote de Limoeiro iniciou suas atividades em 1808 e é indiscutível a sua influência política na região, tanto que presidiu a Câmara de Vereadores de São Bernardo das Russas por duas vezes, em 1822 e 1832.
Como era somente uma grande fazenda, a política em Limoeiro era praticamente nula. Nem mesmo com a chegada de Bonifácio José Carneiro(*) em 1830 (procedente de Caatinga do Góis/União - hoje Jaguaruana) houve disputa pelo espaço político, muito embora tenha, naturalmente, confrontado com a liderança do Padre Vicente, único representante do povoado até então. Mas não se tem notícia de nenhuma divergência no campo político, entretanto os dois se atritaram, quando da doação do terreno para a construção da igreja, feita por Bonifácio, no que o Padre Vicente foi contra, pois defendia a construção da Igreja em Gangorra ou Sapé.
Bonifácio Carneiro e Joaquim Costa Barros tiveram relevante destaque na primeira metade do século XIX, ao doarem para a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, cada um, 25 braças de terra, onde seria construída a capela, benzida (provavelmente) em 08 de dezembro de 1845.
Até ai, não existia disputa política em Limoeiro e somente a partir da segunda metade do século XIX é que começou a despontar com seus líderes, fato que pode ser compreendido porque até se tornar Vila* Limoeiro dependia políticamente de Russas, sendo lá onde atuavam os seus representantes.
(*)"Bonifácio José Carneiro, faleceu no dia 28 de novembro de 1861 na povoação do Limoeiro, vitima de uma hidropisia, que o fez sucumbir dentro de poucos dias e depois de esgotado os recursos da medicina.
O Sr. Bonifácio era um cidadão prestimoso, que soube sempre corresponder à estima e consideração de que gozava entre os seus concidadãos. Os habitantes do Limoeiro devem ser gratos a memória desse homem que tanto contribuiu para o estado em que se acha aquela florescente povoação. Com efeito, em 1844 - 45 ou quanto muito de 1840 a 1845, o Sr. Bonifácio foi estabelecer-se no Limoeiro, apenas havia ali duas ou três casas velhas, sendo uma destas a do capelão, onde estava colocado o oratório privado em que se celebravam os atos divinos e suspenso em um dos frechais da casa o sino que convocava os fiéis para assistirem a esses mesmos atos". Foi então que o Sr. Bonifácio tratou de levantar a efeito a edificação da capela sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, que era venerada no mesmo oratório como a padroeira daquele lugar; promoveu uma subscrição entre os moradores, animou-os a empreenderem a obra e conseguiu a força de trabalhos e perseverança construir a capela-mór e elevar as paredes do corpo da igreja a tal altura que podia comodamente servir para o culto; depois passou a administração a outros encarregados, nunca deixando de ser um benfeitor da mesma igreja. Foi ainda o Sr. Bonifácio quem primeiro promoveu a edificação de casas naquele lugar, aonde deu principio a uma rua e construiu um quarteirão de pequenas casas ou quartos próprios para o mercado público; de então em diante começou a desenvolver-se ali o gosto pela edificação, de modo que a população tem argumentado muito, e hoje é incontestavelmente a mais importante do município. Como politico pertencia o Sr. Bonifácio ao partido conservador, a quem foi sempre fiel e prestou relevantes serviços, prevalecendo-se para isso da influencia bem merecida que exercia entre os habitantes daquela localidade; revela, porém notar que, não obstante a sua dedicação ao partido, sempre se conservou sem inimigos políticos; prudente e moderado tratava bem a todos quaisquer que fossem suas opiniões politicas e por isso mesmo contava afeiçoados entre os membros de ambas as parcialidades. Conhecendo a gravidade do mal de que se sentiu afetado, preparou-se com a recepção dos sacramentos e morreu possuído de uma verdadeira resignação. A terra lhe seja leve. P.L. (jornal Pedro II, 12 de dezembro de 1861, pág. 3 – nº 286). (Colaboração de José Arimatéia F. Maia)
Foi a partir do meado do século XIX que Limoeiro começou a respirar com seus próprios pulmões. De pequeno aglomerado de casas, fora comtemplado com a categoria de Vila, e antes de terminar o século receberia o galardão de Município.

*(Lei Provincial nº 1402, de 22 de julho de 1871 – A Vila Limoeiro só foi instalada dois anos depois, em 30 de junho de 1873, quando foi empossado o Capitão João Ennes da Silva como 1º presidente da nova Câmara.
  
A Elevação à categoria de Município provém da Lei nº 364, de 30 de agosto de 1897, assinada pelo Comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly.

O pequeno povoado, sem praças nem ruas definidas, abria o novo século com as divergências entre as famílias Chaves e Nunes, cada uma delas, ambicionando o poder. Ambas muito bem acomodadas no governo do Comendador Accioly, com suas "intrigas" colocavam o recém-criado município numa total situação de esterilidade. Nada de producente acontecia e o ronceiro e quase imperceptível processo de desenvolvimento, caminhava a passos de tartaruga e não era nada interessante a nenhuma das partes divergentes, crescer social e politicamente a pequenina Limoeiro.
Os homens que ocupavam os cargos no comando municipal ao que parece, também não tinham visão progressista e a investidura de Intendente, se dava por influência de um ou de outro chefe maior, que os nomeavam de acordo com as circunstâncias e interesses, razão pela qual, alguns intendentes não passaram para a história como responsáveis por ações que mereçam destaque e que tenham colaborado para o crescimento do novo município.
O primeiro Intendente Capitão João Ennes da Silva (1873/1878) - na verdade era presidente da Câmara de Vereadores - para servir de exemplo, não se tem notícia de que era um político e destacou-se na história muito mais como um burocrata, sobretudo pela sua "luta" em favor dos flagelados da grande seca de 1877/1879. Seu Pai de nome tambem João Ennes, residia no Sitio Pasta. De onde teria vindo essa família, cujos descendentes não são encontrados em Limoeiro? Sabe-se entretanto que antes de ser nomeado intendente foi sub-delegado (1870-1873).
O mesmo se pode dizer do primeiro presidente da Câmara de Vereadores, após a instalação do município – Major Francisco Juvenal de Abreu Lajes.
O Coronel Candido José Gonçalves Malveira, poderoso como era, foi o segundo intendente (1878-1881). "Pernambucano, chegou a Limoeiro via Russas." (MALVEIRA, 1998)
O terceiro intendente, José Vidal de Sousa Maciel (1881-1883), também não se tem dados de como e quando chegou a Limoeiro, todavia supõe-se que seja realmente limoeirense, visto que a sua fazenda nos Morros, lhe pertencia por herança de família. (MALVEIRA, 1998).

Quanto ao 3o Intendente, José Vidal de Sousa Maciel (1881-1883), (*1827 + 1911) era filho de Antonio Paes de Sousa Jr (*1810 +?) e Felícia Francisca dos Reis, que possuíam terras em São João (Sítio Lima), Tabuleiro e talvez também em Limoeiro. Sua esposa, Maria Escolástica do Espírito Santo, era filha do Capitão Antonio Lopes de Andrade e também era irmã de Maria de Jesus da Purificação, que se casou com o Cap. José Rodrigues, do Poço das Pedras. Um dos irmãos de José Vidal, Antonio Alves de Carvalho Lima (*1825 +?) foi juiz de paz em Limoeiro. 
Vê-se aqui o natural: os poderosos vão unindo seus descendentes, para que estes também sejam poderosos. (Colaboração de Abner Chaves – em 28.10.2015)


