segunda-feira, 12 de maio de 2025

AO LEITOR



A HISTÓRIA POLÍTICA DE LIMOEIRO DO NORTE está recheada de fatos e acontecimentos que revelam a forma como o processo se desenvolveu ao longo de mais de um século.
Desde o domínio da família Chaves, iniciada em meados do séc. XIX até hoje, os acordos e conchavos fizeram e ainda fazem parte das negociações políticas para a manutenção do poder.
Se a oligarquia Chaves durou quase um século e já foram decorridos mais de cinquenta anos depois da sua queda, podemos perceber que nada mudou verdadeiramente, apenas o poder foi transferido dando continuidade aos interesses individuais e/ou de grupos.
A presença de Manoel de Castro no processo político de Limoeiro do Norte a partir da queda dos Chaves em 1954, também pode ser considerada uma oligarquia (governo de poucos), e que deu continuidade a uma política que perdura até os dias de hoje. Interessante é que nenhum dos atuais políticos limoeirenses - sem exceção - pode se dar ao luxo de dizer que não tem origem na política praticada por Manoel de Castro, que mesmo tendo encerrado sua vida pública em 1982, na qualidade de Governador do Estado, "encerrando" dessa forma uma atividade política de quase quatro décadas mas que deixou um legado que deverá permanecer ainda por algum tempo.
Os novos nomes que foram tomando conta do poder a partir de 1982, iniciaram o que podemos chamar de um novo CICLO POLÍTICO, e foi daí que a política, se já era voltada para interesses sombrios, tornou-se mais negra ainda, pois as brigas, as fofocas, as futricas e sobretudo os interesses pessoais ficaram mais evidentes. Para eles “brigar” hoje e se “unir“ amanhã se tornou apenas uma questão de conveniência, dependendo do momento.
Os últimos trinta anos foram marcados por um jogo de cumplicidade entre os políticos limoeirenses, embora em determinados momentos eles tenham se proclamado “amigos” apenas para enganar o povo, se o que nunca existiu na verdade foi amizade entre eles, mas sim, a desconfiança generalizada.
“(...) Eles não se entreapóiam mas se entretemem. Não são amigos, mas cúmplices”. (Etienne de La Boétie - Discurso da Servidão Voluntária).
A união propalada em determinados momentos de campanhas eleitorais, nunca representou os anseios do povo, que incrivelmente, foi colocado no jogo cruel e injusto da política limoeirense.
Os atos político-administrativos acontecidos a partir de 1982 e até os dias de hoje, têm sido os mais absurdos em toda história de Limoeiro do Norte. Os mais escabrosos boatos de corrupção, os mais desavergonhados conchavos políticos, a maior falta de respeito ao povo, os maiores descalabros administrativos, se tornaram tão habituais que viraram rotina nos políticos e de tal forma que a população passou a considerar como se fossem ações normais.
Tanto cultuam os atos ilícitos que eles conseguem fazer com que boa parte da população pense em não existir pessoas sérias capazes de administrar o que é do povo com honestidade. O que mais se ouve nas rodas de conversas e com bastante frequência é de que: “todo político é ladrão e que todos são iguais, basta que cheguem ao poder e farão a mesma coisa”.
O ponto a que chegou a consciência do povo como resultado da política que foi implantada nos últimos trinta anos, tornou-se bastante favorável aos maus políticos, pois para eles o que interessa é que o povo continue cada vez mais alienado e sem condições de fazer uma análise crítica da situação, optando sempre pelo pior, sendo assim, bem melhor para eles.
Todos eles e da mesma cepa, praticam e disseminam até hoje, a semente nociva da politicagem e com isso conseguem sobreviver politicamente a ponto de superar até mesmo suas próprias contrariedades.
O agravante é que parte da população, aquela que percebe como o jogo é praticado, fica impotente para reverter o quadro que se apresenta, sem nada poder fazer para deter a facilidade com que agem os pseudo-políticos e a falta de escrúpulos com que mostram suas caras ao povo, sempre com a empáfia de grandes líderes.
Os conchavos e os acordos acontecidos a cada eleição são tão deslavados, que sequer se preocupam em esconder das vistas do povo, o que não se restringe apenas ao uso do dinheiro público, mas a um mal maior, que é a falta de coerência, de sinceridade e de respeito para com o limoeirense.
A propósito: haverá ato de corrupção maior do que corromper consciências?

Capítulo XXIV - VOLTA DO CARECA AO PODER

NO PRIMEIRO DIA DE janeiro de 1997, tomou novamente assento no trono da prefeitura José de Oliveira Bandeira ou simplesmente “O CARECA”, numa pomposa festa de posse com direito a fogos e passeata numa manhã de quarta-feira pelas ruas da cidade. Os discursos eram só de elogios dirigidos àquele que trazia – enganosamente –  a marca do maior administrador de toda a história de Limoeiro. O próprio Careca, no seu discurso disse em alto e bom som mais ou menos o seguinte: “quero dizer a vocês, que me chama de analfabeto, mas tô dando bolo em muitos doutor, pois sei administrar mió do que qualquer um de vocês”.
Esses dizeres no seu discurso de posse deixaram encabuladas figuras como Paulo Duarte e Ariosto Holanda presentes à solenidade e que na ocasião certamente pensaram: “é muito bem pregado! Fomos dar corda para um analfabeto!!!”.
Se o Careca se manifestou tão egoisticamente naquele momento, certamente foi embriagado por recente elogio que lhe dirigiu o governador Tasso Jereissati quando em certa ocasião falando ao seu respeito proferiu a seguinte frase: “doutor em povo e em administração”.
Assim se iniciou o segundo mandato de Gladstone Bandeira.
O primeiro grande equívoco foi quando fez de tudo para eleger o seu filho Gladis presidente da Câmara Municipal, pensando justamente ter sob o seu controle o legislativo municipal, detendo a maioria dos vereadores o que garantiria mais uma vez a tranquilidade na aprovação das matérias além do funcionamento de um parlamento meramente fisiológico e a favor de todas as suas vontades.
Mais adiante vamos ver, que esse erro lhe custou caro, por não ter na próxima eleição o presidente da Câmara Municipal como aliado.
Novamente voltou a praticar o nepotismo à vista de todos quando nomeou para o cargo de tesoureira novamente a filha Lúcia e desta vez acompanhada do esposo Paulo César no cargo de Secretário de Administração.
O cargo de Procurador Jurídico da Prefeitura coube ao advogado João Batista Freitas de Alencar,[1] ironicamente um daqueles que no passado fora tratado como advogadozinho de merda. (ver Capítulo XVII).
Vamos recordar que em 1983, quando o Careca assumiu a administração, recebeu das mãos de Evaldo Holanda Maia uma prefeitura com as contas públicas inteiramente em dia, as finanças equilibradas, o número de servidores dentro do limite e ainda uma considerável quantidade em dinheiro nas contas bancárias (em torno de 13 milhões de cruzeiros).
Em 1997 aconteceu exatamente o contrário, ou seja, recebeu uma prefeitura falida, com dívidas acumuladas no comércio, cinco meses de atraso na folha de pagamento, uma quantidade espantosa de cheques sem fundos em nome da prefeitura e outros abusos cometidos pela administração anterior. Com esses dados, aquele que foi considerado o melhor administrador que passara pela prefeitura, não teve como confirmar a impressão que deixara em 1988, porque na verdade, o que existiu naquela época foi uma falsa propaganda montada para enganar a população.
Logo de início, deu mostras de fraqueza, principalmente quando começaram os boatos de que a filha Lúcia e o genro Paulo César eram quem determinavam as diretrizes da administração e que nada era feito sem que primeiro tivesse suas anuências.
Aquele Careca que no primeiro mandato deu murros na mesa para intimidar sobretudo aos humildes que lhe procuravam, transformou-se num administrador apático e inexperiente no cargo, sem poderes para deter os “erros” cometidos pelos seus próprios familiares dentro da administração. Como justificativa, alegava as dificuldades com que encontrou a prefeitura, se mostrando com isso impossibilitado de fazer uma boa administração, o que não convenceu a ninguém, porém, conseguiu mostrar e comprovar a falsa impressão de grande administrador quando deixou o cargo em 1988.
Ao receber a prefeitura completamente problemática e cheia de dívidas, não teve competência para sanear suas contas e resolver todos os seus problemas e se não os soube superá-los nem os resolver, constatou-se nada entender de administração.
Se no primeiro mandato, tornou “modernas” as praças da cidade, colocou piçarra em todas as estradas vicinais do município, implantou na prefeitura uma espécie de construtora e fez mais uma série de outros serviços, no segundo, não passou de um prefeito inoperante e fraco nas decisões. O que faltou a ele antes do tino administrativo foi aquilo que é de praxe na maioria dos administradores públicos: compromisso com o cargo para o qual foi eleito.
Na verdade, os problemas que ora se apresentavam eram apenas uma continuidade dos desmandos efetivados pelos prefeitos anteriores inclusive ele próprio e que o ônus estava sendo repassado para o povo mais uma vez.
As ruas esburacadas, o lixo acumulado, as estradas sem condições de tráfego, os servidores atrasados e ações na justiça por precatórios, afora outros problemas existentes, foram os obstáculos da segunda administração de Gladstone Bandeira e que ele e sua equipe usavam para justificar a sua péssima atuação naquele segundo mandato. Convém ressaltar que todos os problemas foram iniciados na sua primeira gestão, quando estabeleceu uma política de favores e contra-favores, de nepotismo, fisiologismo, empreguismo e de egoísmo pessoal, quando se autoproclamava ser insuperável como gestor municipal.
Para completar, nos meses finais do seu mandato e a exemplo de Ademar Celedônio, resolveu também atrasar a folha de pagamento, numa demonstração de falta de compromisso e zelo com o dinheiro do povo. Indagado por um amigo do porquê ele atrasou o salário dos servidores, rebateu de maneira irônica e irresponsável que “não era prefeito para administrar folha de pagamento”.
Mas nem mesmo o fracasso administrativo do Careca, tirou do grupo a certeza de que nada impediria a sua reeleição, assegurando não haver nenhum entrave e muito menos outro nome que tivesse condições de concorrer. O próprio careca, sem reconhecer sua incompetência administrativa, dizia aos quatro ventos “ser o político de maior prestígio em Limoeiro” e por isso sua condição de candidato à reeleição era indiscutível. O procurador jurídico da prefeitura Dr. João Batista – tempos atrás difamado pelo Careca – dizia firmemente em conversas informais que a eleição iria acontecer apenas por uma questão de cumprimento da Lei, mas a recondução do Careca à prefeitura seria quase por aclamação.
O que eles não contavam, era o aparecimento de vários fatores que desencadeariam num caminho completamente diferente para o Careca e o seu grupo e vamos ver isso nos relatos sobre a próxima campanha eleitoral.

