sexta-feira, 4 de setembro de 2020

AO LEITOR

A História Política de Limoeiro do Norte está recheada de fatos e acontecimentos que revelam a forma como o processo se desenvolveu ao longo de mais de um século.
Desde o domínio da família Chaves, iniciada em meados do séc. XIX até hoje, os acordos e conchavos fizeram e ainda fazem parte das negociações políticas para a manutenção do poder.
Se a oligarquia Chaves durou quase um século e já foram decorridos mais de cinquenta anos depois da sua queda, podemos perceber que nada mudou verdadeiramente, apenas o poder foi transferido dando continuidade aos interesses individuais e/ou de grupos.
A presença de Manoel de Castro no processo político de Limoeiro do Norte a partir da queda dos Chaves em 1954, também pode ser considerada uma oligarquia (governo de poucos), e que deu continuidade a uma política que perdura até os dias de hoje. Interessante é que nenhum dos atuais políticos limoeirenses - sem exceção - pode se dar ao luxo de dizer que não tem origem na política praticada por Manoel de Castro, que mesmo tendo encerrado sua vida pública em 1982, na qualidade de Governador do Estado, "encerrando" dessa forma uma atividade política de quase quatro décadas mas que deixou um legado que deverá permanecer ainda por algum tempo.
Os novos nomes que foram tomando conta do poder a partir de 1982, iniciaram o que podemos chamar de um novo CICLO POLÍTICO, e foi daí que a política, se já era voltada para interesses sombrios, tornou-se mais negra ainda, pois as brigas, as fofocas, as futricas e sobretudo os interesses pessoais ficaram mais evidentes. Para eles “brigar” hoje e se “unir“ amanhã se tornou apenas uma questão de conveniência, dependendo do momento.
Os últimos trinta anos foram marcados por um jogo de cumplicidade entre os políticos limoeirenses, embora em determinados momentos eles tenham se proclamado “amigos” apenas para enganar o povo, se o que nunca existiu na verdade foi amizade entre eles, mas sim, a desconfiança generalizada.

“(...) Eles não se entreapóiam mas se entretemem. Não são amigos, mas cúmplices”. (Etienne de La Boétie - Discurso da Servidão Voluntária).

A união propalada em determinados momentos de campanhas eleitorais, nunca representou os anseios do povo, que incrivelmente, foi colocado no jogo cruel e injusto da política limoeirense.
Os atos político-administrativos acontecidos a partir de 1982 e até os dias de hoje, têm sido os mais absurdos em toda história de Limoeiro do Norte. Os mais escabrosos boatos de corrupção, os mais desavergonhados conchavos políticos, a maior falta de respeito ao povo, os maiores descalabros administrativos, se tornaram tão habituais que viraram rotina nos políticos e de tal forma que a população passou a considerar como se fossem ações normais.
Tanto cultuam os atos ilícitos que eles conseguem fazer com que boa parte da população pense em não existir pessoas sérias capazes de administrar o que é do povo com honestidade. O que mais se ouve nas rodas de conversas e com bastante frequência é de que: “todo político é ladrão e que todos são iguais, basta que cheguem ao poder e farão a mesma coisa”.
O ponto a que chegou a consciência do povo como resultado da política que foi implantada nos últimos trinta anos, tornou-se bastante favorável aos maus políticos, pois para eles o que interessa é que o povo continue cada vez mais alienado e sem condições de fazer uma análise crítica da situação, optando sempre pelo pior, sendo assim, bem melhor para eles.
Todos eles e da mesma cepa, praticam e disseminam até hoje, a semente nociva da politicagem e com isso conseguem sobreviver politicamente a ponto de superar até mesmo suas próprias contrariedades.
O agravante é que parte da população, aquela que percebe como o jogo é praticado, fica impotente para reverter o quadro que se apresenta, sem nada poder fazer para deter a facilidade com que agem os pseudo-políticos e a falta de escrúpulos com que mostram suas caras ao povo, sempre com a empáfia de grandes líderes.
Os conchavos e os acordos acontecidos a cada eleição são tão deslavados, que sequer se preocupam em esconder das vistas do povo, o que não se restringe apenas ao uso do dinheiro público, mas a um mal maior, que é a falta de coerência, de sinceridade e de respeito para com o limoeirense.
A propósito: haverá ato de corrupção maior do que corromper consciências?

NOTA* Por achar conveniente - ainda - postei nesse blog somente até o ano de 1982.

