O VICE-PREFEITO JOÃO DILMAR chegou ao cargo público pelo caminho que muitos gostariam de chegar, ou seja, recebeu de presente a cadeira de vice-prefeito sem mover uma palha e ainda sem nenhuma representatividade legitimamente popular, com o mérito apenas de pertencer a uma família que deveu total fidelidade a Manoel de Castro, razão pela qual tornou-se afilhado político de dona Osmira que o indicou no pleito de 1982.
Na qualidade de vice-prefeito permaneceu durante todos os seis anos de gestão, totalmente obediente ao Careca para não perder o apoio da máquina administrativa nas eleições que adviriam na qual pretendia ser candidato.
Mostrando-se simpático aos olhos do povo sentiu que tinha condições de conquistar parte do eleitorado esboçando apenas um sorrido fácil, certo de que o povão se inclina a valorizar muito mais a aparência do que conteúdo. Percebeu tambem que o eleitor adora tapinhas nas costas e gosta de ser notado, razão pela qual nunca deixou de cumprimentar quem quer que fosse até mesmo um adversário, absorvendo assim, uma boa dosagem de popularidade.
Ao aproximar-se a eleição de 1988, o Careca estava no seu auge com uma aceitação nunca alcançada por um político limoeirense e sendo considerado pela massa o prefeito mais competente e o administrador público mais eficiente dentre todos os que passaram pela prefeitura, além do mais, mostrava-se completamente imbatível naquela eleição. Obviamente, se fosse por ele, jamais a prefeitura seria entregue a outra pessoa, porém, sabendo ser impossível até mesmo a possibilidade de poder passá-la a um parente próximo, pensou em transferi-la para um elemento que mostrasse ser de sua inteira confiança, na pretensão de continuar de certo modo com o seu controle.
O nome de Dr. João Dilmar no seu entender se encaixava mais ou menos dentro do perfil do que ele imaginava para seu sucessor, levando em consideração de que Dilmar passou o tempo todo sem contestar qualquer dos seus atos e obedecendo cegamente as suas orientações.
Tanta certeza tinha o Careca de que Dilmar não passava de um fracote, que muitas vezes quando a ele se referia o chamava de “garotão” ou “meninão”, insinuando que o mesmo não tinha capacidade para administrar o município, portanto apostar no seu fracasso como administrador poderia lhe render muito politicamente no futuro.
Diante disso e acreditando que Dilmar seria inteiramente manobrável e tambem para cumprir um pressuposto acordo para a eleição que o fez prefeito, pretendendo ainda continuar usufruindo e controlando a prefeitura, o Careca estabeleceu algumas exigências e uma delas era permitir que seus filhos continuassem exercendo os importantes cargos na administração.
Certamente trilhando o adágio popular de que “se apanha moscas com mel e não com vinagre” e no seu estilo de com tudo concordar, Dilmar aceitou essa exigência além das outras, convencendo o Careca de que em sendo eleito atenderia as cláusulas do acordo.
O Careca exigiu ainda que o candidato a vice-prefeito fosse por indicação sua e colocou o seu primo Pedro Julião, outra figura no seu entender domesticável e de fácil comando.
Tão grande era a popularidade do Careca naquele momento que muitos imaginavam não haver quem tivesse a coragem de concorrer com aquele que fosse apoiado por ele, mas o que se viu foi o surgimento de nada menos do que mais quatro concorrentes.
Para manter representação municipal, a oposição em nome dos partidos PDT/PT/PSB, lançou o nome de José Orismilde Moura (PDT) fazendo chapa com Carlos Adalberto Celedônio (PT). É bom lembrar, que mesmo com a pouquíssima vantagem em relação às outras candidaturas a coligação oposicionista conseguiu realizar um comício na Praça da Catedral, onde o número de pessoas presentes foi surpreendente, levando-se em conta o tamanho dos partidos que compunham aquela aliança e as forças políticas adversárias.
Voltou ao cenário político, tentando testar a aceitação do seu nome vinculando-o à eleição passada, Wilson Craveiro Holanda, tendo como vice o professor Arnóbio Santiago, neto do ex-prefeito Sabino Roberto.