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Lembremos que foi a partir de 1982 que nasceu um novo ciclo político em Limoeiro e que podemos considerar como “CICLO DOS AMIGOS”, onde no decorrer dos anos, todos os seus integrantes tornaram-se cúmplices nas manobras de enganação e de maldade, numa briga diabólica entre eles, com o objetivo de disfarçar a intenção sagaz de um querer lucrar em cima do outro.
Os atos administrativos acontecidos a partir de 1982 e até os dias de hoje, têm sido os mais absurdos em toda história de Limoeiro do Norte. Os mais escabrosos boatos de corrupção, os mais desavergonhados conchavos políticos, a maior falta de respeito ao povo, os maiores descalabros administrativos, se tornaram tão habituais que viraram rotina nos políticos e de tal forma que a população passou a considerar como se fossem ações normais.
Tanto cultuaram os atos ilícitos em suas administrações que os que integravam o “ciclo dos amigos” conseguiram fazer com que boa parte da população pensasse em não existir pessoas sérias capazes de administrar o que é do povo com honestidade. O que mais se ouvia nas rodas de conversas e com bastante frequência era de que “todo político é ladrão e que todos são iguais, basta que cheguem ao poder e farão a mesma coisa”.
O ponto a que chegou a consciência do povo como resultado da política que foi implantada nas últimas administrações municipais, tornou-se bastante favorável aos maus políticos, pois, para eles o que interessava era que o povo continuasse cada vez mais alienado e sem condições de fazer uma análise crítica da situação, optando sempre pelo pior, sendo assim, bem melhor para eles.
O segundo mandato do Careca foi a prova maior que o político que se aventura em agir de forma enganosa para com o povo, invariavelmente termina mostrando a sua verdadeira identidade. Mais cedo ou mais tarde, se mostra contrário àquilo que se pensava dele e para isso acontecer basta surgir um fato que necessite de ações que exijam seriedades para esbarrar na sua verdadeira personalidade. Aqui cabe muito bem a belíssima citação atribuída a Abraham Lincoln: "Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo."
o Certo é que Ademar entregou a prefeitura ao Careca com cinco meses em atraso na folha de pagamento e este entregou com oito meses, ou seja, os cinco de Ademar e mais três meses dele próprio, o que gerou um enxurrada de precatórios para as administrações seguintes. Na carona da folha entraram também em atraso as obrigações patronais para com a Previdência Social, o que se caracteriza outro ato puramente desonesto, principalmente porque parte desse dinheiro significa apenas um repasse, já que provém de descontos nos próprios salários.
Incrível foi o destino que sempre deram ao dinheiro tirado do suor dos servidores! Todos eles usaram principalmente nas eleições de seus sucessores, como parte de acordos espúrios e vergonhosos a fim de garantir a impunidade e a continuidade dos desmandos, e era apenas isso o que a eles interessava.
Todos eles e da mesma cepa, praticaram a disseminação da semente nociva da politicagem e com isso conseguiram sobreviver e superar até mesmo suas próprias contrariedades.
O que deixava a parte consciente da população espantada e impotente para reverter aquele triste quadro era a facilidade com que agiam e a falta de escrúpulos com que mostravam suas caras ao povo, sempre com a empáfia de grandes líderes.
As ações desonestas foram a tona principal dos administradores que fizeram parte do “ciclo dos amigos” em Limoeiro e as suas ações foram tão deslavadas, que sequer se preocuparam em esconder das vistas do povo os seus atos desonestos, o que não se restringiu apenas ao uso do dinheiro público, cujo mal maior foi falta de coerência, de sinceridade e de respeito ao povo.

[1] Em 1988, o Dr. João Batista esteve no palanque de Rita Peixoto.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Capítulo XXIII - A ELEIÇÃO DE 1996

Ainda que alguém me diga
Que viu um mudo falando
Um elefante dançando
No lombo de uma formiga
Não me causará intriga.
Escutarei com respeito
Não mentiu esse sujeito.
Muito mais barbaridade
É haver numa cidade
Prefeitura sem prefeito.

Não vou teimar com quem diz
Que viu ferro dá azeite
Um avestruz dando leite
E pedra criar raiz
Ema apanhar de perdiz
E um rio fora do leito.
Um aleijão sem defeito
E um morto declarar guerra
Porque eu vejo em minha terra
Prefeitura sem prefeito.
Patativa do Assaré
Extraído do poema “Prefeitura sem Prefeito”

NO INÍCIO DE 1996, Limoeiro do Norte passava pelo pior período da história de suas administrações até então. O prefeito Ademar Celedônio onde quer que fosse visto estava sempre embriagado. A prefeitura completamente sem prefeito e entregue nas mãos de algumas pessoas comprometidas com os grupos políticos de Paulo Duarte e Dilmar.
A irresponsabilidade do gestor municipal atingia comentários assustadores ao mesmo tempo em que crescia consideravelmente a lista de cheques sem fundos emitidos por seu próprio punho para despesas pessoais incluindo farras e bebedeiras. 
Uma considerável parcela da população limoeirense andava triste, esperando um milagre ou um fenômeno qualquer que tirasse o município dos maus lençóis em que se encontrava.
Foi captando essa apreensão da população que Ariosto Holanda resolveu promover em Limoeiro do Norte, numa memorável noite nos salões da AABB, um movimento chamado sugestivamente de “Pensando em Limoeiro”.
Como Ariosto sabia que a situação política era por demais delicada e sabendo também que seu nome representava uma enorme fatia de credibilidade junto ao povo, convocou a sociedade Limoeirense para ouvir dele o que estava pensando com relação à gravidade da administração e ao futuro político de Limoeiro.
No seu pronunciamento começou exibindo uma reportagem da Revista Veja[1] sobre um prefeito de uma cidade do sertão pernambucano – Quixaba, a 430 km de Recife – completamente analfabeto e que conseguiu alcançar uma enorme popularidade em razão do incentivo que deu à educação do município, zerando o analfabetismo e, assim, ganhando fama nos noticiários nacionais.
Da forma como começou o seu discurso, colocava nas entrelinhas que estava disposto a apoiar o Careca caso ele viesse a se candidatar, justificando esse apoio através da reportagem da Revista Veja, querendo dizer que não havia problema nenhum para um município ser administrado por um analfabeto.
A presença de Ariosto naquela noite foi causa de uma enorme decepção. Quando se esperava que trouxesse a proposta de um candidato novo, optou por continuar com o atraso para Limoeiro.