Postado por maurilofreitas às 09:10 2 comentários:

CAPITULO XX - 1990 – DISPUTA PARA A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA E CÂMARA FEDERAL

PODEMOS CONSIDERAR que pelo menos até as eleições de 1990 existia apenas um grupo político em Limoeiro fecundado na mente do seu mentor principal Gladstone Bandeira a partir de 1982 e nem mesmo nas oito décadas de domínio dos Chaves até 1954 foram tão explícitos os malabarismos pela ganância do poder. Até aquele instante nenhum sistema político havia escrito com tanta competência uma história de desmandos administrativos.
Com o advento das eleições de 1990 (governador, deputados estadual e federal e senador) se configurou o racha do grupo que se dividiu em duas facções de peso. Nos extremos, Dilmar e Careca: protagonistas de uma cena política assistida pelos limoeirenses em que ambos aproveitavam o momento para medir suas forças junto ao eleitorado.
Para que se desencadeasse realmente numa disputa política foi preciso aparecer candidatos a altura de uma briga que já se tornara um divisor entre o eleitorado.
Foi assim que sobreveio para o cenário político limoeirense o Delegado da Polícia Federal Paulo Carlos da Silva Duarte como postulante a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Filiado ao PDC (Partido Democrata Cristão) e apoiado pela coligação PDT/PDC/PSDB. Recebeu o apoio do prefeito João Dilmar que se colocou à disposição de sua campanha. – Aliás, essa passaria a ser a marca mais forte de Paulo Duarte: aproveitar-se da prefeitura na angariação de votos.
Paulão, como era conhecido na juventude pelas ruas da cidade, passou a ser mostrado nos palanques como uma salutar novidade para Limoeiro onde se propagava a sua condição de Delegado da Polícia Federal e que voltava à sua terra imbuído do propósito de tornar-se seu legítimo representante. Numa visão estreita de bairrista vinda dos patrocinadores de sua candidatura, havia uma conclamação aos eleitores para votar em Paulão e de que o eleitor tinha a obrigação de elegê-lo pelo fato de ser um limoeirense, criando-se inclusive a ideia de que quem não votasse nele seria considerado um anti-Limoeiro.

Para confrontar com as forças ditas “inovadoras” do prefeito e do seu candidato, o Careca, numa tentativa de sobrevivência política, resolveu lançar tambem um candidato e apelou para o seu primo Pedro Julião na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa. Como estratégia, levou para o palanque em forma de propaganda eleitoral, os ressentimentos de ter sido desprezado pela administração bem como o arrependimento de ter ajudado a eleger prefeito um homem que mijou para trás[1], esperando com isso o reconhecimento dos eleitores.
Pedro Julião por sua vez sentindo-se discriminado pelo prefeito acirrava as hostilidades entre este e o Careca e a sua candidatura serviria como um termômetro na medição dos prestígios e das popularidades dos figurões de ambos os lados.
Nesses termos, aquelas duas candidaturas deram para eleição de 1990, as características de uma disputa que se igualou a uma campanha para prefeito, visto que se confrontavam nos palanques as duas maiores figuras da política local, numa verdadeira demonstração de ambições pessoais, subestimando a capacidade do eleitorado e fazendo da seriedade de uma eleição uma brincadeirinha onde cada um queria tirar vantagens e mostrar quem era o mais forte.
O mais interessante era saber que há menos de dois anos estavam todos eles no mesmo palanque em recíprocos elogios, para naquele momento se mostrarem participantes de um jogo de enganação voltando ao cenário de uma campanha para se digladiarem num total desrespeito ao eleitor.
O que se assistiu na verdade foi um espetáculo digno de cinema: de um lado o prefeito Dilmar querendo passar para a população de que Paulo Duarte representava naquele momento a modernidade e o desenvolvimento, ou seja: era o nascer e a confirmação de uma nova fase para Limoeiro. Do outro, o Careca, proclamando-se traído e tentando com isso receber apoio do eleitorado para revidar a traição sofrida pelo grupo de Dilmar a quem agora dizia que o mesmo “tinha cara de boneca” e apresentando como solução o nome do seu primo Pedro Julião, atribuindo a ele, tambem um passo largo para a modernidade e o desenvolvimento do município. Certo de que Julião seria bem votado o Careca levou em conta o grande número de seguidores que lhe devotava fidelidade.
Depois de tanto se aviltarem e se engalfinharem, o resultado final deu a vitória a Paulo Duarte enquanto Pedro Julião garantiu a suplência. Neste primeiro embate saiu bem mais fortificada a liderança de Dilmar, confirmando o seu “carisma” junto ao povo, o que o levou a imaginar haver superado a popularidade de todos os outros políticos, inclusive o anacrônico Careca.
A junção de Dilmar e Paulo Duarte poderia se dizer ter sido um casamento perfeito se tempos depois não tivessem ambos se revelado serem exatamente iguais no que diz respeito à ausência de proposta inovadoras, fazendo regredir o já tão abalado processo político limoeirense.
Ao agirem de maneira a não valorizar os votos recebidos e apelando para a enganação e conversa fiada, a dupla (Paulão & Dilmar) certamente sabia – assim como todos os maus políticos sabem – que ao invés de avaliar propostas de candidatos em campanhas bem como analisar atitudes de candidatos e até dos políticos em geral, o povo na sua indiferença e alienação, prefere muitas vezes partir para opiniões particulares e em casos mais extremos até para as aparências físicas.
Paulo Duarte depois de eleito abandonou o seu partido inicial e filiou-se ao PSDB, já pretendendo usar sempre dos favores dos governos estadual e municipal nas eleições que adviriam.
Como sua primeira demonstração de que iria realmente se transformar no político mais truculento da história de Limoeiro do Norte, voltou à praça pública e quando se esperava um discurso de agradecimentos aos que o elegeram, simplesmente fez um pronunciamento inflamado e dentro de um linguajar literalmente policialesco, atentando contra aqueles que não votaram nele, sobretudo os políticos que estiveram do lado contrário à sua candidatura. Com a aparência de que havia ingerido algumas doses de uísque e fazendo um relato da dura campanha, escarneceu nas suas palavras, principalmente a ex-candidata a prefeita Rita Peixoto por ter apresentado aos eleitores para ser votado em Limoeiro um candidato de fora, (Rita Peixoto, naquele ano, apoiou a candidatura de Antônio Tavares, natural do município de Barros) o que considerava inadmissível, especialmente porque existiam dois postulantes limoeirenses.
No capítulo cômico do seu discurso, chegou a se condoer da situação do seu pai o comparando a um “sebito” fazendo uma analogia entre o pássaro e o físico magro do genitor que estava naquele estado depois de tanto haver trabalhado em favor de sua eleição.
Ao assumir, transformou-se num oportunista de carteirinha, ou seja, se dispôs à cata entre os órgãos do governo se haveria algum benefício para Limoeiro e ao descobrir a sua existência, assumia imediatamente a paternidade do benefício, dizendo para população ser um esforço unicamente seu.
Era tão evidente essa sua faceta demagógica e enganadora que os seus feitos no município nunca passaram de rede de energia elétrica para pequenas comunidades e micro abastecimentos de água através de projetos do governo sem falar em asfaltos nas estradas estaduais; tudo como sendo obra sua.
Em algumas rodas de conversas, quando se fazia referências aos benefícios que Paulo Duarte trouxera para Limoeiro do Norte, alguns mais exaltados chegavam a desafiar o Deputado para mostrar uma única obra que tivesse sido comprovadamente construída com seu esforço.
Desde então Paulão passou a demonstrar a verdadeira característica de sua personalidade política: quando falava era um Paulo Duarte democrático, conciliador, negociador, enfim, imbuído de todas as qualidades de um líder, porém fora do público, não passava de um ditador em suas posições políticas.

