quarta-feira, 17 de setembro de 2025

CAPITULO XXVI - ARIVAN – A PRIMEIRA MULHER A ADMINISTRAR LIMOEIRO

“...a melhor fortaleza que possa existir é o não ser odiado pelo povo: mesmo que tenham fortificações elas de nada valem se o povo te odeia.”  Maquiavel

NO PRIMEIRO DIA do ano de 2001 Arivan Lucena tomou posse com o privilégio de ser a primeira mulher a assumir a chefia do executivo municipal. Sua maior incumbência era afastar da administração um grupo que se formou em 1982, viciado em rotineiros e defeituosos costumes políticos.
Chegou à prefeitura com a confiança dos limoeirenses, crentes de que finalmente depois de tantos anos, Limoeiro do Norte iria ter uma administração séria e honesta em todos os pontos de vista.
O que ninguém contava era que Arivan causasse grandes decepções na tomada das decisões ao adotar atitudes contrárias aos compromissos assumidos em campanha.
Começou a demonstrar desde muito cedo, até mesmo antes de assumir, que não seria nada daquilo que se proclamava nos palanques, deixando transparecer que pouco se lixava para o que havia proposto fazer em termos de administração participativa, democrática e transparente.
As suas primeiras manifestações de arrogância fizeram com que o povo também percebesse que o
Desembargador José Maria Lucena demonstrasse logo, logo, ser inteiramente manobrável por ela.
Numa verdadeira demonstração de prepotência e também de inexperiência política, começou a agir como se o cargo de prefeita lhe autorizasse a mandar e desmandar como bem entendesse.
Implantou um governo inteiramente totalitário, altamente centralizador e ditatorial, superando inclusive o Careca, principalmente em não admitir por hipótese alguma que suas ideias fossem contestadas ou discutidas, bem como não acatando sugestões de quem quer que fosse.
Mesmo assim, administrativamente, conseguiu superar os seus adversários, tratando com respeito o dinheiro do povo, muito embora não tenha cumprido a promessa de fazer chegar a todos os limoeirenses o resultado das contas públicas, dando conhecimento do quanto a prefeitura arrecadava e do quanto gastava. Alegava que as contas municipais eram divulgadas através da Internet e do Diário Oficial do Município (de circulação mensal), esquecendo, porém, que aquela forma de divulgação não atingia a grande maioria da população e como nos outros governos o povo continuou sem saber quanto recebia e quanto gastava o município.
Como feitos positivos, pagou religiosamente aos servidores, inclusive a gratificação do 13º Salário, coisa que nenhum dos administradores passados havia feito. Priorizou algumas obras que considerava importante, entre colégios, quadra de esportes, etc.
Ao reformar a Praça José Osterne, teve que enfrentar efusivas críticas dos opositores, por fazer em vez de uma praça, um largo (calçadão) desde a igreja matriz até o mercado público. Entre as críticas sobre a “reforma” da praça e a mais contundente era alertar de como iria ficar o trânsito da cidade, levando-se em conta que Raimundo de Castro durante seu governo (1967- 1970), ao rasgar aquela praça ao meio, diminuindo inclusive o secular patamar da Catedral, tinha como objetivo principal melhorar o trânsito no centro da cidade. O que não se compreendia, era fechar novamente a praça e interromper novamente o trânsito, que sem dúvidas estava muito maior do que aquele de há trinta anos. Mas Arivan – como era de seu feitio – não deu atenção para isso e construiu a praça do jeito que quis, sem dar atenção a outro projeto já existente e que não prejudicaria tanto o trânsito, razão pela qual foi tão criticada. 
Na verdade deixou de ser uma praça e passou a ser UM LARGO, que sai de onde era a Praça José Osterne, se estende pela Travessa Lucas Carneiro e finaliza no prédio onde era o Antigo Mercado Público, substituindo, inclusive, a histórica e centenária calçada de pedras daquele que foi o primeiro prédio público de Limoeiro do Norte.
A obra custou ainda o sacrifício de algumas árvores ali existentes. Por ordem da própria prefeita, foram todas tombadas ao chão, escapando da sua fúria, o oitizeiro(*), que ainda teve a sua sentença de morte decretada, mas antes de sofrer as cutiladas, menos dos machados e mais da sanha depredadora de prefeita, a população mobilizou-se numa campanha de rádio, para que a belíssima árvore fosse preservada. Prevaleceu a vontade popular, contrariando a chefe do executivo, que não era muito afeita em concordar com o povo.
(*) O belo oitizeiro não se tem a data exata de quando germinou na praça nem quem o plantou, mas sabe-se que cresceu e continua até hoje, fornecendo sombra e abrigo com sua vasta folhagem aos limoeirenses. Seria uma ignorância extrema, tirá-lo dali, ainda que se encontrasse uma “justificativa” que pudesse explicar a sua morte
Mesma sorte não teve a malfadada mangueira que existia ao lado do Antigo Hotel Municipal (Secretaria de educação). A pobre árvore, não teve tempo de ser defendida. Quando a população soube da sua morte, já era tarde demais.