O quarto intendente, João Batista Roberto, (1883-1886), com tronco familiar na localidade do Sapé desde as décadas iniciais de século XVIII. Era o pai de Patrício Roberto de Freitas, que era pai de Sabino Roberto de Freitas.
A propósito dos nomes desconhecidos que assumiram a Intendência Municipal podemos indagar: quem foi mesmo esse Francisco Casimiro Varella? (Intendente de 1892 a 1896). Um aventureiro? Sabe-se apenas tinha parentes seus em Lagoa do Rocha e que chegou a Limoeiro do Norte, na qualidade de Delegado de Polícia, nomeado pelo então presidente da província Major Benjamin Liberato Barroso. Ainda podemos confirmar, através do jornal Cearense relatar alguns dados sobre a sua vida:
*Francisco Casimiro Varella foi suplente JUIZ DE PAZ entre 1873 – 1876 Freguesia da Vila do Limoeiro – 3º Distrito.
*Sr. Francisco Casimiro Varella era um boiadeiro do Limoeiro, assim informou jornal Cearense, em 5 de maio de 1876. Que o mesmo vendia Carnes Verdes na feira do Arouchos atual Parangaba.
*Em 15 de agosto de 1892 foi nomeado para a Guarda Nacional do Ceará: Limoeiro, o tenente coronel comandante – Francisco Casimiro Varella.
*Francisco Casimiro Varella foi em 1890, 1º suplente de delegado do Limoeiro.
*Limoeiro 21 de março de 1894 – "Francisco Casimiro Varella - Intendente"; 
Em 1915 Francisco Casimiro Varella era Fiscal Geral de Limoeiro.
(jornal Cearense, 5 de maio de 1876, Nº 39) - Colaboração de Jose Arimatéia F. Maia
O fato é que o poder nunca chegou a ser travado pelos coronéis latifundiários – os latifúndios praticamente não existiam no município. – A base mesmo das disputas políticas era o comércio e a burocracia (cartorial) auxiliados pelo poder eclesiástico que sempre teve em todo decorrer da história uma influência considerável.
"As disputas políticas envolvendo os sacerdotes no município de Limoeiro das primeiras décadas do século XX eram evidentes e pouco disfarçadas. As rixas partidárias eram determinantes na nomeação e permanência de párocos no município (...)"(ANDRADE, Maria Lucélia de. Tese de Mestrado; “Filhas de Eva como Anjos sobre a Terra ”A Pia União das Filhas de Maria em Limoeiro-CE (1915-1945); UFC; 2008.
O comércio local era composto de algumas lojas modernas para a época além de pequenas bodegas no centro da vila, o suficiente para manter o poder político no município disputado entre os homens reconhecidamente ricos.
O Coronel Malveira (intendente -1878/1881) era proprietário de uma das modernas casas de comércio, que ficava localizada na hoje rua Serafim Chaves:
"Na sua loja, vendia-se de quase tudo: prataria, talheres, e bons tecidos para ambos os sexos, era uma substanciosa casa comercial ao estilo do tempo; abastecida através do Estado de Pernambuco onde ele ia de dois em dois anos fazer compras...” (MALVEIRA, Antonio Nunes. Coronéis, Ascensão e Queda, 1998, pág. 20) 
Tambem era comerciante de destaque Camilo Brasiliense de Holanda Cavalcante cujo comercio era inovador para a época, pois representava com exclusividade as máquinas de costura Singer.(*) Era um homem de visão e mesmo naquela época, fez algumas viagens à Europa.
(*) Em 1851, aparece nos EUA a primeira máquina de costura com pedal, uma invenção de Isaac SINGER. A máquina foi autorizada a funcionar no Brasil pela Princesa Isabel em 1888. Sem dúvidas era uma grande novidade naquela época para um povoado pequeno como Limoeiro já ter representante exclusivo de tão moderno instrumento.
Residia em um casarão assobradado na esquina da hoje Avenida D. Aureliano Matos com a rua Cel. Serafim Chaves. Ao ficar viúvo do primeiro casamento contraiu segundas núpcias com Maria da Conceição da Silva em 24 de abril de 1888, e a terceira com Maria Senhorinha em 16 de setembro de 1909, de quem se separou, razão pela qual foi embora para Recife, onde faleceu provavelmente em 1910. (MENDES e HOLANDA, 2006)
Embora bastante envolvido na política local, nunca assumiu a Intendência, entretanto o seu filho, Tenente-Coronel Luiz Brasiliense de Holanda Cavalcante, foi o primeiro prefeito/intendente (1896-1902), no período da emancipação da Vila Limoeiro à categoria de Município em 1897 cuja gestão foi marcada pelas turbulências e agitações políticas, resultantes das lutas pelo poder na época.
Os brasilienses eram aliados do Coronel Jose Nunes nos confrontos com o coronel Serafim Chaves. Luiz Brasiliense era conhecido nos meios políticos do Estado como “o sujo”:
“De Limoeiro acabam chegar os dois coripheus acciolynos Luiz Brasiliense – o sujo como vulgarmente o chamam e o revd. Intendente Antonio Pereira da Graça Martins bem dispostos e aparelhados e ajustados dragões de politicagem sertaneja”. (noticia do jornal periódico O Cearense)
Procedente de Tabuleiro, tambem chega a Limoeiro Antonio Joaquim Ferreira Maia (Coronel da Guarda Nacional - Intendente no período de 1886/1890). Inovou a vida comercial da vila com uma máquina de descaroçar algodão, (detalhes ilustrativos abaixo) adquirida em Pernambuco, além de tecelagem, padaria e uma moderna casa de comércio para a época. Na falta do profissional médico, muito difícil naqueles tempos, assumia também essa atividade consultando pessoas doentes e consta que não receitava outros remédios que não fossem “pílulas do mato” para os homens, “óleo de rícino” para as mulheres e “maná” para crianças.
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A máquina consistia numa espécie de peneira com um tambor que girava muito próximo dela, fazendo o "papel" dos dedos a puxar o fio. Na superfície do cilindro existiam ganchos que capturavam o fio a partir da semente e uma escova rotativa puxava-os. A máquina conseguia fazer apenas numa hora o que vários trabalhadores conseguiam fazer num dia inteiro. (http://www.tocadacotia.com/economia/tecido-algodao)
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Na parte burocrática, o poder sempre esteve montado em cima dos cartórios que se apresentavam como armas poderosíssimas na confecção brutal e escandalosa de resultados eleitorais.
As eleições chamadas de eleições a bico de pena se davam num vergonhoso processo pelo qual uma comissão fraudava qualquer resultado, violando as urnas, falsificando assinaturas, criando eleitores fantasmas, tornando-o favorável para quem ela bem quisesse. Para isso, o cartório era peça fundamental, pois exercia o total controle eleitoral. Dessa forma, os novos mandatários eram praticamente escolhidos pelos mesários que sozinhos ou com a ajuda de profissionais determinavam o “resultado” da eleição. Ademais, tal prática ficava ainda mais fácil, porque o eleitorado era inteiramente controlado pelo voto de cabresto sob a forma de curral eleitoral, além de colocá-lo em situação de medo.
Aqui também já nos cabe mencionar a influência dos padres e porque não dizer, na maioria das vezes da conivência destes com essa prática descabida. As eleições se realizavam justamente na igreja, sob a “fiscalização” do pároco, que depois de tudo assinava em baixo toda a fraude cometida.
A prática da intimidação aos eleitores na hora de votar também acontecia em Limoeiro do Norte, como afirma o escritor Antônio Nunes Malveira mais uma vez se referindo à fazenda Água Fria de propriedade do seu avô Coronel Cândido Gonçalves Malveira:
“Ali, em época de eleições, escondiam-se os cangaceiros Raimundo das Neves, compradre do meu avô, e Pedro das Neves, seu irmão”. (...) No dia das eleições eram conduzidos para a cidade”. (MALVEIRA, Antonio Nunes. Coronéis, Ascensão e Queda, 1988, pág. 25)
Note-se que ele diz: "no dia das eleições", o que revela que o processo eleitoral em Limoeiro obedecia ao mesmo critério das outras regiões, ou seja, o poder público era exercido pela força na forma do coronelismo. Assim sendo, também em Limoeiro as eleições eram realizadas num clima tenso e a presença dos pistoleiros era exatamente para assegurar a vitória e ainda impedir que adversários tivessem acesso ao voto, além de permitir que outros procedimentos absurdos fossem cometidos.
Um dado que chama a atenção é o fato de um dos cangaceiros - Raimundo das Neves - ser compadre do coronel, demonstrando, assim, os fortes laços de amizade que existiam entre eles. Resta saber se o afilhado era do coronel ou do cangaceiro, ou seja: quem foi convidado para apadrinhar o filho de quem? Nesse sentido deve-se considerar a intimidade de um Coronel da Guarda Nacional com figuras nada recomendáveis. 

Foi tambem em meados do século XIX, por volta de 1873, que apareceu em Limoeiro um dos mais influentes coronéis e que deu origem a uma oligarquia que se manteve por mais de oitenta anos à frente do poder político. Era ele, o Coronel Serafim Tolentino Freire Chaves.