Foi a partir daquela noite que o Dr. Ariosto Holanda começou a mostrar ao povo duas faces distintas: uma, o político insensível e a outra o técnico competente. Com seu jeito sério de ser, sempre conseguiu a simpatia dos limoeirenses lhe confiando o voto sem nenhuma cobrança, por outro lado, sempre optou pelo atraso político, mesmo sabendo que sua condição junto ao eleitorado – principalmente naquele momento – era fundamental para mudar a situação crítica do município.
Nunca um político na história de Limoeiro teve tanta aceitação e credibilidade do povo quanto ele.
O discurso socialista que se propusera implantar quando veio buscar votos pela primeira vez em 1990, foi inteiramente desfeito pelas suas atitudes como político bem como o seu primeiro ato demagógico comprovado com a filiação tempos depois no PSDB, partido de direita, para disputar novamente uma vaga para a Câmara Federal em 1994 e naquele ano, por ter conseguido apenas uma suplência, foi convidado por Tasso Jereissati para assumir a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado como uma forma de compensá-lo por não ter se elegido Deputado Federal, permanecendo lá de 1995 a 2002.
Foi ai que se revelou a sua competência e capacidade como técnico. Na qualidade de secretário, implantou uma rede de educação tecnológica no Ceará com 40 Centros Vocacionais Tecnológicos (CVT), dois Núcleos de Informação Tecnológica (NIT) e três Centros de Ensino Tecnológico (Centec) – Sobral, Juazeiro do Norte e Limoeiro do Norte – idealizados como um programa de capacitação humana e educação tecnológica.
Sem deixar de reconhecer o valioso benefício dessa iniciativa, principalmente por defender a educação como base para a inclusão do homem na sociedade, ficamos sem entender o porquê de o Dr. Ariosto ter defendido sempre um modelo político que não se afinava nem um pouco com o seu discurso socialista, tampouco com suas atitudes em relação aos Centec’s. Estranhamente, fez uma mistura do moderno com o arcaico, praticando de um lado, aquilo que considerava ponto fundamental para a socialização do homem, e do outro, fazendo política da forma mais anacrônica e fisiológica que pudesse existir.
Quem conhecia as atitudes de Ariosto Holanda com relação ao processo político em Limoeiro do Norte e o seu pensamento sobre a educação do homem, percebia claramente a mistura que fazia e espantava-se com suas declarações:.
"Se não pensarmos no homem não alcançamos o desenvolvimento: não se distribui renda entre analfabetos, só esmolas. E aqui inclui os analfabetos, que sabem ler e escrever, mas não sabem para que isso lhes serve.” 
(www.estadao.com.br/ciência/noticias/2000/dez)
Com essas palavras, Ariosto criou um terrível paradoxo entre o falar e o pensar, ou seja, de um lado defendendo brilhantemente a educação e criticando o analfabetismo como um grande mal social e do outro pedindo ao seu povo que elegesse um analfabeto para administrar o município.
Juntos ainda, Dilmar e Paulão continuavam encenando para o povo um relacionamento de cordialidade, mas intimamente o que acontecia na verdade era uma desconfiança tão recíproca quanto a falsa impressão de uma concreta amizade.
Em meio às discussões que tratariam da escolha do sucessor de Ademar, os dois não se entendiam e essa falta de harmonia nos entendimentos desencadeou para uma coisa “inacreditável”: o rompimento entre os dois.
O divórcio político entre Paulo Duarte e Dilmar, poderia ter causado estranheza se não fosse de praxe para os políticos limoeirenses viverem entre “tapas e beijos”, numa constante disputa pelo poder.
O impasse surgiu em virtude de Dilmar não abrir mão de sua candidatura por qualquer hipótese mesmo com a discordância irredutível de Paulão, que por sua vez tencionava repetir a dose da eleição passada quando fez todos engolir de goela abaixo o nome de Ademar.
Estando Paulo Duarte certo de que Dilmar não abria mão da condição de candidato, começou a tramar o seu jogo político iniciando uma aproximação com o Careca com algumas conversações no sentido de apoiá-lo na candidatura para prefeito.
Dentro desse contexto convém analisar que cada um dos protagonistas daquele momento político se achava um mais esperto do que o outro. Como o bolo estava ficando cada vez mais fragmentado, tornava-se mais difícil a sua divisão, isso porque o pedaço destinado a cada um não tinha tamanho nem ingredientes suficientes para ganhar uma eleição sozinho, dependendo assim de fatores externos, tipo a viabilização de candidaturas que viessem facilitar ou até mesmo possibilitar a vitória de outrem, como foi o caso de Ademar ter sido eleito, em virtude do rompimento entre Pedro Julião e Careca na eleição passada (1992), criando uma divisão nos votos e sem isso Ademar jamais teria sido eleito.

A exemplo de como agiu em 1982 quando se juntou a Manoel de Castro, Gladstone Bandeira esqueceu tudo o que dissera nos palanques e partiu para uma negociata com Paulo Duarte.
Depois de muitas conversas e conchavos nas caladas da noite, a população estupefata, assistiu numa histórica e memorável noite de 1996 no pátio interno do Hotel Municipal (hoje Secretaria Municipal de Educação Básica) o acasalamento público entre Careca e Paulo Duarte, numa solenidade que contou com grande número de adeptos tanto de um lado quanto de outro. Em meio às clamorosas honras e aplausos os dois se deram as mãos parecendo velhos amigos como a dizer ao povo que esquecessem tudo o que eles falaram na campanha para deputado, quando se digladiaram e jogaram difamações um no outro. Aliás, naquele momento, os dois se mereciam completamente; ambos tinham como artimanhas políticas, bestializar e desdenhar da consciência do povo.
Vale lembrar que as desavenças entre Julião e Careca durante a eleição passada, provocou uma fenda na família “Bandeira” e a situação se agravou quando o Careca, insensível ao rompimento de sua própria família sendo ele foi a causa principal, não se importou em naquele instante juntar-se a Paulo Duarte, tão somente pela ambição de novamente ser eleito prefeito.
Seu irmão, Nauto Bandeira, até então um dos seus sustentáculos políticos, não gostou dessa atitude e magoado, intrigou-se com ele, acusando-o de ter passado por cima inclusive dos laços familiares, desconsiderando a todos e deixando de ser solidário ao próprio Nauto que sofreu fortes perseguições durante algum tempo por parte de Paulo Duarte. Mas o Careca, obcecado pelo poder, optou por satisfazer a sua ambição pessoal e se assim agiu, foi porque sabia que em sendo eleito, todos aqueles que tinham se afastado dele, inclusive os próprios familiares vinham sem dúvidas ao seu encontro. A propósito, certa vez o Careca foi flagrado conversando escorado no balcão de um amigo, comerciante e permissionário de um dos quartos do mercado público, dizendo: “Eu não me preocupo com quem tá brigado comigo agora, mesmo sendo os meus parente, pois quando eu for o prefeito, todos vêm pro meu lado”.

Apesar do espetáculo em que os conhecidíssimos homens públicos eram os atores principais, começaram a surgir as candidaturas postulantes ao cargo de prefeito e nada menos do que seis candidatos colocaram seus nomes para serem votados.
Careca, depois daquela cena, entre abraços e perdões com Paulo Duarte, partiu na frente com sua candidatura esboçando um riso de garbosa vitória. Como parte do acordo, aceitou que Elizete Duarte, irmã de Paulão, fosse candidata a vice-prefeita em sua chapa, visto que não representaria nenhuma ameaça ao seu apetite pelo trono do gabinete da prefeitura.
Acertou mais uma vez Gomide Lima Oeriô, o poeta “Amigo de Limoeiro” que depois de presenciar todas as peripécias do Careca até cair nos braços de Paulo Duarte, desenhou em uma única estrofe o que aconteceu naquele momento, senão vejamos:

Um perdeu as estribeiras
E, batendo os calcanhares,
Chutou as outras "bandeiras",
Que o pau voou pelos ares,
E no final se ajuntou
Com quem dele já zombou
Em todo canto e lugares.