O mandato de Arivan foi marcado inteiramente pela intransigência da câmara de vereadores que tentava a todo custo, através de alguns parlamentares, desestabilizar o seu governo. Além disso, se criou entre vereadores, líderes políticos e prefeita, um profundo ódio e que foi repassado para a população.
Todo aquele clima de intrigas entre Arivan, Dr. José Maria e os seus adversários, contava com o incentivo de Nicanor Linhares, através da Rádio Vale do Jaguaribe, que encetou uma fortíssima campanha contra a tudo que viesse da administração municipal. Além disso, veiculava pela rádio músicas de duplo sentido, debochando do casal, insinuando, inclusive, sobre suas vidas particulares.

É conveniente agora que passemos a enumerar alguns casos durante a gestão de Arivan para que compreendamos melhor como tudo transcorreu.

1. Escolha do Secretariado

Ao anunciar o seu secretariado, causou a primeira decepção quando nomeou para o primeiro escalão, pessoas reconhecidamente “de dentro de sua cozinha” gerando assim uma espécie de desconfiança quanto aos nomes indicados, ressalvando-se os Secretários de Saúde, Dr. Ranalfo, da Cultura, Tárcio Pinheiro e de Urbanismo e Meio Ambiente, o vice-prefeito Laurinho, nomeados contra a sua vontade e apenas para não declarar, logo, o rompimento antes que assumisse com aqueles que ajudaram a lhe eleger.
Dentre os nomes que mais causaram estranheza quando de suas nomeações, muito embora tenham participado da campanha, foram os de Edílson Santiago para Secretário de Finanças e Pedro Jaime para Chefe do Cerimonial, ambos oriundos do sistema político que fora derrotado, além de serem considerados “ratos de prefeitura”, ou seja: do tipo que serve a todos os prefeitos, independentemente de quem seja o chefe do executivo, com a desculpa de quem diz: “eu não tenho culpa de mudar de prefeito de quatro em quatro anos”.
Contrariando os discursos de campanha e principalmente quando se comprometeu banir os maus políticos do cenário limoeirense, além da promessa de estabelecer uma ruptura com o modelo administrativo vigente, Arivan, propositadamente, tão logo assumiu, tratou de criar divergências entre aqueles secretários que haviam sido nomeados por conveniência e não por vontade sua. Com isso, em menos de um mês o Secretário de Cultura Tárcio Pinheiro pediu exoneração e da mesma forma agindo o Secretário de Saúde Dr. Ranalfo em menos de dois meses, ambos alegando o desprezo por parte da prefeita e a falta de apoio ao trabalho que gostariam de fazer em suas respectivas secretarias. As demissões – a pedido dos mesmos – deixaram a prefeita por demais satisfeita, isso porque, a partir dali, poderia nomear os nomes do seu gosto.
Antes de completar quatro meses de administração exonerou o vice-prefeito Laurinho do cargo de Secretário de Urbanismo e Meio Ambiente, isso, somente depois de constatar que o mesmo resistiria a todas as pressões sem pedir exoneração do cargo, ao contrário do que fizeram Dr. Ranalfo e Tárcio Pinheiro. Aliás, essa foi uma de suas características em todo o seu governo: não exonerar ninguém, mas propositadamente criava situações, forçando o pedido de exoneração.

2. Relações com Câmara Municipal

Nos primeiros dias de governo deu outra mostra de arrogância no momento em que recebeu uma comissão composta de vereadores, decidida a fazer uma visita ao seu gabinete para propor um relacionamento de harmonia entre executivo e legislativo. Decepcionaram-se com a postura da prefeita quando se dirigiu a eles afirmando arrogantemente: “não preciso de vereador para administrar o município. Façam o trabalho de vocês que o meu eu sei fazer”. Nesse caso, podemos compreender a sua atitude como acertada, visto que, a visita dos vereadores tinha a intenção escusa de dar continuidade à relação promiscua entre executivo e legislativo, o que era uma prática em todas as administrações, sobretudo a partir de 1982.
Quando já se previa um relacionamento difícil entre Executivo e Legislativo, a partir daquele momento criou-se, ainda mais, um clima de hostilidades entre os dois poderes fazendo com que Limoeiro do Norte conhecesse uma onda de turbulência política nunca vista na sua história.
Ao subestimar o poder legislativo, considerando os vereadores elementos sem a menor importância, passou a sofrer por partes destes fortes represálias e a tribuna da Câmara transformou-se em um palco de pronunciamentos contundentes e inflamados contra a sua administração.

