A CAMPANHA POLÍTICA de 2000 começou a se apresentar como se fosse um acontecimento igual aos outros. Os nomes dos pretensos candidatos eram os mesmos, ou seja, estavam em cena mais uma vez os personagens já conhecidos de todos, porém com um elemento que indicava uma novidade na campanha.
Havia boatos de que a esposa do juiz federal Dr. José Maria Lucena – a professora Arivan Lucena – poderia sair candidata a vice na chapa de João Dilmar. Caso fosse verdade, obviamente, favoreceria e muito, o grupo de Dilmar, sem dúvida alguma somaria para a eleição o prestígio do Dr. José Maria, na época, everenciado como um limoeirense ilustre, principalmente, por estar ocupando, naquele momento, a presidência do TRF-5 (Tribunal Regional Federal – Quinta Região), com sede em Recife. Contudo, a investidura de vice não traria nenhuma vantagem – pelo menos imediata – para o desembargador e sua esposa e, por certo, é que o próprio Dr. José Maria resolveu descartar essa possibilidade e pensar numa estratégia em que Arivan Lucena fosse candidata a prefeita.
Em pouco tempo, não se cogitava mais nos boatos, a parceria com Dilmar, mas sim, já colocando o nome da esposa do desembargador
para disputar a eleição ao cargo de prefeita. Mesmo sem a certeza de que Arivan
seria realmente candidata, pois faltava o apoio político, é que o Dr. José
Maria, deu o primeiro passo quando fez divulgar uma nota de esclarecimento,
através do programa “Encontro Político” comandado pelo radialista Nicanor
Linhares, cuja intensão maior era impressionar os outros grupos. A nota,
assinada pela própria Arivan, afirmava, categoricamente, a sua pretensão de
ingressar na política, porém, sem juntar-se a quaisquer nomes que conduzissem
em seus históricos, suspeitas de desvio de dinheiro público ou qualquer outro
fato desabonador da conduta política. A nota fazia uma referência direta ao Dr.
Maílson Cruz como principal responsável pelos desmandos na época em que Dilmar
administrou o município. Aquela declaração viria também confirmar – nas entrelinhas – a intenção do desembargador em candidatar a sua esposa.
Para chegar até essa nota de esclarecimento, é interessante voltarmos um pouco e lembrarmos que naquele momento o Dr. José Maria Lucena gozava, por parte dos limoeirenses, de uma espécie de endeusamento à sua pessoa que o tratavam como um ídolo e isso servia de base para que o mesmo iniciasse a montagem de uma estratégia em que Arivan saísse como candidata à prefeita com apoio de algumas lideranças políticas.
Tentou primeiramente juntar-se a Paulo Duarte, porém ao ouvir do deputado que traria juntamente com ele o grupo do Careca, o desembargador rejeitou completamente essa proposta, alegando que não aceitaria, justamente por causa dos boatos sobre os desmandos na administração.
Depois, em conversa com o grupo de Dilmar, como já falamos acima, não houve consenso, obviamente porque Dilmar não abria mão de ele mesmo ser o candidato.
Foi aí que usando de sua reconhecida sagacidade e esperteza ao fazer política, o Dr. José Maria sabia perfeitamente, que na qualidade de Juiz Federal, com o conceito em alta, não seria bem interpretado se a candidatura da esposa fosse apoiada por grupos políticos que conduzissem denúncias de corrupção. Teria que buscar apoios de outros grupos, notadamente de esquerda que denotaria seriedade e que suas intenções eram sinceras e as melhores possíveis. Mas isso não seria fácil, posto que, o nome de Arivan, sofria enorme resistência de aceitação e nem o próprio desembargador gozava da total confiança dos outros grupos.
Foi nesse ínterim, que entrou em campo com a vigilante orientação do magistrado, o Dr. Majela Colares, seu assessor jurídico no TRF-5. Sendo Majela um poeta respeitado e admirado pelos limoeirenses, benquisto na sociedade, além de gozar de trânsito livre entre todos, independentemente das alas políticas, é que foi incumbido de iniciar os contatos com os líderes dos partidos contrários aos grupos de Dilmar e de Paulo Duarte.
Não era uma tarefa fácil já que a resistência ao nome de Arivan era muito forte, mas o Dr. Majela conseguiu, inusitadamente, articular e, por conseguinte, convencer a todos que aquele era o momento para destronar os conhecidos políticos que há alguns anos se revezavam no poder em Limoeiro. Além disso, tornou-se também responsável pela coordenação da campanha, e foi através dele que se viabilizou os grandes eventos (showmícios) e a angariação de recursos. Aliás dinheiro não foi problema para aquela campanha.