Casado com duas Joanas. A primeira chamava-se Joana de Sena Freire (em 2 de fevereiro de 1860) que era sua tia caçula, ou seja, irmã do seu pai.  
A segunda, Maria Joana Pereira Chaves (ou Maria Joana de Jesus em 21 de setembro de 1864), era filha do Cap. José Rodrigues Pereira Chaves (do Poço das Pedras) (*1810 +?) e, portanto, neta de André Felício da Silva Chaves. Esse André era irmão de Ângela da Silva de Santa Bárbara Rodrigues Chaves (*? +1875), que era mãe de Antonio Rodrigues Freire Chaves (*1811 +1885) e, portanto, avó do Cel. Serafim Tolentino (*1839 +1914). Ou seja, o avô de Joana era irmão da avó de Serafim, o que os fez primos em 3o grau. (por Abner Rodrigues Chaves Junior)
Fato interessante é que para casar-se com Maria Joana de Jesus, teve que  "roubá-la"  e praticamente à vista dos pais dela durante uma festa religiosa em Tabuleiro. Podemos presumir, portanto, que o pai da moça era contrário ao casamento. “O Capitão José Rodrigues era um matuto durão; por ocasião de uma festa religiosa em Tabuleiro, fez-se presente com toda a família. Trazia mantimentos para muitos dias de permanência no povoado, quando foi avisado que sua filha Maria Joana, havia fugido com o Coronel Serafim Chaves. José Rodrigues ficou calado. Pouco tempo depois, chamou os serviçais, mandou atrelar os bois ao carro, que era o seu transporte, reuniu a família e foi embora. Abandonando a festa que apenas começara. Apesar de analfabeto, que não era novidade na época, comparecia a todos os eventos promovidos pela Igreja, especialmente, às festas da Padroeira.”(MAIA G. C., 1999, p. 12)

Muito prestigiado pelo império, foi nomeado o 1º Tabelião de Limoeiro (Decreto Imperial de 28 de Fevereiro de 1874) e anos após comandante da Guarda Nacional (Decreto Imperial 9.131, de 16 de fevereiro de 1884). Foi também deputado da antiga Província do Ceará no biênio 1886/1887.
O inconstante e vulnerável ambiente político em Limoeiro na época foi altamente propício para que Serafim não encontrasse dificuldades para estabelecer uma acentuada liderança e, segundo Lauro de Oliveira Lima solidificada sobre o tripé:
“cartorial (tabelionato), militar (Guarda Nacional) e político (prestígio junto ao presidente da Província)”.(LIMA, Lauro de Oliveira. Na Ribeira do Rio das Onças, 1997, pág. 318)
Tem-se a informação de que era amigo íntimo de Antônio Pinto Nogueira Accioly sendo-lhe conveniente essa amizade com o Velho Babaquara* Presidente da Província, onde mantinha melhor seu prestígio.
*Nota: A expressão pejorativa foi criada por Antonio Sales e logo foi adotada pelos demais adversários politicos do líder oligárquico.
O Comendador Accioly governou o Ceará por quase vinte anos (1896/1912), período chamado de oligarquia acciolina ou cesarismo acciolino. O mandato foi interrompido entre 1900/1904, época em que se elegeu Senador da República, mas colocou no lugar seu pau mandado Pedro Augusto Borges, que fazia exatamente tudo o que ele determinava. Passou para a história do Ceará, como um dos governantes mais corruptos, fato talvez, que favorecia ao próprio Serafim, já que gozava também dos benefícios dos quais usufruíam os governantes estaduais através da chamada “Política dos Governadores”.[*]
[*]Criada por Campos Sales, baseava-se no seguinte: o presidente apoiava os governadores estaduais e seus aliados e em troca eles garantiam a eleição para o congresso dos candidatos oficiais. Isso garantia a continuidade das grandes famílias (ricas e poderosas) no poder. (http://www.infoescola.com/historia/politica-dos-governadores%29
Há de se entranhar, portanto, que mesmo sendo poderoso e detentor de praticamente a totalidade do comando político, o Coronel Serafim Chaves não tenha nunca assumido o posto de intendente.
A seu favor tinha ainda o poder eclesiástico controlado por ele quase em sua totalidade e usando da grande influência e prestígio político conseguia substituir o vigário da paróquia caso este não estivesse de acordo com suas ideias ou as contestasse tentando uma oposição.
Politicamente, como não admitia discordâncias dos seus atos, tampouco a intenção de tomar-lhe o poder, usava contundentemente o poder cartorial, sem dúvidas, a maior arma para lhe assegurar a soberania política. Era sob égide deste instrumento – o mais eficiente mecanismo no funcionamento das engrenagens da máquina eleitoral – que conseguia exercer um poder quase absoluto e uma invejável liderança.
O que o coronel Serafim não contava era que com o aparecimento de outros nomes, perdesse boa parte do prestígio com o qual manobrava toda politica da pequena vila.
Mas para que se configurasse uma verdadeira disputa política foi preciso aparecer realmente outras forças capazes de combater o poderio incipiente do Coronel Serafim Chaves.
E foi nos anos finais do século XIX, que começou a atuação de José Nunes Guerreiro. Era mais um coronel, esperto o suficiente para tornar-se também um fiel aliado do Comendador Accioly, com prestígio inclusive para criar o segundo cartório. (dizem que os Chaves tomaram esse Cartório tempos depois)
Acredita-se que o projeto da criação deste Cartorio, com a influencia fortíssima do Presidente da Provincia, tenha sido uma vingança deste ao Coronel Serafim Chaves, até então seu aliado, mas que em determinado momento se opôs às suas vontades, como bem noticia o jornal “O Cearense”, periódico oposicionista e de grande repercussão na época.
“O projeto visa uma vingança a nosso prestimoso amigo coronel Seraphim Chaves que não se dobrou à vontade omnipotente do Sr. Accioly e preferiu como politico acompanhar os opprimidos a deshonrar-se aderindo ao usurpador...”
Em razão disso, é que começou realmente o verdadeiro jogo de confronto político/cartorial e essa rixa tornou os Chaves e os Nunes inimigos políticos, numa briga que iria permanecer durante grande parte da história.
A grande amizade com Nogueira Accioly,fez também com que o coronel José Nunes começasse a indicar nomes para intendentes, chegando a inclusive a dominar o pleito eleitorial em que foi nomeado intendente o Padre Antonio Pereira da Graça Martins, o que comprovamos com noticia do periódico “O Cearense” quando de uma visita do irmão do coronel Jose Nunes à capital:
“Há poucos dias esteve nesta capital o sr. Joaquim Nunes Guerreiro, do Limoeiro, irmão do célebre chefeto Jose Nunes, um dos mais ousados e menos escrupulosos reguletes que infestam a zona do Jaguaribe.
Na eleição de 11 de abril deu uma grande amostra do seu valor reunindo uns 12 capangas de cujo numero fazia parte o vereador João Maria de Freitas e outros que se prepararam para receber o pujante partido opposicionista naquele pleito.
No intuito de vedarem à opposição de exercer o direito do voto, ordenou que se pregassem as portas da casa da Câmara, fazendo José Nunes com seu séquito a eleição na cosinha de sua própria casa, logar reservado para todas as tramoias políticas e para as sangrias do intendente Antonio de Castro, sacrificado pelo sangue-suga chefe acciolyno, a quem desejamos um bom proveito.
Ao intendente que estire mais um pouco e ao Quinca nunes – boa viagem”
Vê-se, entretanto, que a chegada do coronel José Nunes, ofuscou realmente a liderança do Coronel Serafim Chaves, que a partir de então passou a ser considerado pelo Comendador Acccioly seu inimigo politico.

NOTA
Coronel José Nunes era genro do Coronel Malveira, casado com sua filha Maria Josina Malveira Nunes. Depois uma das filhas do Coronel José Nunes, Izaura Malveira Nunes, casou com Alberto Malveira, que era filho de Cândido Gonçalves Malveira, que era filho do Coronel Malveira.

Um dos seus irmãos, Francisco Nunes Guerreiro, casou-se com Maria Jardilina que tambem era filha do Coronel Malveira. Pelos menos quatro sobrinhos(as) seus, casaram-se com filhos(as) de Cândido Gonçalves Malveira.

Assim, pelos laços familiares que foram se estabelecendo através dos casamentos entre os Malveira e os Nunes, podemos supor que ambas as famílias eram aliadas politicamente contra a família Chaves.  