Aquela eleição trouxe outra novidade, inicialmente encarada como uma surpresa agradável e benéfica para Limoeiro do Norte. É que postulando uma vaga para a Câmara Federal, apareceu o Engenheiro Francisco Ariosto Holanda se apresentando com um perfil de um candidato sério e sem o desenho do riso fácil, que impressionou rapidamente os limoeirenses. Muito embora sendo desconhecido de grande parte da população, mesmo tendo sido Secretário da Indústria e Comércio do Estado do Ceará, (1987-1989), foi identificado muito mais por pertencer a uma das mais tradicionais famílias limoeirenses, sendo filho de Chiquinho Holanda, irmão de Antônio Holanda, o “Velho da Serra”.
Iniciou sua carreira política com uma filiação de esquerda, ingressando no PSB (Partido Socialista Brasileiro) e para combinar com essa atitude, naquela eleição fez parte da coligação entre PT/PCB/ PSB/PC do B.
Em seus pronunciamentos esboçava uma ideologia contrária ao conservadorismo existente no sistema político brasileiro, posicionando-se tenazmente como um defensor incondicional de medidas inovadoras na solução para os problemas sociais. Assegurava firmemente que grande parte do problema crônico da miséria brasileira seria solucionada através do que ele chamou de “tecnologia de fundo de quintal”, presumindo que cada um, dependendo da vontade e do apoio do poder público, poderia fazer o seu próprio negócio sem que necessariamente tivesse que virar um empresário.
Com a compreensão de uma considerável parcela dos limoeirenses bem como com a ajuda das “lideranças” políticas locais, Ariosto foi eleito para o seu primeiro mandato (1991-1994). Sua primeira atuação na Câmara Federal foi obscura e sem qualquer ato que merecesse destaque, nem mesmo alguma atitude na defesa de suas ideias socialistas tão divulgadas no decorrer da campanha.
Mais adiante, vamos ver que Ariosto Holanda não se preocupou em honrar os sufrágios recebidos dos limoeirenses no que diz respeito à sua atuação como político, o que causou uma decepção naqueles que acreditaram em sua performance de homem determinado em lutar pelas classes menos favorecidas.