Pra custear a campanha acredita-se que a dupla tenha chegado à uma conclusão bastante irresponsável; conseguir de Ademar que atrasasse a folha de pagamento dos servidores públicos municipais e a partir do mês de agosto de 1996 a prefeitura deixou de fazer pagamento de salários exceto para alguns cargos de confiança.
Tão grande era a ambição do Careca de novamente chegar à prefeitura, que não se importou em concordar com o atraso da folha de pagamento, mesmo sabendo que se fosse eleito os salários atrasados cairiam sob a sua responsabilidade. Mas num gesto de total indiferença e movido pela cegueira de conquistar o poder, não atentou para o fato de que estava tirando de muitos pais de família a única fonte de sobrevivência e de sustentação dos filhos e tudo isso para realizar o seu desejo de voltar a prefeitura.
O palanque do Careca, montado com dinheiro público era o mais “enfeitado” de todos, pois lá estava o Dr. Ariosto Holanda defendendo e pedindo voto para um analfabeto. Também Paulo Duarte, distorcia seu discurso num engenhoso trocadilho para fazer elogios ao Careca, inteiramente “esquecido” do que falara dele em campanhas passadas quando ao invés de elogios dirigia-lhe injúria e difamação. Por último o Careca, totalmente desmemoriado, perdoava Paulo Duarte pelos adjetivos ditos quando estavam em palanques diferentes e disparava o seu desconexo linguajar contra os “adversários”.
Dilmar também entrou na disputa apostando no “carisma” e na popularidade do seu nome, certo de que o povo iria lhe reconhecer como um verdadeiro “líder”. Com a confiança que tinha na aceitação do seu nome, pouca importância deu ao rompimento com Paulo Duarte o que implicou na perda da prefeitura como patrocinadora de sua candidatura, mas essa questão seria superada através dos malabarismos do Dr. Maílson para conseguir dinheiro que custeasse a campanha.
Muito comedido quando se tratava de falar de alguém e sendo essa uma das suas muitas facetas, Dilmar não difamava dos “adversários” para assim passar para os eleitores de que era diferente dos outros. Por outro lado, os seus asseclas se encarregavam de divulgar para a população quem era realmente Paulo Duarte e no dizer deles, um mentiroso que nunca cumpria com nada que prometia. Mauro Costa, por exemplo, foi um desses competentes divulgadores, dizendo-se altamente decepcionado com Paulão a quem Dilmar tinha feito das tripas coração para elegê-lo deputado. Teve quem o visse sentado no fio de pedra do calçamento próximo ao BNB, com os olhos marejados e fitos no céu dizendo: “Tenho fé em Deus que se minha mão tiver vergonha, nunca mais há de votar em Paulão”.

A terceira candidatura surgiu com o nome de Pedro Julião, ressentido com a determinação de Gladstone em não arredar o pé de sua candidatura e também por ter feito um conchavo com Paulo Duarte. Então, foi se aproveitando da insatisfação no seio da família que Julião conseguiu colocar em sua chapa como candidato a vice o próprio Nauto Bandeira, caracterizando-se uma briga séria entre os membros da família. Sabendo ser quase impossível eleger-se, o objetivo maior de Pedro Julião naquele momento, era aumentar o seu patrimônio político para negociá-lo em vindouras eleições como sempre fazia. Nesse caso, acertaram os partidários do Careca quando o consideraram “um candidato laranja”, ou seja, aquele que sem qualquer chance de ganhar, lança seu nome para ocupar espaço político e com um número suficiente de votos para participar de negociações futuras.
Sobre esse argumento, outra vez Gomide Lima Oeriô, o poeta “Amigo de Limoeiro”, escreveu uma estrofe que marcaria na história do município o caso de um político que nunca foi eleito, mas que nunca desistiu de está dentro da disputa, exatamente para manter o seu eleitorado.

Um outro só faz perder,
Mas não arreda do eito.
Candidato ele vai ser
A deputado ou prefeito.
Seja por bem ou por mal
Vai mantendo o capital
Pra investir noutro pleito.

Outra candidatura fruto também de uma insatisfação por não ter conseguido o objetivo de candidatar-se com o apoio da prefeitura foi a do então vice-prefeito Dr. Reuber que recebeu o apoio do PT, confirmando assim, a sua disposição de sempre fazer acordos e alianças a cada eleição.
Em meio aos quatro nomes lançados como candidatos a prefeito, eis que surge o quinto. Tratava-se de Lauro Rebouças Filho “Laurinho”, colocando-se como uma opção diferente de todas aquelas que estavam se propondo naquele momento. Criticando o papel de todos os outros candidatos, que em vez de se unirem em torno de uma candidatura nova resolveram seguir cada um seu caminho, segundo ele, mostrando que nenhum estava realmente pensando no município e no povo, mas insistindo em defender interesses pessoais. Alegando essa falta de respeito para com o eleitor, Laurinho lançou sua candidatura propondo uma opção que desse ao limoeirense o direito de escolher algo novo e pedindo a mesma oportunidade que todos os outros já tiveram e quase nada fizeram, mas que continuavam com a briga infernal pelo poder. Todavia, lembremos que Laurinho, embora com um perfil mais sério, não deixava de fazer parte do mesmo sistema político, tendo sido ele um dos grandes responsáveis pela eleição do Careca em l982.

Uma sexta candidatura aparece, mesmo sem nenhuma expressão política ou qualquer chance de concorrer. Tratava-se do agrônomo Arnaldo Araújo. Como tudo estava esculhambado qualquer um poderia ser candidato, mesmo que não passasse de um deboche perante o povo.

Terminada a eleição, elegeu-se o Careca convencendo-se mais uma vez que sem o apoio da máquina administrativa seria praticamente impossível chegar à prefeitura.

ELEIÇÃO MAJORITÁRIA (PREFEITO)

NOME DO CANDIDATO

VOTOS

%

José de Oliveira Bandeira (eleito)

7.621

29,94%

João Dilmar da Silva

6.431

25,27%

Pedro Julião Bandeira Regis

4.832

18,99%

Lauro Rebouças Filho

3.267

12,84%

Reuber Tadeu Vieira e Silva

3.088

12,13%

José Arnaldo Araújo

212

0,86%

Votação nominal

25.451

100%


 A Câmara de vereadores ficou composta pelos seguintes vereadores:
1. Antônio Cicero Viana de Lima Junior
2. Antônio Conrado Maia
3. Benedito Mendes Cabral
4. Elias Correia Lima
5. Flavio Araújo de Almeida
6. Francisco Gilmar de Castro
7. João Neudes Saraiva Chaves
8. Jose Carneiro da Silva
9. Jose Cirineu Maia
10. Jose Gilton Nunes Alves
11. Jose Gilvan de Moura
12. Jose Gladis de Lima Bandeira
13. Jose Maria de Andrade
14. Jose Valdir da Silva
15. Lucia Baltazar Costa
16. Raimundo Nonato
17. Raimundo Nonato da Costa
18. Raimundo Valdi Chaves
19. Rute Gomes de Meneses Maia
https://apps.tre-ce.jus.br/tre/eleicoes/resultados/Resultado_das_Eleicoes_1996.pdf

***************

Com o quadro que foi desenhado na campanha de 1996, se assistiu uma dança grotesca dos políticos limoeirenses em busca de um lugar no bolo. Nem é preciso observar atentamente para descobrir que quase todos representavam um mesmo grupo, só que estavam cada um com seu próprio palanque, intencionalmente montado, a fim de mostrar quem tinha mais forças naquele momento. Aquele que fosse eleito alcançaria superioridade sobre os outros e com melhores condições para atassalhar a maior fatia.
Foi de estarrecer os olhos dos eleitores a forma como eles se dividiram. Senão vejamos e analisemos os nomes dos candidatos: Dilmar, que foi vice-prefeito do Careca e se tornou prefeito em 1988 com o apoio deste; Julião, que foi vice-prefeito de Dilmar, indicado por Careca; Dr. Reuber, que era o vice de Ademar; Careca, que recebeu o apoio de Paulo Duarte, que por sua vez já foi aliado de Dilmar.