A partir de 1908 surgiu uma outra figura com forte atuação em Limoeiro. Tratava-se do Padre
Acelino Viana Arrais, sacerdote intrépido, valente, vindo da região do Cariri e que se transformou numa mistura de líder espiritual e político exercendo uma considerável influência no município.
Ao chegar mandou Mestre Sombra, de quem se tornou um amigo íntimo, construir sua própria residência (foto abaixo).
Logo se converteu num inimigo figadal do Coronel José Nunes que em contrapartida e numa demonstração de que levava a sério a intriga, não assistia missas que fossem celebradas por ele. Mais tarde o Padre Acelino também se atritou com os Chaves, em virtude de uma agressão física para com um dos membros da família (Getúlio Chaves), por tê-lo visto namorando na calçada da matriz, depois de haver proibido os namoros naquele local. Contam que o Padre Acelino levantou a batina e partiu ferozmente contra o rapaz e os dois chegaram a travar uma luta corporal com bofetes de ambos os lados, briga essa que foi acompanhada pelos presentes à missa.
De outra feita, o Padre Acelino travou uma batalha com o Coronel José Nunes, disparando tiros de sua casa (NIT) em direção à casa do coronel (Residência de Genésio Bezerra). Fato que ficou registrado naquele recontro, até pitoresco, é que um balaço atingiu a soleira da janela da casa do Coronel, deixando dilacerada em boa parte dela. O tiro foi disparado por José Ferreira Sombra (Mestre Sombra), amigo íntimo do Padre e um exímio atirador.
“No tiroteio entre Zé Nunes que morava na rua da matriz e Pe. Acelino que morava na casa vizinha a Zé Osterne, Sombra atirava do lado de Pe. Acelino que possuía armas de pesado calibre, uma das quais só Sombra sabia usar – arma molixe – cujo tiro arrancou a soleira da casa de Zé Nunes.” (LIMA, Lauro de Oliveira. Na Ribeira do Rio das Onças, 1997. Op. cit. p. 400)
A gota d’água que faltava para que extravasasse do copo, deveu-se a uma aliança em que os irmãos, Coronel José Nunes e Francisco Nunes fizeram com os Chaves, para realização de uma eleição que aconteceria dois dias após. Como o Padre já estava em atrito de sangue a fogo com os Chaves e há muito já não se entendia de jeito nenhum com os Nunes, resolveu partir para o extremo.
Esse também foi um dos fortes motivos para que tivesse a ordem suspensa, portanto proibido de celebrar na igreja matriz.
Contam que no exato momento do episódio, o Sr. Joaquim Nunes, ao certificar-se que de seu irmão Cel. José Nunes – mesmo recebendo os tiros vindos da residência do sacerdote e ainda que contando com um pequeno grupo de homens ao seu lado – dispunha apenas de um canivete como arma, tomou a corajosa decisão de ir até a casa do padre, tentar um diálogo. Em lá chegando, depois de passar por dois capangas na entrada da casa, encontrou-o bufando de raiva, com as mangas da batina arregaçadas, dizendo que “estava disposto a beber sangue”. Joaquim Nunes – baixinho e valetudinário  – o enfrentou com altivez alegando que seria "um ato de covardia, matar um grupo de homens desarmados" e convenceu o padre a baixar as armas.
A atuação do Padre Acelino com sua atitude sempre hostil em relação às principais lideranças políticas municipais vem reforçar a argumentação de que o poder eclesiástico exercia verdadeiramente uma forte influência no processo político local.
O que há de se questionar, portanto, é o fato de o padre desde que chegou a Limoeiro em 1908, tenha logo entrado em atrito com famílias influentes. Ao que parece, não era por ser truculento, mas sim, incomodado com as injustiças praticadas contra algumas pessoas.
“Defendeu vítimas de pessoas perversas, empenhando-se pessoalmente para que se fizesse justiça em rumorosos casos que abalaram a consciência e o coração da pacata Limoeiro d’antanho! Silenciem-se alguns desses casos escabrosos por respeito à inocência das vítimas!” (BRANCO, João Olímpio Castelo. O Limoeiro da Igreja. p. 117)
Quem foram essas vítimas bem como os seus algozes? Que casos tão escabrosos foram esses? Com índole reconhecidamente de um homem intimorato, podemos presumir diante de tais episódios que o sacerdote defendia seu rebanho com unhas e dentes e talvez por isso tenha entrado em conflito com famílias poderosas não admitindo qualquer tipo de injustiça para com os seus fiéis.
As hostilidades do Padre Acelino com algumas pessoas de Limoeiro eram realmente sérias. Com relação a isso, vejamos como ele foi provocado por ocasião de numa festa religiosa em Tabuleiro do Norte, por alguns desses desafetos: "...numa festa da Padroeira, alguns adversários do Padre, vieram de Limoeiro e se posicionaram em frente à mesa do leilão, posta no patamar da Igreja. Começaram com indiretas para aborrece-lo. O Padre era tido como valente; ouviu as provocações e disse para João Fernandes, o sacristão: João, eu vou me retirar; estou aqui para promover uma festa e não para brigar. Você está ouvindo aqueles insultos? É comigo! Bem perto estava sentado o Sr. João Quincó, matuto destemido e perguntou: - O que está acontecendo? O padre relatou o incidente. João Quincó com uma faca lombada fincou com toda força no tampo da mesa e disse em voz alta: - Sente-se padre, porque enquanto essa faca tiver ponta, ninguém mexe com o Senhor. Foi o suficiente para que os provocadores do Padre debandassem e não aparecessem mais, enquanto durou a festa. E a paz reinou sob o patrocínio da faca de João Quincó. (MAIA G. C., 1999, p. 23)

Sem mais clima para residir na cidade e sem direito a exercer as suas funções sacerdotais, o Padre Acelino contratou o Mestre Sombra para construir uma casa e uma capela no Sitio Socorro, onde continuou a fazer batizados, casamentos e a celebrar missas, mesmo estando com suspensão de ordem sacerdotal. Lá permaneceu pelo resto da vida até falecer em Fortaleza em 1931, aos 49 anos de idade.
Foi no Sítio Socorro, que durante as enchentes de 1922 e 1924 o Padre Acelino acolheu muitos dos desabrigados.
As enchentes eram tão terríveis quanto as secas e podemos constatar num relato feito pelo Cônego Pedro de Alcântara Araújo sobre a grande enchente de 1924: “O ano de 1924 começou sem do céu cair uma gota d’água. O povo já sem esperança de chuva se preparava para romper uma grande seca... [...] Mas foi grande a surpresa deste mesmo povo com o inverno que logo começou, no dia 24 de janeiro, chovendo quase quotidianamente até 1º de julho. O rio Jaguaribe transbordou com impetuosidade submergindo as terras maginaes, em uma altura e largura como nunca se vio nos maiores invernos até hoje conhecidos”. (Mons. Raymundo Hermes Monteiro apud ARAÚJO, 1986, p. 306)
O lado religioso era mais um ângulo de ação dos Chaves, que utilizavam muito bem desse poder, para melhor ter o controle político. Alguns padres eram inclusive ligados ou pertenciam à própria família. Foi o caso do Padre Joaquim Franklin Granjeiro Gondim (1896/1900) irmão de Dulcinéia, esposa de Sindulfo, bem como do Cônego Climério Chaves (1922/1925) filho de Serafim.
Encontramos passagens na história em que os Chaves usaram várias vezes de sua influência junto ao governo da província e com a autoridade católica maior do Estado, para substituir os padres que não estivessem de acordo com suas ideias e sempre sob a argumentação de que era necessário fazer isso por “questões morais”.
"Neste sentido, as indicações e permanências de párocos estavam ligadas às relações de poder com as famílias do município, em especial os Chaves, detentores do poder cartorial, e seus correligionários, que detiveram por muitos anos o monopólio do poder político local. Os padres que ousavam desafiar o poder dos Chaves, sofriam fortes represálias, já que a influência desse poder alcançava a alta hierarquia católica cearense, o que podia ocasionar até “suspensão de ordem” para os padres inimigos. (...) (ANDRADE, Maria Lucélia de. Tese de Mestrado; “Filhas de Eva como Anjos sobre a Terra” A Pia União das Filhas de Maria em Limoeiro-CE,1915-1945, p. 42.

Começou com o Padre Antônio Pereira da Graça Martins, (1902/1906) talvez porque fora intendente por indicação do inimigo político Coronel José Nunes, mas também porque era truculento a ponto de gerar atritos políticos e religiosos. Teve inclusive a ordem suspensas pela autoridade católica, impedido então de exercer o sacerdócio.


Padre Graça foi um dos fundadores do Pão de Santo Antonio, em 01 de novembro de 1900

O Padre Godofredo teve que sair às pressas ameaçado de morte.
Também foi expulso o Padre Vital Guedes que saiu como um fugitivo pressionado pela acusação de simonia e também por não concordarem com a reforma que queria fazer na Igreja Matriz.
O Padre Manoel Caminha Freire a quem se atribui grande parte na luta pela sede do bispado, também foi praticamente expulso.
“Pelos esforços empreendidos, o vigário Manoel Caminha estaria cotado para ser o vigário geral da nova Diocese, porém devido a boatos caluniosos que lançaram contra o mesmo, e acreditados pelo arcebispo D. Manoel, o grande batalhador pela Diocese de Limoeiro do Norte foi transferido para Riacho do Sangue”. (ARAÚJO, Pedro de Alcântara Cônego. Capital e Santuário Miragens Russano-Nordestinas, 1986, pág.339).
Invariavelmente, os Chaves sempre criavam ou facilitavam os motivos para tirarem do caminho os padres que fizessem oposição a eles ou que tivessem atitudes que os desagradassem.
Se assim agiam era justamente porque sabiam que a política não podia deixar de ter como aliado o poder eclesiástico, posto que, os vigários eram sinônimos de liderança sobre os fiéis.

Já com relação ao Padre Acelino, pode-se afirmar que o seu constante acirramento com as dígnas famílas limoeirenses bem como a sempre intransigência em defender o seu rebanho, tenham sido os motivos principais para a suspensão sumária de ordem sacerdotal e substituído exatamente pelo Cônego Climério Chaves, filho de Serafim. A vinda de Climério foi para acalmar os ânimos por exigência do Arcebispo D. Manoel S. Gomes e por pressão dos Chaves.