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Aqui já nos cabe dizer que nos surpreende a facilidade com que os homens que se dizem públicos manipulam as consciências das pessoas humildes e na busca do poder se imbuem de falsos propósitos que são propagados como solução para os diversos e graves problemas da população.
Para esconder suas falsidades não deixam de serem extremamente cautos em suas mensagens a fim de conseguirem o objetivo que tanto almejam. Estarrece-nos a maneira como conseguem tanta frieza para burilar palavras que não passam de uma profunda e muito bem maquinada demagogia para conseguir o voto, depois vão para seus gabinetes e excluem dos seus discursos aqueles que lhe deram um status de nobreza.
Os acordos costurados e os conchavos feitos à revelia do povo criam entre eles possibilidades de dividir o que é público para usar a bem de si próprios. Nesses conchavos e acordos chegam inclusive ao descaramento de estabelecerem parâmetros de como ficam os cargos, onde cada um dos interessados e com poder de barganha, abocanha a sua fatia no bolo.
Invariavelmente a desonestidade em enganar consciências leva a outro ato desonesto muito mais grotesco e repugnante que é o desvio do dinheiro público. Os que descambam para esse caminho nos faz estarrecidos pelo dom que tem de facilmente conseguir drenar os recursos de um povo para suas contas particulares sem a menor preocupação em esconder dos olhos de suas vítimas. Como se sentem em suas consciências esses homens? Será que não lhes causa remorso por haverem burlado a fé alheia? O pior é que nos parece óbvio inexistir neles o toque da consciência.

[1] Faltou com a palavra dada.

CAPITULO XIX - DILMAR – O “FILHO INGRATO” DO CARECA – UMA ADMINISTRAÇÃO DE AMIGOS

DILMAR INICIOU SEU MANDATO com ares de um governante simpático, carismático e com a performance ideal para naquele momento administrar Limoeiro do Norte.
Chegou à chefia do Executivo Municipal com o auxílio considerável do Careca e ganhou através da popularidade deste o reconhecimento do povo, caso contrário dificilmente teria sido eleito. 
Pretendendo dar ao seu governo uma conotação de modernidade, criou um slogan sugestivo para a sua administração intitulado de Um Novo Momento, indicando que iria conduzir o município para uma fase de pleno desenvolvimento. Com isso, estava querendo repassar para a população que se enterrava de uma vez por todas um passado de administrações arcaicas, inclusive a do seu antecessor, que em nada serviria como exemplo e modelo administrativo.
Imediatamente se fez rodear de “amigos” por todos os ângulos, primeiro, por aqueles que o admiravam como uma “nova estrela” na política limoeirense e depois por aqueles que estão em todas as administrações não importando quem tenha sido eleito. 
Mesmo antes de assumir e necessitando ter do seu lado a maioria dos vereadores e tambem para abrigar no legislativo municipal alguns dos seus seguidores, aproveitou-se de uma brecha na Constituição Federal e incentivou para que estes aprovassem uma emenda, elevando o número de vereadores de quinze para dezenove, o que lhe garantiria no começo de sua gestão o apoio da maioria do parlamento, naquela época, já reconhecidamente fisiológico. A intenção maior, entretanto, era abrigar no legislativo municipal alguns de seus companheiros, dentre eles o amicíssimo Mauro Costa. 
Ao tomar o assento maior do executivo municipal montou uma equipe de assessores inteiramente nova e composta em sua maioria de pessoas que nunca tinham sequer participado de qualquer processo político a não ser daquele que o elegeu. Em virtude disso criou uma administração aparentemente aberta a todas as opiniões, todavia, não passou de uma espécie de colegiado entre parceiros, onde sabiamente cada um lançava mão do seu quinhão na fatia do bolo. 
Em poucos dias de governo Dilmar ousou expulsar, literalmente, da prefeitura os parentes do Careca e a partir de então ficou configurada a briga entre os dois. 
Ao cometer aquele ato de ousadia, em vez de mostrar que se tratava de uma atitude moralizadora, Dilmar não fez mais do que evidenciar uma perseguição àquele que o elegeu, errando por fazer o mesmo quando colocou nos cargos importantes da prefeitura exatamente seus amigos e parentes, dando continuidade ao empreguismo e nepotismo reinantes no executivo municipal. 