Fizeram isso porque sabiam e sabem que o povo não participa dos fatos políticos como deve, ficando praticamente alheio ao processo e pouco lhe importa quem seja o eleito. Políticos assim, não se preocupam de que os classifiquem como “farinha do mesmo saco”, para eles é preferível que assim sejam chamados a usar da honestidade para com o povo.
Aquele que em 1982 chegou ao poder através de conchavos e acordos com Manoel de Castro repetiu a dose em 1996, quando “necessariamente”, teve que costurar novos acordos, desta vez com Paulo Duarte, conclusão lógica de que a sua popularidade nunca passou de uma ilusão e para comprovar essa obviedade vamos levar em conta de que quando tentou por duas vezes se eleger sem que tivesse que usar a maquina administrativa, ou seja, o dinheiro do povo, não conseguiu, razão pela qual concluímos de que nunca teve votos suficientes para chegar à prefeitura. Já nas duas vezes em que se elegeu prefeito, juntou-se aos próprios “inimigos” e com eles engendrou os acordos necessários à revelia da população. Se olharmos por esse ângulo, no meu entender o mais verdadeiro, constatamos que a ânsia obstinada do Careca em ser prefeito nada teve a ver com os anseios e as necessidades do povo e os acordos envolvendo o dinheiro público como patrocinador maior, foram sua única forma de chegar ao poder.
Ora, já que se considerava um grande líder – aliás o maior de todos como ele mesmo se autodenominava – então porque necessitou usar meios tão indignos de um homem público para eleger-se? Concluímos que se realmente tivesse em si a liderança primorosamente alardeada, teria sido eleito sem que fosse preciso descer tanto, como aconteceu em ambas as vezes que chegou a prefeitura.
A propósito, o Careca celebrizou uma frase que marcou a sua conduta política para justificar as duas eleições que o fizeram prefeito. Dizia para os amigos que “eleição se ganha através de conchavos e dinheiro e nada mais”, confirmando assim de que ele foi o mais hábil de todos na arte de costurar acordos para chegar à prefeitura.
Dos candidatos que disputaram a prefeitura em 1996, Laurinho e Arnaldo eram um pouquinho diferentes dos outros. Do primeiro, mesmo não podendo omitir a sua origem política, posto que, em sendo irmão de José Hamilton de Oliveira não há dúvidas de que foi partidário de Manoel de Castro e ainda porque em 1982, foi um dos homens fortes na campanha que elegeu o Careca, quando sua esposa a professora Rita de Cássia Freitas Peixoto foi eleita vereadora com expressiva votação.
Já Arnaldo, era o único que não tinha origem política do mesmo grupo surgido a partir de 1982, grupo esse, que implodiu naquele ano, mas que já esteve unido em um mesmo palanque numa troca de mútuos elogios entre eles.
O mais interessante é que aquela não era primeira vez que brigavam e, por algumas vezes, também em palanques diferentes, em vez de elogios trocaram palavrões.
Extremamente desconfiados entre si, exageradamente nepotistas e assistencialistas, dados às rotineiras fofocas e intrigas políticas e pessoais, as “célebres lideranças limoeirenses” sempre agiram conforme as conveniências e em momento algum, chegaram a demonstrar qualquer tipo de escrúpulo em estarem brigados numa eleição e unidos em outra, pois o que contava eram os interesses individuais de cada um e a possibilidade de preservá-los.
O revezamento que eles constantemente vinham provocando, era uma forma de sobrevivência política como bem afirmou em conversas informais, o ilustre limoeirense Padre Francisco de Assis Pitombeira, referindo-se às frequentes trocas de posições a cada eleição: “eles se dividem para se unirem”.
Foi preocupado com esse vai-e-vem de todos eles, ora brigando, ora se abraçando que mais uma vez o poeta Gomide Lima Oeriô, ou seja, o “Amigo de Limoeiro”, escreveu a seguinte estrofe:

E agora em desafio
Vou lhe fazer uma pergunta:
Por que é que o mesmo trio
Ora briga, ora se junta?
É por amor à cidade?
Ou é só por vaidade?
Ou é mesmo fome muita?

O rodízio dos políticos integrantes do grupo que se iniciou em 1982 com a primeira eleição de Gladstone e suas danças para conseguirem o poder se tornou um fato corriqueiro nas campanhas eleitorais, provocando sucessivas e desastrosas administrações montadas em cima de demagogia e de corrupção, através de uma política populista barata e mal engendrada, com interesses voltados para fins meramente pessoais e eleitoreiros.
O mais intrigante e o que mais demonstrava ausência de ideologia e coerência política bem como a ambição pessoal de cada um era a facilidade com que se aviltavam e se digladiavam e a mesma facilidade com que esqueciam as agressões e se juntavam novamente como se nada tivesse acontecido. Por todas as vezes que estiveram no poder, manipularam as opiniões e violaram o voto da maioria dos cidadãos como sendo uma ação relativamente simples, o que garantiu a cada um deles a possibilidade de querer se mostrar como uma opção onde apontava o melhor caminho para o município.
As atitudes encenadas pelos que podemos chamar de pseudo políticos naquele momento buscavam uma justificativa na sentença mineira atribuída a Magalhães Pinto de que "Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou.", significando que em uma eleição, o que foi dito ontem não tem o menor valor hoje, assim como os acordos de hoje, nada valem para o amanhã. O mais interessante é que essas ações se não fossem tão prejudiciais chegariam a ser folclóricas como se normalmente fizessem parte da vida do povo e da política, mas na verdade só podemos traduzir isso como uma falta de coerência e respeito para com o eleitor.
Um resultado digno de relato naquela eleição de 1996 foi a votação obtida por Laurinho. Com uma estrutura financeira muito aquém das outras, bem como sem nenhuma figura de expressão de apoio à sua candidatura, conseguiu 12,84% do total de votantes em um universo de seis candidatos, quando o Careca foi eleito com 29,94% dos votos.
Podemos então considerar que os votos obtidos por Laurinho, representaram uma parcela da população altamente cônscia da necessidade de mudar. Se não se manifestou antes, foi justamente por falta de opção e para termos essa certeza, basta que olhemos os candidatos de todas as eleições passadas – até mesmo antes de 1982 – e vamos observar que todos, sem nenhuma exceção, sempre pertenceram a um mesmo grupo político, ainda mais da forma como eles agiam, brigando em uma eleição e unindo-se em outra. A vitória do Careca deixou uma grande certeza para Dilmar: não teve votos suficientes para ganhar uma eleição, ou seja, a sua representação entre os eleitores, não chegou a 30%, resultado obtido pelo careca para que fosse eleito, demonstrando que o seu tão alardeado carisma não era tanto quanto se imaginava.

[1] “É Triste Ser Analfabeto”, Revista Veja, nº 1435, 06 de março de 1996, págs. 23 e 24.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Capítulo XXII - A ADMINISTRAÇÃO DE ADEMAR

(...)Cada povo tem o governo que merece?
Ou cada povo tem os ladrões a que enriquece?
Cada povo tem os ricos que o enobrecem?
Ou cada povo tem os pulhas que o empobrecem?
O fato é que cada vez mais se entristece esse povo
num rosário de contas e promessas
num sobe e desce de prantos e preces. (...)
(Affonso Romano de Sant'Anna –
“Sobre a atual vergonha de ser brasileiro”
Texto extraído do jornal "O Globo" -Rio de Janeiro.)