Tambem se lançou candidato Sebastião Maia de Andrade juntamente com Wilson Estácio Filho.
Por fim, apareceu o nome da vereadora Rita Peixoto juntamente com o Dr. Reuber, se apresentando como aquela chapa que reunia melhores condições para combater o poderio e a popularidade do Careca.
Quando a campanha chegou às ruas, notou-se de forma evidente a superioridade do grupo da prefeitura sobre todos os outros.
A campanha iniciou-se visivelmente desigual: de um lado, algumas representações tentando dar ao eleitor uma opção diferente e do outro um grupo fortemente equipado com um palanque sustentado pelo dinheiro do próprio povo.
Foi a partir daquela eleição que teve início as contratações de conjuntos musicais e artistas diversos para atrair gente para os comícios, – os denominados showmícios – nos fazendo crer que os candidatos já não acreditavam tanto em suas próprias mensagens.
Muito embora existindo graves suspeitas sobre os desmandos administrativos, o Careca, com seu linguajar distorcido de analfabeto gritava nos microfones do seu palanque como sendo o melhor de todos, mostrando uma superioridade esmagadora e imbatível. Arrogantemente, se autodenominava o político de maior peso eleitoral, arrotando prepotência e dizendo que: “ninguém era mais do que ele e nem nunca seria”.
Já o seu candidato, João Dilmar da Silva, um verdadeiro fracasso em termos de oratória, através de um mal engendrado, fastidioso e inopioso discurso, elogiava e colocava acima de tudo e de todos o nome do Careca, numa demonstração de total reverência, exaltando suas qualidades de grande líder e administrador.
Mesmo com a certeza visível diante de uma vitória histórica em termos de maioria de votos, o palanque da prefeitura não poupava os deboches, chacotas e escárnios sobre a vereadora Rita Peixoto, quando teve o seu nome difamado impiedosamente, espalhando dúvidas inclusive sobre sua feminilidade e fidelidade ao seu marido, ainda mais quando em um de seus pronunciamentos, assimilou o número “11” do cavalo no jogo do bicho com o “11” do seu adversário. Por isso foi revidada com uma resposta de duplo sentido, quando passaram a lhe tratar como uma “égua”, que iria ficar sempre debaixo do cavalo. Além disso, teve que enfrentar a sociedade machista pela sua condição de mulher.
Uma das bandeiras da campanha de Rita era tentar convencer a população de que o candidato do Careca, sequer tinha residência fixa em Limoeiro do Norte, revelando para o povo que o seu endereço era em Fortaleza e era de lá que pretendia administrar o município.
Imaginando ainda que estivesse contando com o apoio do governador Tasso Jereissati, Rita Peixoto promoveu um comício que foi marcado para ter início às oito horas da manhã de uma quarta-feira, na praça da Catedral. Para o desagrado dos que faziam a sua campanha e para a satisfação dos adversários, Tasso Jereissati chegou quando já passava do meio dia, onde uma multidão sob um sol abrasador o aguardava e ao chegar, foi vaiado pelos seguidores de Dilmar. No palanque, Tasso se pronunciou friamente, talvez porque já soubesse através de pesquisas que Rita estava derrotada, mesmo assim, tentou emocionar aos presentes, querendo passar para a multidão que estava ali com o mais alto espírito democrático e referindo-se aos adversários citou a frase célebre atribuída a Voltaire: "Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la”.
Mesmo com a vinda de Tasso, nada impediu que Rita fosse fragorosamente derrotada, conseguindo apenas 24% dos votos contra 53% de Dilmar.[1] Aquela maioria esmagadora confirmou a força do Careca e que sem ela, Dilmar jamais teria conseguido ser tão bem votado.
Mas todo aquele espetáculo, sobretudo do palanque oficial, vivenciado e aplaudido por uma massa completamente desinformada, não passou de um espetacular cenário de fingimento, comprovado pelo rompimento entre Careca e Dilmar logo após a eleição.
Foi com aquela eleição que a situação política de Limoeiro do Norte tendeu a se agravar cada vez mais e doravante vamos ver que as ambições pessoais, as brigas e as futricas se intensificaram entre os que se diziam representantes do povo.