Por sua vez, demonstrando-se revoltado e dizendo-se apunhalado pelas costas, Gladstone não poupava críticas ao prefeito, movido tão somente pelos ressentimentos. A partir de então passou a chamá-lo de “cara de boneca”, todavia, mal sabia que estava recebendo o troco por parte daquele a quem sempre considerou um incapacitado para exercer o cargo de prefeito. 
Em pouco tempo tambem ingressou no barco da revolta o vice-prefeito Pedro Julião sentindo-se igualmente discriminado e jogado de escanteio, solidarizando-se com o primo e passando tambem a fazer oposição a Dilmar criticando-o e tachando-o de traidor. 
Para justificar sua identificação com os jovens e com o esporte Dilmar idealizou a construção de um ginásio esportivo nos mesmos moldes de modernidade que vinha pretendendo dar ao seu governo. Justificando de que o município era exemplo de esportividade até mesmo para o Estado do Ceará pela realização dos Jogos Olímpicos Comunitários[1], resolveu valorizar esses jogos hipotecando-lhe total apoio e construindo inclusive uma praça esportiva do nível daquela competição. 
Para impressionar a juventude desportista mandou confeccionar uma maquete expondo-a em praça pública indicando de que seria uma obra ousada e uma vez concluída Limoeiro teria o mais moderno ginásio de esportes do Nordeste. 
A Construção se iniciou num clima de expectativa e com a promessa de ser inaugurada em breve, mas o que se viu foi uma obra inacabada e sobrecarregada de boatos sobre o desvio de pelo menos três verbas que foram destinadas à sua construção. Existe inclusive uma versão de que o então governador do Estado Ciro Gomes, surpreso por aquela praça esportiva não ter sido ainda concluída, mesmo depois de haver carreado recursos para tal, resolveu inaugurá-la assim mesmo, o que realmente aconteceu. 
Ao assumir o governo municipal Dilmar encontrou uma prefeitura com máquinas, equipamentos e outros veículos que serviram durante toda administração, mas que não se preocupou em conservá-los, pelo contrário, ao entregar ao seu sucessor, passou uma frota praticamente sucateada, finanças no vermelho e um volume de boatos jamais visto sobre o uso indevido do dinheiro público, a exemplo do Ginásio Coberto que tornou visível aos olhos de todos tamanha imprudência administrativa. 
Durante sua gestão teve que enfrentar uma greve dos servidores públicos, a primeira na história do município. Contrariando a gestão “democrática” com que apregoava o seu governo se negou receber os líderes grevistas para negociar as suas reivindicações, chegando inclusive a agredir um deles e solicitando a presença policial para afastá-los da frente do prédio da prefeitura. 
De outra feita num surto de total desequilíbrio para um chefe do executivo municipal, ao receber críticas do polêmico Nicanor Linhares foi visto descendo as escadarias do prédio da prefeitura de cinturão na mão, dizendo que “ia dar uma surra em Nicanor” o que não aconteceu em virtude da intervenção de algumas pessoas, alertando-o para a grande repercussão negativa que isso traria ao governo municipal e a ele pessoalmente. 
O que havia sido divulgado durante a campanha pelos adversários de que Dilmar não residia em Limoeiro se confirmou quando o povo ficou sabendo que seu endereço era mesmo em Fortaleza e vinha para o município apenas nos finais de semana, já nos outros dias vinha somente em algum caso em que fosse necessária a presença do prefeito. 
Dentre os assessores mais próximos estava o secretário de administração que recaiu sobre a pessoa de Maílson Cruz, figura conhecida de poucos, mas que em pouco tempo começaram a exaltar as suas qualidades profissionais bem como a sua aguçada inteligência.
A partir dali, Maílson tornou-se uma pessoa forte nas decisões do município e as diretrizes administrativas, obrigatoriamente tinham de passar por seu crivo. 
Foi logo transformado no super-homem da administração, passando a ser considerado o responsável por todas as realizações políticas e administrativas, desempenhando muito bem esse papel e sempre com o respaldo e a anuência do prefeito. 
Apesar de ser visto por alguns como uma figura escamosa dentro da administração, soube usar da sua inteligência para agradar aos bajuladores do prefeito com pequenos favores e ao próprio chefe com a confiança no desempenho do seu trabalho, evitando com isso alguns atritos e ciúmes e o evidente serviço de puxa-saquismo dentro do próprio grupo. 
Sua poderosa atuação naquela administração nos faz lembrar Maquiavel: 
“Aquele que tem o Estado de outrem em suas mãos não deve pensar nunca em si, mas sim e sempre no príncipe (...)” (MAQUIAVEL 1967, 38)