Foi também mérito do Dr. Majela – com sua peculiar ponderação – que se manteve o equilíbrio e o bom relacionamento entre todos os envolvidos no propósito de eleger Arivan Lucena prefeita de Limoeiro do Norte, essencialmente, entre as lideranças partidárias: Laurinho (PSB), Dr. Ranalfo (PDT) e Nonato Pinheiro (PT).

Tudo teria que ser meticulosamente bem pensado e traçado para que nada desse errado, inclusive o lema a ser usado na campanha, pois deveria conter uma frase de efeito, cujos dizeres deixassem claras as propostas de moralidade, honestidade e sobretudo, respeito ao povo. Alguém pensou na frase: “Vamos levar Limoeiro a sério”, que se encaixou como uma luva e foi aceita com bons olhos pela população, causando um forte impacto e com isso, os partidos apoiadores, cada vez mais, passaram a acreditar que as palavras e ações do Dr. José Maria Lucena eram verdadeiras. E foi assim que cederam a cabeça de chapa para a professora Arivan Lucena, formando então a coligação PSD/PSB/PDT/PT/PCdoB. Restava esperar o dia da convenção!
Voltando a Paulo Duarte, depois do insucesso no acordo com o Dr. José Maria, Paulão procurou Tasso Jereissati para cientificar-lhe de sua intenção em candidatar-se a prefeito, e foi quando ouviu do governador de “que não iria se intrometer na campanha política de Limoeiro”. Agindo assim, Tasso demonstrava não querer criar divergências com o desembargador, principalmente, depois que ouvira deste que “a eleição de sua esposa para prefeita em Limoeiro era ponto de honra”. Com essa atitude, o governador deixou claro que não declararia seu apoio formal a nenhum dos candidatos que viesse disputar a eleição.
Ao saber que o Careca também tencionava sair candidato com o apoio do seu grupo, o que só viria atrapalhar a sua inarredável determinação de colocar seu próprio nome na disputa, Paulão buscou juntar-se a Ariosto Holanda e inventaram uma “tal” pesquisa na qual seria apontado entre ele e Gladstone o nome para concorrer naquela eleição. Com a cartada que deu ante o resultado da pressuposta pesquisa e como era de se esperar, Paulão foi indicado como o favorito do eleitorado para disputar a prefeitura, mostrando com isso mais uma vez seu caráter de político pretensioso, daqueles que se acham carismático e querido do povo.
É bom que se diga, que esse tipo de pesquisa comumente propalada em época de eleições para a escolha de pré-candidatos, nunca teve sua realização comprovada. Essa é uma estratégia usada por alguns políticos para dizer que o povo o escolheu por antecipação.
Mesmo mantendo alguma resistência, o Careca resolveu, por fim, apoiar Paulo Duarte como candidato, contrariando inclusive alguns “analistas políticos” ligados ao seu grupo que apostavam na sua incondicional candidatura à reeleição.
Quem diria! O Careca não querer ou não poder se candidatar. Inacreditável! Se até pouco tempo atrás arrotava o orgulho de ser o maior político limoeirense, era de se estranhar a humildade com que aceitava os resultados de uma “pesquisa”. Mas, analisando bem, não era para menos, pois as fortes suspeitas sobre o uso do dinheiro público, certamente o intimidaram para enfrentar a campanha, ainda mais diante da estratégica pressão psicológica por parte de Paulo Duarte, que o atemorizava com a alegação de que poderia, inclusive, até ser preso por influência do Dr. José Maria Lucena. Outro fato que o levou a desistir foi o acordo com Paulo Duarte, quando o fez prefeito pela segunda vez, muito embora cumprir acordos nunca foi do seu feitio. Assim, depois de concretizar seu intento, Paulo se lançou candidato juntamente com o Dr. Lindenor na vice, numa coligação entre os partidos PSDB, PMDB, PL e PTB e ainda contando com apoio discreto do governador Tasso Jereissati.
Sólida mesmo era a candidatura de Dilmar que depois de ver frustrada a união com Arivan, sustentou a sua intenção de disputar mais uma vez a eleição, inconformado com a derrota de 1996 para o Careca. Certo de entrar na disputa com muitas chances de ganhar, acreditava que desta vez não seria derrotado facilmente, levando em conta a favorável aceitação do seu nome por parte dos limoeirenses, o que o fazia se achar praticamente imbatível. Colocou como companheiro de chapa o Dr. Reuber, numa coligação PPS/PPB.
Novamente o Dr. Maílson Cruz, sempre agindo como uma “iminência parda” assumiu a coordenação bem como os gastos financeiros da campanha e os partidários e sectários de Dilmar, passaram a alardear uma candidatura imbatível já contando de certo com a vitória.