Com a morte do patriarca Serafim Chaves em 9 de fevereiro de 1914, ficou no comando do Cartório e, por conseguinte com o controle político, evidentemente sob a orientação da família, Francisco Celestino da Costa (Seu Coração). Natural de Martins no Rio Grande de do Norte, era casado com uma de suas filhas (Leôncia – conhecida por Sinhá) e ficou na história como o nome mais conhecido nas fraudes eleitorais além de versátil na falsificação de assinaturas. “Nunca perdeu uma eleição e, no tempo em que não havia controle eleitoral da justiça, era exímio preparador de eleições a bico de pena.” (Um Neto de Coração em carta a Lauro de Oliveira Lima. Apud. BRANCO, João Olímpio Castelo. O Limoeiro da Igreja. p. 134).
Com certeza, foi por essas últimas razões que lhe confiaram os poderes político e cartorial, principalmente, pois como mestre nas eleições a bico de pena era importante sua participação no processo político local. Chegou inclusive a ser nomeado prefeito/intendente.

Coração foi um dos fundadores do Pão de Santo Antônio - (01/11/1900), redator/gerente do Jornal Limoeiro e também maestro de banda de música e sua voz tenor encantava as plateias nas festas cívicas e religiosas.

No dia 20 de fevereiro de 1911, consta em Ata da Câmara Municipal, a posse de Julio Eduardo de Sousa como Intendente, com mandato até a posse de Francisco Celestino da Costa (Coração) em 1912, mas que seu nome não consta na lista dos intendentes naquele período em nenhum arquivo. Consta  o nome de Antonio de Castro Moura sobrinho (1904/1912) .
Portanto, baseado no que está registrado (Livro de Atas 1911/1922) podemos concluir que era Júlio Eduardo o chefe do executivo municipal no momento da queda de Antonio Pinto Nogueira Accioly do Governo da Província em 1912. Estranha-se porém, esse dado tão importante não constar em nenhum relato histórico do municipio, todavia, em um documento de Medição do Sítio Limoeiro, consta como "participante da ação de medição de 1911, Júlio Eduardo de Sousa, prefeito..." (LIMA, p. 244).
Também entrou para a história, sempre no controle do cartório, o Coronel Sindulfo Freire Chaves, filho de Serafim. A partir da morte do pai recebeu o cetro da liderança e tinha acentuada influência também na política Cearense.
Por seguir a linha política do pai tornou-se um ferrenho adversário de Nogueira Accioly – muito embora existam passagens na história que tenha sido acciolista, entretanto e dependendo do interesse político, mudava de lado convenientemente – tanto que apoiou a violenta revolta armada na Praça do Ferreira, sendo um dos que se entrincheiraram juntamente com seu irmão Leonel Chaves e mais um grupo de homens fortemente armados, provocando a renúncia de Accioly em 24 de janeiro de 1912.
no dia 24 de janeiro, depois de três dias de fuzilaria, a cidade aliviou-se do clima opressivo, com a renúncia do confiante oligarca. Vencera o slogan – “Franco Rabelo ou Morte!” – que empolgara todo o Estado, do menino ao velho. (GIRÃO Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza, 1979, pg. 133 e 235) 
Com a ascensão do Tenente-Coronel Marcos Franco Rabelo ao poder, os Chaves foram recompensados com a indicação de Seu Coração para Intendente (1912/1914) quando tomou posse no dia 02 de fevereiro de 1912. (Livro de Atas da Câmara Municipal – 1911/1922).
Pouco tempo depois Sindulfo rompeu com Franco Rabelo, voltando a apoiar os aciolistas, tanto que se tornou também aliado do Padre Cícero e dos coronéis caririenses, se fazendo presente inclusive à reunião em Juazeiro do Norte, onde se deu o “pacto do coronéis” e mais tarde a rebelião contra o Governo da Província no movimento chamado Sedição de Juazeiro.
Em fortaleza, cedeu a sua granja (Sitio Bom Futuro), nas Damas, para hospedagem da jagunçada do Meu Padim, por ocasião da vinda destes à capital, quando foi deposto humilhantemente o Coronel Franco Rabelo em 13 de março de 1914.

O Sítio Bom Futuro era de propriedade da família Chaves (...) O senhor Sindulfo Chaves e sua mulher, Dulcinéa Gondim Chaves, no dia 9 de setembro de 1939 fizeram a Arquidiocese de Fortaleza a doação de um terreno para a construção da futura Igreja de Nossa Senhora de Nazaré. Essa doação foi passada através do Cartório Pergentino Maia

Consta ainda que em 1941, fez doação de um terreno para construção de um abrigo para senhoras idosas e pobres (hoje Casa de Nazaré – Montese) apenas com a “exigência” de que deixassem à sua disposição um quartinho para ele, caso precisasse quando chegasse à velhice, mas que nunca utilizou o dito quartinho.

https://www.arquidiocesedefortaleza.org.br/wp-content/uploads/2011/03/Nazar%C3%A9-HISTORICO-DOS-MOVIMENTOS-E-PASTORAIS-2013.pdf

Em Limoeiro do Norte Sindulfo passou a indicar nomes de seus familiares e asseclas para assumirem o executivo municipal, todavia, houve uma contradição na indicação do prefeito/intendente em 1914, quando foi nomeado Julio Eduardo de Sousa, elemento contrário a ala política dos Chaves, cuja nomeação, curiosamente, se deu em duas ocasiões segundo consta em Ata da Câmara Municipal. A primeira em 27 de Fevereiro:  “nomeado intendente municipal, pelo Excelentíssimo Presidente do Estado Dr. Floro Bartolomeu da Costa” e a segunda em 30 de março:  “nomeado intendente municipal pelo Excelentíssimo Senhor Coronel Fernando Setembrino de Carvalho, Interventor Federal”, mandato que durou até 1918. 

Júlio Eduardo foi genro do Coronel José Nunes, por duas vezes (casou-se com Dovina, primeira esposa e Filonila – conhecida por Filó – a segunda) o que explica sua posição política contra os Chaves. Além disso era ainda tio paterno de João Eduardo Neto e tio materno de dona Fransquinha, esposa de João Eduardo.

A primeira nomeação, como se vê, deu-se antes da queda de Franco Rabelo do governo da província, portanto de forma arbitrária, como arbitrários foram todos os atos do Dr. Floro Bartolomeu, que mesmo sem nenhum poder contituído, foi designado Presidente do Estado pela Assembleia Revolucionária de Juazeiro do Norte, em dezembro de 1913 e com respaldo do governo central, criando assim, um duplo governo no Estado. Diretamente de Juazeiro do Norte, onde montou o seu “gabinete” passou depor e nomear ilegalmente autoridades do Estado e intendentes municipais.
Como as eleições eram “tumultuadas” e os prefeitos eram nomeados, o cargo às vezes ficava flutuando. Podemos comprovar isso, com a saída de Júlio Eduardo, quando assumiu por alguns meses (1919) José Satino de Moura e depois por apenas três dias (1919), João Maria de Freitas.

De 1919 a 1927, foi prefeito, por indicação de Sindulfo Chaves o russano Felipe de Santiago Lima, cuja gestão foi marcada por algumas obras na Sede do municipio, dando sinais de uma gestão moderna tendo sido construída inclusive a primeira praça pública, Praça 7 de Setembro (hoje Praça José Osterne). Também foi no seu período como prefeito que aconteceu a entrada em Limoeiro do famigerado Lampião e seu bando, em 15 de junho de 1927, procedente de Mossoró, onde fora humilhantemente derrotado.
De 1927 a 1930, assume como prefeito Pedro Saraiva de Menezes, também por indicação de Sindulfo, que procurava ampliar sua influência política através de membros da família, pois tanto Felipe de Santiago como Pedro Saraiva eram casados com duas irmãs pertencentes à família Chaves.