[1] Competição esportiva que acontece anualmente desde 1984 entre as comunidades do município onde disputam diversas modalidades.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

CAPITULO XVIII - ELEIÇÃO DE 1988

O VICE-PREFEITO JOÃO DILMAR chegou ao cargo público pelo caminho que muitos gostariam de chegar, ou seja, recebeu de presente a cadeira de vice-prefeito sem mover uma palha e ainda sem nenhuma representatividade legitimamente popular, com o mérito apenas de pertencer a uma família que deveu total fidelidade a Manoel de Castro, razão pela qual tornou-se afilhado político de dona Osmira que o indicou no pleito de 1982.
Na qualidade de vice-prefeito permaneceu durante todos os seis anos de gestão, totalmente obediente ao Careca para não perder o apoio da máquina administrativa nas eleições que adviriam na qual pretendia ser candidato.
Mostrando-se simpático aos olhos do povo sentiu que tinha condições de conquistar parte do eleitorado esboçando apenas um sorrido fácil, certo de que o povão se inclina a valorizar muito mais a aparência do que conteúdo. Percebeu tambem que o eleitor adora tapinhas nas costas e gosta de ser notado, razão pela qual nunca deixou de cumprimentar quem quer que fosse até mesmo um adversário, absorvendo assim, uma boa dosagem de popularidade.
Ao aproximar-se a eleição de 1988, o Careca estava no seu auge com uma aceitação nunca alcançada por um político limoeirense e sendo considerado pela massa o prefeito mais competente e o administrador público mais eficiente dentre todos os que passaram pela prefeitura, além do mais, mostrava-se completamente imbatível naquela eleição. Obviamente, se fosse por ele, jamais a prefeitura seria entregue a outra pessoa, porém, sabendo ser impossível até mesmo a possibilidade de poder passá-la a um parente próximo, pensou em transferi-la para um elemento que mostrasse ser de sua inteira confiança, na pretensão de continuar de certo modo com o seu controle.
O nome de Dr. João Dilmar no seu entender se encaixava mais ou menos dentro do perfil do que ele imaginava para seu sucessor, levando em consideração de que Dilmar passou o tempo todo sem contestar qualquer dos seus atos e obedecendo cegamente as suas orientações.
Tanta certeza tinha o Careca de que Dilmar não passava de um fracote, que muitas vezes quando a ele se referia o chamava de “garotão” ou “meninão”, insinuando que o mesmo não tinha capacidade para administrar o município, portanto apostar no seu fracasso como administrador poderia lhe render muito politicamente no futuro.
Diante disso e acreditando que Dilmar seria inteiramente manobrável e tambem para cumprir um pressuposto acordo para a eleição que o fez prefeito, pretendendo ainda continuar usufruindo e controlando a prefeitura, o Careca estabeleceu algumas exigências e uma delas era permitir que seus filhos continuassem exercendo os importantes cargos na administração.
Certamente trilhando o adágio popular de que “se apanha moscas com mel e não com vinagre” e no seu estilo de com tudo concordar, Dilmar aceitou essa exigência além das outras, convencendo o Careca de que em sendo eleito atenderia as cláusulas do acordo.
O Careca exigiu ainda que o candidato a vice-prefeito fosse por indicação sua e colocou o seu primo Pedro Julião, outra figura no seu entender domesticável e de fácil comando.
Tão grande era a popularidade do Careca naquele momento que muitos imaginavam não haver quem tivesse a coragem de concorrer com aquele que fosse apoiado por ele, mas o que se viu foi o surgimento de nada menos do que mais quatro concorrentes.

Para manter representação municipal, a oposição em nome dos partidos PDT/PT/PSB, lançou o nome de José Orismilde Moura (PDT) fazendo chapa com Carlos Adalberto Celedônio (PT). É bom lembrar, que mesmo com a pouquíssima vantagem em relação às outras candidaturas a coligação oposicionista conseguiu realizar um comício na Praça da Catedral, onde o número de pessoas presentes foi surpreendente, levando-se em conta o tamanho dos partidos que compunham aquela aliança e as forças políticas adversárias.

Voltou ao cenário político, tentando testar a aceitação do seu nome vinculando-o à eleição passada, Wilson Craveiro Holanda, tendo como vice o professor Arnóbio Santiago, neto do ex-prefeito Sabino Roberto.

Tambem se lançou candidato Sebastião Maia de Andrade juntamente com Wilson Estácio Filho.

Por fim, apareceu o nome da vereadora Rita Peixoto juntamente com o Dr. Reuber, se apresentando como aquela chapa que reunia melhores condições para combater o poderio e a popularidade do Careca.
Quando a campanha chegou às ruas, notou-se de forma evidente a superioridade do grupo da prefeitura sobre todos os outros.
A campanha iniciou-se visivelmente desigual: de um lado, algumas representações tentando dar ao eleitor uma opção diferente e do outro um grupo fortemente equipado com um palanque sustentado pelo dinheiro do próprio povo.
Foi a partir daquela eleição que teve início as contratações de conjuntos musicais e artistas diversos para atrair gente para os comícios, – os denominados showmícios – nos fazendo crer que os candidatos já não acreditavam tanto em suas próprias mensagens.
Muito embora existindo graves suspeitas sobre os desmandos administrativos, o Careca, com seu linguajar distorcido de analfabeto gritava nos microfones do seu palanque como sendo o melhor de todos, mostrando uma superioridade esmagadora e imbatível. Arrogantemente, se autodenominava o político de maior peso eleitoral, arrotando prepotência e dizendo que: “ninguém era mais do que ele e nem nunca seria”.
Já o seu candidato, João Dilmar da Silva, um verdadeiro fracasso em termos de oratória, através de um mal engendrado, fastidioso e inopioso discurso, elogiava e colocava acima de tudo e de todos o nome do Careca, numa demonstração de total reverência, exaltando suas qualidades de grande líder e administrador.
Mesmo com a certeza visível diante de uma vitória histórica em termos de maioria de votos, o palanque da prefeitura não poupava os deboches, chacotas e escárnios sobre a vereadora Rita Peixoto, quando teve o seu nome difamado impiedosamente, espalhando dúvidas inclusive sobre sua feminilidade e fidelidade ao seu marido, ainda mais quando em um de seus pronunciamentos, assimilou o número “11” do cavalo no jogo do bicho com o “11” do seu adversário. Por isso foi revidada com uma resposta de duplo sentido, quando passaram a lhe tratar como uma “égua”, que iria ficar sempre debaixo do cavalo. Além disso, teve que enfrentar a sociedade machista pela sua condição de mulher.
Uma das bandeiras da campanha de Rita era tentar convencer a população de que o candidato do Careca, sequer tinha residência fixa em Limoeiro do Norte, revelando para o povo que o seu endereço era em Fortaleza e era de lá que pretendia administrar o município.
Imaginando ainda que estivesse contando com o apoio do governador Tasso Jereissati, Rita Peixoto promoveu um comício que foi marcado para ter início às oito horas da manhã de uma quarta-feira, na praça da Catedral. Para o desagrado dos que faziam a sua campanha e para a satisfação dos adversários, Tasso Jereissati chegou quando já passava do meio dia, onde uma multidão sob um sol abrasador o aguardava e ao chegar, foi vaiado pelos seguidores de Dilmar. No palanque, Tasso se pronunciou friamente, talvez porque já soubesse através de pesquisas que Rita estava derrotada, mesmo assim, tentou emocionar aos presentes, querendo passar para a multidão que estava ali com o mais alto espírito democrático e referindo-se aos adversários citou a frase célebre atribuída a Voltaire: "Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la”.
Mesmo com a vinda de Tasso, nada impediu que Rita fosse fragorosamente derrotada, conseguindo apenas 24% dos votos contra 53% de Dilmar.[1] Aquela maioria esmagadora confirmou a força do Careca e que sem ela, Dilmar jamais teria conseguido ser tão bem votado.
Mas todo aquele espetáculo, sobretudo do palanque oficial, vivenciado e aplaudido por uma massa completamente desinformada, não passou de um espetacular cenário de fingimento, comprovado pelo rompimento entre Careca e Dilmar logo após a eleição.
Foi com aquela eleição que a situação política de Limoeiro do Norte tendeu a se agravar cada vez mais e doravante vamos ver que as ambições pessoais, as brigas e as futricas se intensificaram entre os que se diziam representantes do povo.