Um dos seus mais ferrenhos adversários e críticos era o vereador Marduque Duarte, que por vezes, discursava de maneira irresponsável e esdrúxula, fazendo questão de acirrar cada vez mais as intrigas bem como aprofundar as hostilidades entre a prefeita e o seu irmão Deputado Paulo Duarte.
A maioria dos pronunciamentos do vereador Marduque Duarte sugeria a cassação do mandato da prefeita, sabendo que essa ideia agradava aos insatisfeitos com a forma de agir da chefe do executivo. Mas o único objetivo era somente jogar as suas palavras de encontro ao desagrado popular com relação à administração municipal e com fins meramente politiqueiros, posto que, em conversas informais dizia não ter o menor interesse na cassação.
Marduque, de forma intencional, tentava passar para a população que as suas intenções eram as melhores possíveis, entretanto o objetivo era o de responsabilizar a prefeita por tudo de ruim que acontecia no município, querendo dizer que antes de Arivan Limoeiro era um paraíso, como se os maiores problemas não fossem meras consequências das atuações de alguns políticos que a antecederam, inclusive o seu irmão. Para corroborar com essa afirmação, vejamos um trecho de uma entrevista do vereador concedida ao site rumbora em 2003:
“Vejo que vivenciamos um momento impar na política limoeirense, onde a vida humana está valendo menos do que a política partidária, onde o acirramento natural de campanhas eleitorais transformou-se em ódio, rancor, perseguição por parte daqueles que fazem a administração municipal. Vejo também que alguns homens públicos que deveriam ter um papel mais atuante e corajoso, simplesmente ficam escondidos dentro de suas covardias e esperando um momento propício para começarem novamente a enganar o povo”. (http://www.rumbora.com.br/entrevista/marduque.php4 - Em 12.11.2003)
As divergências entre os dois poderes levaram a medidas extremas por parte da prefeita. Em vez de reconhecer a câmara como uma instituição importante no diálogo democrático, subestimou cada vez mais aquele poder, editando Medida Provisória com a qual passaria a administrar. De tão absurda, a atitude mereceu um pequeno comentário da Revista Istoé, quando escreveu:
“Se a moda pega... Prefeita da cidadezinha cearense de Limoeiro do Norte dona Ariovan Lucena resolveu radicalizar. Sem apoio da Câmara de Vereadores e sem ter como pagar a folha de funcionários, há dez dias governa o município com base em medida provisória que ela mesma editou. Sua assessoria jurídica jura que pode. Mas não se sabe de nenhum caso no Brasil” (Coluna Fax Brasília, Revista Istoé n.º 1715, de 15/08/2002.)
3. “A derrubada do Muro de Nicanor”