Como pontos definidos, mediriam forças Dilmar e Paulo Duarte, numa disputa de arrepiar os limoeirenses, pois há algum tempo atrás era impossível imaginar que os dois concorressem a uma eleição, considerando as tantas e tantas vezes que se proclamaram “amigos” inseparáveis.
Ainda tentando emplacar como candidato, estava Pedro Julião, filiado ao PSD, cuja presidência estava justamente nas mãos da Professora Arivan Lucena. Julião vinha travando uma luta dentro do partido para também sair candidato, mas seus planos foram atrapalhados com a intenção de Arivan candidatar-se o que resultou numa briga pela vaga. De um lado, Julião tentando conquistar os votos dos convencionais, e do outro, Arivan, através do seu esposo, contatava com cada um deles isoladamente.
A volta da sigla PSD
fazia relembrar velhas práticas politiqueiras limoeirenses e naquele momento,
se houvesse alguém que se arriscasse acreditar em maus presságios, com certeza,
teria adivinhado o que poderia acontecer a partir de 2000 em Limoeiro do
Norte.
O embate na eleição de 2000 teria sido sem graça e sem nenhuma novidade se não tivesse surgido o nome de Arivan Lucena como uma terceira candidatura, concretizada através de um acordo estabelecido entre os partidos de esquerda e o Desembargador Federal Dr. José Maria.
A campanha se iniciou realmente no dia 30 de junho quando aconteceram as convenções dos partidos para oficializar as candidaturas. O PSD confirmou o nome de Arivan mesmo com a revolta e o inconformismo de Pedro Julião que viu enterradas as suas chances de ser candidato. Circulava boatos de que o Dr. José Maria Lucena teria usado de sua influência junto aos convencionais para que o resultado fosse favorável para sua esposa. Fato verídico ou não a verdade é que Arivan foi escolhida com uma larga vantagem de votos. Uma vez confirmada a sua candidatura na convenção, Arivan formou a chapa com Laurinho (PSB) e partiram para a luta.
A exemplo do que aconteceu na convenção outro fato que demonstrou superioridade e poder do desembargador, foi quando Arivan e Laurinho saíram em passeata pelas ruas da cidade, no que resultou em uma revolta por parte de Paulo Duarte, denunciando logo no dia seguinte nas emissoras de rádio, que aquela passeata contrariava a Lei Eleitoral e responsabilizando diretamente o Dr. José Maria Lucena pelo ato, enquanto alertava a população para a prática da ilegalidade durante a campanha.
Depois das convenções e definidas as candidaturas, a campanha ganhou as ruas e os comícios transformaram-se em verdadeiras festas e as atrações custavam aos patrocinadores altas somas de dinheiro. Os ânimos se acirravam a cada dia e os palanques se converteram em palcos onde as agressões verbais aconteciam de todos os lados.
Do grupo que apoiava Arivan o que mais se ouvia eram denúncias de corrupção, incompetência, nepotismo, empreguismo, falta de respeito ao povo. O ponto alto foi quando da divulgação de um relatório do TCM, dando conta de que a administração do Careca estava desviando dinheiro, sobretudo através da Secretaria de Educação. O relatório foi lido em praça pública, por intermédio do então presidente do Legislativo Municipal, vereador Raimundo Nonato Costa que montou um carro de som de alta potência em frente a Câmara e perante a uma grande multidão, fez com que o relatório fosse lido para o conhecimento de todos.
Interessante destacar que
Raimundo Costa, até pouco tempo atrás era aliado do Careca, e a sua eleição
para Presidência da Câmara teve o apoio do prefeito e sem ele, jamais teria
chegado à chefia do Legislativo Municipal.
.O candidato a vice-prefeito Lauro Rebouças Filho - Laurinho - foi guindado rapidamente a uma posição de destaque na campanha e os seus discursos eram amplamente ouvidos e acreditados pela população. Alertava em seus pronunciamentos para a situação crítica em que se encontrava o município, tão somente por irresponsabilidade dos últimos governos, dizendo “ser impossível continuar como estava”.
Empenhava toda a sua palavra na pessoa do Dr. José Maria, dizendo da sorte de Limoeiro do Norte poder contar com uma pessoa da estirpe do desembargador, atribuindo-lhe a responsabilidade por um grande trabalho a partir de 2001.
Já a candidata Arivan Lucena, sem nenhuma experiência em palanques políticos, fraca nos pronunciamentos, além de não gozar da confiança por parte dos eleitores e correligionários, era um fardo pesado a ser mostrado naquela campanha. Mais uma vez, o desembargador recorreu à competência do Dr. Majela Colares, encarregando-o de escrever diariamente os discursos para a candidata, que passava parte do dia lendo-o para tentar reproduzir à noite nos comícios.