OS ACORDOS ESTABELECIDOS durante a campanha fizeram com que Ademar Celedônio assumisse a prefeitura cheio de compromissos para com aqueles que o tornaram prefeito, iniciando assim, o seu governo com enormes dificuldades.
Em pouco tempo de mandato demonstrou ser realmente um homem indeciso e inteiramente manobrável.
Sentindo o gosto do poder, cercado de aproveitadores e embalado pela bajulação, muito cedo caiu na esparrela engenhosamente armada para ele.
Estando algemado de pés e mãos pelos compromissos assumidos e sujeito às cobranças para cumpri-los, desiludiu-se do cargo em pouco tempo de mandato deixando que o barco da administração seguisse um rumo desastroso e à deriva.
Fraco nas decisões começou por deixar que as nomeações para o seu secretariado fossem por indicação do grupo político que o elegeu e não dele próprio.
Para ilustrar a sua indecisão e fraqueza na tomada de posições, logo no início do mandato se deixou levar por uma ideia de que era preciso enxugar a folha de pagamento dos servidores municipais e para isso se fazia necessário demitir muitos desses servidores, principalmente aqueles que no entender dos “assessores” estavam irregulares.
A lista dos demitidos foi amplamente divulgada nas emissoras a fim de dar um contorno de moralidade na administração. Por propósito ou não(?), a dita lista atingia principalmente servidores que haviam votado nos candidatos “adversários”. Ao que tudo indica, não passou de uma trama engenhosa de sua assessoria jurídica, sabendo que essa medida acarretaria numa avalanche de ações judiciais o que provocaria tempos depois uma quantidade imensa de precatórios a pagar, beneficiando alguns mal-intencionados advogados que já se preparavam para defender as causas.
Como uma fuga para os inúmeros problemas que tinha que resolver, voltou ao alcoolismo e desta vez, de uma forma bem mais grave, pois se tratava do prefeito do município.
Diante disso e sabendo que o prefeito não resistia ao vicio da bebida, os seus algozes, costumeiramente, o presenteavam com um ou mais litros de whiskys caros, numa demonstração que era do interesse deles que o chefe do executivo estivesse sempre sob o efeito da bebida e, por conseguinte lhes deixasse à vontade para eles próprios se apoderarem do dinheiro público e sem nenhuma responsabilidade.
Os volumosos boatos sobre a malversação dos recursos da prefeitura bem como sobre a conduta do perdulário chefe do executivo eram fatos corriqueiros em todo o município e via-se claramente que o prefeito perdera o senso de responsabilidade chegando inclusive a passar os talões de cheques da prefeitura para as mãos de pessoas reconhecidamente aproveitadoras desse tipo de situação, correndo ainda a notícia de que um pequeno grupo era quem determinava os gastos. Enquanto isso, como forma de consolo, para Ademar era permitido usar apenas um dos talões, o fazendo de forma irresponsável, emitindo cheques de despesas pessoais a torto e a direito, sendo habitual encontrá-lo embriagado e acompanhado de mulheres.
O esquema montado na utilização dos cheques cuidava justamente para que aquele que era usado irresponsavelmente pelo prefeito, nunca tivesse provisão de fundos na conta/corrente o que fez a prefeitura encabeçar uma enorme lista de cheques sem fundos.
Um desses conhecidíssimos aproveitadores do dinheiro alheio esnobava os talões de cheques publicamente zombando da fraqueza do gestor municipal e muitas vezes foi visto sacudindo-os sobre o balcão de um dos bares da cidade dizendo ser o “responsável” pelo dinheiro da prefeitura. Também por muitas vezes, esse mesmo elemento – aliás, muito conhecido pela falta de escrúpulos em tramas e negociatas e um debochado aproveitador – foi visto ir de encontro ao prefeito, logrando-se da situação de que este encontrava-se sempre embriagado o induzia a assinar todo o talão de cheques em branco.
Ao que parecia, a situação estava agradando alguns algozes e mesmo com uma administração altamente desastrosa Ademar contava com a defesa inconteste – com unhas e dentes – do deputado Paulo Duarte, o mentor principal da sua candidatura.
Obedecendo ao seu estilo convincente e enganoso, Paulão dizia em entrevistas que o prefeito não estava fazendo tanta coisa errada, e atribuía os comentários “maldosos” aos “adversários” como uma perseguição e até uma espécie de dor de cotovelo por não terem se conformado ainda com a derrota nas últimas eleições.
Insistia em dizer que a administração, se não estava cem por cento no rumo certo, não deixava a desejar com relação às que se passaram – nesse ponto não estava totalmente enganando o povo. Mas quando era procurado reservadamente por algumas pessoas cobrando-lhe posições sobre os desmandos do prefeito, soltava respostas evasivas, tipo: “eu não tenho mais o que fazer...” enquanto por trás, colaborava para que o desleixo continuasse para o seu próprio bem.
Com a chegada das eleições para deputado em 1994, percebia-se claramente a influência de Paulo Duarte dentro da administração municipal opinando sobre os gastos públicos através de servidores ligados ao seu grupo político.
Corria à boca miúda de que o dinheiro da prefeitura estava sendo usado para custear os gastos de sua campanha nas cidades de Tabuleiro do Norte e São João do Jaguaribe, com boatos ainda de que a confecção do material (camisas, botons, bonés, bandeiras e estandartes) estava sendo autorizada por Ademar.
Muito embora se soubesse da grande influência de Paulo Duarte, por outro lado o grupo de Dilmar também estava inserido de tal forma dentro do governo municipal que o próprio Maílson Cruz assumiu por mais de um ano o cargo de Secretário de Administração, o que demonstrava que ambos os grupos tinham participação nos acontecimentos. Para eles, pouco importava que a administração se tornasse cada vez mais desmantelada, já que isso os favorecia e nenhum deles seria responsabilizado pelos desmandos.
Em meio ao fracasso administrativo que estava acontecendo em Limoeiro, Carlinhos Celedônio, irmão de Ademar, certa vez quis saber do mano o motivo pelo qual ele se tornou um prefeito inoperante e irresponsável e sem cumprir com os compromissos de campanha para com o povo. Em resposta, recebeu de Ademar a afirmação de que todos os compromissos por ele assumidos estavam sendo cumpridos, principalmente “patrocinar as campanhas de Paulo Duarte para deputado e a do seu sucessor na prefeitura”, alegando de que essas foram as principais exigências para efeito de sua candidatura e como se elegeu, tinha o dever de cumprir com sua palavra e estava cumprindo.
Foi em meio a todo o desastre administrativo que alguns vereadores, o que restava de oposição, resolveram instalar uma CPI para investigar os desmandos administrativos da administração e por conseguinte terminar na cassação do mandato do prefeito. Obviamente que essa ideia desagradou sobremaneira os grupos de Paulão e Dilmar, os quais eram os mais beneficiados pelo desastre administrativo de Ademar, entretanto não impediram que em uma das sessões fosse levantada a questão e colocada em votação o requerimento para instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito. Sendo o vereador Mauro Costa presidente do Legislativo, coube-lhe a incumbência de barrar a pretensão de se cassar o mandato do prefeito, para isso teria que criar uma situação em que se configurasse um tumulto para assim, alegar um motivo que justificasse sua atitude. De forma proposital - e habilidosa -  aproveitou a ocasião em que discursava e Vereador Raimundo Costa, chamando a atenção do vereador que seu tempo regimental havia terminado, quando na verdade ainda faltavam mais ou menos cinco minutos. Diante da recusa do vereador em finalizar sua fala, quando ainda lhe restavam alguns minutos, é que se iniciou a confusão. O Presidente, numa atitude arbitrária e inesperada, levantou-se, e anunciou de forma irreversível, a suspensão da sessão, alegando que o vereador estava tumultuando-a. Pior ainda, tomou nas mãos o Livro de Atas, colocou-o debaixo do braço e saiu apressadamente do recinto, tomando rumo ignorado. Momentos depois, correu o boato que se encontrava nas dependências do BNB Clube, exibindo irresponsavelmente o Livro e Atas, rindo e debochando dos colegas, de que ele, o presidente, havia frustrado a intenção de instalar a CPI para cassação do mandato do prefeito.
Vale ressaltar que a cassação do Prefeito não interessava também ao seu vice, que procurado pelos vereadores interessados pela instalação da CPI, citou de forma lacônica a seguinte frase "Eu não sou vice-prefeito de Ademar", deixando claro que não lhe interessava assumir o cargo caso o prefeito fosse cassado, entretanto, era ele sim, o primeiro da linha sucessória e, caso não fosse do seu interesse, nada mais obvio do que o simples ato de renunciar ao cargo, caso a cassação tivesse se concretizado.

A turbulência política porque passava Limoeiro naquele momento, contava ainda com a atuação polêmica do radialista Nicanor Linhares, que muito embora sem nenhum cargo público, era um integrante daquele emaranhado de interesses. Ninguém sabia ao certo de quem ele era amigo ou inimigo e isso dependia muito dos fatos. Era comum ter que vez em quando enfrentar a fúria de algum político, ferido por suas críticas através do seu programa.
O caso mais evidente disso foi o episódio da sua prisão em virtude de uma briga, entre as muitas, dele com Paulo Duarte.
O Deputado, por muitas e muitas vezes o elogiou de público em entrevistas no programa do próprio Nicanor, classificando-o como um grande radialista, atribuindo-lhe inúmeras qualidades. Mas naquele período, havia entre eles uma enorme desavença, o que era habitual não somente com Paulo Duarte, mas com muitos políticos, e as insatisfações aconteciam sempre que o radialista resolvia em vez de elogiá-los, criticá-los.
Na desavença com Paulo Duarte, o fato interessante foi que este usando de sua influência no governo do Estado, sobretudo na Secretaria de Segurança Pública, conseguiu com que fosse nomeado Delegado de Polícia para Limoeiro o conhecidíssimo Dr. Maranguape, tão somente com a incumbência de prender Nicanor, para assim desmoralizá-lo perante aos seus ouvintes.
Isso realmente aconteceu, por conta de uma reportagem feita, a qual não pode ser comprovada através da gravação do programa.
Evidentemente que Nicanor passou menos de vinte e quatro horas atrás das grades, todavia, o objetivo de Maranguape foi realizado e Paulo Duarte conseguiu também o que queria.