Comprou uma briga com seu inimigo figadal Nicanor Linhares, quando determinou que a máquina da prefeitura derrubasse um muro de sua residência, que avançava ilegalmente a rua. O caso, que ficou conhecido como “a derrubada do muro de Nicanor”, atiçou ainda mais a tão complicada intriga que se arrastava desde a campanha e agora tendia a se agravar cada vez mais.
Ninguém deixou de perceber com o episódio do muro, que a determinação da prefeita demonstrava uma briga pessoal, sobretudo porque aquele muro não era o único a descumprir a Lei de Postura do Município e ainda mais, porque Nicanor tinha em mãos uma liminar da justiça, assegurando que o caso estava sub judice não podendo ser derrubado até que fosse julgado.
Depois disso, sentindo-se profundamente desmoralizado, Nicanor tratou de acirrar cada vez mais a intriga quando estabeleceu uma verdadeira guerra com o executivo municipal, e utilizando os microfones da rádio, passou a tratar a prefeita com um deslavado deboche, denegrindo a sua imagem pública bem como insinuando coisas sobre sua vida pessoal e do seu marido, através de músicas de duplo sentido dirigidas ao casal, sendo por isso aplaudido por uns e recriminado por outros.
A partir dali, selou-se a grande e prejudicial briga entre a Rádio Vale do Jaguaribe e a prefeitura e as futricas e fofocas tanto de um lado quanto do outro, tomaram o lugar do bom senso e do interesse do povo que assistia estupefato todo aquele festival de baixarias que alimentava o ódio entre os grupos políticos rivais e, por conseguinte, dividindo a população.
Não tardou para que os adversários da administração se aliassem a Nicanor para junto com ele enxovalhar os nomes da prefeita e do seu esposo aproveitando-se da insatisfação popular com relação à administração, acrescentado a isso a aversão da população ao casal.
A peça fundamental na urdidura de toda a intriga e sem ela, nenhum deles iria a lugar nenhum, foi a Rádio Vale do Jaguaribe, transformada em um palanque eletrônico vinte e quatro horas por dia, já antecipando discretamente nomes para a próxima eleição municipal, além de dirigir todas as reportagens e noticiários contra a administração.
As pessoas usadas por Nicanor e seus comparsas no trabalho da rádio tinham a tarefa de desmontar o trabalho da prefeita. O repórter Tom Gurgel, por exemplo, foi meticulosamente moldado para noticiar, com exageros, as falhas administrativas. Ao fazer aquele tipo de trabalho, Tom Gurgel revelava-se um verdadeiro borra-botas dos inimigos da prefeita.
Sem o menor respeito ao povo, eram levadas ao ar as mais absurdas notícias, com um único objetivo de atingir negativamente Arivan e o seu esposo. Além disso, os telefones eram abertos aos ouvintes sem nenhum critério a quem quisesse, para falar o que bem entendesse e criticar como bem desejasse.

4. A água da cidade Alta

Outra atitude de arrogância e de total ignorância política foi quando rejeitou uma verba de R$ 230.000,00, (duzentos e trinta mil reais) conseguida pelo Deputado Paulo Duarte através do Governo do Estado, destinada à construção da adutora que levaria água da sede do município para o Bairro Antonio Holanda de Oliveira (Limoeiro Alto).
Mesmo sabendo que a construção daquela obra solucionaria de uma vez por todas o gravíssimo problema de abastecimento de água daquele bairro, Arivan novamente colocou os ressentimentos pessoais acima do interesse público e não aceitou que aquele dinheiro fosse utilizado, achando ela, que se o aceitasse, estaria ajudando ao seu desafeto.
Muito embora tenha recusado a verba, também não moveu uma palha sequer para que o problema fosse resolvido e com isso, Limoeiro Alto continuou sofrendo com o péssimo abastecimento de água durante todo o seu mandato.
Prato feito para os opositores e inimigos da prefeita que passaram a tratá-la como a única responsável pela falta d’água da Cidade Alta. Depois se ficou sabendo que todo aquele bafafá feito pelo deputado Paulo Duarte em torno da rejeição da verba, não passava de mais uma de suas manobras politiqueiras, pois o dinheiro em momento algum foi liberado pelo Governo do Estado, como foi alardeado tantas vezes.
Somente no último mês de administração e com recursos próprios, construiu a citada adutora.

5. Eleição de 2002

Foi tirando proveito da incompetência política da prefeita e do ódio do qual era vítima por uma considerável parcela dos limoeirenses, que os adversários montaram uma estratégia para a campanha de 2002 (Eleições para Presidente da República, Governador, Senador, Dep. Federal, Dep. Estadual)  e pretenderam medir forças com a prefeita o seu esposo a fim de desmoralizá-los com uma votação insignificante para os candidatos por eles apoiados.
O mais interessante era que tanto a prefeita quanto os seus adversários, apoiavam o mesmo candidato a governador do Estado e por conta disso aconteceu um fato inusitado durante a campanha. Viu-se no mesmo palanque, a prefeita Arivan Lucena e os seus candidatos Bismarck Maia e Francini Guedes se posicionarem do lado esquerdo do palco, enquanto do lado direito estavam Ariosto Holanda, Paulo Duarte e João Dilmar acompanhados de Nicanor Linhares.
O fato decepcionante naquele evento foi quando Arivan ao ser anunciada, recebeu vaias em plena praça da rodoviária por pelo menos 80% dos presentes, obviamente causando um enorme contentamento aos adversários. As vaias só confirmavam a antipatia que o povo sentia por ela.
Contados os votos, o resultado final foi por demais satisfatório aos inimigos de Arivan. Paulo Duarte, que no máximo conseguia obter cinco mil votos nas eleições passadas, obteve inusitadamente 47% (12.903 votos); Ariosto Holanda, um espetacular número de 59% (17.505 votos); enquanto Bismarck Maia saiu com 13% (3.702 votos) e Francini Guedes com 8% (2.295 votos), Fonte: TRE Ceará – Em 10.02.2003. Assim, ficou demonstrada a fragilidade da prefeita ante ao eleitorado limoeirense.