Outro fato digno de registro naquela eleição foi a candidatura a vereador de Joaquim Firmino Neto mais conhecido por Joaquim Louro. Diante das figuras inexpressivas que se apresentavam nos palanques, Joaquim Louro destacava-se pela forma como se dirigia ao povo com um discurso grotesco e extremamente ridículo para um candidato, que em pouca coisa se diferenciava do Careca e até mesmo do candidato Dilmar. Todavia, como uma resposta para a esculhambação que ora se apresentava e pela falta de propostas dos candidatos a vereador e do descrédito dos eleitores no poder legislativo municipal, Joaquim Louro passou a ser o candidato mais ovacionado de todos colocando a sua candidatura em um surpreendente crescimento. Essa expressão “inconsciente” do povo causou uma enorme ciumeira nos outros candidatos, sobretudo quando sentiram que as manifestações eram verdadeiras e que Joaquim Louro poderia ser o vereador mais votado do município. Passaram então a perseguir os votos que poderiam ser dele e no final das contas, Joaquim Louro que já tinha a sua eleição como favas contadas alcançou apenas uma distante suplência com os 245 votos conseguidos.

A Câmara ficou assim constituída:
1. Ademar Celedonio Guimarães
2. Antônio Conrado Maia
3. Antônio Moura da Costa
4. Antônio Pergentino Nunes
5. Carlos Marcos de Souza Nunes
6. Elias Correia Lima
7. Francisco Assis de Freitas
8. Francisco Mauricio Rodrigues
9. Francisco Rodrigues Neto
10. Gaudencio Roque do Carmo
11. José Maria de Andrade
12. José Valce de Castro Moura
13. Marcos Coelho
14. Maury Oliveira Freitas
15. Raimundo Nauto de Oliveira
16. Raimundo Nonato da Costa
17. Raimundo Nonato de Moura
18. Raimundo Valdi Chaves
19. Rufino Rubio Vieira e Silva

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A derrota de Rita Peixoto demonstrou toda a força do Careca naquele momento, e indiscutivelmente, teria elegido qualquer nome que fosse por ele apoiado. Tambem deixou bastante claro como se processavam as campanhas políticas em Limoeiro, percebendo-se que as personagens daquele jogo integravam o mesmo grupo. Em 1982, Rita Peixoto foi uma fortíssima aliada do Careca e acredita-se que sem o seu apoio, a eleição teria sido ainda mais difícil.
Naquela campanha, Rita e Laurinho estavam de tal maneira engajados na eleição do Careca, que montaram até um trio elétrico – novidade na época – e Rita, então candidata a vereadora, percorria festivamente as ruas da cidade. Nesse caso, tambem fizeram parte da política limoeirense nos mesmos moldes de todos os outros, sem moral, portanto para romperem de forma confiável perante o povo.
Aliás, a família Freitas Peixoto, através de Laurinho, irmão de José Hamilton, foi sempre aliada de Manoel de Castro, portanto tambem beneficiada com os cargos públicos com os quais Castro costumava distribuir entre seus seguidores.