A revolução de 1930, teria sido um golpe fatal para os Chaves se não soubessem muito bem fazer o jogo político, embora tenham saidos do acontecimento um pouco enfraquecidos:
“A Revolução de 1930 não os desalojou por completo, mas minou suas bases, devido à ampla campanha desencadeada contras as práticas políticas fartamente adotadas por seu grupo”. (REGES João Rameres. Tese de Doutorado; INTEGRALISMO E CORONELISMO: INTERFACES DA DINÂMICA POLÍTICA NO INTERIOR DO CEARÁ (1932-1937); UFRJ; 2008).
Na transição, assumiram Melquiedes de Oliveira Lima (meses 1930) e Miguel Vieira de Melo (meses 1930).
Para a sorte dos Chaves, em seguida foi nomeado Arsênio Ferreira Maia (1930-1932), embora tavorista, seguidor e adepto de Juarez Távora, Interventor do Ceará na Revolução de 1930, mas em sendo casado com Acelina irmã de Dulcinéia, esposa de Sindulfo, praticamente fazia parte do pensamento político dos Chaves.
Interessante destacar como os Chaves praticavam o jogo político a fim de não quebrar o elo aligárquico desde os tempos do velho patriarca Serafim. Com o surgimento nos meses finais de 1932 da LEC (Liga Eleitoral Católica) - organização de fortíssimos vínculos religiosos e participação efetiva dos latifundiários - e da AIB – Ação Integralista Brasileira (de ideologia fascista), procuraram abrigar-se nesses dois importantes movimentos.
A LEC passou a ser presidida por Judite Chaves, enquanto Franklin Chaves fundou a AIB em Limoeiro. Era uma solerte manobra de estarem envolvidos em todos os movimentos, para somente assim, onde pendessem as melhores vantagens, saberiam tomar a posição que lhes fosse mais favorável. E foi sob a sombra da AIB e da LEC que Franklin Chaves se elegeu vereador (1936/1937), portanto, muito bem posicionado políticamente.
Foi nesse período em que os Chaves adquiriram terras no município de Pacajús – Fazenda Campestre – destinadas ao plantio de carnaubeiras, numa área de desmatamento de mais de oitocentos hectares. Por causa desse empreendimento, unindo à participação de membros da família tanto na LEC quanto na AIB, os adversários políticos desconfiaram que estivessem recebendo dinheiro de outros países, a fim de que se construísse ali um campo de pouso para aviões alemães. Os boatos ganharam manchetes em jornais da capital e na tentativa de desfazê-las, mandaram enterrar estacas por toda área desmatada. “Finalmente tudo passou, e as carnaubeiras ainda hoje vicejam altivas, em terras da Fazenda Campestre...” (Centenário do Nascimento de Franklin Gondim Chaves (10.02.1908 – 10.02.2008)
Evidentemente que da forma como os Chaves agiam politicamente - preferencialmente à sorrelfa - não se pode descartar a possibilidade de terem ensaiado uma aliança com algum movimento internacional, pois sempre fizeram política em favor de sí próprios, muitas vezes por critérios e caminhos duvidosos que não necessariamente os interesses públicos, importando em quaisquer circunstâncias a manutenção da família no poder. 
Enquanto isso, somente em 1933 é que Sindulfo chega à prefeitura (1933-1934), nomeado pelo Interventor Federal Cap. Roberto Carneiro de Mendonça. Podemos crer que para ele era preferível ficar mantendo o jogo político na capital junto ao Governo do Estado, de onde influenciava as indicações dos prefeitos, dóceis ao seu comando, do que ele próprio assumir o cargo, entretanto aquele era o momento azado de chegar ao Executivo Municipal.
Perdeu um pouco do espaço político em 1934 com a nomeação do opositor Anísio Batista, através do também Interventor Federal Felipe Moreira Lima e por influência do Dr. Manoel do Nascimento Fernandes Távora como reconhecimento, por ter lhe abrigado em sua fazenda na Lagoa do Rocha, pouco antes da revolução de 1930.
Mas logo em 1935, Sindulfo volta ao controle político, conseguindo a nomeação do seu genro Custódio Saraiva de Menezes (1935/1936), agora, atraves de Francisco Menezes Pimentel (1935/1937), que fora indicado indiretamente Governador do Estado, como resultado das eleições legislativas, vencidas pela LEC - Liga Eleitoral Católica, em 1934.
Lembremos que Custódio era esposo de Judite Chaves que brevemente se transformaria herdeira do cartório e uma das mais influentes lideranças políticas limoeirenses.

Em 1937, novamente com a ingerência de Sindulfo e com o apoio da AIB (Integralismo), liderada por seu filho Franklin Chaves, se elege prefeito o outro filho José Gondim Chaves. Por conta do Golpe que instituiu o Estado Novo em 1937, José Chaves renunciou ao cargo de forma inexplicável. Em seguida assumiu o comando do excutivo por alguns meses o finório Francisco Pergentino Mendes Guerreiro, chavista discricionário e na ocasião o Presidente da Câmara Municipal.

O Estado Novo conferia a Getúlio Vargas o controle total do Poder Executivo e lhe permitia nomear interventores nos Estados, que por sua vez gozavam de ampla autonomia para tomar suas decisões inclusive nomear os prefeitos dos Municípios.
No ceará permeneceu no cargo, agora nomeado Interventor Federal Menezes Pimentel, (1937/1945). Provando a eficiência do jogo político, volta ao poder executivo, por nomeação, Custódio Saraiva de Menezes (1937/1945). O retorno de Custódio ao poder, mostrava a força e o prestígio político dos Chaves naquele momento.
Nesse ínterim, dona Judite, esposa de Custódio, já vinha despontando como uma exímia manipuladora na arte de fazer política o que lhe renderia a alcunha um pouco prosaica de Coronel de Saia.
Dona do cartório local chegou a ser conhecida como “coronel de saias”, tendo em vista seu poder político na região. [...] Judite articulava-se com muitos nomes da política e, em anos de eleição, sua casa transformava-se em núcleo de articulação, onde ela recebia a todos como uma espécie de matriarca. Seu prestígio político era maior do que o de muitos “coronéis” e “caciques políticos” da região. (ANDRADE Maria Lucélia de. Tese de Mestrado; “Filhas de Eva como Anjos sobre a Terra ”A Pia União das Filhas de Maria em Limoeiro-CE (1915-1945); UFC; 2008
Há quem afirme seguramente, que dona Judite era quem realmente comandava a administração. Dizem que Custódio não tinha muito a firmeza exigida nos administradores, razão pela qual Judite sempre interferia em suas decisões. 

Existe até um fato, narrado pela boca do povo, de que certa vez, ao tentar resolver uma discórdia entre vizinhos por causa de uma questão em suas propriedades, Custódio ao ouvir os argumentos do primeiro, afirmou:
– Você está com razão.
Ao ouvir as ponderações do segundo, fez a mesma afirmativa:
– Você está com razão.
Dona Judite até então apenas ouvindo a conversa, não resistiu à indecisão do marido, dirigiu-se a ele perguntando:
– Ora Custódio, como você pode chegar a uma decisão correta se você mesmo diz que os dois estão com a razão?
Custódio fez um sobrolho pensativo e disse:
– É verdade Judite, você está com razão.

Custódio ficou no poder por oito anos, permanecendo até a queda de Getúlio Vargas em 1945, em cujo mandato, não teve que dar satisfações a ninguém dos seus atos, pois se tratava de um momento em que prevalecia a Ditadura Vargas, sem atuação inclusive da Câmara Municipal, já que o Poder Legislativo foi castrado pelo Estado Novo a partir de 1937.
Foi nesse período, em que, talvez para disfarçar a sua inoperância diante do executivo, inventou de construir um prédio que serviria de hospital/maternidade.
Ao que parece, a construção do prédio não passou de uma forma de encobrir a malversação do dinheiro público e dizem as más línguas que sua construção foi estudada exatamente para desviar a atenção do povo e que durante muito tempo, mesmo depois de sair do poder, a família continuou recebendo verbas oriundas do governo federal para a conclusão da obra. O hospital chegou inclusive a receber uma ambulância (kombi) que nunca saiu da garagem para seu verdadeiro fim.
Qual terá sido o destino daquela Kombi?
Até ser demolido em 1982 o prédio nunca chegou a funcionar, ou melhor, nunca foi concluído, tendo sido esse o primeiro elefante branco da história das administrações limoeirenses. A sua demolição deve ter agradado demais aos Chaves, pois apagou de uma vez por todas da história de Limoeiro do Norte, aquilo que ficaria como um monumento à corrupção das administrações públicas no município.
Para se ter uma idéia, aquela construção foi motivo até de chacota. Jocosamente a apelidaram de Flor da Serra numa alusão a um tipo de cachaça do mesmo nome. Para entender de como o prédio mereceu esse apelido, é que na propaganda da cachaça, o pai, já velho, dizia para os filhos: “meus filhos, esses tonéis somente deverão ser abertos daqui a cinqüenta anos”. Assim, parodiando o velho da propaganda, Custódio diria: “meus filhos, este prédio somente deverá ser concluído daqui a cinqüenta anos”.
Todavia não se pode deixar de enumerar alguns feitos durante seu período administrativo como: arborização da cidade, reforma da Praça 7 de Setembro (praça José Osterne), abertura de novas ruas, melhoramento nas iluminações pública e domiciliares com a instalação de motores gasogênio, instalação da telefonia municipal, construção do matadouro público.
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Os padres de uma maneira geral, como tinham papel de destaque nas lutas políticas e usando do seu poder de liderança, muitas vezes chegavam a medir forças e confundir a posição de pastor com a posição política, o que formava um paradoxo com relação ao papel fundamental da igreja. Em virtude disso, muitos eram os políticos que os tornavam aliados e eles (os padres) por sua vez, se deixavam levar pela fantasia dos bons pretextos ou em outros casos, tinham mesmo a consciência de que estavam realmente ajudando um déspota, preferindo ficar do lado dos interesses escusos a proteger o seu “rebanho” conforme as prerrogativas sacerdotais.
Com esse quadro e diante da força de outros elementos religiosos tão eminentes, era de praxe que os padres também se envolvessem em política, representando uma grande força, levando-se em conta o seu forte poder de persuasão sobre os fiéis e muitas vezes eram confundidos com os próprios coronéis ou se tornavam um deles. O Padre Cícero Romão Batista, para exemplificar, foi o sacerdote mais famoso nesse jogo político e segundo a escritora Maria de Lourdes M. Janotti: "Padre Cícero foi o mais célebre de todos os coronéis". (Coronelismo – Uma Política de Compromissos. 1992, pág. 76). Além do mais, transformou-se em uma espécie de Messias do Sertão, apesar de ser perseguido pela igreja católica. Para se ter idéia de sua força de política liderou sertanejos revoltosos de Juazeiro do Norte e fechou cerco a Fortaleza declarando deposto o governador Franco Rabelo (13/03/1914).
Muitas vezes, os padres eram abastados proprietários de terras, o que os tornavam latifundiários poderosos e na defesa de seus patrimônios, se juntavam aos amigos coronéis, também latifundiários. Como exemplo, podemos destacar que o primeiro sacerdote de Limoeiro Padre Vicente Rodrigues da Silva, por herança dos seus pais, tornou-se proprietário de grandes extensões de terra e a história é meio obscura de como elas foram adquiridas por sua familia quando aqui chegou.
O Padre Ambrosio Machado é outro exemplo. Grande fazendeiro na Barra do Figueiredo além de proprietário em Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Outro fator que fazia parte da vida dos padres além do envolvimento na política e de serem grandes fazendeiros, era o concubinato. Muitos deles mantinham relações amorosas com mulheres, geralmente suas escravas ou criadas com as quais constituíam famílias, o que se traduzia como uma grave desobediência ao Direito Canônico referente ao celibato. Para exemplificar voltamos ao Padre Ambrosio Machado como um dos fatos mais conhecidos. Ele gerou nove filhos em três diferentes mulheres:
Cândida Rosa das Neves, filhos(as): Henrique, Otaviano, Ambrosina, Tito(*), Belizário e Tertuliano; Isabel Maria do Sacramento, filhos: Isabel e Geminiano; Francisca Sabina do Espírito Santo, filha: Benvinda Francisca da Silva. (SETUBAL, Carmelita. Crônica – O Padre Ambrósio, 1983)
(*) Tito era pai legítimo de José Osterne Ferreira Maia