Os outros dois candidatos embora fazendo parte do mesmo grupo, estavam naquele momento em palanques diferentes, numa demonstração de que se uniam e brigavam de acordo com as conveniências. Procuravam dirigir seus pronunciamentos ao autoritarismo, à prepotência e à arrogância do Dr. José Maria Lucena, alertando o povo para o que estava sendo praticado durante a campanha em termos de descumprimento da Lei, prenunciando de como iria ser, caso Arivan fosse eleita.
O mais atingido com os panfletos foi Dilmar, pois lembrava as falcatruas de quando foi prefeito e como sendo aquele que menos merecia o reconhecimento dos limoeirenses.
Outro panfleto, também atingia Dilmar, mostrando algumas fotos em que ele, na sua gestão agrediu professores por ocasião da greve.
Acirrando cada vez mais os ânimos, o radialista Nicanor Linhares, no momento em forte atrito com o Dr. José Maria Lucena usava os microfones da Rádio Educadora para dar a entender à população de que todos estavam sendo enganados pelo desembargador, o considerando um ser “todo poderoso” bem como “um lobo na pele de um cordeiro”.
Mas naquele momento, tentar atingir o caráter e a moral do Dr. José Maria em nada significava, pois se encontrava numa situação de endeusamento por parte de muitos limoeirenses que o colocavam num pedestal como um filho ilustre e que enfrentava aquela campanha, simplesmente pelo fato de querer fazer o melhor para Limoeiro.
Naquelas alturas dos acontecimentos, a briga entre Nicanor e o Dr. José Maria era do conhecimento de todos. Sabia-se, entretanto, ter existido uma certa amizade entre ambos há pouco tempo, tanto que Nicanor foi algumas vezes convidado para ir a Recife, porem encarou a amizade e os convites, como uma forma de cooptá-lo com objetivo de conseguir o seu apoio para a pretensa candidatura de Arivan. Assim, resolveu tomar outra posição e, ao invés de permanecer neutro para não se envolver diretamente, partiu para o confronto hostilizando-se com o desembargador.
Naquela eleição, ninguém sabia exatamente a quem Nicanor apoiava: se Paulo Duarte ou Dilmar, pois tanto um quanto o outro gozava de sua simpatia e condescendência nas críticas que fazia no seu programa. Dizem que com Dilmar, negociou um vultoso empréstimo em dinheiro para a campanha, e em troca receberia a Rádio Vale do Jaguaribe tão logo terminasse eleição, para assim concretizar o seu sonho de tornar-se proprietário de uma emissora de rádio.
É bom que se diga que Nicanor na época, ainda trabalhava na Rádio Educadora e para seu orgulho, degustava o prazer de manter uma enorme audiência do seu programa “Encontro Político”, o fazendo sentir-se “o todo poderoso do microfone” alimentado pela concepção de que era um gênio do rádio, chegando a ser considerado até mesmo o “Assis Chateaubriant do Vale do Jaguaribe”.
A vaidade como profissional, atingiu o ponto alto quando viu o seu nome nas páginas dos jornais de todo o Ceará, atribuindo-lhe o mérito de ter sido o responsável pela fragorosa derrota de Tasso Jereissati na região jaguaribana na eleição de 1998 para governador, mesmo com expressiva votação no restante do Estado.
Terminada a apuração, aconteceu a vitória de Arivan e curiosamente, os candidatos ficaram dentro dos nove mil votos cada um, confirmando a disputa apertada entre os três:
- Arivan – 9.801 votos (34,93%)
- Dilmar – 9.249 votos (32,96%)
- Paulo Duarte – 9.011 votos (32,11%)[1]
Não foi uma campanha fácil para o desembargador, pois mesmo com a volumosa quantidade de dinheiro empregado, se não fosse o seu prestígio naquele momento junto aos limoeirenses, dificilmente Arivan teria sido eleita. A sua vitória encheu de expectativa a população limoeirense, sobretudo a parcela do eleitorado que lhe confiou o voto. Até mesmo os “adversários”, acreditavam que Limoeiro do Norte iria ter uma administração jamais acontecida e com isso o município pudesse realmente reencontrar o caminho da política séria e de respeito ao povo. O próprio Dilmar, interrogado por um repórter sobre como ele viu o resultado respondeu:
“perdi a eleição e estou indo para Fortaleza, porém, certo de que Limoeiro do Norte terá uma grande administração”.
Já com Paulo Duarte, não aconteceu o mesmo. Logo no dia seguinte à eleição, concedeu entrevista na Rádio Vale, demonstrando-se revoltado com a vitória de Arivan e inconformado com a derrota. Fez declarações desairosas e deselegantes, insinuando que Limoeiro do Norte estaria entrando numa administração onde a prática da ilegalidade seria corriqueira, pelo poder e arrogância do Dr. José Maria Lucena.
[1] Fonte: TRE/CE
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