Outro fato digno de registro naquela eleição foi a candidatura a vereador de Joaquim Firmino Neto mais conhecido por Joaquim Louro. Diante das figuras inexpressivas que se apresentavam nos palanques, Joaquim Louro destacava-se pela forma como se dirigia ao povo com um discurso grotesco e extremamente ridículo para um candidato, que em pouca coisa se diferenciava do Careca e até mesmo do candidato Dilmar. Todavia, como uma resposta para a esculhambação que ora se apresentava e pela falta de propostas dos candidatos a vereador e do descrédito dos eleitores no poder legislativo municipal, Joaquim Louro passou a ser o candidato mais ovacionado de todos colocando a sua candidatura em um surpreendente crescimento. Essa expressão “inconsciente” do povo causou uma enorme ciumeira nos outros candidatos, sobretudo quando sentiram que as manifestações eram verdadeiras e que Joaquim Louro poderia ser o vereador mais votado do município. Passaram então a perseguir os votos que poderiam ser dele e no final das contas, Joaquim Louro que já tinha a sua eleição como favas contadas alcançou apenas uma distante suplência com os 245 votos conseguidos.
A Câmara ficou assim constituída:
1. Ademar Celedonio Guimarães
2. Antônio Conrado Maia
3. Antônio Moura da Costa
4. Antônio Pergentino Nunes
5. Carlos Marcos de Souza Nunes
6. Elias Correia Lima
7. Francisco Assis de Freitas
8. Francisco Mauricio Rodrigues
9. Francisco Rodrigues Neto
10. Gaudencio Roque do Carmo
11. José Maria de Andrade
12. José Valce de Castro Moura
13. Marcos Coelho
14. Maury Oliveira Freitas
15. Raimundo Nauto de Oliveira
16. Raimundo Nonato da Costa
17. Raimundo Nonato de Moura
18. Raimundo Valdi Chaves
19. Rufino Rubio Vieira e Silva
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A derrota de Rita Peixoto demonstrou toda a força do Careca naquele momento, e indiscutivelmente, teria elegido qualquer nome que fosse por ele apoiado. Tambem deixou bastante claro como se processavam as campanhas políticas em Limoeiro, percebendo-se que as personagens daquele jogo integravam o mesmo grupo. Em 1982, Rita Peixoto foi uma fortíssima aliada do Careca e acredita-se que sem o seu apoio, a eleição teria sido ainda mais difícil.
Naquela campanha, Rita e Laurinho estavam de tal maneira engajados na eleição do Careca, que montaram até um trio elétrico – novidade na época – e Rita, então candidata a vereadora, percorria festivamente as ruas da cidade. Nesse caso, tambem fizeram parte da política limoeirense nos mesmos moldes de todos os outros, sem moral, portanto para romperem de forma confiável perante o povo.
Aliás, a família Freitas Peixoto, através de Laurinho, irmão de José Hamilton, foi sempre aliada de Manoel de Castro, portanto tambem beneficiada com os cargos públicos com os quais Castro costumava distribuir entre seus seguidores.
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Nesse ano começou a atuação política do Partido dos Trabalhadores em Limoeiro do Norte. Fundado no ano de 1985, o que poderia ser uma agremiação para agregar os insatisfeitos com o sistema, transformou-se no decorrer do tempo em um partido de aluguel, emprestando sua marca, cada vez mais forte sob os reflexos do próprio partido nacional e mesmo testemunhando a evidência de que tenderia a crescer a partir de então, sempre esteve do lado do sistema, costurando acordos e alianças, muitos desses acordos, feitos de forma desnecessária e inexplicável.
Vamos ver que em todas as eleições, o Partido dos Trabalhadores nunca se preocupou com o seu próprio crescimento. Em momento algum, seus componentes maiores, se preocuparam em transformar a sigla numa luta forte, oposicionista, capaz de combater o sistema cruel que estava implantado no município. Mas foi contrariando os princípios pelos quais se estabelecia a luta nacional, que os petistas limoeirenses, deixaram propositadamente, que o partido significasse apenas uma agremiação familiar, expurgando dele qualquer elemento que se apresentasse com condições de mudar esse rumo de conchavos e acordos os quais sempre foram marcas na história do partido.