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Nesse ano começou a atuação política do Partido dos Trabalhadores em Limoeiro do Norte. Fundado no ano de 1985, o que poderia ser uma agremiação para agregar os insatisfeitos com o sistema, transformou-se no decorrer do tempo em um partido de aluguel, emprestando sua marca, cada vez mais forte sob os reflexos do próprio partido nacional e mesmo testemunhando a evidência de que tenderia a crescer a partir de então, sempre esteve do lado do sistema, costurando acordos e alianças, muitos desses acordos, feitos de forma desnecessária e inexplicável.
Vamos ver que em todas as eleições, o Partido dos Trabalhadores nunca se preocupou com o seu próprio crescimento. Em momento algum, seus componentes maiores, se preocuparam em transformar a sigla numa luta forte, oposicionista, capaz de combater o sistema cruel que estava implantado no município. Mas foi contrariando os princípios pelos quais se estabelecia a luta nacional, que os petistas limoeirenses, deixaram propositadamente, que o partido significasse apenas uma agremiação familiar, expurgando dele qualquer elemento que se apresentasse com condições de mudar esse rumo de conchavos e acordos os quais sempre foram marcas na história do partido.
Como prova de que desde o início o PT sempre foi um partido sem compromissos com os seus verdadeiros objetivos, naquela campanha (1988) em que figuravam os candidatos José Orismilde e Carlinhos Celedônio, alguns companheiros afirmaram logo após a eleição, categoricamente, que os petistas, sobretudo os seus dirigentes, votaram não no candidato da coligação, mas sim no candidato da prefeitura, numa total falta de respeito para com aqueles que se engajaram na campanha contra o poder reinante no município.
Essa atitude, já começava a revelar qual o caminho que o PT seguiria a partir daquele momento. Durante todo o decorrer da história, vamos ver que nunca teve a coragem de lançar candidaturas do próprio partido, mas sim participando de coligações, nas quais o que interessava a seus dirigentes era apenas garantir a eleição de um representante da Câmara Municipal além de alguns diferenciados cargos públicos.
Elegeu-se nesse mesmo ano (1988), o vereador Marcos Coelho, que antes de conseguir o mandato, mostrava-se um autêntico político de esquerda, mas – até para comprovar sua identificação com os dirigentes petistas – não passou de um vereador de mandato apagado, e muito mais, rapidamente engajou-se no sistema reinante, tornando-se aliado dele.

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Tambem naquele ano, surgiu em Limoeiro do Norte, uma das figuras mais polêmicas da radiodifusão limoeirense. Vindo dos seringais da Amazônia assumiu os microfones da Rádio Educadora Jaguaribana o controvertido radialista Nicanor Linhares Batista, que em breve se transformaria em um mito em toda região jaguaribana e que viria influenciar contundentemente na política limoeirense.
Com o respaldo do proprietário da emissora, Nicanor começou a direcionar suas críticas aos políticos sem poupar a nenhum deles.
Utilizava o poder da mídia para incentivar desavenças entre políticos conseguindo com isso, fazer vezes de mediador.
Venerado não pelas suas qualidades como profissional do rádio exatamente, mas porque tinham medo da sua língua, todos os políticos limoeirenses – e até alguns do Estado – faziam questão de estar com ele de braços e abraços, quando estabeleciam um jogo de cumplicidades.
Em pouco tempo de rádio Nicanor aumentou consideravelmente o seu patrimônio, tornando-se um homem rico à custa dos níveis altíssimos de audiência, estimando-se que falava para 300 mil pessoas em toda região jaguaribana no horário pico do meio dia.
A propósito, é oportuno o momento para comentarmos um pouco sobre o papel e a função do rádio no trabalho de informar a sociedade. No caso de Limoeiro do Norte as duas mais importantes emissoras de rádio, têm suas histórias[2] de uma prestação de relevante serviço social. Com o passar do tempo, as rádios deixaram de ter importância sumamente social e passaram a ser objeto de faturamento. Em primeiro lugar os antigos donos, sem nenhum compromisso com o trabalho informativo das emissoras e não querendo assumir a responsabilidade de bem administrar, as “venderam” para não limoeirenses, estes comprometidos apenas com o alto faturamento a qualquer custo.
Não restam dúvidas que Nicanor Linhares foi peça fundamental nessa radical mudança na prestação de serviço das emissoras limoeirenses e podemos afirmar que com a sua chegada a radiofonia jaguaribana passou a ter outra história. Com a implantação de programas políticos e que tinha como finalidade faturar cada vez mais, Nicanor acendeu cifrões nas pupilas não só dos proprietários, mas tambem dos outros profissionais do rádio, quando passaram a sentir uma espécie de inveja, o vendo enriquecer tão rapidamente. Impressionados com a facilidade com que Nicanor aumentava os números em sua conta bancária, muitos decidiram se espelhar na sua forma de trabalho, criando um vício falar sobre política em todos os horários. Enquanto isso, os programas populares, ou seja, os tão necessários programas musicais deixaram de ser importantes, posto que, com eles o faturamento além de menor era lento e isso não interessava nem aos maus profissionais e muito menos aos donos das emissoras.

[1]Fonte: http://www.tre-ce.gov.br/tre/eleicoes - Em 22.10.2002 
[2] A Rádio Vale de Jaguaribe foi instalada em 21/01/1956 e a Rádio Educadora em 18/03/1962.