6. A CPI e a cassação do mandato

Afora todas as contrariedades ao que fora defendido durante sua campanha, Arivan ainda estabeleceu na prefeitura uma onda de empreguismo muito mais contundente do que os seus antecessores, praticando justamente um dos pontos mais criticados durante a campanha. O que se viu, foi uma enxurrada de emprego dados a torto e a direito sem atentar para a legalidade.
No primeiro semestre de 2003, começaram a surgir fortíssimos boatos que a administração havia engendrado um teste seletivo, feito à revelia da Lei e de tal forma que tornasse legal o grande número de contratações. Os seus inimigos entenderam que o teste seletivo tinha como objetivo abrigar todos aqueles que foram admitidos irregularmente para torná-los servidores efetivos numa demonstração clara de que a intenção era exatamente camuflar as admissões irregulares. Não foi dada a publicidade legal para o edital do concurso, tendo sido apenas publicado no Diário Oficial do Município, sem que tenha sido feita distribuição para a população a fim de que fosse do conhecimento geral para quem quisesse participar.
Diante disso, a Câmara Municipal se propôs a instalar uma CPI para investigar o teste seletivo. O pontapé inicial foi dado quando uma senhora adepta de Arivan, na tentativa de rebater uma crítica que fazia Nicanor Linhares sobre o referido teste, caiu ingenuamente nas garras do perspicaz radialista, declarando que estava empregada na prefeitura, mas que nunca tinha feito qualquer prova de seleção, nem qualquer outro tipo de procedimento.
Gravado o depoimento daquela senhora, Nicanor – sedento de vingança, entregou a gravação aos vereadores, sendo a primeira e principal prova da ilegalidade.
Formada a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) esta chegou à conclusão de que houve realmente irregularidades e em dezembro de 2003, o vereador José Maria de Andrade, requereu a criação de uma comissão processante e para o azar da prefeita, foi sorteado como relator justamente o seu maior inimigo, vereador Marduque Duarte.
Vários depoimentos foram colhidos pela comissão constatando-se as irregularidades do teste seletivo e no dia 07 de abril de 2004, numa “quarta-feira maior”, a câmara municipal iniciou a sessão de votação do relatório. Iniciada às dezenove horas, a reunião varou a madrugada e somente por volta das seis horas da manhã do dia 08 de abril de 2004 – quinta-feira santa – é que se procedeu a votação e Arivan foi cassada por 13 votos a favor, 03 votos contra e uma abstenção, tendo atingido os 2/3 necessários.
Imediatamente, o vice-prefeito Laurinho foi convocado para assumir e em seguida empossado pela Câmara de acordo com a Lei. Entretanto, como era uma quinta-feira santa, a prefeitura estava sem expediente e mesmo com uma pequena multidão ao seu lado, Laurinho foi cauteloso em não arrombar a porta de entrada, apelando para a justiça. Solicitou do Dr. João Dantas, Juiz de Direito, autorização para adentrar no prédio e este negou o pedido alegando ser feriado e não podia autorizar, em razão do fórum também está sem expediente.
Aproveitando-se do feriado, Arivan não entregou as chaves do prédio ao vice-prefeito, enquanto já havia um movimento dos seus assessores jurídicos no sentido de devolver-lhe o mandato:
“O novo prefeito Lauro Rebouças Filho, mesmo empossado, ainda não começou a trabalhar na prefeitura, uma vez que a exprefeita não entregou as chaves do Paço Municipal. Os advogados da prefeita prometem recorrer da cassação ao Tribunal de Justiça do Estado para reintegrá-la ao cargo”. Fonte: al.ce.gov.br, 14/04/2004
E para a surpresa de todos, logo no início da noite do mesmo dia da cassação a prefeita voltou ao cargo através de uma liminar, que suspendeu os efeitos da sessão da câmara, concedida pela Juíza Maria Valdenisa de Sousa Bernardo, da 1ª Vara da Comarca de Limoeiro do Norte.
De volta à prefeitura, Arivan Lucena na segunda-feira da semana seguinte à da cassação, fez questão de juntar uma multidão de asseclas e caudatários, para se pronunciar em inflamado discurso em frente ao prédio da prefeitura, com ares mais arrogantes ainda, chamando o vice-prefeito de palhaço e zombando dos limoeirenses, como a dizer que ninguém tinha poderes mais do que ela e o seu marido.
Em seu discurso, chegou a cometer a impudência de chamar os limoeirenses de burros e tudo isso, sob uma febril ovação dos bajuladores.
Exibia constantemente e de forma zombeteira o molho de chaves da prefeitura, num gesto insolente, como quem queria dizer que ninguém as tirava de suas mãos, agindo como se fosse dona absoluta do município.
Embora tenha sido merecidamente cassada, tudo não passou de um sórdido e enganoso ato de dramatização da maioria dos vereadores, em conluio com assessores jurídicos, exceto aqueles dois ou três que realmente dignificavam o mandato e queriam realmente que ela fosse cassada. O que se sabe é que houve uma montagem verdadeiramente extraordinária. Criaram um processo defeituoso em seus trâmites, para assim, ser facilmente anulado por uma liminar.
Aqueles que tanto “defendiam” os interesses da população em seus discursos denunciando as irregularidades na administração, diziam nas conversas informais que não tinham o menor interesse que a prefeita tivesse o mandato cassado. Marduque Duarte, por exemplo, o mais contundente adversário dentro do Legislativo Municipal e na qualidade de relator da Comissão Processante, se pronunciava – sempre – condizente com o desejo da maioria da população em ver Arivan fora da prefeitura. Entretanto, para Marduque Duarte, era preferível e muito mais favorável que Arivan permanecesse no cargo, para somente assim continuar com a briga, sabendo que isso lhe traria fartos rendimentos eleitorais tanto para ele pessoalmente quanto para o grupo político liderado por seu irmão.
Com a montagem de um processo defeituoso para que a cassação não surtisse efeito, confirma-se a hipótese de que os vereadores Marduque Duarte bem como os adversários da prefeita viam na cassação a desvantagem política, caso Laurinho assumisse a prefeitura.
Mas foi se passando por defensor dos interesses da população, mostrando-se “bonzinho” e sem segundas intenções que afirmou em entrevista ao site RUMBORA:
“Existe como foi provada pela CPI que apurou as irregularidades, uma administração que colocou para dentro os seus afilhados políticos e do outro lado pessoas que não tiveram nem o direito de saber que iria existir esse exame seletivo. Sobre mocinhos e bandidos deixo esse julgamento para o povo fazer” (http://www.rumbora.com.br/entrevista/marduque.php4, 03/04/2004)