Como prova de que desde o início o PT sempre foi um partido sem compromissos com os seus verdadeiros objetivos, naquela campanha (1988) em que figuravam os candidatos José Orismilde e Carlinhos Celedônio, alguns companheiros afirmaram logo após a eleição, categoricamente, que os petistas, sobretudo os seus dirigentes, votaram não no candidato da coligação, mas sim no candidato da prefeitura, numa total falta de respeito para com aqueles que se engajaram na campanha contra o poder reinante no município.
Essa atitude, já começava a revelar qual o caminho que o PT seguiria a partir daquele momento. Durante todo o decorrer da história, vamos ver que nunca teve a coragem de lançar candidaturas do próprio partido, mas sim participando de coligações, nas quais o que interessava a seus dirigentes era apenas garantir a eleição de um representante da Câmara Municipal além de alguns diferenciados cargos públicos.
Elegeu-se nesse mesmo ano (1988), o vereador Marcos Coelho, que antes de conseguir o mandato, mostrava-se um autêntico político de esquerda, mas – até para comprovar sua identificação com os dirigentes petistas – não passou de um vereador de mandato apagado, e muito mais, rapidamente engajou-se no sistema reinante, tornando-se aliado dele.
Tambem naquele ano, surgiu em Limoeiro do Norte, uma das figuras mais polêmicas da radiodifusão limoeirense. Vindo dos seringais da Amazônia assumiu os microfones da Rádio Educadora Jaguaribana o controvertido radialista Nicanor Linhares Batista, que em breve se transformaria em um mito em toda região jaguaribana e que viria influenciar contundentemente na política limoeirense.
Com o respaldo do proprietário da emissora, Nicanor começou a direcionar suas críticas aos políticos sem poupar a nenhum deles.
Utilizava o poder da mídia para incentivar desavenças entre políticos conseguindo com isso, fazer vezes de mediador.
Venerado não pelas suas qualidades como profissional do rádio exatamente, mas porque tinham medo da sua língua, todos os políticos limoeirenses – e até alguns do Estado – faziam questão de estar com ele de braços e abraços, quando estabeleciam um jogo de cumplicidades.
Em pouco tempo de rádio Nicanor aumentou consideravelmente o seu patrimônio, tornando-se um homem rico à custa dos níveis altíssimos de audiência, estimando-se que falava para 300 mil pessoas em toda região jaguaribana no horário pico do meio dia.
A propósito, é oportuno o momento para comentarmos um pouco sobre o papel e a função do rádio no trabalho de informar a sociedade. No caso de Limoeiro do Norte as duas mais importantes emissoras de rádio, têm suas histórias[2] de uma prestação de relevante serviço social. Com o passar do tempo, as rádios deixaram de ter importância sumamente social e passaram a ser objeto de faturamento. Em primeiro lugar os antigos donos, sem nenhum compromisso com o trabalho informativo das emissoras e não querendo assumir a responsabilidade de bem administrar, as “venderam” para não limoeirenses, estes comprometidos apenas com o alto faturamento a qualquer custo.
Não restam dúvidas que Nicanor Linhares foi peça fundamental nessa radical mudança na prestação de serviço das emissoras limoeirenses e podemos afirmar que com a sua chegada a radiofonia jaguaribana passou a ter outra história. Com a implantação de programas políticos e que tinha como finalidade faturar cada vez mais, Nicanor acendeu cifrões nas pupilas não só dos proprietários, mas tambem dos outros profissionais do rádio, quando passaram a sentir uma espécie de inveja, o vendo enriquecer tão rapidamente. Impressionados com a facilidade com que Nicanor aumentava os números em sua conta bancária, muitos decidiram se espelhar na sua forma de trabalho, criando um vício falar sobre política em todos os horários. Enquanto isso, os programas populares, ou seja, os tão necessários programas musicais deixaram de ser importantes, posto que, com eles o faturamento além de menor era lento e isso não interessava nem aos maus profissionais e muito menos aos donos das emissoras.
[1]Fonte: http://www.tre-ce.gov.br/tre/eleicoes - Em 22.10.2002
[2] A Rádio Vale de Jaguaribe foi instalada em 21/01/1956 e a Rádio Educadora em 18/03/1962.
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