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Há quem afirme que “cada povo tem o governo que merece”[1] e no caso de Limoeiro, essa frase não deve ser traduzida apenas como um resultado de uma eleição, porém como uma causa muito mais profunda.
Com Ademar não aconteceu outra coisa senão a colheita de alguns frutos venenosos que o limoeirense, através da enganação dos seus políticos vinha cultivando desde o gravíssimo erro de haver elegido o Careca para prefeito em 1982, a quem pode se atribuir, sem medo de errar, ter sido o grande responsável pela parição dos maus políticos vindo depois dele, bem como de haver concretizado a ideia de fazer o bolo crescer para depois ter que repartir.
Seria mais fácil de explicar o que aconteceu com a administração de Ademar se fosse possível responsabilizar o povo, todavia, isso seria no mínimo transferir a responsabilidade de quem foi eleito para quem elegeu.
O que já vinha acontecendo em outras eleições aconteceu com mais gravidade com a eleição de Ademar, funcionando como um efeito retroativo a toda conjuntura política implantada a partir de 1982.
A Oração de São Francisco de Assis, tão deturpada durante a campanha, provou a demagogia dos que faziam o palanque naquele momento. Também o tão famoso e propalado slogan do “arroche o nó”, na prática funcionou, só que de forma inversa e em detrimento da população que pagou caríssimo por mais uma vez, pela escolha que fez.
O mais estarrecedor foi a forma como Paulo Duarte e Dilmar, se aproveitaram da irresponsabilidade de Ademar para se apoderarem da prefeitura.
Limoeiro do Norte, não podia e nem pode ser considerado um município do futuro com bem alardeiam os seus administradores e políticos em geral, porque a cada eleição a esperança e o entusiasmo de cada cidadão vão sendo paulatinamente corroídos.
Seria diferente se a atuação do povo, muito mais interessado em direitos do que em deveres, tivesse a consciência de que um dever sempre leva a um direito e vice-versa, entretanto, nem por isso, podemos responsabilizá-lo por eleger um mau administrador. Seria o caso então de haver uma consciência política em que todos os cidadãos exercessem sem a influência eleitoreira o dever de escolher um representante, mas que exercesse também e com muito mais veemência o dever de exigir uma resposta positiva dos eleitos.
Raramente o povo se mobiliza contra seus governantes a ponto de dissuadi-lo de suas intenções escusas e o destituir do poder que lhe foi dado. Ao contrário, vive moralmente dominado por uma espécie de encantamento apenas por uma questão de acomodar-se a qualquer circunstância. Aqui caberia uma citação de La Boétie que diz:
“Coisa realmente surpreendente (e no entanto tão comum que se deve mais gemer por ela do que surpreender-se) é ver milhões e milhões de homens miseravelmente subjugados e, de cabeça baixa, submissos a um jugo deplorável: não que a ele sejam obrigados por força maior, mas porque são fascinados e, por assim dizer, enfeitiçados...”(BOÉTIE, Etienne de La.Discurso da Servidão Voluntária)
Ou será ainda que existe mais sentido na frase do ex-presidente João Figueiredo, quando se referindo aos brasileiros e a sua subserviência aos políticos afirmou?  “Todo povo é uma besta que se deixa levar pelo cabresto”.

[1] Frase atribuída ao alemão Joseph de Maistre

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Capítulo XXI - A ELEIÇÃO DE 1992

"A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa democracia se pode votar antes de obedecer as ordens”.
Charles Bukowski – escritor alemão

AO CHEGARMOS EM 1992 com mais uma eleição, outra vez vamos nos deparar com os conhecidíssimos personagens da política preparando novamente as suas candidaturas.
Vamos retomar um pouco do que já falamos, para lembrar que quando Gladstone Bandeira entregou a prefeitura para Dilmar, tinha a convicção de que ficaria de certa forma com o controle político-administrativo do município, envaidecido pela enorme aceitação popular que recebera sua administração.
Durante o seu mandato e como a querer dizer para todos: “eu só tenho de besta a careca”, confeccionou um “bolo” digno de qualquer confeiteiro, com a certeza de que iria desfrutar ou degustar sozinho sem ter que dividi-lo com ninguém. Convicto de não existia pessoa mais esperta do que ele imaginou que os que viessem depois dele somente participassem da cobertura da sua “obra culinária” e se conformasse com o cheiro e nada mais.
Como já foi explicada a razão do porque o Careca ter se empenhado tanto para eleger Dilmar como seu sucessor, ele nunca imaginou que estivesse naquele momento alimentando uma cobra para depois ser picado por ela. Não desconfiou que Dilmar ao aceitar todas as condições que lhe foram impostas quando ainda candidato, estivesse apenas assegurando o apoio da máquina da prefeitura na eleição que o fez prefeito.
O que Careca não esperava era que ao ser eleito, Dilmar mostrasse sua esperteza e tomasse o bolo em suas mãos sem se importar com o desvelo com o qual foi confeccionado nem com o que foi combinado entre eles e o dividisse ao meio para abocanhar a parte mais saborosa.
A atitude de Dilmar em esperar pelo momento certo para dividir o bolo, mostrou o quanto foi frio e paciente quando suportou todas as imposições de Gladstone tanto durante a administração da qual era vice-prefeito, quanto no decorrer da campanha, revelando-se extremamente sagaz e inteligente na espera de dar o bote e revidar com um troco à altura daquele que lhe tratara como uma incapacidade durante todo o tempo.
Para o desagrado do Careca, no início de 1992 o bolo mostrava um cenário fantasioso e até certo ponto engraçado, servindo de palco para a macabra e engenhosa dança em busca do poder.
O painel começou a se desenhar de maneira a tornar definidas algumas posições.
O Careca, pretendendo voltar à prefeitura, tinha pelo caminho dois problemas a serem resolvidos: o primeiro era a insatisfação de Pedro Julião, que pretendendo também se candidatar esperava contar com o apoio do primo e ex-prefeito. O segundo era sobre suas contas que tiveram parecer desfavorável do Tribunal de Contas dos Municípios acusando-o de improbidade administrativa. Caso o parecer do TCM fosse aceito pela maioria dos vereadores o Careca não poderia sair como candidato.
Enquanto isso o prefeito João Dilmar colocava o nome do seu secretário de obras Paulo Barros para sucedê-lo. Entretanto, outros componentes do grupo, achando-se com condições de concorrer também colocavam seus nomes como candidatos criando uma espécie de disputa interna. Dentre os que se colocavam com a intenção de candidatar-se estava o Dr. Reuber Tadeu Vieira e Silva.
No dia exato da convenção em que seria homologado no nome de Paulo Barros, chegou Paulo Duarte, visivelmente embriagado, acompanhado de Ademar Celedônio, dizendo que este seria o candidato do grupo. Estranhamente, todos aceitaram sem contestações a imposição de Paulão sem ao menos questionar sequer o que levou o deputado a agir de forma inesperada, surpreendente e acima de tudo arrogante fazendo prevalecer a sua vontade, suprimindo qualquer tipo de discussão. Como ninguém se levantou contra aquela atitude, nem mesmo o próprio prefeito, Paulão simplesmente fez com que todos engolissem de goela abaixo a candidatura de Ademar, afastando a possibilidade de Dilmar poder indicar o nome de Paulo Barros bem como a intenção do Doutor Reuber em sair candidato com apoio do grupo.
Ficou então consolidado o nome de Ademar Celedônio para candidato a prefeito tão somente por imposição de Paulo Duarte que em outra guinada maquiavélica, conseguiu abrandar o desejo do Doutor Reuber aceitando-o para candidato a vice, acalmando a principal resistência.
Uma vez escolhido o candidato com a estranha anuência de Dilmar, Paulo Duarte temia ainda pela candidatura de Gladstone, considerando-a imbatível. Pensando numa forma de enfraquecê-la e atrapalhar uma possível aliança entre ele e Julião, imaginou sutilmente uma forma de como fazer para contribuir no rompimento entre os dois.
Sabendo que Pedro Julião não aceitava nenhum tipo de acordo que não fosse de apoio à sua candidatura e que Gladstone também não arredava da ideia de se candidatar, Paulão resolveu montar um esquema em que se desse o racha entre os dois. Foi nesse ínterim que se aproveitou do relatório do TCM e usando de uma estratégia meramente politiqueira conseguiu de Dilmar que a sua bancada na câmara de vereadores se juntasse à dele e votassem contra o parecer do TCM, discordando de que o Careca praticara improbidade administrativa durante seu mandato o que possibilitaria a sua candidatura a prefeito, com isso, se daria a cisão entre os dois e que facilitaria consequentemente na eleição de Ademar pela divisão dos votos.
Como já foi dito anteriormente que o parlamento limoeirense durante a gestão de Dilmar teve uma atuação inteiramente fisiológica, este não encontrou dificuldades em direcionar os vereadores de sua bancada a absolverem o Careca das acusações do TCM.
Uma vez inocentado, o Careca não hesitou em selar a sua candidatura e convidou para companheiro de chapa o vereador Sebastião Maia de Andrade, outro analfabeto, formando, por assim dizer, uma dupla de cascas-grossas.
Estava então consolidado o racha entre Careca e Pedro Julião.
Depois de ver frustrada a pretensão de sair candidato com o apoio do ex-prefeito e confiante de que seria bem votado principalmente vinculando o seu nome aos mais de 11 mil votos recebidos em 1990 na campanha para deputado, Julião achou-se também com direito a um pedaço do bolo.