 Outro ponto passível de comentários e desconfianças foi a pressa com que a liminar foi concedida, retornando a prefeita ao cargo. Sobre esse assunto, o deputado Estadual Moésio Loyola, da tribuna da Assembleia Legislativa, declarou-se desconfiado de que houve tráfico de influência e por certo o atribuindo ao desembargador José Maria Lucena:

“(...) Em Limoeiro, tão logo a Câmara decidiu pela cassação, já estava pronta a liminar reintegrando a prefeita. Houve tráfico de influência ou a Justiça age com dois pesos e duas medidas”. (http://verdesmares.globo.com/plantao/notícia, 14/04/2004)
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Se houve ou não o tráfico de influência como insinuou o deputado Moésio Loyola, o que ficou patenteado foi uma falta de respeito muito grande para com o poder legislativo municipal por parte do poder judiciário.
Como se pode acreditar numa democracia e a independência dos poderes constituídos se em minutos apenas, a autonomia de um desses poderes é tombada ao chão, pisoteada, chacoteada, troçada e escarnecida? Ainda mais como sendo aquele poder que representa a vontade popular?
A liminar da Dra. Valdeniza que atendeu a Ação Cautelar Incidental proposta pela prefeita na alegação de que houve várias irregularidades no processo de cassação, dentre elas a expiração do prazo e violação do direito de defesa, causou estranheza não pela liminar em si, pois isso é um direito jurídico, mas pela pressa com que foi concedida, pois logicamente, nenhum juiz teria condições de apenas em algumas horas, analisar um calhamaço de mais de mil e quinhentas páginas de um processo. Assim sendo, podemos arriscar em dizer que foi uma ação precipitada a concessão da liminar e a atitude da juíza naquele momento foi de total desrespeito ao que chamamos de poderes da democracia.
Ora, se o judiciário se considera intocável, reagindo ferozmente contra qualquer reação externa, seja de crítica aos atos dos seus integrantes ou de análise sobre a sua atuação, estranhamos o direito de o mesmo interferir nas decisões “soberanas” e legais dos outros poderes, sem que antes seja feita uma análise profunda. Torna-se, portanto, incompreensível a atitude de uma juíza, que em questão de segundos desmanchou todo o trabalho que levou meses para ser concluído.
É por esses e outros motivos que a justiça é desacreditada e o que deveria ser um serviço dos mais competentes a disposição da sociedade, chega a ser o mais cruel, como aquele que não vê a Lei igual para todos. Sólon, na Grécia Antiga, já dizia: "Leis são como teias de aranha: boas para capturar mosquitos, mas os insetos maiores rompem sua trama e escapam”.