Com relação a esse assunto até mesmo o polêmico Padre Acelino é citado por Lauro de Oliveira Lima como tendo ido refugiar-se no Sitio Socorro depois de ter a ordem suspensa, para melhor viver com sua concubina - "Mariinha, ex-esposa de Paulo Fidelis..." (Na Ribeira do Rio das Onças, 1997, pág. 382)
O fato de um padre, naquela época, produzir filhos bastardos, mostra o grande poder que eles tinham sobre os fiéis, que aceitavam sem contestações aquilo que a própria igreja condenava – e condena – como um pecado ou desvirtuamento da missão de sacerdote. D. José Freire Falcão, justificando essa atitude afirma o seguinte:
“a situação moral e irregular dos padres daquela época é devida, em parte, ao isolamento físico, humano e espiritual. Os padres tinham raros contatos com os outros colegas e raríssimos com o seu bispo, dadas as distâncias e as dificuldades de comunicação e, em parte, à deficiente formação humana, espiritual e intelectual”. (FALCÃO, D. José Freire. Apud: LIMA Lauro de Oliveira. Na Ribeira do Rio das Onças, 1997, pág. 211)

21 comentários:

Anônimo disse...

não ajudo em nada

Nilson Osterne disse...

Neste trabalho, os fatos vão se apresentando com uma simpática e agradável fluidez, sempre ancorados em fatos que tornam a leitura mais prazeirosa com invejável realismo dos depoimentos.

Anônimo disse...

Maurilo, sou bisneto de dois irmãos do Cel Serafim Tolentino. Sou nascido em Limoeiro, criado até os 18 em São João do Jaguaribe. Falando bem ou falando mal de quem quer que seja, seu blog é uma grande contribuição à história de Limoeiro, da região e, em particular, de uma pequena parte da minha família. Dessa forma, agradeço a você e lhe parabenizo por ele.

Acrescento o seguinte:
Você bem mencionou que Serafim casou com duas Joanas. Pois bem, Joana de Senna Freire Chaves era tia caçula (irmã do pai) de Serafim. E a outra, Maria Joana Pereira Chaves era prima, através do pai, o Cap José Rodrigues Pereira Chaves (do Poço das Pedras), de quem foi raptada por Serafim.

Abner Rodrigues Chaves Junior
abnerchaves@hotmail.com

Renata Mendes disse...

Tinha que ser os Chaves!

Anônimo disse...

Maurilo, boa tarde!
Venho solicitar que corrija uma imprecisão em seu texto. Em outra postagem, eu mencionei que "Maria Joana Pereira Chaves era prima (de Serafim Tolentino), através do pai, o Cap José Rodrigues Pereira Chaves (do Poço das Pedras)". Daí você deduziu que ela era "filha de um irmão do pai", ou seja, prima legítima. Mas não é assim.

Embora não seja o objetivo do blog, é importante a precisão, pois isso será lido por outros parentes, que podem ter interesse especial nisso.

A explicação correta do parentesco é a seguinte:
Maria Joana Pereira Chaves (ou Maria Joana de Jesus), era filha do Cap José Rodrigues Pereira Chaves (do Poço das Pedras) (*1810 +?) e, portanto, neta de André Felício da Silva Chaves.
Esse André era irmão de Ângela da Silva de Santa Bárbara Rodrigues Chaves (*? +1875, que era mãe de Antonio Rodrigues Freire Chaves (*1811 +1885) e, portanto, avó do Cel. Serafim Tolentino (*1839 +1914).
Ou seja, o avô de Joana era irmão da avó de Serafim, o que os fez primos em 3o grau.

Abner Rodrigues Chaves Junior
abnerchaves@hotmail.com

Abner Chaves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Abner Chaves disse...

Maurilo, boa noite! Quanto ao 3o Intendente, José Vidal de Sousa Maciel (1881-1883), (*1827 + 1911) era filho de Antonio Paes de Sousa Jr (*1810 +?) e Felícia Francisca dos Reis, que possuíam terras em São João (Sítio Lima), Tabuleiro e talvez também em Limoeiro. Sua esposa, Maria Escolástica do Espírito Santo, era filha do Capitão Antonio Lopes de Andrade e também era irmã de Maria de Jesus da Purificação, que se casou com o Cap. José Rodrigues, do Poço das Pedras. Um dos irmãos de José Vidal, Antonio Alves de Carvalho Lima (*1825 +?) foi juiz de paz em Limoeiro.
Vê-se aqui o natural: os poderosos vão unindo seus descendentes, para que estes também sejam poderosos.

Abner Rodrigues Chaves Junior
abnerchaves@hotmail.com

cartasenespañol disse...

Meu caro, estou fazendo JMA pesquisa genealógica sobre minha família (VIDAL) e tudo leva a crer que meus descendentes são de Limoeiro. Você teria mais algumas informações acerca dessa familia? Meus avós e pais são de Jaguaribe. Qualquer informação envie para meu email: italo_lima34@hotmail.com
Agradeço.

cartasenespañol disse...

Meu caro, estou fazendo JMA pesquisa genealógica sobre minha família (VIDAL) e tudo leva a crer que meus descendentes são de Limoeiro. Você teria mais algumas informações acerca dessa familia? Meus avós e pais são de Jaguaribe. Qualquer informação envie para meu email: italo_lima34@hotmail.com
Agradeço.

Ricardo Nogueira Campos Ferreira disse...

Sobre João Ennes, onde se diz que não se encontram descendentes dele em Limoeiro do Norte, minha mãe é uma, mora em Fortaleza. Arides Enes Nogueira.

Anônimo disse...

Alguém sabe informar a genealogia da Família Chaves de Limoeiro? Sou Chaves do Maranhão e gostaria de saber se somos da mesma raiz.

Unknown disse...

Gostei da história

Abner Chaves disse...

Você que quer saber sobre a genealogia dos Chaves de Limoeiro, me procure no facebook pelo meu nome completo, Abner Rodrigues Chaves Junior, ou pelo e-mail abnerchaves@hotmail.com

Unknown disse...

Muito interessante essas histórias...
Meu pai é de orígem dos Remígio de Freitas, ( Manoel Izidro de Freitas) conheci meu tio em Fortaleza, e se
chamava Hipolito Remígio de Freitas.
Não tenho notícias desses parentes desconhecidos pois vivo no Amazonas Manaus , caso vc tenha alguma ingormação: agradeço.
Ainda vive alguem em Limoeiro, dessa família?

- "José Arimatéa F. Maia * disse...