O PT desta vez aliou-se à Julião, novamente fazendo coligação, com a alegação que precisava eleger pelo menos um vereador.


Com a campanha nas ruas, os três candidatos, Ademar, Careca e Julião, disputavam os votos com a desconfiança do eleitor, cismado com as negociações feitas e também por não aparecer nem um fato novo.
Os palanques se transformaram em verdadeiras arenas na troca de farpas e acusações e os candidatos e seus partidários se engalfinhavam com disparos mútuos de agressões verbais se acusando entre si, em vez de apresentarem propostas de trabalho e seriedade.
O que mais deixava o povo boquiaberto era a clareza com que defendiam aquilo que somente lhes interessavam, sem pensar em nenhum momento no povo e no município numa demonstração de que cada um queria ter superioridade sobre os outros e como se sabe há poucos anos estavam todos no mesmo palanque, trocando em vez de agressões, deslavados elogios entre eles.
Nos vértices desse triângulo, os três candidatos procuravam tirar proveito, cada um deles fazendo-se de vítima um do outro, principalmente Julião que se sentia duplamente traído: uma por Dilmar e outra pelo Careca.
Já a turma de Dilmar, afora a enganosa mensagem de modernidade, proclamava ter sido necessário cortar os laços políticos com aqueles que se diziam vítimas e naquele instante, Limoeiro precisava continuar no caminho do desenvolvimento.
Toda a classe política estava dividida entre os três candidatos, visto que as candidaturas eram resultados da implosão do grupão inicialmente liderado pelo Careca.
Vereadores e candidatos a vereador também se exaltavam em seus discursos. Alguns deles comprometidos tanto de um lado quanto do outro, tentavam camuflar uma imagem de seriedade.
Alguns pronunciamentos eram estarrecedores. O vereador Elias Correia, por exemplo, gritava no microfone do palanque do Careca com voz irritante e linguagem desengonçada de que havia sido traído por Dilmar e por isso não estava do seu lado naquela eleição. Alegava ter-lhe sido fiel durante todo o mandato, a ponto de votar toda e qualquer matéria que o prefeito mandasse para a câmara, dispensando totalmente a discussão, dizendo o seguinte: “se fosse matéria do prefeito Dilmar, eu não queria nem saber, era só assinar embaixo”. Com esses dizeres, o vereador Elias declarava publicamente que para ele o que importava era a amizade com o prefeito em vez de cumprir suas verdadeiras obrigações parlamentares, preservando unicamente sua condição de aliado do chefe do executivo.
O mais complacente de todos naquela campanha foi o prefeito Dilmar. Seguindo o seu estilo de não agravar ninguém, deixava essa tarefa para os seus seguidores, que a executavam perfeitamente sob a sua orientação.
A grande metralhadora verbal era o deputado Paulo Duarte usando o linguajar digno de um policial não poupava nenhum dos dois palanques.
Ironicamente e como uma verdadeira afronta à fé cristã, sempre nos finais de cada comício de Ademar, era tocada no som para acompanhamento dos presentes, a Oração de São Francisco, onde o animador incentivava a plateia para se dar as mãos e, unida numa mesma fé, pedisse aos céus que Ademar Celedônio fosse eleito para a redenção de Limoeiro do Norte.
Houve ainda em torno da candidatura de Ademar uma forte propaganda na divulgação de um slogan até certo ponto provocador, intitulado de “arroche o nó” massificado através da voz do radialista Djalma Freire. O slogan sugeria um aperto para os outros candidatos insinuando que o grupo que apoiava Ademar era o único com condições de apertar cada vez mais a situação dos adversários.
Terminada a eleição, Ademar (8.767 votos - 37%)  foi eleito, frustrando Julião (7.476 votos - 32%) e Careca (6.861 votos - 29%), porém certos de que se tivessem caminhado juntos seriam imbatíveis, mesmo sem apoio da prefeitura.

Também se elegeram os seguintes vereadores:

1. Antônio Mauro da Costa
2. Antônio Conrado Maia
3. Carlos Marcos de Sousa Nunes
4. Elias Correia Lima
5. Francisco Mauricio Rodrigues
6. Jose Arimatéia de Brito
7. José Cirineu Maia
8. Jose Gilvan de Moura
9. José Marcos Castro Coelho
10. Jose Ribeiro da Costa
11. Jose Valdir da Silva
12. Lucia Baltazar Costa
13. Maria Izalta Carlos Moura
14. Maria Salomé Nunes de Andrade
15. Raimundo Nauto de Oliveira
16. Raimundo Nonato da Costa
17. Raimundo Valdi Chaves
18. Francisco Valdo Freitas de Lemos
19. Vicente de Paula Nogueira

As hostilidades na família “Bandeira” que ensejaram as candidaturas do Julão e Gladstone possibilitaram a vitória de Ademar como planejara Paulo Duarte.

*************

Se o poder emana do povo e deverá ser exercido em seu nome e para o seu bem através dos eleitos como definição de DEMOCRACIA, em parte, condiz com a verdade. Todo o poder emana do povo: em Limoeiro isso não é diferente já que “democraticamente” os representantes são escolhidos através do voto; e em seu nome será exercido: essa segunda parte é que complica, pois o que se vê é um jogo de interesses e o poder nunca sendo exercido realmente em nome do povo.
O grande interesse para que Ademar realmente fosse eleito por parte daqueles que patrocinavam sua campanha, ficou evidenciado pelo volume de dinheiro investido na sua candidatura. Só para servir de exemplo, se tem notícia de pelo menos dois sacos, de razoável tamanho, ter chegado à casa de sua mãe na Rua Professor Ricarte, cheios de cédulas para gastos da campanha. O incrível é que a origem daquele dinheiro certamente vinha da prefeitura e a grande certeza: o ônus da campanha foi repassado para o povo, que novamente pagou muito caro pelo resultado de mais uma eleição.
O uso da Oração de São Francisco nos comícios, além de ultrapassar os limites do bom senso, conspurcava um dos mais belos e impressionantes textos da cristandade e tudo sob a ovação de uma plateia desinformada e completamente iludida.
Se pararmos para analisar o desenrolar da campanha de 1992, vamos indubitavelmente chegar curiosamente aos termos de uma pergunta interessante: por que Paulo Duarte impôs o nome de Ademar Celedônio para candidato? Presumimos que em sendo Ademar uma pessoa de personalidade volúvel, sendo inclusive um ex-alcoólatra e ainda por fazer política de maneira puramente clientelista o que lhe garantia uma boa dosagem de aceitação do eleitorado, na visão de Paulão seria um administrador perfeitamente manobrável e fácil de ser induzido a qualquer coisa.
Com esses dados, podemos supor que naquele momento Paulão tencionava implantar em Limoeiro uma espécie de política ortodoxa e radical onde ele fosse a figura principal e paradoxalmente repassava para o povo a imagem de que era um político moderno, honesto e carismático.
Diante dos fatos que aconteceram durante as conversações e ao impor Ademar como candidato, Paulão não se esqueceu de fazer algumas exigências que deveriam ser cumpridas durante o mandato caso fosse eleito. Uma delas, senão a principal, era dispor da máquina administrativa no apoio para eleição de Deputado Estadual em 1994 e a sucessão na prefeitura em 1996.
A verdade é que se Careca e Julião não estivessem divididos, seriam imbatíveis, entretanto, cada um somente pensou em si próprio, o que viabilizou sem nenhuma dúvida a eleição de Ademar.
A propósito, naquela época apareceu um poeta Limoeirense com o nome estranho de Gomide Lima Oeriô, se identificando como Amigo de Limoeiro e retratando muito bem aquele momento em que os políticos brigavam e se juntavam com facilidade, escreveu essa estrofe:

Nessa roleta de nome
Não dar mais para jogar.
Corre a bola, a bola some.
De Careca pra Dilmar,
E pra maior confusão
Veio um tal de Julião
E deu o gol pra Ademar.