7. O Assassinato de Nicanor Linhares

Nenhum acontecimento durante a gestão de Arivan teve tanta repercussão e desastrosas consequências para o seu mandato quanto o assassinato do radialista Nicanor Linhares.
Por volta das vinte horas do dia 30 de junho de 2003, pistoleiros entraram no estúdio da Rádio Vale do Jaguaribe onde Nicanor se encontrava gravando matérias e dispararam contra ele nada menos do que onze balaços.
O crime teve repercussões nacionais e internacionais e a caça aos seus executores se iniciou antes mesmo do sepultamento.
Na manhã seguinte o Deputado Paulo Duarte subiu à tribuna da Assembleia Legislativa do Estado, e soltou uma verdadeira bomba no caso, declarando que, na sexta-feira imediatamente anterior à segunda-feira do assassinato, teria comunicado ao próprio Nicanor, que havia sido informado de um plano para assassiná-lo ao mesmo tempo em denunciava como mandantes o Dr. José Maria Lucena e a prefeita Arivan.
Se o assassinato em si já era motivo de grande confusão e até de comoção entre a população, imagine depois do bombardeio do deputado Paulo Duarte. Limoeiro do Norte e porque não dizer toda a região jaguaribana, por pouco não entrou num cataclismo sem precedentes. Se o povo já tinha aversão a Arivan, essa aversão transformou-se em profundo ódio depois da acusação do deputado.
Naturalmente a versão de que Arivan e seu esposo foram mandantes do crime, dividiu as opiniões, sobretudo levando em consideração de que todos os políticos limoeirenses, inclusive o próprio Paulo Duarte, tivera fortes atritos com Nicanor.
Como uma estratégia de defesa e como a querer dizer que não era somente ele quem tinha divergências com Nicanor, o próprio desembargador denunciou em entrevista ao Jornal O Povo, ciúme que o deputado vinha sentindo naquele momento do radialista sobre seu relacionamento com o governador Lúcio Alcântara:
“Paulo Duarte, antes da morte do radialista, mostrava-se insatisfeito porque Nicanor estava procurando diretamente o governador Lúcio Alcântara, e teria dito ao parlamentar, que para ir ao governador e ao secretário de governo (Luís Pontes), não precisava dele”. (Jornal O POVO, 10 outubro 2003)
É certo que depois de assumir a prefeitura, Arivan passou a tratar Nicanor como inimigo pessoal, fato demonstrado pela derrubada do muro no qual já nos referimos anteriormente.
Foi a partir daquele episódio, que se acirraram os ódios e Limoeiro do Norte passou a assistir um festival de baixarias partindo principalmente do radialista, fato confirmado inclusive pelo Promotor de Justiça Guilherme Soares, referindo aos acontecimentos logo após a eleição de 2000, quando Nicanor apoiou a candidatura de Paulo Duarte para prefeito:
“a partir dali, passou a divulgar em seu programa de rádio ''severas críticas'' (inclusive de cunho pessoal) contra a administração dela. ''Nicanor muitas vezes chegou a abusar do poder de comunicação e da mera crítica, quando também passou a dirigir ataques de baixo calão e de cunho político contra a prefeita e o marido, inclusive sobre o aspecto de vida pessoal deles'', escreveu o promotor no relatório do caso”. (http://www.noolhar.com/opovo/fortaleza/307417.html) – outubro/2003.
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Os ingentes problemas deixados pelas administrações anteriores, sobretudo os vícios políticos, necessitavam que, como uma nova “opção” para o município, Arivan tivesse capacidade para romper com as velhas práticas politiqueiras, todavia, conquanto o seu compromisso ter sido criar a ruptura com essas práticas, não soube – ou não quis –estabelecer um novo sistema e por isso abriu possibilidades de seus adversários se tornarem cada vez mais veementes no sentido de desestabilizar a sua administração.
Naturalmente que não se pode atribuir seu fracasso político aos adversários, sendo ela mesma quem contribuiu para com a sua própria derrocada quando lhe faltaram esperteza e sagacidade para lidar com uma classe viciada em rotineiras práticas politiqueiras. Eles sim, é que foram competentes e espertos ao perceberem que a arrogância da prefeita era bem maior do que o tirocínio para alijá-los definitivamente da política.
Teria dado certo se ela tivesse verdadeiramente se apoiado na vontade popular em renovar as lideranças, entretanto, distanciou-se do povo quando se mostrou prepotente no exercício do cargo, esquecendo que existia um número considerável de adversários interessados em voltar ao comando político no município.