Vou postar um pequeno comentário sobre Bonifácio José Carneiro encontra no jornal Pedro II, 12 de dezembro de 1861, pág. 3 – nº 286.
"Faleceu no dia 28 de novembro de 1861 na povoação do Limoeiro, vitima de uma hidropisia, que o fez sucumbir dentro de poucos dias e depois de esgotado os recursos da medicina.
O Sr. Bonifácio era um cidadão prestimoso, que soube sempre corresponder à estima e consideração de que gozava entre os seus concidadãos. Os habitantes do Limoeiro devem ser gratos a memória desse homem que tanto contribuiu para o estado em que se acha aquela florescente povoação. Com efeito, em 1844 - 45 ou quanto muito de 1840 a 1845, o Sr. Bonifácio foi estabelecer-se no Limoeiro, apenas havia ali duas ou três casas velhas, sendo uma destas a do capelão, onde estava colocado o oratório privado em que se celebravam os atos divinos e suspenso em um dos frechais da casa o sino que convocava os fiéis para assistirem a esses mesmos atos".

Depois postarei o restante dessa notícia do ano de 1861.

José Arimatéa Ferreira Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
- "José Arimatéa F. Maia * disse...

José Arimatéa F. Maia - Continuação:
Foi então que o Sr. Bonifácio tratou de levantar a efeito a edificação da capela sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, que era venerada no mesmo oratório como a padroeira daquele lugar; promoveu uma subscrição entre os moradores, animou-os a empreenderem a obra e conseguiu a força de trabalhos e perseverança construir a capela-mór e elevar as paredes do corpo da igreja a tal altura que podia comodamente servir para o culto; depois passou a administração a outros encarregados, nunca deixando de ser um benfeitor da mesma igreja. Foi ainda o Sr. Bonifácio quem primeiro promoveu a edificação de casas naquele lugar, aonde deu principio a uma rua e construiu um quarteirão de pequenas casas ou quartos próprios para o mercado público; de então em diante começou a desenvolver-se ali o gosto pela edificação, de modo que a população tem argumentado muito, e hoje é incontestavelmente a mais importante do município. Como politico pertencia o Sr. Bonifácio ao partido conservador, a quem foi sempre fiel e prestou relevantes serviços, prevalecendo-se para isso da influencia bem merecida que exercia entre os habitantes daquela localidade; revela, porém notar que, não obstante a sua dedicação ao partido, sempre se conservou sem inimigos políticos; prudente e moderado tratava bem a todos quaisquer que fossem suas opiniões politicas e por isso mesmo contava afeiçoados entre os membros de ambas as parcialidades.
Conhecendo a gravidade do mal de que se sentiu afetado, preparou-se com a recepção dos sacramentos e morreu possuído de uma verdadeira resignação. A terra lhe seja leve.
P.L.
(jornal Pedro II, 12 de dezembro de 1861, pág. 3 – nº 286).

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Corrigindo: "a população tem aumentado muito e não argumentado"

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Quero aqui postar uma notícia sobre a morte do CORONEL CÂNDIDO JOSÉ GONÇALVES MALVEIRA em um jornal da Capital.

CORONEL CANDIDO JOSÉ GONÇALVES MALVEIRA.
Já não pertence ao número dos vivos o distinto Coronel Candido José Gonçalves Malveira.
Acerba e triste realidade!
Quem o conheceu, não pode deixar de experimentar um doloroso choque ao reconhecer a infausta notícia do passamento de tão respeitável cidadão.
De volta de minha viagem ao Recife recebi aqui a lancinante e nova, pungentemente emocionado.
Por inúmeras vezes tive o prazer de reconhecer no meu pranteado amigo coronel Malveira, os mais raros e nobres predicados, que tanto enalteciam a sua veneranda individualidade.
Todos viam naquele cavalheiro, um pai de família exemplar, um católico sincero e fervoroso, um amigo modelo de caráter imaculado e um correligionário dedicado e honesto.
Na cidade do Limoeiro onde ele residia, Gregos e Troianos sentiram enormemente a sua morte!
Profundo e bem profundo foi o vácuo deixado por tão distinto cidadão, cuja pureza de costumes servia de verdadeiros ensinamentos aos que o admiravam.
A desolada e ilustre família do pranteado morto e notadamente ao seu digno filho João Candido Malveira e ilustre genros Francisco Nunes e José Nunes Guerreiro, envio minhas sinceras condolências, como também ao partido Republicano Federal que nele contava uma de suas legitimas influências nesta comarca.
Aracaty, 10 de julho de 1896.
Alexandrino F. da Costa Lima.

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Algumas informações de Francisco Casimiro Varella publicada em jornais do passado:
*Em 28 de julho de 1872 o Partido Liberal do Limoeiro, teve uma grande reunião para organização do diretório liberal, que ficou composta dos seguintes cidadãos: Cândido José Gonçalves Malveira, presidente; Osterne Lindolpho Ferreira Maia, secretário; José Vidal Maciel; Balthazar de Brito Pereira; Francisco Casimiro Varella de Oliveira; Francisco Xavier Mendes Guimarães; Damião da Silva Costa; Antônio Manoel Ferreira Maia; Padre Ambrósio Rodrigues Machado e Silva; Salustio Joaquim da Silva; Ezequiel Lopes d’Andrade, José Felício Fernandes da Silva; José Martiniano de Marrocos.

Francisco Casimiro Varella em 14 de junho de 1892 fez parte da Exposição de Chicago: Comissão encarregada de promover a representação do Ceará colombiana de Chicago.
De Limoeiro
Candido José Gonçalves Malveira, Serafim Tolentino Freire Chaves, José Nunes Guerreiro, João de Hollanda Cavalcante e Mello.

*Em 22 de outubro de 1892, Francisco Casimiro Varella e sua mulher, afiançaram o escrivão nomeado para a coletoria do Limoeiro, Antônio Varella da Costa Lima, oferecendo-se bens a hipoteca e requerendo que se lavre o termo de responsabilidade.
*Francisco Casimiro Varella foi suplente JUIZ DE PAZ entre 1873 – 1876 Freguesia da Vila do Limoeiro – 3º Distrito.
*Sr. Francisco Casimiro Varella era um boiadeiro do Limoeiro, assim informou jornal Cearense, em 5 de maio de 1876. Que o mesmo vendia Carnes Verdes na feira do Arouchos atual Parangaba.
*Em 15 de agosto de 1892 foram nomeados para a Guarda Nacional do Ceará: Limoeiro, o tenente coronel comandante – Francisco Casimiro Varella, major fiscal – Inácio Mendes Guerreiro de Andrade.
*Francisco Casimiro Varella foi em 1890, 1º suplente de delegado do Limoeiro.
*Limoeiro 21 de março de 1894 – Candido José Gonçalves Malveira – Presidente da Câmara; João de Hollanda Cavalcante Mello – vice – presidente; Joaquim Nunes Guerreiro - vereador; "Francisco Casimiro Varella - Intendente"; Vicente Fernandes da Silva - vereador e João Mendes Guerreiro - vereador.
Em 1915 Francisco Casimiro Varella era Fiscal Geral de Limoeiro.

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Será que Francisco Casimiro Varella era um aventureiro?
Leiam um fato desse homem considerado "resoluto e decidido" pela imprensa da Capital.

Carnes Verdes
Ultimamente, porém um boiadeiro do Limoeiro, o Sr. Francisco Casimiro Varella, homem resoluto e decidido, chegou à feira do Arouches com um magote de gado e não vendeu porque o maior preço que achou foi 25&000 reis.
Nestas circunstâncias o Sr. Varella veio para a Capital abater o gado, novilhos no retalho. Os monopolistas desapontados ofereceram-lhe maior preço, mas, o Sr. Varella recusou e continuou a matar o seu gado, fazendo logo descer o preço da carne verde de 360 e 400 reis a 240 e 200 reis o quilo.
É inútil dizer que o povo correu em chusma aos açougues do Sr. Varella, que sem demora dispôs de todo o seu gado e não perdeu dinheiro, conforme nos asseguram, ao passo que se o entregasse pelo irrisório preço que a sociedade lhe oferecera, perderia mais de 300$000 reis.
E querendo dar uma boa lição aos monopolistas foi no sábado seguinte à feira e comprou gado para vender carne barata ao povo da capital, o que efetivamente aconteceu com grande aplauso e proveito do público e desespero dos atravessadores desconcertados, os quais quase arrebentaram de raiva.
Assim, graças ao Sr. Varella, tivemos carne barata durante duas semanas e os boiadeiros mais desafogados venderam seu gado por preço razoável.
Infelizmente, porém o Sr. Varella adoeceu e retirou-se há poucos dias; mas, consta-nos que brevemente voltará para continuar sua obra meritória.
É realmente uma vergonha para a câmara, o fato que vimos expor.
O que ela com todo seu poder e dinheiro não pode conseguir – fê-lo, sem grande trabalho, um boiadeiro do sertão, com poucos recursos e lutando contra todos os obstáculos suscitados pelos especuladores.
Ninguém conseguia derrubar o monopólio dos marchantes do comercio de carne verde, nem a câmara municipal da capital, através de seu presidente o Sr. José Albano que estava desmoralizado e desacreditado. Nada pode fazer salvo o Sr. Francisco Casimiro Varella do Limoeiro.
(jornal Cearense, 5 de maio de 1876, Nº 39).