Mesmo com as enormes falhas, conseguiu ser mais dinâmica na visão administrativa do que os antecessores, porém neste sentido, também deixou muito a desejar, quando não teve a ousadia de criar um moderno modelo administrativo.
Não abateu o empreguismo através de concursos públicos o que daria um significativo incentivo às carreiras públicas e à eficiência da máquina administrativa. O que fez foi copiar dos o mesmo modelo clientelista e paternalista, moldando uma gestão inteiramente fisiológica. O que ela abateu na verdade foi a esperança e a possibilidade de mudança oferecida ao povo durante a campanha, que era “levar Limoeiro a sério”.
A nova fase política, econômica e social tão esperada e tão prometida, não passou de uma decepção, principalmente para os que acreditaram numa mudança na administração municipal e que a sua eleição provocaria uma ruptura com o sistema político em que se implantaria um moderno e participativo modelo administrativo.
Essa decepção pode ser explicada através da concepção de que quando o eleitor opta por mudança radical faz uma aposta arriscada que pode dar tudo ao contrário. Partindo desse princípio, podemos afirmar que foi exatamente o que aconteceu em Limoeiro, quando se colocou no governo municipal uma pessoa sem trabalhos de base e inteiramente descomprometida com as necessidades do povo.
Outro fator decepcionante foram as atitudes do seu esposo, Dr. Jose Maria Lucena. Esquecido(?) que na época da campanha, fora colocado em um patamar de homem sério, honesto e cheio de vontade de mudar o sistema político de Limoeiro, chegou a dizer depois da eleição em conversa reservada ao Padre Pitombeira, que “não devia nada ao povo de Limoeiro, pois havia comprado a eleição da sua esposa”.
O que faltou realmente em Arivan e ao Dr. José Maria foram interesse e compromisso para criar um novo sistema político que viesse retirar do cenário aqueles que há anos vinham se revezando no poder.
Ora, se a campanha foi feita em cima do combate a uma prática política danosa e cheia de vícios e se era compromisso anular os maus políticos, não tinha razão nenhuma trazer para dentro da administração pessoas que colaboraram com todos os administradores passados.
Se administrativamente ela foi “superior” aos adversários, embora adotando as mesmas práticas, politicamente preferiu trilhar o mesmo caminho que eles, praticando os mesmos erros, decepcionando aos que nela votaram e aos que acreditaram em uma nova proposta, onde funcionaria um governo participativo e o diálogo entre administração e sociedade fosse o ponto principal.
Quando Paulo Duarte desencadeava discursos e entrevistas alertando aos limoeirenses que havia a possibilidade de a partir daquela eleição, para a prática da prepotência através do Dr. José Maria Lucena, não estava de todo equivocado, porém o que não se esperava era que essa atitude de arrogância partisse primeiramente de Arivan.
Já com relação à falta de experiência administrativa que Paulão tentava colocar na pessoa da prefeita não condizia exatamente com a verdade ao mesmo tempo em que chantageava o eleitor.
Bem se sabe que um cargo público executivo é exercido com a inteligência e isso sim, podemos admitir que faltou em Arivan, sobretudo para agregar forças de sustentabilidade, a começar por aquelas que estiveram incondicionalmente do seu lado durante a campanha.
Experiência administrativa é um dado importante, não resta dúvida, mas não é o principal e a eventual falta de experiência pode ser de fato, compensada e até neutralizada, bastando apenas solidez e disposição integral de uma assessoria competente. Na verdade, era isso que se esperava de Arivan, ainda que sem carisma e até mesmo sem “experiência administrativa”. Verificando o passado, podemos atribuir a mesma “falta de experiência administrativa” aos governos anteriores e até questionar: Qual a experiência de Dilmar em 1982 quando foi eleito vice-prefeito? E quando foi eleito prefeito em 1988? Qual a experiência parlamentar de Paulo Duarte quando foi eleito deputado em 1990? Neste caso a mesma acusação pode ser lançada a todos eles, incluindo-se Careca, Ademar e o próprio Ariosto Holanda. Aliás, ninguém faz teste de “experiência administrativa”, sobretudo porque o cargo de prefeito – e outros cargos públicos – são galgados muito mais pela realização de conchavos, negociatas e até mesmo de dinheiro do que pelo curriculum vitae do indivíduo.

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